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sexta-feira, junho 22, 2007

Cegos, surdos e mudos II

Por esta altura já toda a gente percebeu que além de a Europa avançar a duas velocidades, também funciona ao contrário da normalidade que deveria ser o seu projecto.
É cada vez mais claro que a emergente necessidade do alargamento que durante anos foi o “el dorado” europeu, deveria ter sido melhor preparado, reformando as instituições e fazendo condicionar a entrada de novos membros à concordância com as novas regras.
Era aliás bem simples, não tivessem os eurocratas insistido que a Europa se cumpria no seu alargamento. Era organizar uma espécie de tratado evolutivo, que contivesse claramente os objectivos quanto ao alargamento e as regras a aplicar às instituições e ao sistema de votação em cada uma das etapas do alargamento.
Se assim tivesse sido, hoje sabíamos com clareza se faz sentido incluir na União a Turquia e a Ucrânia e se outros países devem ou não entrar. Saberíamos quais os limites territoriais, mas também conheceríamos quais as instituições que a União necessitaria à medida que fosse aceitando novos estados e como iriam funcionar. E não teríamos qualquer problema quanto à votação pois poderia aplicar-se um sistema novo, acordado no tratado, de acordo com o número de países que entrassem, facilitando a sua integração e o funcionamento das instituições europeias.
Depois de concluirmos que as jovens democracias de leste foram raptadas por fundamentalismos vários, assistimos impunemente ao bloqueio das decisões na União por um estado que pretende em nome da memória de um conflito cujo fim está na génese da União, fazer vingar os seus pontos de vista que estão longe de ser equitativos. A Polónia, que ironicamente, não parece querer ceder uma vitória a Merckl, não só cospe no prato onde está comer, como invoca um passado de horror que aparentemente quer reproduzir para muitos dos seus cidadãos. Além disso é de uma injustiça cruel para a Sra. Merckl que passou grande parte da sua vida na Alemanha de Leste, sob o mesmo bloco opressor que a Polónia viveu em resultado da guerra.
Não haja qualquer dúvida. Os "evil twins" Kaczynski não querem uma Europa mais justa, querem uma Polónia mais influente e se alguém lhes dissesse que isso se poderia conseguir às custas de outros países, ainda mais pequenos e menos populosos, como Portugal, não hesitariam em aceitar.
Não há definitivamente um projecto europeu porque tudo é basicamente avulso. Se nesta altura ainda estamos todos a regatear questões de soberania nacional, sobre matérias especificamente económicas, como a aplicabilidade da carta de direitos fundamentais ao direito de trabalho inglês, então não há forma de a prazo se conseguir uniformizar tantas e tantas matérias que esta Europa ainda enfrenta.
Blair, na sua última cimeira conseguirá provavelmente criar mais estragos do que em qualquer outra, insistindo nesta absurda ideia de serem todos muito eurocépticos, que é uma forma de disfarçar a incontornável evidência que a Alemanha é que é o verdadeiro motor da Europa e não o Reino Unido.
E para quem é que vai sobrar? Pois claro, para nós. Pode até ser possível que um país mais pequeno, que na realidade não tem conflitos específicos com ninguém consiga desbloquear esta situação. Mas a coisa não começou bem na reunião do Visegrád Group em Bratislava, em que Sócrates foi o convidado principal. Naturalmente Kaczynski optou pela sua habitual falta de educação, perante o aviso de Sócrates que não poderíamos voltar a discutir a essência da Europa nesta altura, mas isso não compromete a presidência portuguesa.
Luís Amado e o Governo fazem bem em não aceitar este dossier, se desta cimeira não resultar um mandato claro para a presidência portuguesa prosseguir e tentar encontrar uma solução para este grave impasse que ameaça a própria união.
Enquanto tudo isto acontece em Bruxelas, nos restantes países europeus, os diversos povos não percebem nada, nem sabem se alguma vez terão alguma coisa a dizer sobre este assunto.
Aos poucos vai-se construindo uma Europa estranha e medonha. A verdadeira máquina burocrata em que ninguém se consegue rever.

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