Tempo de partir
Hoje completam-se três anos de Suburbano e cerca de ano e meio de Dolo Eventual. É o tempo certo para partir. Ter um blog é um desafio que por vezes ameaça dominar as nossas vidas. Já me podiam escapar poucas coisas, mas a partir do momento em que se passa para o “papel”, as ideias que vão aparecendo, multiplicam-se os rabiscos nos bolsos com tópicos ou multiplicam-se as notas dos organizers dos telefones, com textos incompletos que acabam por nunca ver a luz do dia. Um blog dá trabalho, mas é um bom tratamento para a loucura dos bloggers que por aí andam. E se um já dá trabalho, quanto mais 4, que foi o número de blogues por onde passei nos últimos três anos. O problema está em perceber quando deve terminar. Tudo acaba por terminar e a única decisão é perceber se vale a pena resistir ao medo de deixar as coisas a meio ou pelo contrário fazer chegar a bom porto um projecto. A minha passagem pela blogosfera nunca foi um projecto, nunca teve muitas regras e claramente atingir três anos é um disparate. Apareceram muitas iniciativas mas que acabaram por morrer na praia, houve muitas respostas que ficaram por dar e muitos assuntos por abordar. Mais concretamente 92 textos que ficaram por escrever, ou ficaram meios escrevinhados em rascunho, dos mais de 1600 publicados. Até se pode dizer que perdi o interesse. Mas isso não é bem verdade, muito embora se notem bem os momentos em que isso ocorreu. Continuo a ter muitas coisas para dizer, mas um blog sobre tudo e coisa nenhuma consome-se a si próprio até à extinção. Vive como caixa de ressonância da agenda mediática e dos humores flutuantes do seu autor e por isso é fortemente influenciado por factores externos. Não posso negar que estou um pouco desiludido com a Internet e mais concretamente com a blogosfera. Este meio que tanto prometia, tornou-se um empecilho à verdade, porque esta deixou de interessar. Como bem encabeça um blog da nossa praça “Não deixe que a verdade estrague uma boa história”. Mea Culpa eu sei, porque cá também tenho andado metido. Mas aqui nada mais existe que uma interpretação da realidade, muitas vezes distorcida ao sabor dos mais variados interesses pessoais ou outros, que não permitem ao mais incauto dos leitores perceber quais são os factos verdadeiros. A blogosfera não parece particularmente preocupada com isso. Na realidade este meio tornou-se o princípio e o fim de tudo. O mal e a cura. A fome mas também a fartura. Todas as dúvidas e todas as soluções podem aqui ser encontradas e alguns bloggers sentam-se sobre uma montanha de sapiência acumulada, e sozinhos contemplam os restantes de forma paternalista e condescendente, como se esses não tivessem visto ainda a verdadeira luz de que deles emana… Mas parto com amizade (onde é que eu já ouvi isto), tive o prazer de conhecer, virtualmente e não só, algumas das pessoas com quem troquei ideias e com quem acabei por escrever. Vou-me embora, mas como o outro vou acabar por não estar aqui, mas andar por aí. O Suburbano ainda vai ficar na blogosfera durante algum tempo e tenho esperança que o Pedro relance o Dolo assim que lhe for possível. Eu continuarei a ter gosto em ler alguns, poucos, blogues. Vou dedicar-me a outras tarefas fora desta realidade, mas isto não é necessariamente um até nunca mais. A porta não está fechada a novos blogues e projectos, mas não para já. Não farei dedicatórias especiais, mas em particular a todos os que comigo colaboraram no Suburbano, n’O Eleito, no Dolo Eventual e no Canções dos meus dias, o meu Obrigado A todos quantos me cruzei por aí, as melhores felicidades. Etiquetas: Dolo Eventual |
Publicado por José Raposo às 14:48
Comments on "Tempo de partir"
Desencantado, mas compreendo bem a angústia de ser "caixa de ressonância da agenda mediática". Muitas vezes sinto o mesmo, sinto vontade de mudar o rumo do blog... mas mantém-se!
Espero que não seja um adeus definitivo!
Só se pode estar desiludido com a blogosfera se alguma vez ousámos ter a veleidade de, através dela, pensar que seria possível fazermos alterar alguma coisa de um momento para o outro. A Bíblia, o Corão e quejandos existem há muito tempo, são lidos, estudados, debatidos, pregados e seguidos, e é ver como vai este mundo. Octávio Lima (ondas3.blogs.sapo.pt)
Bem, vemo-nos por aí.
Felicidades.
Talvez um dia deste lhe volte a vontade de blogar.
Viva raposo!
Então é finalmente chegado o dia. Um abraço e uma nota de dívida por saldar: um jantar aí - algures - pelo sul. Caraças, é o minimo não?!
Entretanto, vai-me visitando ao www.quintacidade.com. Também me saturei da blogosfera generalista.
Abraço! E trata de cobrar a divida :)
O post é muito bom. Mas diz-me a experiência que é um mito. Ninguém abandona a blogosfera. Até já!
Até beve... volte sempre, que por cá faz falta.
Um abraço
Saudações dolosas Raposo.
Aprendiz da blogosfera que sou, não queria deixar de te mandar um abraço neste espaço que partilhámos.
A verdade é empecilho por si só, pelo cru que muitas vezes representa, como pelo absurdo que não menos vezes atinge. Contar uma história em volta de uma parcela de realidade ficará sempre no meio termo de tudo e dá sempre para a tudo se adaptar. São estes os tempos que correm....
Foi um prazer
Ó rapazes então vocês abandonam o barco????
Nada disso!!!
Voltem!!!
Voltem e já!!!
(se não voltam não vos perdoo!)