Grandes Dramas Judiciários: Urbino de Freitas (8)
Após um interregno de uma semana estamos de volta. Recomendamos as seguintes leituras complementares: O Edifício da Cadeia da Relação (que por outros motivos tem andado nestes tempos na boca de muita boa gente) e a História dos Caminhos-de-Ferro em Portugal (sem o «rápido» não havia história para contar...). 8. As investigações prosseguem - Já o esperava – contrapõe, em plena serenidade. Conduzido de trem ao Tribunal de S. João Novo, com o processo de investigação policial, as turbas manifestam-se em clamorosos gritos, em ímpetos violentos de justiça sumaríssima. Multiplicam-se as manifestações ruidosas em frente do Tribunal, e depois, na hora da condução do prêso às cadeias da Relação. Distribuído o processo ao 1.º Distrito Criminal, o seu interrogatório, no Tribunal, prolonga-se por três estirados dias – presidido pelo Delegado do Ministério Público, Miguel Maria Guimarães Pestana da Silva. Pedroso de Lima, entregue o prêso a Juízo, na necessidade de completar a investigação a seu cargo, vai comos agentes a Coimbra, a fim de averiguar se Urbino de Freitas ali estivera na noite de 27 para 28 de Março; na hipótese afirmativa, se foi dali que seguiu para Lisboa o cúmplice encarregado do despacho dos bolos envenenados; e se em Coimbra reside o Eduardo Mota que remetera para Lisboa, consignado a Sampaio Júnior, doente, o frasco de remédio envenenado com ácido prússico. Sim, senhor. esteve em Coimbra, naquela data. Esteve no Hotel do Comércio, onde ceou. O Comissário prende o criado Bento Lopes, no fito de averiguar se lhe cabe a cumplicidade no despacho da encomenda em Lisboa. Esteve no café da rua da Sofia, onde conversou com o Médico da Póvoa-de-Varzim, Caetano d’Oliveira, e com dois estudantes, aos quais disse que fôra à Pampilhosa, de visita a uma doente, aproveitando a oportunidade para descer a Coimbra, a matar saudades. Estivera em Coimbra, mas não por haver perdido o combóio de Lisboa, na estação velha, como declarou – pois que, indo à cidade no combóio do ramal, êste partiu antes do de Lisboa, o que fica decisivamente averiguado. Estivera em Coimbra, e ali se abeirou de pessoas que pudessem confirmar a sua estadia na cidade, naquela noite. Regressou ao Pôrto na madrugada de 28. também se apurou isto definitivamente. Porque o arguido prova, por forma positiva, que passou todo o dia 28 no Pôrto, comparecendo na sua aula da Escola Médica à hora regulamentar, indo à noite ao Teatro de S. João, a uma récita de estudantes. Não foi êle, portanto, quem comprou e despachou em Lisboa a caixa de amêndoas, como disse o confeiteiro Pucci e o empregado da papelaria, e o caixeiro que lhe viu lacrar a encomenda, aquêle e êstes manifestamente equivocados. - O autor do envenenamento – aduzem os investigadores, anunciam os jornais – foi êle. Todos os demais elementos da acusação demonstram que foi êle, alto e bom som o proclamam, exacerbando, em tôrno da figura do Médico, os furores da opinião pública. Mas quem comprou a caixa de amêndoas em Lisboa? Quem introduziu na caixa os bolos envenenados? Quem os despachou, no dia 28, com destino ao Pôrto? A noite do mistério adensa-se. Não só não aparece o misterioso Dom Lúcio Artins, como não aparece a misteriosa dama do trem de cavalos brancos, nem o trem assim assinalado. A Polícia consegue descobrir uma Berta Franco, em Belém. Mas está ligada à família Arrochela. É menina solteira, de boa linhagem e porte irrepreensível. E a polícia prova, além disso, que, ao contrário do que afirmara Urbino pernoitou no Hotel Central, nas duas noites de Março passadas em Lisboa. Pôsto na presença do Carlos Colombo e do seu ajudante, José Maria Esteves, conduzidos ao Pôrto para este fim, ambos o reconhecem apontando-o entre vários indivíduos com os quais o baralharam. Efeito dos retratos publicados pela Polícia e pelos jornais, no início das investigações e na reportagem do acontecimento? O arguido assevera e jura que é essa a explicação verosímil da atitude dos criados. Os criados asseveram e juram que é êle o hóspede dos quartos 10 e 24 a 5 e 8 de Março. De resto, acrescentam os investigadores e argumentam os jornais, não é verosímil que um homem na situação económica e social do Professor da Escola Médica, concluídas as entrevistas amorosas com a dama da rua irreconhecível e da casa ignorada, vagueasse horas a fio, de noite e de dia, pelas artérias da cidade, sem poder indicar sequer os restaurantes em que se alimentou durante tôdas essas horas. [Episódios anteriores] 1. A rua das Flores e a casa do negociante Sampaio. Os netos de Sampaio. 2. A família do negociante envenenada pelos doces da caixa. 3. Intervenção de urbino de freitas, genro e tio dos envenenados. Os clisteres de cidreira. 4. Morte de Mário, um dos netos de Sampaio. Ressurge o caso recente da morte de Sampaio Júnior, filho do mercador. 5. Interrogatórios de Urbino. 6. Declarações de Adolfo Coelho. 7. Prisão de Urbino, professor da Escola Médico-Cirúrgica |
Publicado por David Afonso às 23:37
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