Um sonho chamado aeroporto
É impossível ignorar essa obra quase mítica, qual colosso de Rhodes, em que se está a tornar o novo aeroporto de Lisboa. Ainda assim parece continuar a confundir-se o trivial com o essencial, numa estratégia deliberada de obrigar o Governo, seja ele qual for (porque isto é transversal), a escolher a solução mais barata e provavelmente a mais irresponsável. Desenganem-se todos, porque a localização do mítico novo aeroporto não tem de ser a mais barata, tem de ser a melhor. E para isso contribuem constrangimentos vários nos quais as questões aéreas são as principais e não podem ser ignoradas. Essas questões podem fazer que uma determinada localização barata seja inviável e seja por isso essencial fazê-lo num local mais caro. E é isso que carece de comprovação até agora. Como se já não bastasse uma certa ala do PS ser a única oposição ao governo, agora (e a bem dizer já há algum tempo) a oposição ao Governo está dentro do próprio Governo, uma oposição escancarada nas bocas de trapo dos ministros que ao abrigo da arrogância que todos os doutores e engenheiros deste país têm nos encontros com os seus pares, dizem o que entendem para depois se justificarem com a maldade dos jornalistas que apresentam as suas declarações de vários minutos, supostamente fora de contexto. Já tínhamos a da Educação, o Manuel Pinho e agora junta-se ao clube o Mário Lino que cansado de ser ultrapassado faz as mais estúpidas declarações que nos últimos tempos nos foi dado ouvir. Claro que no Poceirão ou no Rio Frio não há coisa nenhuma. Tal como não existe na Ota. Por isso mesmo é que parece que se pretende construir por lá um aeroporto. Se o objectivo é fazer aeroportos onde já existem cidades completas cheias de infra-estruturas, então eu sugiro de imediato que se exproprie totalmente Camarate e Lisboa pelo menos até ao Areeiro para que a Portela possa ser aumentada e se mantenha no mesmo sítio. O problema é o do costume. Vai buscar-se ministros não se sabe bem onde, com preparação política duvidosa, mas cheios de técnica, e depois é o que se vê. Por mais estranho que pareça, o Primeiro-ministro que está por demais ocupado com a Presidência da União Europeia, não consegue impor a lei da rolha a estes ministros, ainda por cima numa altura em que voluntariamente prescindiu dos préstimos do seu número dois. Uma coisa é certa. O ministro tanto se esforçou que conseguiu retirar ao Governo a iniciativa sobre a Ota quando ainda havia uma espécie de reserva moral por ter sido o PSD a descobrir as vantagens de tal fantástica localização. Agora, Mário Lino conseguiu produzir umas declarações de tal forma idiotas que foram incapazes de produzir indiferença em Belém, que passará a ter a iniciativa daqui para a frente sempre que se falar de novo aeroporto. Cavaco parece querer exigir discussões técnicas e políticas e como não poderia faltar quererá consensos. Sócrates, se pretender continuar a manter as boas relações com Belém, não tem qualquer margem de manobra para dizer que não depois dos disparates de Mário Lino. Já Marques Mendes não lhe resta alternativa a não ser seguir o Sr. Presidente. Até pode ser bom que à imagem do semi-acordo da justiça, Cavaco consiga forçar PS e PSD a um acordo sobre o novo aeroporto, nem que ele seja em Freixo de Espada à Cinta. Pelo menos durante algum tempo este assunto sairá das páginas dos jornais. As declarações irresponsáveis de Ministros e dirigentes da oposição que propõem soluções do tipo Portela + 6 + Beja +Badajoz, deixarão de se fazer ouvir e talvez com o tempo se acabe por resolver a possibilidade de caírem aviões sobre a Av. almirante Gago Coutinho, que tem mesmo pinta de pista. A questão que se coloca é saber que se por sinal depois de todas estas discussões e análises cientifico-politicas o resultado der Ota, se os actuais contestatários se vão calar. Estamos todos a falar de uma infra-estrutura. Apenas uma infra-estrutura, essencial ao país, mas ainda assim um monte de betão que em qualquer outro país é construído sem qualquer polémica e em tempo útil, ao contrário dos 38 anos que já lá vão desde que começámos a sonhar com o aeroporto. Etiquetas: OTA |
Publicado por José Raposo às 17:29
Comments on "Um sonho chamado aeroporto"
Isto é publicidade gratuita porque se votar na Bruxinha que queria ser selo dos CTT não ganha nada com isso!Mas ela agradece do fundo do caldeirão!
O país gosta muito mais de fazer castelos na areia ou batalhas campais... Realmente nada se faz aqui sem polémica e disputa política. Uma coisa que deveria apenas servir para o interesse de todos e progresso economico, é colocada sobre o jogo da corda, para ver apenas quem leva os louros ou o troféu de ter construído o dito cujo.