Leve, leve que está fresquinho
Dentro do mercado, perseguido por um pequeno grupo de apoiantes, Louçã cumprimentou os vendedores de frutas, legumes, animais de criação e pão. A poucos metros da peixaria, e num tom de voz mais baixo, disse a Adelino Granja, candidato bloquista à câmara de Alcobaça, que não queria ir àquele espaço. Por isso, quando passou pela entrada que dá acesso à zona do peixe nem sequer olhou para trás, apesar dos acenos das vendedoras. Questionado pelos jornalistas sobre o facto de ter evitado a peixaria, Francisco Louçã foi rápido na resposta; “Nunca vou.” Porquê? “Por uma questão de princípio”, respondeu. E sustentou: “Porque cria uma dinâmica de espectáculo. Eu quero um contacto com as pessoas, não quero favorecer nenhuma forma de populismo, nenhuma forma de simplicidade na campanha eleitoral.” Público ![]() Temos, de um lado, os vendedores de frutas, legumes, animais de criação e pão. Gente cordata, com a qual se discute ideias, proeminente na res do espírito, discreta. Temos, de outro lado, as peixeiras. Gente pouco cordata, com a qual não se discute ideias, indiscreta (que inclusivamente acena). Falar com os vendedores de frutas, legumes, animais de criação e pão é favorecer o contacto com pessoas e sem populismos. Falar com peixeiras é não favorecer o contacto com pessoas e ser populista. Falando da política que Louçã propõe para o país. Ainda que se não vote em Francisco Louçã, é muito fácil concordar-se com ele. Por regra, todas as premissas do seu discurso estão correctas. E são as premissas quem cria empatia entre político e eleitor. Porém, grande parte das conclusões - das soluções para o país - estão erradas. No fundo, Louçã é um vendedor de peixe clássico: vende perca do Nilo no mercado da Costa Nova e diz «Leve, leve que está fresquinho! Acabei agora mesmo de a apanhar!» Daí que faria mais sentido Louçã ter ido cumprimentar as peixeiras, ao invés dos vendedores de frutas, legumes, animais de criação e pão. |
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