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sexta-feira, setembro 18, 2009

Foi você que pediu um Watergate?

Era preciso que alguém deitasse água nesta fervura com alguma urgência, e pelos vistos quem o poderia fazer seria Cavaco, se porventura não fosse uma das partes envolvidas/invocadas, ou isto ameaça tornar-se muito maior do que provavelmente é. Ou seja, uma sucessão de equívocos e interesses pessoais politicamente obscuros de um ou dois boys, mas inócuos quanto à essência do regime.
Esta situação das escutas que afinal não seriam escutas mas sim uma espécie de agente infiltrado, o desejo de um assessor em divulgar opiniões não fundamentadas, ou o interesse do governo em manter pessoal do presidente ou até o próprio presidente sobre vigilância, tudo embrulhado nos eventos organizados pelo governo regional da madeira, merecem uma análise e um esclarecimento profundo e necessitam que no limite rolem as cabeças que houver a rolar, porque não é possível deixar ficar no ar uma situação que mina (como tantas outras) a credibilidade das instituições e dos protagonistas.
De qualquer forma não pode ser inocente que o caso dos votos comprados pelos candidatos arguidos da Manuela tivesse surgido agora, nem tão pouco é inocente que esta história das escutas, cujos contornos parecem indiciar no DN responsabilidades de Belém, e no Público responsabilidades de São Bento, tenha surgido e tenha abafado o anterior.
A haver responsabilidade objectiva da classe política no clima de suspeição permanente, denúncia e boato que vivemos, ou a existirem tentativas de manipulação da comunicação social no sentido de passar desinformação que notoriamente prejudica todos à vez, então o país precisa (para além de uma melhor classe política), leis mais rigorosas que separem os jornalistas dos políticos, que previnam a promiscuidade e penalizem os abusos de forma séria e exemplar, a bem de uma democracia mais saudável.
Se pelo contrário a classe política é vítima de sucessivos ataques de pessoas ou entidades não identificadas, ou por jornalistas sem escrúpulos que ao abrigo da liberdade de imprensa tudo fazem para levantar falsos testemunhos e criar um clima em que a classe política passa sempre, e passam todos sem excepção, por um bando de gente incapaz, algo estúpida e corrupta, que o país sustenta, sem que isso se comprove judicialmente, então a classe jornalística necessita de auto-regulação, de leis mais claras quanto à relação que mantém com as suas fontes, de muita formação e de leis que obriguem à reformulação das suas composições accionistas, que garanta a sua independência e equidistância em relação ao poder político e económico. Isto porque é cada vez mais claro que apenas procuram audiências e vendas e não o interesse de informar.
Mas isto tem um valor político e o Presidente erra na análise que faz destas notícias. A notícia publicada no Público em Agosto, implicava directamente a existência de uma fonte da Presidência da República, aparentemente identificada como pertencendo à casa civil da Presidência ainda que anónima. Cavaco em Agosto, a banhos no Algarve, resolveu não efectuar qualquer comentário considerado válido ou esclarecedor, como aliás vem sendo costume.
A notícia de hoje no DN revela muito mais informação. É identificado o membro da casa civil que anteriormente era anónimo (parece que Louçã já tinha falado neste nome) e é referido explicitamente que este pediu para se encontrar com um jornalista a pedido do Presidente da República, manifestando o interesse deste em tornar público o assunto das alegadas escutas do Governo sobre a Presidência da República e até sobre o Presidente, na sequência da participação de elementos da casa civil na elaboração do programa do PSD.
Estas notícias do DN carecem de um desmentido do Presidente da República sobre o seu envolvimento na situação, ou sobre o abuso de confiança do seu colaborador, que vão para além do interesse que o Presidente (novamente questionado) revelou de não se quer meter na luta político-partidária em tempo de campanha.
Ora de que forma é que o envolvimento do PR ou da sua casa civil na divulgação de uma notícia que está por provar ser verdadeira, pode ser entendido como luta político-partidária pelo PR? Aparentemente de forma nenhuma, pelo que seria exigível do Presidente da República não que se metesse na campanha, mas que respondesse aos portugueses sobre as interrogações que estas noticias levantam.
O que começa a parecer comum é que todas as notícias fazem o seu caminho na direcção do governo. Hoje de manhã havia uma notícia sobre um alegado caso de escutas plantado a pedido num jornal, por um exagerado e zeloso colaborador do Presidente, afeiçoado à ideia de agradar ao chefe, e ao fim do dia existe um assalto ao estado de direito democrático protagonizado pelos serviços de informações coordenados sob a batuta (de quem poderia ser) do Primeiro-Ministro.
Grave não é o director do Público sonhar com filmes de espionagem em que ele é o herói contra as injustiças de um vilão bem vestido, mesmo apesar de ao fim do dia ter tido de emendar a mão sobre a enorme conspiração que teria, através do SIS, penetrado no sistema informático do Público, que ele imagina ser a única entidade capaz de o fazer em Portugal (este homem vive num mundo de fantasia se imagina que apenas o SIS consegue entrar nos computadores alheios).
Grave é a possibilidade de o Presidente ter suspeitas que é escutado ou vigiado pelo governo há 17 meses e aparentemente não ter feito nada.
Grave é o Presidente da República, a serem verdadeiras as notícias, ao abrigo da reserva que lhe é pedida durante uma campanha eleitoral, manter um silêncio estrondoso, que não o iliba de responsabilidade, mas que prejudica objectivamente um partido político concorrente a estas eleições.
É uma intervenção clara na campanha eleitoral com base numa omissão deliberada do Presidente da República.

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Comments on "Foi você que pediu um Watergate?"

 

Anonymous h.horta said ... (setembro 19, 2009 3:36 da tarde) : 

Caro José Raposo, revejo-me em muitas das suas opiniões sobre este assunto, no entanto ha uma questão onde ainda vou mais longe,
Acho lamentável que membros do "staff" oficial do PR tenham colaborado na elaboração do programa de um partido político, são referi são livres de o fazer, mas sou da opinião que fica comprometida e equidistância que Belém deve ter em relação ao todos os partidos políticos, se não estou em erro em mais de 30 anos de democracia no nosso pais é a primeira vez que isto acontece.
Também concordo consigo quanto as considerações que faz em relação ao silencio do PR nesta questão, por muito que este senhor que agora esta em Belém não tenha jeito para falar, impõe-se a bem da nossa democracia um esclarecimento ao povo português sobre aquilo que realmente se passou.
Sempre suspeitei que a eleição deste senhor para PR era um erro, mas infelizmente acho que "ainda a procissão vai no adro", depois das legislativas com a fragilidade de governo que delas sair (independentemente da cor que vencer as eleições), aí sim se vai ter uma boa noção do erro que eleger Cavaco para PR.
Ah... apenas uma pequena correcção "candidatos arguidos da Manuela", arguidos não, acusados, tanto quanto sei um deles ate já tem julgamento marcado.

 

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