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quinta-feira, julho 05, 2007

Um país com cancros decisórios


Artigo 25º da Constituição:

"A integridade moral e física das pessoas é inviolável."
"Ninguém pode ser submetido a tortura, nem a tratos (...) degradantes ou desumanos."

A Constituição Portuguesa não engana, é o nosso santo Graal, ou deveria.
Enquanto o país andava em histeria colectiva com o caso da menina inglesa, já este país tinha passado por mais dois episódios arrepiantes de incompetência aliada à arrogância de quem decide. Curiosamente ou não, estes factos passaram-se com dois docentes do ensino secundário e os dois este ano faleceram a lutar pelo direito ao descanso, pelo direito à própria doença da qual padeciam. Foi-lhes negado rotundamente o direito a combaterem, estarem e a viverem a sua doença, com toda a dignidade e forças que lhes restassem. Artur Silva e Maria Manuela morreram a tentar provar aos outros aquilo que estava medicamente diagnosticado e visivel a todos os que com eles privavam. As juntas médicas que apreciaram, ou devo dizer, não apreciaram mas decidiram, por pouco não adivinharam que os professores estavam no limiar das suas vidas. O poder é tanto, que a junta médica decide sem convocar os visados, o que só pode indicar que têm uma bola de cristal, Maria Manuela conseguiu a aposentação uma semana antes de falecer, podemos todos imaginar a (in)satisfação que sentiu e Artur Silva viu negado o pedido de aposentação sem ter sido convocado para a JM. A pergunta mais do que óbvia e já feita por muitos está sempre presente e é sempre oportuna para relembrar a incompetência, arrogância do que aqui está em causa: Como é que um professor completamente afónico, devido à cirurgia, dá aulas de filosofia? Como é que uma professora que já não conseguia alimentar-se a si própria consegue dar aulas de educação tecnológica? Os senhores da JM alguma vez entalaram um dedo numa porta, para terem um cheirinho de dor? Multipliquem-na por dois, todos os dias seguintes, para se perceber o que é padecer de um cancro, o próprio e a família. Isto deixa-me com curiosidade para saber quem faz ou pode fazer parte de uma JM...Pedro Nunes, bastonário da Ordem do Médicos, diz agora que irão passar por formação específica os Drs. destas juntas. Mas então estavam lá veterinários, biólogos ou astronautas?? E SÓ AGORA? As queixas, ainda que amiúde, não são de agora e outras chegaram aos ouvidos do Bastonário e depois deste alarido lá terá pensado "Até já era altura de eu me levantar da cadeira e ver afinal o que é este zum zum".
E que tal obrigar estes senhores da Junta Médica a trabalhar também até morrer, sem ter direito à boa da aposentação? Para eles seria mais do que justo já que a sua máxima foi "Deixar de trabalhar só morto" ao invés da famosa "Trabalhar nem morto". Foi uma violação à dignidade e integridade pessoal, um tratamento degradante e desumano em relação a Artur e Maria Manuela.
Também me revolta que o Colega de Artur Silva , Miguel Soares tenha agora decidido ser solidário com o falecido companheiro, expondo o caso no Portugaldiário, seis meses após a sua morte e até se tenha organizado para o próximo fim de semana uma manifestação a defender e a honrar aquele docente, quando em vida o certo é que seus companheiros não vieram à rua. As vitórias póstumas são maioritamente um hábito sórdido dos vivos e para seu deleite não menos vezes.

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Comments on "Um país com cancros decisórios"

 

Anonymous Anónimo said ... (julho 07, 2007 4:29 da manhã) : 

Foi injusto em relação aos colegas do Artur. Poderia ter-se informado melhor, teria sido fácil!
O que se passou, foi muito simples: nunca ninguém ligou nenhuma ao caso, apesar de muitas tentativas de chamar a atenção dos media - e claro que nunca ninguém da DREN ou da CGA quiz saber do caso - pois se estava tudo "de acordo com a lei"!!!
A vigília já estava marcada há muito tempo (pela Assembleia de Escola) para assinalar a passagem de 6 meses da morte do Artur. Por estes dias, um professor da escola teve a brilhante ideia de contar o caso por e-mail ao Marcelo Rebelo de Sousa: 1º milagre, ele falou disso; 2º milagre, toda a gente soube da história; 3º milagre, toda a gente está a falar disso. É o que interessa.

 

Anonymous Anónimo said ... (julho 08, 2007 7:46 da tarde) : 

Depois de ter feito um comentário para dar as informações que manifestamente faltavam, lamento não ter encontrado no blog nenhuma referência, rectificação, qualquer coisa... Falar mal dos outros é fácil. Difícil é reconhecer que se errou. Não é?

 

Blogger Claudia Gonçalves said ... (julho 08, 2007 11:33 da tarde) : 

Caro artur, não falei mal, expressei a minha opinião, se é que isso ainda é permitido, neste espaço ou noutro qualquer! A fobia do Sr. Sócrates parece estar a alastrar. Já agora que ficou tão indignado com a minha falta de informação, desejo saber mais: quem foi o brilhante professor que teve a brilhante ideia do mail para chegar às massas mal informadas e errantes como eu?
Curioso como no meio de um texto que alerta para a vergonhosa decisão que se tomou em relação aos seus dois colegas e ao seu sofrimento, se sinta tão atingido por 4 linhas.

 

Anonymous Anónimo said ... (julho 09, 2007 12:36 da tarde) : 

Não sei por que razão o post que coloquei ainda não apareceu. Outra tentativa:
Repito e reafirmo tudo o que disse em relação à leviandade com que afrrma que só agora os colegas do prof. Artur se manifestam. Serão apenas 4 linhas, serão; mas com um juizo de valor sobre comportamentos de psssoas que desconhece e sobre um processo que desconhece.
O prof. Miguel Soares era presidente do Cons. Executivo no início da doença do professor; hoje reformado, pode dar livre expressão ao que todos nós sentimos, bem antes da morte to nosso colega.
A vigília - repito, marcada MUITO ANTES da mediatização do caso - foi marcada pela Assembleia de EScola por ser a única hipóte de se poder, esperemos, evitar possíveis retaliações por parte dos de lá de cima...
Poderíamos ter ido para a rua? Ter feito greve? Talvez. Mas olhe, tivemos medo. Com tanta gente a dar na cabeça aos professores, quem nos apoiaria? Que jornal ou canal de TV falaria disso e em que termos?
Pode crer que solidariedade DURANTE A DOENÇA foi coisa que NUNCA faltou ao nosso colega. E em nome dessa solidariedade que a melhor forma de o homenagear é contribuir para que a tragédia dele possa alertar para outros casos de tratamento desumano para com outros, professores ou não.
Afirmar, como o fez, em 4 linhas, que os colegas do prof. Artur só agora manifestam solidariedade; apelidar isto de manifestação dum hábito sórdido... olhe, até está bem escrito, mas doeu. Muito. O Artur era meu colega. Meu amigo.

 

Anonymous Anónimo said ... (julho 09, 2007 12:40 da tarde) : 

PS: Claro que não vou dizer-lhe o nome do "professor brilhante". Que quer, do modo como as coisas estão, não vá o diabo tecê-las... Os senhores lá de cima não gostam destas coisas. E como já referi, toda a gente gosta de nos dar na cabeça, não é?

 

Blogger Claudia Gonçalves said ... (julho 09, 2007 3:47 da tarde) : 

O texto que escrevi também só pretendia alertar para o que aconteceu e agradeço os seus esclarecimentos.
Entendo que as coisas mais importantes e revoltantes que acontecem neste país não cheguem ás cupulas dos media e do governo, porque toda a informação é filtrada e o que aparece nos jornais e televisão é manipulado, só tendo mediatismo o que determinados senhores querem. É esta a minha opinião. Só nos dão "conhecimento" do que querem, somos todos conduzidos numa determinada direcção, que se desengane quem pensa que vive tempos de liberdade.

 

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