Mudar de vida
Ainda nenhum de nós por aqui se lembrou do último episódio Alegre. Sem prejuízo de até termos opiniões diferentes sobre o assunto, isso provavelmente mostra como irrelevante é a novela que o deputado-poeta pretendeu criar à sua volta, e que acaba por terminar em vale de lágrimas para alguma dessa esquerda que o acompanha. Alegre não conseguiu afirmar a ideia peregrina que encabeçava uma espécie de partido unipessoal, em que ele e o seu alter-ego genial e presidencial, seria capaz de negociar directamente com o PS, convencendo Sócrates a fazer cedências à força do seu milhão e meio de votos. Não o conseguiu com o PS nem com ninguém, nessa extemporânea iniciativa que é o encontro das esquerdas. Aliás o Bloco e mais concretamente o Francisco Louçã, seriam tontos se cedessem algum tipo de terreno incerto a Alegre perante um cada vez mais certo sucesso eleitoral. Louçã fez aquilo que lhe competia e abraçou a ideia que Alegre poderia deixar o PS e juntar-se-lhe no Bloco, mas não podia deixar que o partido unipessoal Alegre condicionasse a sua estratégia. A Alegre não restou qualquer outro tipo de alternativa. Não tendo receptividade de nenhum partido de esquerda à totalidade das suas ideias, resolve manter-se no PS onde acabará os seus dias, e reservar para mais tarde o seu milhão e meio. Agora, ou o deputado pretende até ao final desta legislatura continuar a fazer a vida negra a Sócrates, minando sempre que possível a sua maioria absoluta, que aparentemente lhe cria anti-corpos, esgotando-se lá para depois de Outubro, ou então vai guardar-se para as presidenciais de 2011, na esperança que a memória curta do PS tenha entretanto apagado os ataques violentos desta legislatura. Ora em qualquer dos cenários o tempo de Alegre acabou. Quem, nos partidos e fora deles, entende o eleitorado deste país, sabe que não é possível fazer valer a ideia de um milhão e meio de votos durante cinco anos e muito menos é expectável que haja um lugar presidencial para Alegre em 2011, a não ser que este conscientemente se ofereça para sacrifício. Fora do parlamento a partir de Outubro, Alegre torna-se um candidato à irrelevância. Os que geralmente alinham com ele no grupo parlamentar ou não estarão nas listas ou simplesmente não irão votar como o deputado gostaria. Alegre livre do jugo da disciplina partidária só tem um caminho para continuar a divulgar a sua opinião. Tornar-se comentador político, como tantos outros, num qualquer canal do cabo onde o ouviremos falar de devolver a democracia aos cidadãos, ou como seria bom a existência de candidaturas independentes ao parlamento, sem nunca nos explicar com clareza como imagina que isso possa ou deva acontecer. Etiquetas: Política Nacional |
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