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terça-feira, abril 28, 2009

Retalhitos do 25 de Abril de 2009

[Com algum atraso, por dificuldades técnicas, segue uma troca de mails, que começaram em indignação e acabaram em esclarecimento.
Notas de como vai vivendo o comum dos mortais o seu 25 de Abril...]

(Caro Manuel Alegre,
Este é um escrito que fiz para postar no blog http://odoloeventual.blogspot.com/
O mail do rapaz-cantor de que falo é
andarilho(…)
E viva a liberdade...
Graça Bandola Cardoso)


(Ná… isto não deve ter nada a ver com censura!...)

Anteontem veio à minha escola um rapaz alto, pés enormes, de quem andarilha muito, e voz de entrar sem bater e ficar logo lá dentro. Rui Pedro Oliveira.
Na Biblioteca cantou, arrepiantemente, canções de Abril.

E contou uma história que provocou em todos nós um arrepio diferente, um arrepio de perigo eminente:
foi convidado para ir cantar ao Portugal no Coração, na 1. Pediram-lhe antecipadamente o reportório, que ele enviou. Uma canção foi censurada cortada não permitida. Ele achou estranho, mas não teve alternativa: substituiu-a.

Qual era a canção? Esta:

POEMARMA
Que o poema tenha rodas motores alavancas
Que seja máquina espectáculo cinema
Que diga à estátua: sai do caminho que atravancas.
Que seja um autocarro em forma de poema.
(…)
Que o poema corra salte pule
Que seja pulga e faça cócegas ao burguês
Que o poema se vista subversivo de ganga azul
E vá explicar numa parede alguns porquês
(…)
Que o poema seja microfone e fale
Uma noite destas de repente às três e tal
Para que a lua estoire e o sono estale
E a gente acorde finalmente em Portugal
(…)

(Para quem não se lembre, de Manuel Alegre)
Não.
Isto não pode, não deve ter nada a ver com censura.
Então hoje não é 25 de Abril??...
Graça Bandola Cardoso

(Resposta do Rui Pedro)
Cara Graça,
ainda bem que enviou este mail com o meu conhecimento.
Desta forma posso esclarecer que cantei mesmo o POEMARAMA na RTP 1.

Participei no Festival de Música Aveirense.
A organização do Festival contratou uma agente independente para promover o festival nos meios de comunicação social.
Essa agente, contactou-me e pediu-me para ir cantar à RTP no programa Portugal no Coração.
Até à minha ida ao programa eu pensei que ela trabalhava na RTP.
Pediu-me as letras das músicas que eu queria cantar.
Enviei o FUI À BEIRA DO MAR do Zeca Afonso e o POEMARMA do Manuel Alegre.
Ela disse-me que o FUI À BEIRA DO MAR podia ser cantado mas que o POEMARMA não podia pois seria recusado pela Produção.
Eu resolvi mentir-lhe e dizer que cantava outra música, com a intenção de, no programa em directo, cantar o POEMARMA.
Assim fiz. Cantei a música no Programa da RTP contra a vontade da Cristina E.S. e não recebi qualquer admoestação da RTP.
Percebi depois que a decisão de me pedir para não cantar o POEMARMA era da própria Cristina e que ela não trabalhava na RTP.
Troquei argumentos com ela depois do programa e ela voltou a frisar que se eu dissesse à partida que ia cantar essa música não iria ao programa pois ela não me proporia.

Quando fui cantar à Escola C. M. (no mesmo dia em que iria, de tarde, à televisão) ainda não sabia que a agente contratada não era da RTP.
Antes de cantar o POEMARMA na biblioteca da Escola contei aos alunos que nesse dia ia tocar à RTP e que me tinham pedido para não cantar essa música. Queria com isto chamar-lhes a atenção para o facto de que a liberdade não é uma conquista definitiva mas requer uma luta constante pela sua defesa.

Com este mail espero esclarecer que a suspeita que possa ter levantado sobre a RTP não parece ter, afinal, fundamento.
O pedido para não cantar o POEMARMA na RTP veio de uma agente independente contratada pelo Festival de Música Aveirense.

Agradeço a sua atenção a este caso, e a solidariedade que demonstrou.
Cumprimentos
Rui Oliveira

Caro Rui,
Obrigada pela sua atenção e esclarecimento: também não gostaria de levantar falsos testemunhos sobre um organismo (RTP1) isento de responsabilidade neste caso - embora devamos dizer em nossa defesa que a não isenção da própria RTP, noutros casos, a colocou nesta posição de as pessoas cá fora já duvidarem assim, tão facilmente, da sua idoneidade como veículo de informação...
Concordo inteiramente consigo quando diz que a liberdade é uma conquista permanente - li aos meus alunos o livro "O Tesouro", do Manuel António Pina, que aborda precisamente a necessidade de velar por esse mesmo tesouro - a liberdade, que não está garantido, e que é tão frágil e tão volátil se não estivermos atentos.
Ao fazer aquele pequeno escrito, foi na defesa deste bem de primeira necessidade, essencial, vital, que é para mim a Liberdade.
Um abraço
Graça

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