Vontade de emigrar
De há tempos para cá dou por mim a ter vontade de emigrar. Eu própria estranho. Este meu desejo já assolou muitas pessoas da minha faixa etária e da região onde moro, Aveiro. Tenho colegas, amigos e familiares que estão hoje em Inglaterra, Canadá, Estados Unidos, Suiça e Bélgica. As razões parecem ser as mesmas, adaptadas a novas exigências, das grandes vagas de emigração portuguesa que começaram pelos anos 60, a melhoria das condições de vida, novas oportunidades e possibilidades. Se assim é, é porque este país começa a oferecer de algum modo as mesmas incertezas que naquela altura. Isto deixa-me preocupada. Por outro lado, as exigências individuais e aquilo a que se hoje se considera qualidade de vida também têm muita influência. O patamar a atingir por cada um de nós começa a ser cada vez mais elevado e difícil de suportar à luz da realidade. Queremos sempre mais e melhor, porque temos direito, porque para isso trabalhámos, porque é isso que nos move ou, simplesmente, porque sim. No meu caso, a vontade de emigrar, que por ora é momentânea, está relacionada com o que confronto dia a dia. A democracia que hoje se vive, está lentamente a cercear-nos, o que é um absurdo, até de escrita. Tomemos como exemplo um dia normal. Abro o Diário de Aveiro e vejo que a barricada do Rivoli poderá ter réplicas aqui em Aveiro por causa do Teatro Aveirense, estando já a decorrer uma petição online, para travar a privatização do mesmo. Recupera-se, com o dinheiro de todos nós, para depois se entregar a terceiros, parece não ser um filho da terra mas um bastardo. Claro que eu já a subscrevi. Depois sigo para a cidade e dou de caras com os sempre atentos fiscalizadores da Moveaveiro - empresa municipal de mobilidade (neste caso movimento ostracista das viaturas estradais de Aveiro), de mãos atrás das costas a patrulhar os parqueamentos como se todos nós fossemos criminosos e os nossos veículos tanques de guerra. Os automobilistas e trabalhadores andam literalmente com os carros às avessas, fugindo de tão terrível ameaça. É disto que o pais precisa, destes homens, do bem que fazem à nação e aos seus cidadãos! Acho que a BUGA agora terá ainda mais sucesso. De repente, lembro-me que é necessário abastecer e tenho de fazer um rápido jogo mental de euros e poupança, já que as gasolineiras não têm rei nem roque, qualquer dia contratam apregoadores como os dos mercados. Continuando, dirijo – me à minha companhia de seguros: mercê de uma recente Portaria, para me enviarem a declaração para efeitos de IRS, as seguradoras necessitam ter o número de contribuinte dos seus segurados, caso contrário, lamentam, mas não emitem a respectiva declaração. Vai daí mandam uma cartinha, solicitando a “informação em falta” até 22 de Fevereiro, que chega ao seu destinatário depois daquela data. A intenção disto? É mais vantajoso para a seguradora não passar as declarações e o ónus transfere-se para nós. Mais tarde a notícia da Universidade Independente, com o despedimento do corpo docente e direcção, mais um lamentável escândalo, mas brilhante, com tráfico de diamantes à mistura, alegadamente. Nenhuma instituição parece escapar à falta de seriedade, à corrupção, à luxúria do dinheiro. É um gás que circula livremente, inodoro e incolor. No balanço final do dia, numa escala de 0 a 10, a minha vontade de emigrar encontrava-se na posição 7. Nunca vos deu vontade de emigrar? |
Publicado por Claudia Gonçalves às 16:25
Comments on "Vontade de emigrar"
me, me, me... onde é que posso fazer a reserva?
Todos os dias, quando acordo, é das primeiras coisas que me vêm à cabeça.
Bem, vamos começar então a pensar em marcar uma viagem para emigrar, nem que seja de fim de semana :), pelo menos para ver se a dada altura teos vontade de ficar ou voltar à terrinha.
quantas vezes...por isso passo cada vez menos tempo em Portugal :)
Nao, nunca. Até porque emigrar significa acreditar que os naturais dos países para onde se emigra não vivem os mesmíssimos problemas e contrariedades. Uns mais e outros menos, mas somos todos iguais.
Claro está, o emigrante sempre se sente menos responsável.
Curioso, eu sempre pensei que o significado da palavra fosse " deixar um país para ir viver noutro".