Dos Blocos
O assunto bloco central é uma espécie de assunto recorrente, daqueles que de vez em quando ocupa parte significativa da comunicação social para nos desviar a atenção daquilo que é realmente importante. É quase tão importante saber a seis meses das eleições, que vai haver um bloco central ou que há quem esteja disponível para o fazer, como saber o fim daquela novela que se está a acompanhar até porque o mais provável é o autor da novela optar pelo final mais inesperado e dramático. Vai ser assim nas eleições legislativas de Outubro. Só aí o protagonista dessa novela vai saber o seu destino. Ou vai morrer na praia, ou consegue condicionar os blocos que vierem a surgir. Só à luz de uma visão redutora da democracia é possível pensar que as soluções governativas têm de passar por um bloco central dos dois maiores partidos, quando existem outro tipo de combinações parlamentares possíveis. Claro que a estabilidade governativa é um bem caro aos portugueses que não gostam de muita confusão na chafarica, mas nesta altura é natural que quem pede governo se ponha a jeito para o bloco central, mas é terrivelmente imprudente porque condiciona a clareza das opções que os partidos devem apresentar aos portugueses. É também natural que quem pede renovação de maioria não se ajeite ao bloco central e antes prefira agitar os fantasmas da ingovernabilidade com maioria relativa, reforçando a ideia do extremismo dos pequenos partidos que chantageiam o poder legitimamente concedido à força mais votada. É desta realidade, fortemente presente no discurso politico, que fazem eco os jornalistas que não imaginando a possibilidade de se encontrar soluções de governabilidade à esquerda do PS, não imaginam que este se vá coligar com o CDS-PP de Paulo Portas, pois arriscaria uma espécie de sublevação alegrista. Aliás, ainda ontem nos Negócios da Semana na SIC, o jornalista perguntava ao ilustre painel de ex-governadores do Banco de Portugal (daqueles que sabem sempre o que fazer depois de saírem dos cargos) com quem poderia o PS fazer governo, e não contente, perguntou de imediato se seria com o CDS-PP com ar de de alguma surpresa. Logo, resta o PSD para emparelhar num bloco central que aparentemente toda a gente espera que resolva tudo… Ora este raciocínio não faz sentido. O que ameaça a estabilidade são os falsos unanimismos e não a existência de coligações. Os compromissos são precisamente um dos aspectos da democracia que mais deve ser valorizado e nunca estes porão em risco a governabilidade do país desde que haja boa fé e interesse real em trabalhar em prol do país. Por isso imagino que esses compromissos possam surgir à esquerda do PS, tanto como aparentemente surgem à sua direita. Etiquetas: Bloco Central, Política Nacional |
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