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segunda-feira, junho 18, 2007

Grandes Dramas Judiciários: Urbino de Freitas (28)

URBINIANA



Em vez de um exemplar, desta vez trago uma bibliografia urbiniana elaborada por Liliana Rocha Dias:



- Amêndoas, Doces, Venenos, Navarro, António Rebordão, Porto, 1998, Campo das Letras

- A inocência de Urbino de Freitas, Monteiro, Gomes, Lisboa, 1893, Ed. Guimarães.

- O caso Médico-legal Urbino de Freitas, Souto, Agostinho António do, Porto, Imprensa Portueza.

- Uma causa célebre: com retrato e biografia do Dr. Urbino de Freitas, Conrado, Alberto, Porto, Imp. Económica, 1893.

- O problema médico-legal no processo Urbino de Freitas: uma replica – Suplento de: Coimbra Médica, nº 19, Raymundo da Silva Mota, Coimbra: Imprensa da Universidade, 1893.

- Minuta do Recurso de revista no processo Urbino de Freitas, Rangel, João Carlos Temudo, 1892, Porto: Luiz de Souza Ferreira.

- Verdadeira História de Urbino de Freitas e da sua infeliz família, Silva, Agostinho Veloso, Livraria Portuguesa, 1904

- O famoso e Controverso Caso Urbino de Freitas, Varatojo, Artur, Lisboa: Correio da Manhã, 2003, Arquivo do Crime. Casos Reais.

- Os Grandes Criminosos Portugueses, Ed. Ésquilo

- O crime na rua das Flores no Porto (o crime na rua das flores: opiniões da imprensa e provas obtidas contra o suposto envenenador o dr. Vicente urbino de freitas, Porto, Empr do Jornal o combate, 1890.

- Os crimes de Urbino de Freitas, Lisboa, Liv. Barateira, 19.. (os grandes crimonosos)

- Os crimes de Urbino de Freitas, Lisboa, Verol Junior, 19.. (Crimnosos célebres:5)

- O discurso natural da Linguagem, Freitas Urbino, Porto, Typographia Central, 1884.

- Monografia Audiências de julgamento do Dr. Urbino de Freitas, GRANGE António La .- Porto : Artur de Sousa, 1893.- 624p. ; 25cm
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28. Debates (Parte 2)



Seriam as amêndoas ou os doces de côco remetidos pelo Réu de Lisboa? Seriam os clisteres de água cidreira, aconselhados e preparados pelo Réu?
É isto o que em primeiro lugar vamos analisar.
Srs. jurados! No dia 28 de Março de 1890 foi remetida de Lisboa, em nome de Lúcio Artins, uma encomenda postal contendo amêndoas, e dirigida a Dona Berta Sampaio, sobrinha do Réu e filha de José Sampaio Júnior, falecido nos princípios de Janeiro daquele ano, no Hotel de Paris, desta cidade, encomenda que continha três caixas cartonadas com amêndoas brancas e de côr e um doce de côco ao centro de cada uma das três caixas.
Recorda o que se deu com as pessoas que comeram as amêndoas e o tal dôce de côco.
O Réu fora chamado a casa da sogra. Encontrando as crianças já aliviadas, receitou um purgante àquela senhora, retirando-se para sua casa e voltando à noite a saber dela, que encontrou bem, só bastante prostrada.
Como fosse já tarde e horas de se deitarem, a sogra disse-lhe que se retirasse, ao que ele não queria anuir (tendo até mandado a sua casa buscar uns chinelos para calçar durante a noite); mas, como ela não consentisse, o Réu disse-lhe que se retirava, mas que antes ia dar a seus sobrinhos, para eles dormirem e repousarem melhor e ganharem forças, uns clisteres de água cidreira que lhes deviam fazer muito bem. O envenenamento pelas amêndoas tinha falhado. Era preciso aproveitar-se a ocasião e não perder tempo, passos, incómodos, inutilmente; e então, deliberou envenená-los por outro modo.
Mandou-se buscar a cidreira e amornar a água, indo o Réu à cozinha, ele próprio, preparar esses clisteres.
Chegado aí, depois de ter pedido água, um copo e uma xícara, mediu a água, entrou para a retrete, onde se demorou algum tempo, voltando depois a deitar tudo na chocolateira, que estava ao lume.
Aquecida que foi a água, levaram-na ao Réu, sendo ele que encheu a seringa, querendo ministrar os clisteres, o que não levou a efeito por se oporem a tal os sobrinhos, encarregando por isso, desse serviço, a criada Maria Luísa.
O Réu retirou-se naquela ocasião. Mário recebeu o clister todo e com ele ficou toda a noite. Sua irmã Maria Augusta e sua prima Berta expeliram os delas. A noite passaram-na sem incidente algum, dormindo bem e profundamente.
No dia imediato, à hora do costume, acordaram as crianças e quando sua avó lhes perguntou como estavam, Mário queixou-se de muita sonolência e transpiração abundantíssima, sentindo-se agoniado. As meninas diziam ter muito peso na cabeça e andar-lhes a casa à roda.
Notam os Srs. jurados, na véspera tinham acordado bem e comido regularmente. Eram portanto os primeiros sintomas do envenenamento pelos clisteres a manifestarem-se.
Nesta ocasião, 7 horas da manhã, sem que ninguém o mandasse chamar, nem o esperasse, pois todos tinham ficado bem na véspera, apareceu o Réu que, informando-se do estado de seus sobrinhos, mostrou a necessidade de tomaram novos clisteres de cidreira, que ele próprio, como na véspera, preparou, na mesma chocolateira e copo, encobrindo com o corpo a operação de medição e enchimento da seringa; e mandando-os aplicar, recomendou que os aproveitassem todos, retirando-se de seguida.
Pouco tempo depois de sair, suas sobrinhas Berta e Maria Augusta de novo expeliram os clisteres, ficando Mário com o dele.
Passada aproximadamente uma hora, Mário que tinha adormecido profundamente, despertou., dando um grito e chamando para junto de si a avó, a quem, entre soluços, dizia: «Mamã, mamã, eu morro!!! Aquele clister que o tio me deu, matou-me. Mamã, eu morro, mas não se aflija, não!!! Eu não vejo nada. Abram-me as janelas (as janelas estavam abertas). Mamã, eu não queria morrer! Ai! Que aflição! Eu morro!!!»
E deixando cair a cabeça sobre o peito da avó, foram estas as últimas palavras da desventurada criança, morrendo ao fim da tarde desse dia! Naquela ocasião, e quasi ao mesmo tempo, chamavam também por sua avó suas netas Berta e Maria Augusta, que, sentindo-se igualmente aflitas e agoniadas, lhe pediam socorro.
Srs. jurados: quem se não sentirá profundamente impressionado ante a aflição imensa e a enorme dor daquela infeliz senhora, duas vezes mãe e protectora única de seus netos, órfãos de pais, que, naquele angustiosíssimo momento, lhe pediam e suplicavam auxílio?
Com que ansiedade não esperaria a chegada do Réu, que a toda a pressa tinha mandado chamar, num trem, e que julgava o amigo, o protector, o salvador de seus netos, ele, o seu envenenador, ele, o seu assassino!!!...
Chegou o Réu, e após um ligeiro exame de seus sobrinhos, voltando-se para a sogra, diz-lhe: «mande chamar médicos, que estas crianças estão envenenadas».
[Episódios anteriores: http://grandesdramas.blogspot.com]

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