A manipulação conveniente
A pressão sobre a comunicação social por parte dos políticos, pode resultar em graves constrangimentos na independência que se pretende que tenham os jornalistas, mas também constrangimentos vários de programação que naturalmente ninguém deseja. Mas isso é um valor em si mesmo, ou porventura é apenas um valor mensurável todos os dias através das múltiplas e variadas acusações dirigidas a um governo socialista, de manipulação da comunicação social pública? É um valor em si mesmo, defender tout court a liberdade de imprensa e a autonomia das direcções das televisões e rádios publicas, ou isso apenas é relevante perante a existência de um poder socialista? Este país não é uma monarquia, independentemente da forma como sucessivamente os presidentes da república interpretam os seus poderes. Aníbal Cavaco Silva é um cidadão como qualquer outro, que se submete à eleição por maiorias qualificadas, tal como qualquer outro cargo político desta República. Não há, apesar de ao cargo não concorrerem (hipoteticamente) partidos políticos, diferença nenhuma entre o valor das maiorias que elegem o Parlamento e o Presidente. O Presidente não pode, ou talvez não deva, usufruir da possibilidade que o seu cargo lhe confere, para condicionar de forma evidente a administração da RTP na autonomia com que gere a sua própria programação. Aquilo que é do interesse público, não é os portugueses verem o Presidente condecorar os amigos da Comissão de Honra da sua candidatura, que apenas por vergonha não condecorou no ano passado. Aquilo que interessa aos portugueses não são as condecorações na festa a que o povo português não tem acesso. O que interessa ao povo português é a festa na rua à qual com grande dificuldade se consegue assomar entre as tribunas dos importantes. Para essa festa a RTP tem uma especial responsabilidade de estar presente. Infelizmente este assunto não levantou qualquer celeuma na blogoesfera e tão pouco na tal comunicação social que se diverte a fazer a vida negra ao governo. Cavaco condiciona a RTP, sem sequer dar cavaco à entidade que legalmente a isso está obrigada. A administração e a direcção de informação da RTP meteram o rabinho entre as pernas e de imediato se comprometeram a corrigir esse crime de lesa-majestade. Está aberta a enorme caixa de Pandora que permitirá sempre que o Presidente, ou o Primeiro-ministro, ou Presidente do Supremo, ou outro qualquer, forem interrompidos por um compromisso televisivo, exigirem ver as suas declarações originais e completas no respectivo horário em que foram proferidas. Lançam-se apostas sobre quem será o pior dos manipuladores se porventura sugerir a mais leve critica à RTP... |
Comments on "A manipulação conveniente"
Excelente texto