Dúvidas
«O problema do mundo de hoje é que os estúpidos só têm certezas e os inteligentes estão cheios de dúvidas» Bertrand Russel Felizmente estou cravejadinha de dúvidas. O que nem por isso me tranquiliza, ou por isso mesmo me angustia: vejo coisas que não queria ver, sei de coisas que não queria saber, e não sei tantas outras que devia. Da escola sei muitas, porque estou lá dentro todos os dias. Fico é estonteada com a quantidade de gente que sabe tanto como eu, ou muito mais do que eu, sem lá pôr os pés há anos. Só duas coisitas: o 12º ano, e os magalhães, por exemplo. Neste país cheio de novas oportunidades, RVCCs, EFAs, CEFs, PCAs, e PIEFs (não descodifico, porque como percebem todos muito de escola…) o 12º obrigatório, ainda que em versão paulatina, irá acabar rotundamente com o pouco que resta de qualidade no Secundário. Não vou dizer a grande maioria dos alunos, mas muitos, mesmo muitos (os reais, das aldeias, das pequenas cidades, os da minha escola, que não é tão pequena quanto isso), NÂO querem. Já não querem agora, e só vão até ao 9º. Os pais não querem. Os professores dos que não querem, porque os conhecem bem demais, também não querem. Então quem quer? Quem não sabe ver que há pré-requisitos a cumprir, entre os quais fazer ver a grande parte deste país, que vantagens há para um país no Aprender (e não meramente frequentar, como diz o outro...)? Os magalhães. Aconselho-vos a ir por aí, às escolinhas. Vão à hora do recreio. E vejam os cachopos e cachopas, que deviam andar a correr e aos saltos lá fora, a teclar furiosamente nos jogos disponíveis, pelos halls e corredores. Qual sol, quais correrias! E não interessa nada o que se diz: “Uwe Buermann, colaborador científico do Instituto Ipsum e docente de Ciências Computacionais em Kiel, sublinhou que os meios electrónicos presentes na vida de uma grande parte da população infantil são cada vez mais ingenuamente considerados pelos pais como brinquedos, tornando-se assim algo que as crianças podem usar a bel-prazer.(…) Entretanto, inúmeros estudos rigorosos já atestaram que o convívio prematuro de crianças em idade primária com computadores e tecnologias de comunicação, impede de maneira notável o desenvolvimento de muitas capacidades e habilidades, sendo precisamente essas crianças que posteriormente sofrerão de uma limitação nas suas possibilidades pessoais e profissionais, ficando dependentes para o resto da vida. Nas escolas, cada vez mais crianças mostram debilidades do tipo Distúrbio de Hiperactividade e Défice de Atenção (DHDA). A neurobiologia já atestou que em numerosos casos se trata de danos psicológicos e orgânicos decorrentes do consumo de meios electrónicos na primeira fase da infância.” Pois. Mas a eles não assolam estas dúvidas. Só têm certezas. Abençoados… |
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O título pode dedicá-lo ao dr. Medina Carreira...