Três pássaros com uma só pedra
Matosinhos vai ter novas instalações para o Centro Documental Siza Vieira e isto é, à partida, uma boa notícia porque a partilha de informação é algo de positivo e que deve ser sempre celebrado. É claro que o arquitecto também sai a ganhar dado que garante desse modo a preservação e tratamento do seu espólio, o que é já meio caminho andado para a sua inevitável museologização (ou há quem duvide ainda que vai existir um Museu Siza Vieira?). Porém, existem aqui alguns pontos que me fazem comichão. Para começar as despesas da constituição de um arquivo e da sua manutenção serão todas cobertas pelo erário público, quando o que está em causa também diz respeito ao interesse particular do arquitecto. Não sei, talvez não lhe ficasse mal comparticipar nas despesas de um arquivo de que é proprietário. Depois acontece que a casa onde vai ficar instalado esse centro documental pertence à família do próprio Siza e vai ser comprada pela Câmara por 275 mil euros. Não só poupa dinheiro como também vai buscar mais algum. Por último, o projecto de adaptação do edifício foi entregue ao próprio. Até aposto que nem essa despesa sairá do bolso do mago do estirador e que este se fará pagar pela tabela e sem contemplações. Em resumo, Siza ganha: um novo arquivo sem gastar um tostão, um retorno significativo pela venda de um imóvel e ainda mais um projecto. Isto são três pássaros com uma só pedra! Etiquetas: Arquitectura |
Comments on "Três pássaros com uma só pedra"
ou como dizia outro arquitecto desculpa-se muita coisa em nome da beleza...
... e o país sem um museu de arquitectura e sem nenhuma politica para a salvaguarda de espólios
1. O relativismo axiológico não tem piada alguma quando é financiado pelo meu dinheiro :(
2. O Museu é uma fatalidade, depende apenas de vacas gordas, agora o absoluto caos e a incuria no tratamento de espólios e arquivos é que não tem desculpa. É a nossa memória pesada sem a qual não há identidade que está em causa
O "axioma" é do arq. Manuel Vicente.
Negócios à parte, pelo menos não vai ter o mesmo destino que o espólio do Cassiano Branco, que deve estar praticamente a apodrecer numas garagens que a CML tem ali para a zona de Sapadores, nuns prédios (lindos!) do Silva Dias, e às quais teima em chamar de "Arquivo". Só a entrada naquilo é pior que o ambiente duma oficina de automóveis...
Sabe o que também faz falta? Voluntariado para a memória. Cidadãos associados que chamem a si a responsabilidade de zelar e estudar toda essa memória dispersa e desprezada.