Cidade e Democracia
![]() Numa sessão pública de lançamento deste livro no passado Sábado, um membro da Secção Norte da Ordem dos Arquitectos - a propósito de sabe-se lá o quê - achou por bem tecer algumas considerações sobre uma suposta cabala da Câmara Municipal do Porto e da SRU PortoVivo contra a chamada “Escola do Porto”. Não vou reproduzir aqui a argumentação do senhor, até porque a tibieza e fragilidade do arrazoado não se proporciona a tal. Sem mais delongas o que foi dito foi o seguinte: 1) A CMP e a SRU afastaram os arquitectos da “Escola do Porto” do processo de reabilitação; 2) A SRU entrega a tarefa da reabilitação aos privados e estes podem contratar qualquer arquitecto e não apenas os da “Escola do Porto”; 3) A SRU teve o desplante de propor um concurso público internacional de ideias para a reabilitação da frente ribeirinha, quando a cidade possui uma prestigiada escola internacionalmente reconhecida. O público presente não gostou do que ouviu e tratou de lembrar a este dirigente alguns aspectos pertinentes como, por exemplo, o facto de a dita Ordem profissional nunca se ter pronunciado publicamente sobre o Masterplan para a reabilitação da baixa do Porto quando este documento esteve aberto à discussão pública e que o Siza e o Souto Moura já tinham a fatia de leão com as intervenções nos Aliados e Metro, para além de o próprio Siza pertencer ao Conselho Consultivo da SRU. Perante estes e outros protestos, o senhor lá foi respondendo, mas esta era, em definitivo, uma noite não. Pelos vistos, o que inibiu a Ordem de entrar na discussão pública do documento maior que define toda a estratégia de reabilitação da baixa portuense, foi a falta de um convite formal! Como se a participação cívica precisasse de tapete vermelho! De hoje em diante já se sabe o que se tem a fazer para impedir a Ordem de assumir as suas responsabilidades: basta não a convidar que ela ficará quietinha no seu canto. Para além disso, acrescentou ainda mais duas flores ao ramalhete: que a Secção Norte não é apenas Porto e tem de se preocupar com o que se passa nas outras cidades nortenhas e que eles próprios – corpo directivo da Secção Norte – sentiam muitas dificuldades em conciliar as suas obrigações de dirigentes corporativos com o trabalho que têm em curso nos seus próprios gabinetes (afinal parece que a “Escola do Porto” não tem tanta falta de trabalho...). É difícil imaginar alguém dar mais tiros nos pés... Mesmo não sendo arquitecto, coisas há que não posso deixar passar em branco. Como pode um representante de uma Ordem aparecer em público a defender uma pequena parte dos seus associados em detrimento de todo o resto? Será que as quotas de um arquitecto não alinhado pela “Escola do Porto” (se é que faz algum sentido em falar em tal entidade...) valem menos do que as de um arquitecto formado por essa escola? O que diriam os advogados se o seu bastonário aparecesse em público a dizer que Coimbra é que é? Também me enjoa esse provincianismo pacóvio expresso na premissa de que “A reabilitação da baixa do Porto deve ser feita pela “escola do Porto”, a qual, no limite, se confunde com puro tachismo. Quem tem medo de concursos públicos e do mercado aberto, só pode estar mal habituado. OBS: O livro em si é excelente e recomendo vivamente a sua leitura. Para técnicos e não técnicos interessados na demanda das cidades médias nos últimos 30 anos. Possui cerca de 400 páginas repletas de fotografias aéreas que torna muito mais evidente o que entretanto se passou com o planeamento e urbanismo de Portugal fora de Lisboa e Porto. E custa apenas 45€. A não perder! Etiquetas: Arquitectura, Porto |
Comments on "Cidade e Democracia"
Sabe-se cada uma!
Excelente post, sobretudo as suas considerações, com as quais concordo!
Além da atitude do dito membro da Ordem, também não entendo como é que se adjudica uma ideia/serviço a uma determinada entidade, sem ter que passar pelo trâmites da legislação aplicável (concurso público)? Como é que ele justificaria esse procedimento?
Sinceramente, não sei.
Excelente!
Apenas uma observação, sobre "os advogados", para recordar aquele estranho caso de um senhor muito importante que recomendava (ao Estado) a contratação de serviços externos às três principais sociedades de advogados, entre as quais a sua...