Maioria silenciosa
Há nestas questão da marcação das datas para as eleições legislativas e autárquicas algo que encontra um eco no cada vez mais forte discurso anti-partidos, que é a ideia que isto de fazer eleições não passa de uma grande maçada que podíamos perfeitamente evitar e que por isso o melhor de todos os mundos era despachar tudo num só dia para depois nos deixarem em paz. Ou em alternativa questionar o custo de fazer eleições, o que me parece um argumento particularmente inválido, até porque facilmente alguém poderá vir a argumentar que aquilo que realmente fica mais em conta é não as fazer de todo. Isto nada tem a ver com a discussão séria e perfeitamente aceitável de argumentos em torno da utilidade política de ter estas eleições em conjunto ou separadas, tendo em conta o diferente carácter destas eleições e tendo em conta o entendimento de alguns que o poder local é fundamental ao aprofundamento desta democracia, como órgãos políticos mais próximos das populações e que por isso estas eleições não deveriam ser subalternizadas em relação às legislativas. O que é pena é o Presidente da República ter já manifestado publicamente o seu interesse em ter estas eleições no mesmo dia, referenciando sondagens que apontam para um interesse dos portugueses em apenas se darem ao trabalho de se deslocarem às urnas num único dia. É um favor que o Presidente faz à descredibilização do sistema político e dos políticos, com base em sondagens que como se verificou nas europeias nem sempre se confirmam nas urnas, mas que ainda assim motivam o Presidente a falar quando a sua imagem de marca é precisamente o silêncio. Não é naturalmente causal. Mas a questão de fundo quanto à data das eleições é outra muito mais importante. É a de saber se realmente se justifica ou se faz sentido que num no prazo de um ano se façam 4 eleições como em 2005/2006, ou agora com 3. As eleições, além de fundamentais ao normal funcionamento do estado democrático, são um indicador muito mais correcto do sentir dos portugueses em relação ao poder político, que ainda que todas as sondagens possam querer replicar não o fazem com a fiabilidade e legitimidade das eleições. Portugal esteve 3 anos completos sem uma única eleição, enquanto governava uma maioria absoluta, enquanto surgiu uma forte contestação social e entrámos numa crise ainda maior que a habitual. E nenhum instrumento conseguiu com clareza dizer-nos o que pensavam os portugueses, arrastando-nos para uma daquelas situações spinolistas da maioria silenciosa. O país tinha votado uma maioria absoluta, e um presidente que dava jeito a essa maioria. A contestação nas ruas, maior ou menor, era motivada por interesses corporativos de algumas classes e por sindicatos ligados à central sindical controlada pelo PCP e o resto do país observava à distância manifestando nas sondagens o interesse de manter o PS com a maioria absoluta ou muito perto dela. Ora a maioria silenciosa falou e os resultados não são os esperados e políticos e comunicação social foram apanhados de surpresa. Etiquetas: Eleições, Política Nacional |
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