Tásse, butes lá?
Não pretendo discutir o indiscutível. Não contesto a importância da Arrábida na nas aulas de substituição até porque essa batalha, mais essa batalha foi vedada à minha geração o que naturalmente só posso lamentar. Mas quem nestes últimos 20 anos frequentou, em parte, ou todo o ensino público não universitário, sempre conviveu com o drama que outros, que não os estudantes, sempre sentiram sobre um fenómeno inevitável na altura, tal como hoje, o facto de os professores faltarem e alguns deles faltarem muitas vezes. Parecia uma espécie de maná que os deuses nos davam. A rara oportunidade de não termos absolutamente nada para fazer para afinal nos dedicarmos a tantas coisas totalmente inúteis e muitas vezes inócuas. Apesar da droga, do álcool e do tabaco serem o medo catastrófico que todos os pais alimentaram durante anos em que não sabiam o que os filhos faziam quando os filhos não tinham aulas, alguns de nós quiseram ocupar o seu tempo com coisas tão banais como ficar sentado a apanhar banhos de sol ou a jogar à bola. Ainda assim a preocupação faz sentido. Não se trata de um tempo escolar extra (que nalguns casos até pode fazer falta) mas sim a continuação do tempo escolar anteriormente programado, que inadvertidamente foi interrompido pela falta de um professor. Existem perigos e oportunidades nestes períodos vazios e a única coisa errada é desaproveitá-los. Independentemente das opções que estiverem em causa e das dificuldades em assegurar a continuidade de um processo pedagógico, ninguém pode dizer que é mau existirem aulas de substituição, pois não é, porque é para isso mesmo que a escola serve e é para isso que os alunos lá andam. Para ter aulas. Não sei de que forma estão organizadas as aulas de substituição actualmente, mas imagino que ao ter sido criado este expediente, se tenha criado o devido enquadramento, e mesmo que ele não exista não consigo compreender que as escolas e os professores não consigam organizar uma forma que as levar em frente. O que não pode ser razoável ou aceite por ninguém, é que exista um professor que seja, que entre numa sala de aula de aulas e sugira a possibilidade de se jogar às cartas ou ao dominó, como forma de ocupar uma aula que não é a sua. Este tipo de professores e a cobertura que dão a manifestações marcadas por sms, não são bons profissionais e não pretendem separar as águas entre os verdadeiros problemas da educação e os fait divers de uns alunos que querem umas baldas de vez em quando. Reflectem o que de pior tem o corporativismo dos maus professores e é importante que os restantes professores, assim como os sindicatos se demarquem destes. |
Publicado por José Raposo às 23:23
Comments on "Tásse, butes lá?"
Devo confessar que não gosto desta ideia de «aulas de substituição» porque se tenho boas memórias da escola enquanto aluno era justamente dos feriados, onde podia respirar um pouco e aprender pelo curricula da amizade.
No entanto, enquanto funcionário público cumpro as minhas obrigações e dou aulas de substtituição quando me calha. Normalmente corre tudo muito bem apesar de não existir material (computadores, mapas, livros, videos e até simples fichas). Sem recursos e de pé para a mão lá se vão inventando aulas. Mas nunca, nunca mesmo, me ocorreu por os miudos a jogar cartas e desconheço qualquer situação do género. Embora, às vezes, a função dos professores substitutos não passe no mero «tomar conta da canalha» improvisando qualquer coisa para os entreter. Quem dá aulas sabe quanto tempo demora a preparar ´90 minutos. À queima-roupa pedem-nos uma aula para daí a 5 minutos e nós cumprimos.
Já agora: tentei preparar uma ficha de actividades para essas ocasiões. Infelizmente o orçamento da escola não me permite tirar fotocópias para o que der e vier. Tive de voltar ao improviso. Enquanto não existirem condições materiais estas aulas não passarão disso.
PS: Zé, informa-te melhor sobre as faltas dos professores. És demasiado lúcido para entrar nessa. Õ problema destas faltas é que são muito visiveis porque afectam de imediato 30 alunos e 60 pais. Às vezes é uma chatice ter o miúdo uma hora mais cedo em casa...
David, então as aulas de substituição não estão mal pensadas e tb não prejudiciais ao sistema educativo, ainda que possam estar mal organizadas e claramente mal enquadradas pelo ministérios.
As faltas dos professores são um problema como qualquer outro relativo ao sistema educativo. Como tu sabes existem muitos professores que não hesitam em faltar apesar do impacto das suas faltas, como tu referes.
Aliás, se assim não fosse os sindicatos não reivindicariam indiferença na avaliação dos professores quanto às faltas dadas, beneficio não facultado a qualquer outro português do sector privado a quem por lei são retirados dias de férias adicionais por faltarem por doença, para além disso tb se reflectir nas suas avaliações.
Se assim não for então as aulas de substituição não fazem sentido e eu concordo contigo.
Não conheço em pormenor as pretensões dos sindicatos (não dou para esse peditório) mas sei que a proposta inicial do governo penalizava exageradamente os professores, incluíndo as licenças de maternidade e paternidade (uma gravidez poderia significar a penalização de não subida de escalão).
Interessante: baixa médica dá direito a desconto nas férias? Acho eu que não é bem assim...
David, a proposta do governo sobre a avaliação dos professores tinha em conta que todas as faltas entravam para a avaliação dos professores. Os sindicatos opuseram-se e nesse aspecto a ministra cedeu e desde que justificadas elas não fazem parte da avaliação dos professores.
No sector privado a legislação prevê que os trabalhadores que não faltem tenham 3 dias adicionais de férias. Se faltarem com justificação serão penalizados na respectiva proporção dos dias que viriam a obter numa lógica de um dia justificado, menos um dia de férias, dois dias justificados, menos dois dias e ai por diante até deixar de haver.
Os trabalhadores que faltarem sem justificação perdem de imediato o direito aos três dias.
Não quero fazer juízos de valor sobre estas medidas até porque tb já dei para esse peditório... mas só não compreendo e julgo que muita gente não compreenderá porque razão existem portugueses que não têm de se preocupar com esta realidade.
As faltas injustificadas são todas elas alvo de averiguação disciplinar. E sempre foi assim. Recordo-me quando era professor em Silves tinha um colega de grupo que não subiu de escalão justamente porque tinha uma falta injustificada do tempo em que ensinara algures nos Açores. Não é nada de novo, portanto.
Uma situação injusta não o deixará de ser se todos a ela estiverem sujeitos.