Uma presidência responsável, please
Pela primeira vez estou de acordo com Paulo Portas. A presidência portuguesa da União Europeia não obriga ninguém a demitir-se de fazer oposição, ao abrigo de um qualquer inconsequente desígnio nacional de unanimismo parolo. Isso, naturalmente obriga o governo e em particular o primeiro ministro a uma atenção redobrada sobre os assuntos nacionais, e não são poucos, em paralelo com o exercício da presidência. Isso não será fácil. Sócrates ainda que se possa ter em grande conta não possui ainda o dom da ubiquidade e permitiu recentemente que o seu principal apoio saísse para a candidatura a Lisboa. Não se prevê que alguém possa substituir o primeiro ministro com uma espécie de vice primeiro. Portugal têm a rara oportunidade de deixar uma marca no percurso europeu, contribuindo para isso, a histórica e provavelmente irrepetível circunstância de ao mesmo tempo presidente em exercício e presidente da comissão europeia serem ambos portugueses. Mas a presidência portuguesa pode vir a ter uma papel maior na definição da Europa enquanto player internacional, do que (como se espera) país responsável pela proposta e previsível assinatura do tratado reformador. O mandato em que Sócrates insistiu na Alemanha é suficiente para fazer assinar o famoso tratado, mas não realidade não representa grande alteração ao estado actual das instituições europeias. Não é possível que alguém imagine que um tratado que empurra para 2014 e 2017, o impacto das suas principais alterações e que ignora grande parte do interesse que havia em criar uma identidade europeia, mas que ainda assim continua a reconhecer especificidades de alguns países contrários ao aprofundamento da União, possa ser considerado um sucesso. Por isso mesmo a marca que Portugal pode deixar, está intimamente ligada ao sucesso das cimeiras que decorrerão neste período. Índia, Rússia, Brasil e África são blocos económicos de respeito e é nessa medida que as cimeiras com estes blocos a ocorrerem em Portugal e na Índia podem ajudar a redefinir o papel da Europa no mundo e a forma como o bloco passa a ser visto no futuro e fazer atenuar algumas tensões que vão surgindo, nomeadamente com a Rússia. Outra iniciativa em que Portugal pode fazer a diferença está na reciclagem da estratégia de Lisboa que já todos esqueceram, num claro interesse de uma politica europeia de inovação e criação de emprego que tanto interessa a Portugal. Muito trabalho para o governo e para Sócrates, o que obriga a muito jogo de cintura. A nossa economia cresce timidamente e há muitos sinais de intranquilidade que nos atiram continuamente para uma espécie de estado de letargia e depressão colectiva. No entanto não podemos responsabilizar a Europa por isso. Antes pelo contrário. Não fossem os milhões europeus e a nossa situação seria certamente muito pior. Os culpados são os políticos portugueses, todos eles. Por isso esperemos que possam estar à altura desta presidência não porque é fundamental deixar uma ideia de menino bem comportado onde tudo corre bem, nem para escamotear qualquer problema. Antes por ser um momento politico em que toda a classe politica se deve envolver com rigor porque como dizia hoje Sócrates aquilo “que é bom para a Europa é naturalmente bom para Portugal” independentemente dos protagonistas que nos liderem. Triste é ver aproveitar este momento para a reivindicação mesquinha de quem na realidade não tem problemas, junto de quem não tem qualquer possibilidade/interesse de mudar qualquer tipo de questão politica. É o triste caso dos sindicatos da polícia que aproveitando o inicio da presidência resolveram traduzir as suas reivindicações ou lá o que aquilo seja, e entregá-las aos passageiros “particulares” dos aviões que chegavam à Portela. Certamente muitos estarão fortemente empenhados em ir às manifestações dos policias… Sem dúvida uma boa imagem de Portugal, e uma chantagem absurda e inconsequente. Seria útil que os partidos se mantivessem alheios deste tipo de iniciativas, ainda que marquem todas as manifestações necessárias e todas as formas de luta que considerem necessárias para demover os governantes portugueses, sim portugueses e não europeus, das medidas que tencionam pôr em prática. Tudo a bem de uma responsabilidade que todos partilham. |
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