
Já se chamou Rua das Hortas, já albergou a aristocracia portuense e Ana Plácido, amante de Camilo Castelo Branco. Ainda é o centro das ferragens no Porto. É a Rua do Almada, de novo no Dolo. O David já tinha abordado, e muito bem, a
revitalização desta rua, onde o comércio vintage se envolve com as ainda inúmeras lojas de ferragens, mercearias russas, cafés, restaurantes. Um verdadeiro melting pot, contrariando a especialização de outrora. Na Rua dos Caldeireiros tínhamos os artífices ligados ao mester do ferro, da Bainharia, onde se faziam as bainhas das espadas, na Rua dos Pelames, onde exerciam os curtidores de peles, ou dos Mercadores, que reunia os negociantes a retalho e a Rua da Picaria, onde reinava o mobiliário. Já as lojas de botões e miudezas ficavam na Rua das Flores, que aliava este mester à ourivesaria. Chegaram a chamar-lhe Rua do Ouro, pelas muitas ourivesarias que (e exclusivamente) no lado direito exerciam a actividade, enquanto as miudezas e tecidos eram vendidos no lado esquerdo. Por lá estão agora os paquistaneses e chineses, as suas tralhas e o cheiro da sua comida. Hoje as grandes superfícies esbulharam muito do encantamento destas ruas mas, o segredo parece estar em aproveitar a História e peculiaridade desses tantos espaços, as rendas mais baixas e espaços amplos, dinamizando-os, redesenhando a Baixa portuense.
E de novo ela aqui surge, a Rua do Almada, porque me considero uma privilegiada. Trabalho paredes meias com a sua diversidade. Ora tomo café no Maria Vai com as Outras, ora vou à Louie Louie ver as novidades e raridades, as oportunidades na Retroparadise, os sabores do Cão que fuma. O Vintage veio, viu e venceu. O ritmo, o tempo na rua do Almada é outro. Aliás os seus espaços permitem-nos isso mesmo, percorrer outros ritmos, a outros tempos. Uma mescla de conceitos que no fundo pretendem marcar a diferença, diversificar, inovar. Pode comprar pregos, fazer chaves, consultar os astros, personalizar um disco de vinil, ver exposições, tomar café e ler um livro. Só não planta uma árvore, pelo menos para já. Tudo o resto é possível.
Comments on "Melting pot"
Ou uma Francesinha no Pontual....
Só falta a habitação na Baixa ter condições, para esta a noite não se tornar no verdadeiro "dark side of the moon"...
Havemos de lá chegar, Cláudia.
Insano, devo dizer que as francesinhas do Pontual não estão a fazer justiça à linhagem da francesinha do ex-Café Luso. Com ele perdeu-se a memória da melhor francesinha do Porto.
concordo afonso, as francesinhas já não são o que eram!
Para alem das lojas, a Rua do Almada é fascinante, é das únicas em que é possível levar com água das caleiras mesmo kando já parou de chover, os passeios tem o cariz histórico dos calhotos e de kando em vez caem telhas romanas arremessadas doutra dimensão que não é a nossa...
Cristina, esses "K" lembram-me alguém que eu conheço, estarei enganada?
Em todo o caso, peculiaridades como as que descreveu pode facilmente encontrá-las na maioria das ruas portuenses. Que a Rua é fascinante, é!
Talvez tenhamos trocado algum mail informal não sei, mas partilho do v. entusiasmo pelas lojas e pelas novas ideias comerciais, o problema é ke nada disso se encaixa no estado das vias, passeios e andares superiores dos edificios. Espero ke este novo surto de investimento faça mover os proprietarios e a CMP, se assim não for vai ser dificil convencer os clientes pedonais a frequentarem a R. de Inverno, ou de saltos altos.