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Somos um povo que aprecia o mar, já se sabia. Desde dos Descobrimentos que assim é. Fomos dar uma voltinha por aí e voltámos exactamente iguais ao que éramos quando partimos: incultos e pobres. Desses tempos ficou apenas a compulsão pela mitificação e celebração porque alguma coisa havíamos de ter para celebrar, homem! E também uma espécie de saudade do mar, afectação deveras patológica para um povo que vive literalmente à beira mar. Olhamos para o mapa de Portugal contemporâneo e vemo-lo embasbacado à janela a olhar para o mar. Ter uma casa de férias, uma marina, um hotel, um restaurante jeitoso à beira mar plantados foi o que nos restou da epopeia marítima. Está-nos no sangue. Precisamos de ter os pezinhos de molho para nos sentirmos grandes.
Desde dos anos 70 que temos vindo a investir o melhor que há em nós, a fatia mais grossa da riqueza disponível, a capacidade de endividamento das famílias, o crédito disponível na banca, os recursos naturais únicos na Europa, a competência técnica da elite académica, o capital político da administração local e até o próprio regime democrático tem vindo a ser jogado na roleta do betão. Não investimos em educação, em ciência e em cultura ou só aí se investiu enquanto o betão daí se poderia alimentar. Construíram-se escolas (que agora começam a ser encerradas), campus universitários (para universidades que extinguem cursos e que até pensam em se fundirem) e teatros (sem programação). Tivemos uma Porto 2001, por exemplo, que não passou de um festim para as construtoras e gabinetes técnicos que dividiram entre si a segunda cidade do país (e ainda dizem que as capitais europeias da cultura não dão dinheiro…). E a Expo98? A maior operação de promoção imobiliária da nossa história? Qual exposição qual carapuça! Ali nasceram os terrenos mais valiosos de Lisboa às custas de todos nós. E que tal o Euro2004? Alguém sabe o que fazer ao estádio de Aveiro ou ao caricato estádio Faro-Loulé? Isso também não importa porque o betão já está saciado. Somos isto: um cadáver vampirizado pelo betão. À beira-mar plantado pois então que vale mais!
Comments on "Betão"
Então em Braga é que o betão ganha outro significado...
Tem razão. Mas Braga também não é propriamente interior interior...