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domingo, abril 23, 2006

Grandes Dramas Judiciários: URBINO DE FREITAS (3)

Aqui temos mais um episódio do Grandes Dramas Judiciários. O dr. Urbino de Freitas era docente na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, um dos embriões da futura Universidade. Para saber mais sobre esta instituição ver este artigo da Wikipédia e este site sobre o Porto e o Ensino Superior.
3. Intervenção de urbino de freitas, genro e tio dos envenenados. Os clisteres de cidreira.
Os pequenos vomitaram tudo quanto têm no estômago, os vómitos seguidos de quantiosas dejecções. Pelo que, louvado o Senhor! podem deitar-se, à hora do costume, dormir tranquilamente o sono dessa noite.
Dona Maria Carolina, durante a noite, é que se revolve na cama, curtindo «as mesmas aflições, numa agonia» - a Luísa também agoniada.
Na têrça-feira, 1 de Abril, os netos levantam-se a hora de sempre. Obedientes aos mandamentos da ordem, estudam as suas lições, entregam-se aos seus brinquedos.
A avó, entretanto, convoca a visita do genro. Urbino de Freitas comparece ao meio-dia.
Expõe-lhe o que se passou com ela e com os pequenos, após a ingestão dos bolos. Êle receita-lhes café e água morna. E como reapareça de tarde, a sogra informa-o de que os meninos, depois do café e da água morna, ficaram outra vez aflitos. Pregunta se não seria conveniente ministrar-lhes um vomitório.
- Um vomitório, para quê? – desdnha a sapiência do clínico.
- Vê lá. Se não queres receitar... chama-se outro médico... – obtempera, cauta, Dona maria Carolina.


Não é preciso. Examina os sobrinhos. Faz-lhes palpação do estômago e do ventre – preguntando, à medida que lhes tateia as paredes das vísceras:
- Dói, aqui? E aqui?
À resposta negativa dos examinandos, monologa, a meia voz:
- «Parece incrível!»
Receita um vomitório à sogra, ainda nauseada. Torna a aparecer à noite. Acha a sogra melhor. Apesar disso, resolve pernoitar na rua das Flores, falando em mandar vir de casa os seus chinelos. A sogra não consente no sacrifício. Está melhor, considera os netos aliviados.
O dr. Urbino aproxima-se do Mário. Pede que lhe deixe ver a colecção de selos. Promete oferecer-lhe os de Roma, que o pequeno diz faltarem-lhe no álbum.
- «É conveniente aplicar uns clisteres a estas crianças, antes de se deitarem» - prescreve, ao darem-lhe as boas noites. - «São fracas, ficaram bastante abaladas e os clisteres evitam que lhes sobrevenha alguma inflamação».
- «Clisteres, para quê?» - contesta Dona Maria Carolina - «Parece-me que êles estão completamente bons».
- Aplicam-se-lhes «uns clisteres de cidreira».
Não há cidreira em casa. Vão buscá-la à botica. O clínico sobe à cozinha a fim de preparar a mezinha por suas mãos. Enquanto a água aquece, êle entra na sentina, onde se demora uns minutos. Êle mesmo prepara a infusão. A tia Dona Ana quere condizi-la ao andar de baixo. Não consente. E quando lhe entregam a chocolateira, êle mesmo acerta o doseamento do líquido – aplicando, êle mesmo, o clister do Mário, as meninas negando-se a recebê-lo das mãos do tio, a criada a substituir o clínico na manobra.
- Estejam quietos. Não bulam. Conservem o líquido no intestino tanto tempo quanto possível – comanda, imperativo.
As meninas expelem-no logo que o tio sai. O Mário, mais velho, treze anos, por isso mais apto a compreender a conveniência de obedecer à prescrição médica, conserva-o por largo tempo.
Acorda na manhã seguinte coberto de suores, a cabeça à roda, em ânsias, em vómitos.
[Episódios anteriores:]

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