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quinta-feira, fevereiro 08, 2007

SIM

1. Apesar de desafiado por uns e por outros, optei por não participar no debate sobre o aborto. Tomei esta decisão basicamente por duas razões: 1º) porque todos os argumentos legítimos já foram usados por ambas as partes, não havendo nada de novo a acrescentar ao debate; 2º) porque seria de esperar que ambas as partes não resistissem à tentação dos argumentos falaciosos e populistas. Desta guerra ninguém se pode orgulhar e encontro motivos para censurar qualquer uma das partes, embora o “Não” neste aspecto bata aos pontos o “Sim”.

2. Devo confessar que aceito todos os argumentos do “Não”, mas mesmo assim vou votar “Sim”. O motivo é simples: os argumentos não me convencem porque se referem a outras questões que não àquela que está em cima da mesa (o argumento fiscalista é um bom exemplo disso mesmo). Sem pretender entrar no debate, aproveito esta ocasião para expressar publicamente o meu sentido de voto. Mais. Sem a intenção de entrar na campanha a favor do “Sim” queria deixar aqui o relato pessoal sobre este assunto. Não valendo como argumento, vale como nota de uma tentativa de tornar mais clara a minha maneira de sentir este problema.

3. Não sei se sabem, mas eu sou o 9º filho de uma família de 10 irmãos. Todos do mesmo pai e da mesma mãe. Uma raridade de que muito me orgulho. A minha mãe deu à luz e educou os dez filhos com toda a dedicação e imparcialidade, mas não sem grandes sacrifícios como devem imaginar. Só para ilustrar o que acabei de dizer: pelo natal todos nós recebíamos prendas de fazer inveja a todos os colegas da escola. E como conseguia ela esse enorme feito? Fácil! Começava a planear o natal ainda em Agosto. Bom, adiante. Ora, calhou em certa ocasião que no conclave de vizinhas, que se reunia todas as tardes lá em casa, surgisse o boato de que uma jovem qualquer, filha de fulano, tinha acabado de fazer um “desmancho”. O boato – com fundamento, de resto – desencadeou um chorrilho de censuras e até de insultos por parte na ala beata do dito conclave. Foi como se uma fúria moralista tivesse tomado conta daquelas mulheres ociosas: cada uma falava mais alto do que a outra e cada uma competia com as demais nos impropérios e na perícia na aplicação do veneno na vida alheia (quem já assistiu a um destes concílios sabe bem do que falo…). O frenesim foi subindo até que alguém, em boa hora, se lembrou de perguntar à minha mãe o que pensava sobre o assunto. E o que ela disse? Apenas que fossem para casa tratar dos filhos e que deixassem a rapariga em paz que ninguém tinha nada a ver com vida dos outros e que cada um é que sabia de si. E no fim ainda acrescentou: “Ou julgam que isto de criar filhos é para todos?”

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Comments on "SIM"

 

Blogger Pedro Santos Cardoso said ... (fevereiro 08, 2007 12:57 da tarde) : 

Ah, grande mulher!

 

Blogger Claudia Gonçalves said ... (fevereiro 08, 2007 1:54 da tarde) : 

Ora aí está! Esta ultima frase vai precisamente ao encontro da minha opinião. Se ter um filho ou engravidar é das coisas mais naturais do mundo desde que é mundo, já quanto ao criá-los é outra história.Filhos não é a mesma coisa que a máxima "há sempre prato para mais um" ou "onde comem dois comem três". E parece-me que algumas têm vergonha ou medo de dizerem abertamente que não querem ter filhos aos maridos e familiares e, por isso os têm. Eu como mulher acredito piamente que há pessoas com mais aptidão para o papel de educador/pai/mãe do que outros e isto nada terá a ver com as suas qualidades ou competências como pessoa ou adulto. Criar filhos não é para todos, deixem-nos decidir.

 

Anonymous Anónimo said ... (fevereiro 08, 2007 5:14 da tarde) : 

Governo deve tomar medidas em vez de pedir ao povo a solução

Não ! - Não à legalização do aborto através da falsa bandeira (engodo) da despenalização !

A despenalização do aborto é outra forma enganadora de combater o aborto. O número de interrupções de gravidez, no mínimo, triplicará (uma vez que passa a ser legal) e o aborto clandestino continuará - porque a partir das 10 semanas continua a ser crime e porque muitas grávidas não se vão servir de uma unidade hospitalar para abortar, para não serem reconhecidas publicamente.
O governo com o referendo o que pretende é lavar um pouco as mãos e transferir para o povo a escolha de uma solução que não passa, em qualquer uma das duas opções, de efeito transitório e ineficaz.
Penso que o problema ficaria resolvido, quase a 90 %, se o governo, em vez de gastar milhões no SNS, adoptassem medidas de fundo, como estas:

1 – Eliminação da penalização em vigor (sem adopção do aborto livre) e, em substituição, introdução de medidas de dissuasão ao aborto e de incentivo à natalidade – apoio hospitalar (aconselhamentos e acompanhamento da gravidez) e incentivos financeiros. (Exemplo: 50 € - 60 € - 70€ - 80€ - 90€ - 100€ - 110€ - 120€ -130€, a receber no fim de cada um dos 9 meses de gravidez). O valor total a receber (810€) seria mais ou menos equivalente ao que o SNS prevê gastar para a execução de cada aborto. (*)

2 – Introdução de apoios a Instituições de Apoio à Grávida. Incentivos à criação de novas instituições.

3 – Introdução/incremento de políticas estruturadas de planeamento familiar e educação sexual.

4 – Aceleração do "Processo de Adopção".


(*) Se alguma mulher depois de receber estes incentivos, recorresse ao aborto clandestino, teria que devolver as importâncias entretanto recebidas (desincentivo ao aborto). [Não sei se seria conveniente estabelecer uma coima para a atitude unilateralmente tomada, quebrando o relacionamento amistoso (de confinaça e de ajuda) com a unidade de saúde].

Estou para ver se os políticos vão introduzir, a curto prazo, algumas deste tipo de medidas. É que o povo, mais do que nunca, vai estar atento à evolução desta problemática.

 

Blogger José Raposo said ... (fevereiro 08, 2007 6:13 da tarde) : 

Realmente não é fácil e não é para todos.

PS: Esta gente é realmente muito militante pelo NÃO... andam pelos blogs e é só copiar o texto para comentário após comentário.
E que grandes ideias eles têm. Pena que nos ultimos 8 anos ninguém se lembre de os ter ouvido falar de todas estas medidas fantásticas de apoio às mulheres. O estado actual não é outra coisa que não o resultado da vitória do Não no anterior referendo. Está na altura de mudar as coisas.

 

Blogger David Afonso said ... (fevereiro 08, 2007 6:47 da tarde) : 

Caro anónimo,

Essa dos pontos acumulados por cada mês de gravidez não lembrava nem ao diabo. E já agora: o pai não tem direito a uma comissão?Sempre pensei que o problema de fundo era outro...

 

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