Artigo 65º
![]() Mas existem algumas diferenças substanciais entre este movimento e outros como os que assisti nas Puertas Del Sol em Madrid. Este grupo não me pareceu dominado por um estilo de vida, muitas vezes chamado de indigente e que aqui prefiro chamar nómada, característico dos “Okupas” que geralmente se opõem à maioria das regras pelas quais a sociedade se rege e que no fundo não estão nada interessados em ter o mesmo estilo de vida pacato e tradicional a que os portugueses se habituaram. Neste grupo existia uma parte muito substancial de imigrantes e de pessoas chamemos-lhes simples, cujas casas onde vivem estão longe de ter as condições mínimas aceitáveis, enquanto vêm crescer nas imediações novos condomínios fechados. Estas pessoas não têm um projecto filosófico sobre a forma como viver as suas vidas. Apenas pretendem um tecto digno, que uns não conseguem obter por serem imigrantes e outros porque o dinheiro proveniente dos empregos para onde foram empurrados, não é suficiente. Todos apenas querem o mais banal possível. Um quarto para os filhos, saneamento básico, o sofá, a televisão e os chinelos, sem correr o risco de a casa lhes cair em cima. Convenhamos que nem sequer é um objectivo particularmente nobre como todos aqueles que alimentamos sobre as nossas vidas. De uma forma geral não temos as mesmas preocupações com a habitação porque temos a possibilidade de alimentar a imparável máquina do betão com mais e mais crédito. Mas para esta gente, este é que é o objectivo de vida e não as férias nas Maldivas ou no Brasil. Adormecidos na rapidez das nossas vidas, passámos a aceitar como razoável pagar 400 euros mensais por um arrendamento que acabamos por não querer porque “aquilo não é nosso” para logo de seguida irmos pagar pelo menos mais de 500 por uma casa com aspiração central numa qualquer zona supostamente chique. Talvez se todos nós, como aqueles que ontem se manifestaram em Lisboa, tivéssemos alguma resistência em dar estas quantidades de dinheiro, talvez o Artigo 65º pudesse estar a caminho de se cumprir. Etiquetas: Urbanismo |
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