Linchamento
É difícil perceber estas notícias da justiça. A maior parte dos portugueses não tem qualquer formação na área, nem tão pouco as escolas dão, sobre o direito que temos ou sobre os princípios que devem reger as nossas leis, o devido enquadramento útil às sociedades democráticas. Assim, o único vislumbre que temos sobre a justiça faz-se sobre os seus erros, sobre a fraqueza da justiça dos homens e sobre a ira popular que alimenta as televisões nos seus noticiários principais. Nessa altura o trivial passa a ser o essencial. A cor, nacionalidade e profissão dos suspeitos são ostensiva e sucessivamente utilizadas, sem que daí resulte a construção de qualquer esclarecimento sério. A ira popular, que não passa de um comportamento fortemente enraizado em nós, de curiosidade mórbida acompanhado pela essência da cobardia nacional, que é dizermos e fazermos tudo em grupo que nunca teríamos a hombridade de fazer sozinhos, ganha destaque. Um destaque protagonista de um evento sem qualquer sentido legal e ou utilidade prática que é a entrada de arguidos pelas portas principais dos tribunais que os polícias e guardas prisionais insistem em manter numa espécie auto de fé preparatório do que espera os acusados. Quantos arguidos neste país não se sentirão como o famoso K? Qual a relevância jurídica de se insistir em referir alguém como ex-cabo da GNR? Qual a relevância, senão outra que perpetuar o conceito cultural que sobre esta categoria o povo já tem. É uma espécie de pequena vingança. Sabemos que vocês são o pior que existe ou existiu em nós, que representam um passado que insiste em fazer-se presente, mas muitos ainda lhes invejam o protagonismo prepotente e saloio. É um jogo entre o deve e haver. Por um lado questionamos-lhes constantemente as virtudes que sempre soubemos que não tinham, para depois lhes cobrarmos o comportamento que sabíamos alguns acabariam por evidenciar. É o mesmo tipo de raciocínio pequenino que aplicamos à cor, nacionalidade ou estilo de vida de cada um dos acusados deste país. Quantos de nós não nos sentimos já em algum momento, um pouco como Joseph K, neste país? |
Publicado por José Raposo às 10:36
Comments on "Linchamento"
Excelente análise!
Houve um tempo em que na disciplina de educação cívica - nocturna -, que não sei se ainda existe, em cujo programa se leccionava os princípios constitucionais, os sistemas e regimes políticos, e o direito de uma forma geral. Penso que ainda existe a disciplina de introdução ao direito no 12º, mas muito maçuda e um pouco desfazada da nossa realidade.
Creio que todos nós - juristas incluidos -, já se sentitam como K.
A máquina administrativa e fiscal leva isso, quer queiramos, quer não.
Por outro lado, concordo com o PGR quando afirmou que existem muitos arguidos inocentes. É tempo de aprendermos com esses erros e mudarmos esse e outros estatutos. De mudar os códigos de processo com vista a uma melhor celeridade e eficiência na Justiça.
Quem é o publico dos "meios de comunicação"?
Sejamos honestos, um ex-GNR garante mais audiencia logo mais publicidade... mais lucro!
Se fosse do BIG BROTHER? Tinha sido só "facturar"!
Nós somos incultos.
Apenas demonstramos a nossa superioridade colocando/atribuindo titulos negativos aos outros.
O que é Nacional é bom...
Meu caro "amigo",
vida de filho de tropa :)
1-4: Luanda, Angola; 5-5: Mem Martins; 5-7: Barra de Aveiro; 7-9: Lisboa; 9-hoje- Loures.
Caro J.D.C, foi isso que escrevi... ou tentei...
Abraço.