Apertar, apertar, apertar
A luta, ou aquilo que lhe quiserem chamar os diferentes os diferentes quadrantes políticos, pela redução do défice tem sido dura, embora inevitável, que é a parte da história que nem todos parecem querer contar. Dentro das histórias que não se querem contar, a nossa comunicação social anunciou aqui há dias um acordo europeu em que os países da zona Euro se comprometem a atingir e manter um défice zero até 2010. Não sou economista mas isto fez-me lembrar aquele momento em que o Euro ainda tardava e em que apenas se falava sobre o SME (Sistema Monetário Europeu) ao qual as moedas se indexavam com margens de flutuação máximas de 10%. Quando num desses anos várias moedas sofreram ataques especulativos e os respectivos bancos centrais tiveram de intervir, o Banco central Europeu viu-se forçado a aumentar as margens de flutuação para 30%. Ou seja a Europa acaba sempre por definir os mais nobres princípios que depois de forma totalmente errática e sob a força das circunstâncias se vê forçada a alterar. Quando foi criado o Pacto de Estabilidade e Crescimento delineou-se uma meta para se aderir ao Euro. Um défice igual ou inferior a 3%. Uma vez dentro do Euro, uma série de países, além do nosso, desatou a roer a corda e pelas mais variadas razões acabaram por violar os 3%. Ainda assim parece que a regra acaba por se manter e acabará mais tarde ou mais cedo por se cumprir. O problema está quando se pretende dar passos maiores que as pernas. Nos últimos 3 anos os países que ultrapassaram a meta dos 3% fizeram um grande esforço para recuperar. E nós sabemos bem o que tem custado. Agora os 13 do Euro querem que para 2010 o défice seja zero, mas ninguém parece disponível para nos explicar a história de como é que por exemplo, de um país como Portugal, se pode esperar que reduza o défice de quase 7% para 3% em 2008 e logo depois tenha de arrumar com os restantes 3% sem grave prejuízo da sua economia. Imagino que tal como na história do SME a Europa vai acabar por recuar neste objectivo, até porque todos sabemos que o défice é muitas vezes utilizado como instrumento económico. Para nós o resultado é simples. A manter-se este objectivo não valerá a pena continuarmos a apertar o cinto, até porque deixará de haver cinto e de haver calças também. |
Publicado por José Raposo às 14:46
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