Dolo Eventual

David Afonso
[Porto]
Pedro Santos Cardoso
[Aveiro/Viseu]
José Raposo
[Lisboa]
Graça Bandola Cardoso
[Aveiro]


Se a realização de uma tempestade for por nós representada como consequência possí­vel dos nossos textos,
conformar-nos-emos com aquela realização.


odoloeventual@gmail.com


Para uma leitura facilitada, consulte o blogue Grandes Dramas Judiciários

Visite o nosso blogue metafísico: Sísifo e o trabalho sem esperança

O Dolo Eventual convida todos os seus leitores ao envio de fotografias de rotundas de todos os pontos do país, com referência, se possível, à sua localização (freguesia, concelho, distrito), autoria da foto e quaisquer dados adicionais para rotundas@gmail.com


Para uma leitura facilitada, consulte o blogue As Mais Belas Rotundas de Portugal


Powered by Blogger


Acompanhe diariamente o Dolo Eventual

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Artigo 65º

Ontem Lisboa assistiu pela primeira vez, a uma manifestação comum noutras zonas da Europa. Reuniram-se cerca de um milhar de pessoas para protestar a favor do cumprimento do Artigo 65º da constituição.
Mas existem algumas diferenças substanciais entre este movimento e outros como os que assisti nas Puertas Del Sol em Madrid. Este grupo não me pareceu dominado por um estilo de vida, muitas vezes chamado de indigente e que aqui prefiro chamar nómada, característico dos “Okupas” que geralmente se opõem à maioria das regras pelas quais a sociedade se rege e que no fundo não estão nada interessados em ter o mesmo estilo de vida pacato e tradicional a que os portugueses se habituaram.
Neste grupo existia uma parte muito substancial de imigrantes e de pessoas chamemos-lhes simples, cujas casas onde vivem estão longe de ter as condições mínimas aceitáveis, enquanto vêm crescer nas imediações novos condomínios fechados.
Estas pessoas não têm um projecto filosófico sobre a forma como viver as suas vidas. Apenas pretendem um tecto digno, que uns não conseguem obter por serem imigrantes e outros porque o dinheiro proveniente dos empregos para onde foram empurrados, não é suficiente. Todos apenas querem o mais banal possível. Um quarto para os filhos, saneamento básico, o sofá, a televisão e os chinelos, sem correr o risco de a casa lhes cair em cima.
Convenhamos que nem sequer é um objectivo particularmente nobre como todos aqueles que alimentamos sobre as nossas vidas. De uma forma geral não temos as mesmas preocupações com a habitação porque temos a possibilidade de alimentar a imparável máquina do betão com mais e mais crédito. Mas para esta gente, este é que é o objectivo de vida e não as férias nas Maldivas ou no Brasil.
Adormecidos na rapidez das nossas vidas, passámos a aceitar como razoável pagar 400 euros mensais por um arrendamento que acabamos por não querer porque “aquilo não é nosso” para logo de seguida irmos pagar pelo menos mais de 500 por uma casa com aspiração central numa qualquer zona supostamente chique.
Talvez se todos nós, como aqueles que ontem se manifestaram em Lisboa, tivéssemos alguma resistência em dar estas quantidades de dinheiro, talvez o Artigo 65º pudesse estar a caminho de se cumprir.

Etiquetas:

Comments on "Artigo 65º"

 

post a comment