Águia d'Ouro e BMAG
1. O Porto é a cidade do país com maior potencial em termos de desenvolvimento cultural. É uma constatação óbvia de quem está na maré baixa de olho na linha d’água. De uma maneira ou de outra havemos de vir a assistir ao renascimento do Porto enquanto pólo cultural de excelência. É preciso muito mais do que um autarca filisteu para secar a inteligência criativa de uma cidade e a sua necessidade de se exprimir e de se exibir, tal como é da sua natureza. Com ou sem Rivoli, com ou sem subsídios, a cultura ainda não terá aqui o seu fim e não será certamente um escolho que irá atrasar a maré. 2. Às vezes fico a pensar no que se poderia fazer com o que se já tem e não se faz por falta de imaginação e boa voantade. Um exemplo disso é justamente o caso do Cinema Águia D’Ouro propriedade da Solverde. Só uma cidade sem brios é que deixa aquela magnifíca sala apodrecer, à espera da estocada final. Não é de um milagre que precisamos, mas de usar com diligência os poucos instrumentos que já possuímos. Do meu ponto de vista, fazia todo o sentido que a autarquia, por intermédio da PortoVivo - Sociedade de Reabilitação Urbana elegesse o quarteirão onde se encontra o Águia d’Ouro como Quarteirão de Intervenção Priroritária de modo a pressionar o proprietário a dar uma solução ao problema. Se não reabilita, ao menos que venda por um preço razoável (e não pelos manifestamente exorbitantes 3 milhões de euros) de modo a evitar a pena da expropriação. O ideal seria que a Solverde assumisse ela própria o papel de promotora da reabilitação do seu património e reactivasse a sala. A sustentabilidade do projecto poderia até ser assegurada pelo Felipe “Midas” La Féria, que então teria oportunidade de mostrar o seu real valor num projecto essencialmente privado e sem o colo do dinheiro público. Para complementar, não me chocaria que a sala fosse parcialmente ocupada por um bingo (já que o casino está fora de questão e ainda bem) de modo a contentar a Solverde. 3. Nem mesmo a irreversabilidade da decisão política de oferecer o Rivoli à exploração de um único privado, deveria eximir a Câmara Municipal do Porto das suas obrigações políticas no que diz respeito à cultura. Deixo aqui uma sugestão de como o poderá fazer sem grandes sacrifícios financeiros. A Biblioteca Municipal Almeida Garrett tem características de pequeno centro cultural: salas de leitura, galeria, auditório e bar, para além de se localizar numa área privilegiada da cidade. No entanto, as potencialidades deste espaço não têm vindo a ser devidamente exploradas, dado que o auditório e a galeria não têm qualquer tipo de programação dando apenas abrigo a algumas iniciativas avulso e com pouca expressão, quando poderiam albergar alguns dos projectos que ficaram apeados por causa da privatização do Teatro Municipal, o que não resolvendo de todo o problema (o auditório é muito limitado), teria o condão de, pelo menos, atenuar os efeitos colaterais da privatização do Rivoli, por um lado, e, por outro lado, abriria um novo leque de possibilidades criativas por se tratar de um espaço multidisciplinar. Uma outra questão a resolver é ainda a do horário que não é o mais adequado porque exclui trabalhadores e até estudantes ao encerrar às 18:00. A título comparativo recordo que Beja tem a sua Bilioteca Municipal aberta até às 23:00 durante a semana e até às 20:00 aos Sábados e estamos a falar de uma pequena cidade praticamente sem ensino superior. Enquanto cidadão portuense devo dizer que me sinto muito embaraçado com a comparação. Em suma: ampliando o horário e delegando a gestão dos espaços da BMAG aos vários grupos de criadores, o município até podia dar a impressão de ter uma política cultural. |
Publicado por David Afonso às 22:54
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