Pensamentos: a desventura máxima é a solidão
A desventura máxima é a solidão. É tão verdade que o reconforto supremo - a religião - consiste em encontrar uma companhia que nunca falhe - Deus. A oração é um desabafo, como com um amigo. A obra equivale à oração, porque nos põe em contacto com os que dela tirarão proveito. O problema da vida é, portanto, o seguinte: como romper a nossa solidão, como comunicar com os outros. Assim se explica a existência do matrimónio, da paternidade, das amizades. Mas que a felicidade resida nisto, balelas! Porque se deva estar melhor comunicando com os outros do que só, é estranho. É talvez apenas uma ilusão: a maior parte do tempo, estamos muitíssimo bem sós. É agradável ter, de tempos a tempos, um odre em que nos possamos despejar e, em seguida, bebermo-nos a nós próprios: dado que pedimos aos outros apenas aquilo que já temos em nós. É um mistério o motivo por que não basta perscrutar e beber em nós próprios e seja preciso reavermo-nos por intermédio dos outros. (O sexo é um incidente: o que recebemos é momentâneo e casual; pretendemos algo de mais secreto e misterioso de que o sexo é apenas um sinal, um símbolo). Cesare Pavese, in 'O Ofício de Viver' Etiquetas: Citações |
Comments on "Pensamentos: a desventura máxima é a solidão"
Excelente escolha.
Pavese era um tipo "doente". O suicídio foi a forma escolhida para colocar fim a uma certa angústia exestencial. Acho o text muito bom, embora tenha que fazer o devido desconto (em ordem a perceber o contexto do autor).
Interessante que hoje em dia, de todos os textos de Pavese, os seus diários são considerados o mais alto momento da sua literatura. Talvez por permitir ao leitor conviver com a dor de um homem "doente"!
Boa escolha!
J.
É curioso que Pavese suicidou-se em Turim...tal como Primo Levi!
Aquelas altitudes piemontesas não ajudam nada...
J.
Doentes somos todos nós, Júlio.
Tenho dúvidas.