SIM
1. Apesar de desafiado por uns e por outros, optei por não participar no debate sobre o aborto. Tomei esta decisão basicamente por duas razões: 1º) porque todos os argumentos legítimos já foram usados por ambas as partes, não havendo nada de novo a acrescentar ao debate; 2º) porque seria de esperar que ambas as partes não resistissem à tentação dos argumentos falaciosos e populistas. Desta guerra ninguém se pode orgulhar e encontro motivos para censurar qualquer uma das partes, embora o “Não” neste aspecto bata aos pontos o “Sim”. 2. Devo confessar que aceito todos os argumentos do “Não”, mas mesmo assim vou votar “Sim”. O motivo é simples: os argumentos não me convencem porque se referem a outras questões que não àquela que está em cima da mesa (o argumento fiscalista é um bom exemplo disso mesmo). Sem pretender entrar no debate, aproveito esta ocasião para expressar publicamente o meu sentido de voto. Mais. Sem a intenção de entrar na campanha a favor do “Sim” queria deixar aqui o relato pessoal sobre este assunto. Não valendo como argumento, vale como nota de uma tentativa de tornar mais clara a minha maneira de sentir este problema. 3. Não sei se sabem, mas eu sou o 9º filho de uma família de 10 irmãos. Todos do mesmo pai e da mesma mãe. Uma raridade de que muito me orgulho. A minha mãe deu à luz e educou os dez filhos com toda a dedicação e imparcialidade, mas não sem grandes sacrifícios como devem imaginar. Só para ilustrar o que acabei de dizer: pelo natal todos nós recebíamos prendas de fazer inveja a todos os colegas da escola. E como conseguia ela esse enorme feito? Fácil! Começava a planear o natal ainda em Agosto. Bom, adiante. Ora, calhou em certa ocasião que no conclave de vizinhas, que se reunia todas as tardes lá em casa, surgisse o boato de que uma jovem qualquer, filha de fulano, tinha acabado de fazer um “desmancho”. O boato – com fundamento, de resto – desencadeou um chorrilho de censuras e até de insultos por parte na ala beata do dito conclave. Foi como se uma fúria moralista tivesse tomado conta daquelas mulheres ociosas: cada uma falava mais alto do que a outra e cada uma competia com as demais nos impropérios e na perícia na aplicação do veneno na vida alheia (quem já assistiu a um destes concílios sabe bem do que falo…). O frenesim foi subindo até que alguém, em boa hora, se lembrou de perguntar à minha mãe o que pensava sobre o assunto. E o que ela disse? Apenas que fossem para casa tratar dos filhos e que deixassem a rapariga em paz que ninguém tinha nada a ver com vida dos outros e que cada um é que sabia de si. E no fim ainda acrescentou: “Ou julgam que isto de criar filhos é para todos?” Etiquetas: IVG |
Comments on "SIM"
Ah, grande mulher!
Ora aí está! Esta ultima frase vai precisamente ao encontro da minha opinião. Se ter um filho ou engravidar é das coisas mais naturais do mundo desde que é mundo, já quanto ao criá-los é outra história.Filhos não é a mesma coisa que a máxima "há sempre prato para mais um" ou "onde comem dois comem três". E parece-me que algumas têm vergonha ou medo de dizerem abertamente que não querem ter filhos aos maridos e familiares e, por isso os têm. Eu como mulher acredito piamente que há pessoas com mais aptidão para o papel de educador/pai/mãe do que outros e isto nada terá a ver com as suas qualidades ou competências como pessoa ou adulto. Criar filhos não é para todos, deixem-nos decidir.
Governo deve tomar medidas em vez de pedir ao povo a solução
Não ! - Não à legalização do aborto através da falsa bandeira (engodo) da despenalização !
A despenalização do aborto é outra forma enganadora de combater o aborto. O número de interrupções de gravidez, no mínimo, triplicará (uma vez que passa a ser legal) e o aborto clandestino continuará - porque a partir das 10 semanas continua a ser crime e porque muitas grávidas não se vão servir de uma unidade hospitalar para abortar, para não serem reconhecidas publicamente.
O governo com o referendo o que pretende é lavar um pouco as mãos e transferir para o povo a escolha de uma solução que não passa, em qualquer uma das duas opções, de efeito transitório e ineficaz.
Penso que o problema ficaria resolvido, quase a 90 %, se o governo, em vez de gastar milhões no SNS, adoptassem medidas de fundo, como estas:
1 – Eliminação da penalização em vigor (sem adopção do aborto livre) e, em substituição, introdução de medidas de dissuasão ao aborto e de incentivo à natalidade – apoio hospitalar (aconselhamentos e acompanhamento da gravidez) e incentivos financeiros. (Exemplo: 50 € - 60 € - 70€ - 80€ - 90€ - 100€ - 110€ - 120€ -130€, a receber no fim de cada um dos 9 meses de gravidez). O valor total a receber (810€) seria mais ou menos equivalente ao que o SNS prevê gastar para a execução de cada aborto. (*)
2 – Introdução de apoios a Instituições de Apoio à Grávida. Incentivos à criação de novas instituições.
3 – Introdução/incremento de políticas estruturadas de planeamento familiar e educação sexual.
4 – Aceleração do "Processo de Adopção".
(*) Se alguma mulher depois de receber estes incentivos, recorresse ao aborto clandestino, teria que devolver as importâncias entretanto recebidas (desincentivo ao aborto). [Não sei se seria conveniente estabelecer uma coima para a atitude unilateralmente tomada, quebrando o relacionamento amistoso (de confinaça e de ajuda) com a unidade de saúde].
Estou para ver se os políticos vão introduzir, a curto prazo, algumas deste tipo de medidas. É que o povo, mais do que nunca, vai estar atento à evolução desta problemática.
Realmente não é fácil e não é para todos.
PS: Esta gente é realmente muito militante pelo NÃO... andam pelos blogs e é só copiar o texto para comentário após comentário.
E que grandes ideias eles têm. Pena que nos ultimos 8 anos ninguém se lembre de os ter ouvido falar de todas estas medidas fantásticas de apoio às mulheres. O estado actual não é outra coisa que não o resultado da vitória do Não no anterior referendo. Está na altura de mudar as coisas.
Caro anónimo,
Essa dos pontos acumulados por cada mês de gravidez não lembrava nem ao diabo. E já agora: o pai não tem direito a uma comissão?Sempre pensei que o problema de fundo era outro...