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terça-feira, julho 11, 2006

Tempos difíceis





Os tempos que correm não são nada fáceis para o ambiente. Uma coligação de autarcas-«patos-bravos»-grandes empresas, acalentada por um certo retrocesso na capacidade de intervenção das organizações ecologistas, tem vindo a pressionar o poder político. Alguns pedem «realismo», outros preferem a milenar técnica do apedrejamento e ainda outros há que pedem a extinção pura e simples do Ministério do Ambiente. Esta camarilha («qualquer grupo de indivíduos altamente colocados em lugares de influência, que os utilizam em seu benefício e no dos seus apaniguados, lesando interesses mais gerais»; aqui apetece dizer como o Fernando Ruas: «...e estou a medir bem as minhas palavras») cavalga, com raro sentido de oportunidade, a crise que afecta a nação, procurando conseguir aquilo que em circunstâncias normais lhes seria veementemente negado. Quando não há pão, o bom senso e o senso comum esmorecem, constituindo fraca oposição ao insensato e ao egoísta.
Bem pode o Ministro do Ambiente fazer de conta que será a nossa muralha d’aço, bem pode Nunes Correia dizer coisas como esta aqui: «Há sectores da economia que têm uma mentalidade de desenvolvimento própria dos anos 50 e que entendem que o desenvolvimento económico é incompatível com o ambiente» (Público, 30 de Junho); bem o pode, dizia eu, porque a única coisa que pode fazer mesmo é falar. Está mais do que claro que dentro do governo canta-se de uma maneira, mas dança-se de outra. Vamos ter muitos coelhos a saltar da cartola, é o que eu vos digo. Basílio Horta, qual moço de recados prestável e improvável presidente da API, já começou a preparar o terreno: «Num país como o nosso sem economia não há ambiente» (Público de 3 de Julho). Esta é a premissa, não demonstrada, que vai condicionar o raciocínio económico deste governo. O que é triste, até porque este executivo tem a particularidade de ser chefiado por um ex-Ministro do Ambiente que até deixou alguma (mas sempre escassa) obra.
Pelos céus do país, do norte ao sul, já se pressente o ulular dos autarcas (fantástico número de ventriloquismo já que a origem desta agitação está nos patos-bravos e nos tubarões e não nos sempre prestáveis autarcas). Bem pode o Presidente da República, em jeito de Nossa Senhora, aparecer aos autarcas do Algarve insuflando-lhes a coragem necessária para resistirem à tentação do cimento. Mas em verdade vos digo: Não percais o vosso tempo senhor, porque estes são os apóstatas da vossa fé. Ide pregar para outra freguesia que a danação já cobre estes homens e estas mulheres. Ide brincar à Nossa Senhora para cima daquela alfarrobeira. Ide.
É por estas e por outras que acredito na possibilidade de Ribau Esteves conseguir levar a sua avante e faça aprovar o projecto da Marina da Barra. É um coelho bem gordo que o autarca está prestes a retirar da ministerial cartola. Entretanto, a Agência Europeia do Ambiente alerta que «o litoral português registou o maior aumento de áreas artificiais da Europa nos últimos anos, principalmente estradas e edifícios, o que tem provocado a degradação da costa». Esta pressão tem uma origem muito bem definida: a indústria do turismo e do entretimento, a qual tem vindo a ser alimentada e apoiada pela própria UE, mas que ameaça se tornar vítima do seu próprio sucesso arruinando os ecossistemas que lhe conferem a mais valia. Como sempre, estamos sempre prontos a matar a galinha dos ovos de ouro. É cabidela, senhor.

Comments on "Tempos difíceis"

 

Blogger Ant.º das Neves Castanho said ... (julho 12, 2006 7:19 da tarde) : 

Muito bem...

 

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