Envolvimento desinteressado
Na semana passada os australianos revelaram os seus interesses pessoais pelo Iraque. Parece que a essencial queda do regime selvagem de Saddam e as famosas WMD’s não foram a motivação aussie para o envolvimento com a suposta coligação internacional na guerra do Iraque. Outras motivações, mais mesquinhas, terão motivado John Howard a estar presente no médio oriente. Mesquinhas, mas importantes. Tão importantes que parece haver um consenso daqueles que muito apreciamos por cá. Daqueles em que todos os partidos fazem um pacto de regime sobre várias matérias tornando-as quase sagradas aos olhos da opinião pública. Bons exemplos de como a hegemonia partidária sobre algumas matérias pode perpetuar uma situação errada, mas apresentada como positiva pelos partidos. Mas enfim, a transparência é sempre melhor em política que o segredo, e honestamente mais vale tarde do que nunca. Mas se o interesse australiano pelo Iraque é o petróleo, qual é o interesse australiano em Timor? O mesmo claro está… Depois de umas tranquilas eleições presidenciais a caminho de umas legislativas onde o poder realmente se disputava, Timor foi capaz de recuperar um pouco a tranquilidade que permite às organizações internacionais fazerem o seu trabalho e essencialmente permitiram organizar um escrutínio eleitoral sério e seguro. Ao contrário das piores expectativas, o acto eleitoral decorreu com total normalidade, apesar da já tradicional escassez de boletins que o sistema timorense de se poder votar em qualquer mesa de voto, mesmo que longe da área de residência, permite. Talvez sem surpresa a Fretilin ganhou e precisamente por isso volta a haver uma instabilidade latente no país. Já toda a gente percebeu que em Timor se disputam dois tipos de visão sobre o futuro do país. Onde tudo o que cheire a Fretilin é mau e tudo o resto pode ser tranquilamente implementado desde que Xanana aprove, mesmo que seja uma espécie de voto em branco. Façamos um paralelo com a situação em Portugal no PREC. A certa altura parecia que o país era a Cuba da Europa. Todo o país respirava vermelho, só se via vermelho e aparentemente todas as politicas eram vermelhas. O PCP parecia dominar tudo e todos e o povo parecia acompanhá-lo. Ora a grande diferença em relação a Timor é que a movimentação de rua do PCP em Portugal nunca foi sancionada nas urnas pelos portugueses e no caso timorense a Fretilin continua a ser sucessivamente legitimada pelo votos. Criar uma coligação pós-eleitoral maioritária no parlamento com o único propósito, não de governar o país, mas afastar o legítimo vencedor das eleições de o governar, só podia vir de esse grande herói que optou pela demissão do primeiro ministro (em vez da sua), após ter visto um documentário numa televisão australiana. A única coisa correcta e que devolveria estabilidade ao país sem vinganças de parte a parte, era Xanana ou qualquer outro partido mais pequeno encontrar um entendimento com o partido vencedor de forma a assegurar um governo estável, aliás como é preconizado pela Fretilin numa comunicado de imprensa com destino a Ramos Horta. Se por acaso Ramos Horta convidar a Fretilin a formar governo e a procurar uma solução estável de governo e Xanana se opor, ou se em alternativa, Ramos horta não convidar a Fretilin e for convidar directamente Xanana para formar governo com a recente coligação, Timor voltará a ser um banho de sangue. E os culpados serão à vez um de dois grandes resistentes e heróis. Ou Ramos Horta ou Xanana. E onde é que está a Austrália a apoiar a estabilidade política do país onde desinteressadamente se envolveu? Etiquetas: Timor |
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