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quarta-feira, julho 05, 2006

Grandes Dramas Judiciários: Urbino de Freitas (11)

O exemplar da nossa Urbiniana de hoje é uma tradução franceza - mas de edição portuguesa - de um relatório do Dr. Agostinho Souto e companhia sobre o caso Urbino de Freitas, já aqui apresentado em versão original. A ilustração que acompanha o episódio é retirada desta mesma obra. Ainda apropósito de ilustrações: não consigo encontrar um retrato do Dr. Alexandre Braga (Pai e não Filho), por isso, se alguém de entre os leitores conhecer algum exemplar, agradecia imenso que me o enviassem.

SOUTO, Dr. Agostinho António do; AZEVEDO, Joaquim Pinto de; PINTO, Manoel Rodrigues da Silva; SILVA, António Joaquim Ferreira da - Relation Médico-Legale de L'Affaire Urbino de Freitas. édition française (traduite sur la deuxiéme édition portugaise). Porto: Typographia Occidental, 1893

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11. A estratégia da defesa

Atacando o relatório, esconjurando os peritos, proclamam que foram êles quem completou a convicção do público àcêrca da culpabilidade do arguido, público «poderosamente emocionado e loucamente excitado desde os primeiros actos do drama. Êles evidenciaram, no terreno da demonstração científica, o crime de venenifício. A opinião geral aplaudiu a habilidade, o talento, a ciência daqueles professores, versados em tôda a mística de retortas». E os novos peritos declararam-se habilitados a demonstrar a incompetência científica, a insuficiência profissional e até a incapacidade moral dos signatários de tal relatório.

Estabelece-se estrondosa guerra entre os peritos de Coimbra e os peritos do Pôrto – êstes, ferreteados por aquêles, em referência à tradução francesa dum dos seus trabalhos, de «Expertos-Imperitos».
Agostinho Souto publica o Exame e refutação dos pareceres constantes dos suplementos à Coimbra Médica. Os peritos do Pôrto publicam também o Caso Médico Legal Urbino de Freitas – pôsto a correr, no estrangeiro, em tradução francesa. Os peritos de Coimbra continuam a campanha nos suplementos referidos – publicando em volume o Problema Médico Legal no Processo Urbino de Freitas, Uma Réplica, volume subscrito não só pelos signatários dos suplementos, mas também pelo Lente de toxicologia na Universidade coimbrã Raimundo da Silva Mota, por Francisco João Rosa, Analista do Laboratório Higiénico de Lisboa e Hugo Mastbaun, Doutor pela Faculdade de Ciências de Berlim e Director do Laboratório Químico da Alemanha. E é nesse volume, em especial, que os peritos da defesa pretendem convencer de que esfarraparam a competência científica, profissional e moral dos peritos da acusação.
A Relação do Pôrto, a 1 de maio dêste mesmo ano de 91, nega provimento ao recurso de justa pronúncia, em acórdão assinado por Correia Leal, Pinto Osório e Celestino Emídio – acentuando que a discussão científica dos exames médico legais não invalida os seus efeitos. O arguido leva recurso de revista quanto ao envenenamento do Mário; concede-a, anulando nessa parte o processo, quanto ao envenenamento da avó, netas e criada, visto que os médicos, quando as examinaram, foram de parecer que elas «estavam em estado regular de saúde», sem referência «a sintomas indicativos de envenenamento»; e concedem-na, igualmente, quanto a Sampaio Júnior, pois os peritos «declararam que não encontraram veneno algum nas suas vísceras». Assinam êste acórdão Abranches Garcia, Queirós e Teixeira, assinando vencidos Mendes Afonso e Nunes Eliseu.
Em face deste êxito retumbante, embora parcial, na defesa do constituinte, a anulação do processo na parte que compreende o envenenamento de Sampaio Júnior, Dona Maria Carolina, netas e criados, os patronos do incriminado intentam derruir todo o processo, a alavanca de Arquimedes certa de apoio seguro no ponto do exame toxicológico às vísceras do Mário – único e frágil alicerce da monstruosa responsabilidade criminal atribuída ao querelado. Isto obtido, Urbino ressurgirá para a vida, ilibado, purgado, prestigiado pela auréola de mártir, livre das sombras do cárcere e do odioso crime.
Demais, o crime, que levantara todo o País, tôdas as classes, tôdas as consciências contra o indiciado, começando pela sogra, depois pelo Tribunal, a seguir pela opinião pública, Monstro execrado por tôda a Nação, já não é atribuído, unânimamente, como no princípio, a Urnido de Freitas – os crentes na sua inocência, iniciados na sua crença pela discórdia entre os peritos científicos, estabelecendo já forte corrente no mar tumultuoso.
A estratégia do caudilho-mor dos pleitos forenses na Comarca do Pôrto, Alexandre Braga, está em plena frutificação, produzindo os seus efeitos multiplicando-se em resultados benéficos no campo da defesa. Alexandre Braga, sempre que lhe entregam o bastão de comando do patrocínio de arguido de crime vultuosos, se êle é dos que levantaram em cachão as águas sensíveis da opinião pública, trava, demora, dilata os têrmos do pleito, à espera que as águas baixem ao nível do mar de rosas – em que o batel do patrocínio possa navegar sem o perigo das ondas e das ressacas bravias.

[Episódios anteriores]

1. A rua das Flores e a casa do negociante Sampaio. Os netos de Sampaio. 2. A família do negociante envenenada pelos doces da caixa. 3. Intervenção de urbino de freitas, genro e tio dos envenenados. Os clisteres de cidreira. 4. Morte de Mário, um dos netos de Sampaio. Ressurge o caso recente da morte de Sampaio Júnior, filho do mercador. 5. Interrogatórios de Urbino. 6. Declarações de Adolfo Coelho. 7. Prisão de Urbino, professor da Escola Médico-Cirúrgica 8. As investigações prosseguem. 9. A imprensa e o Ministério Público. 10. Os especialistas e a polémica

Comments on "Grandes Dramas Judiciários: Urbino de Freitas (11)"

 

Anonymous Anónimo said ... (julho 06, 2006 7:36 da tarde) : 

http://purl.pt/4215

 

Blogger David Afonso said ... (julho 06, 2006 7:50 da tarde) : 

Ah, obrigado, meu caro. Mas tenho a impressão que essa imagem é do Alexandre Braga, filho. O tal ilustre deputado republicano. Quer dizer, acho eu...

 

Anonymous Anónimo said ... (julho 07, 2006 9:01 da tarde) : 

este é mesmo o filho , é um dos retratos mais conhecidos, agora o pai enkanto escritor deve ter algo , não sabem de nenhum titulo de livro escrito pelo pai?

 

Blogger David Afonso said ... (julho 07, 2006 10:18 da tarde) : 

Deve haver, de certeza. Sei que já vi qualquer coisa. Até domingo (qd sai o próximo Grandes Gramas...) não terei tempo de confirmar. Mas para a semana já terei qq coisa. Prometo.

 

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