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domingo, julho 16, 2006

Grandes Dramas Judiciários: Urbino de Freitas (13)

Repito o desafio aqui lançado. Será que ninguém consegue encontrar uma imagem de Alexandre Braga, pai? E já agora: Quem me poderá indicar uma pequena nota biográfica? É uma personagem interessante esta. Toda a gente o conhece, mas quem a história recorda? O seu irmão Guilherme e o filho homónimo. Fica mais um exemplar da Urbiniana.
ROCHA. Augusto – O problema medico-legal no processo Urbino de Freitas: novos documentos. Coimbra Médica. Coimbra. Suplemento ao nº 7 de Abril de 1892
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13. Uma testemunha inesperada

O recurso sobe à instância superior. Estamos em Abril de 93. ora, exactamente a 27 de Abril dêste ano de 93, mais de três anos transpostos sôbre a morte de Mário, o Delegado do 1.º Distrito, Pestana da Silva, recebe uma carta anónima em que se lhe anuncia a chegada a Portugal dum indivíduo chamado Brito e Cunha, cidadão domiciliado no Rio-de-Janeiro, natural de Arcos-de-Valdevez, que muito pode esclarecer a Justiça, relativamente à pessoa que despachou as amêndoas em Lisboa.
Pestana da Silva comunica a denúncia ao Comissário de Polícia. No maior sigilo, acompanhado pelo chefe Cardoso Lopes, parte em direcção aos Arcos. Ciente de que Brito e Cunha chegara, de facto, à vila, mas que se encontra muito doente, tendo saído do Brasil, a conselho dos médicos, em busca da cura nos ares pátrios, convoca o seu Médico assistente a audiência. Esclarecido da missão do Delegado Pôrto, o Médico autoriza o interrogatório a que precisam submetê-lo. E o interrogatório efectua-se na presença do Delegado dos Arcos, Administrador do Concelho, Presidente da Câmara e Abade da Freguesia.
Trocados os cumprimentos da pragmática, Pestana e Silva dispara, olhos fitos no enfermo:
- Recebi a denúncia de que V. Exc.ª está em condições de esclarecer a Justiça relativamente a um ponto obscuro do processo Urbino de Freitas, processo de que deve ter conhecimento...
- Sim, tenho conhecimento. Pelos jornais lidos no Rio...
manuel Bento de Brito e Cunha, pálido, olheirento, concentra-se por momentos. O delegado apela para a sua consciência. Indaga se sabe alguma coisa que se prenda com o envio duma caixa de amêndoas de Lisboa para o Pôrto, em Março de 90. concluído rápido exame às reservas da memória, o inquirido dispõe-se a falar. Fala, pausado, moroso.
No dia 27 de Março de 90 saíra do Pôrto, estação de Campanhã, com espôsa e filhos, no combóio correio de Lisboa – afim de embarcar no Savoie, vapor da carreira do Brasil. Foram à estação, às despedidas, várias pessoas da sua família, entre elas o seu sogro e seu cunhado, Manuel Martins Tinoco. No compartimento de 1.ª classe em que se instalou com os seus, notou, logo de entrada, que já ali havia um passageiro, ao fundo, sentado, de óculos escuros e chapéu derrubado sobre os olhos. É natural que se lembre disto, muito bem, por corresponder a episódio rememorado em família, depois de ter conhecimento, pelo jornais, do envenenamento da rua das Flores, e pelo papel que êsse misterioso passageiro desempenhou na remessa dos bolos envenenados. O combóio partiu. Na estação de Gaia um empregado instalou caloríficos nos compartimentos dos vagons. Sua espôsa quis saber como funcionavam êsses aparelhos de aquecimento. O passageiro, acantonado ao fundo da bancada, saíu do seu mutismo. E, amável, informou a senhora. Estabeleceu-se conversa. O desconhecido tirou os óculos, ajeitou o chapéu. Falaram no Ultimatum, ocorrido a 11 de Janeiro dêsse ano, assunto obrigatório de tôdas as conversações.
- V. Exc.ª vai para o Brasil? – preguntou-lhe o desconhecido, quebrando o gêlo da distância e do silêncio.
- Vou, sim, senhor.
- Tinha-o previsto, pelas despedidas, em Campanhã.
A conversa animara-se. A certa altura o seu interlocutor dissera-lhe que residia em Coimbra, onde era Professor da Universidade. Que estava na intenção de ir a Lisboa, nesse mesmo combóio, e por isso, um seu amigo do Pôrto o incubira de despachar, de Lisboa para o Pôrto, uma encomenda de amêndoas, endereçada à sua noiva, a fim de lhe causar surpresa agradável e de a convencer de que se encontra na Capital, quando certo era que estava na sua terra. Mas contrariava-o, afinal, a prolongação da viagem. Preferia ficar em Coimbra. E daí, o pedir-lhe, a êle, que seguia para Lisboa, o despacho da encomenda. Aceitra a incumbência. Dera um bilhete de visita, com o seu nome, ao companheiro de carruagem. Êste procurou nos bolsos um bilhete, no intento de retribuir a amabilidade. Não o encontrando, pediu-lhe um outro do seus bilhetes. E no verso, com um lápis azul, traçou o nome e o enderêço – Eduardo Mota, Coimbra. Depois, Eduardo Mota saíu da carruagem, numa estação para lá de Aveiro. Voltou com o enderêço a apor no envólucro da encomenda – enderêço escrito a tinta. Com a encomenda e o enderêço entregou-lhe 300 réis para o despacho. Desapareceu noutra estação, e, reaparecendo daí a pouco, despediu-se, depois de agradecer o favor que lhe prestava. Não queria incomodar mais os seus companheiros de viagem. Passava a um compartimento em que seguia um seu colega.
No dia imediato, 28, êle, declarante, expedira a caixa de amêndoas, com o enderêço que lhe fôra dado no combóio. E embarcara a 30, para o Rio, no vapor francês Savoie.
[Episódios anteriores]

Comments on "Grandes Dramas Judiciários: Urbino de Freitas (13)"

 

Blogger T D said ... (julho 18, 2006 1:51 da manhã) : 

resposta ao desafio:

não sei se encontrarei uma foto do alexandre braga (pai) - algures devo ter uma pequena nota biográfica sobre a família.

de qualquer maneira - o mais simples seria fazer uma busca nos índices de "O Tripeiro" - séries V e VI.

se encontrar, enviarei via mail a nota biográfica,

não li a totalidade dos posts pois conheço a obra do Sousa Costa

cumprimentos

 

Blogger David Afonso said ... (julho 18, 2006 2:16 da manhã) : 

Obrigado pela mãozinha :)

Espero ter notícias dentro em breve!

(PS: por acaso já pesquisei as séries mais recentes d'O Tripeiro, mas para as mais antigas ainda não tive tempo)

 

Anonymous Anónimo said ... (julho 18, 2006 7:44 da tarde) : 

Ei e esta pequena nota biografia no inutil site da CMP

«Alexandre José da Silva Braga - Poeta romântico (Porto n. 14/03/1829 - 9/05/1895). Formou-se na Faculdade de Direito de Coimbra em 1856.(Arquivo da Toponímia) »

Já sei ke não diz nada de relevante, mas depois de ler isto, lembrei-me ke o senhor deve estar sepultado aqui no Porto- então é só ir à lapide e tirarmos uma foto .

Hum ke tal, grande ideia que tive , não acham?!

 

Blogger David Afonso said ... (julho 18, 2006 8:51 da tarde) : 

Acho que tenho essa foto... Está enterrado em Agramonte (esta gente tem cá um passatempos...)

 

Anonymous Anónimo said ... (julho 19, 2006 5:38 da tarde) : 

Agora sim parece ke acertei :

«ALEXANDRE JOSÉ DA SILVA BRAGA, Bacharel em Direito pela Univ. de Coimbra. Exerce actualmente a profissão de Advogado na cidade do Porto, sua patria. - N. a 14 de Março de 1829.

208) Vozes da Alma. Porto, 1849. 8.o gr. Segunda edição, ibi 1857. 8.o gr. »

http://albertopimentel.blogspot.com/2006/02/guilherme-braga-1843-1874.html

Perguntei num site de Artur Navarro e o autor respondeu (confira o link)

Cumprimentos

 

Blogger David Afonso said ... (julho 19, 2006 8:43 da tarde) : 

Aha! Mas tenho mais! Aguardemos até ao próximo capítulo...

 

Anonymous Anónimo said ... (julho 19, 2006 9:36 da tarde) : 

No "Homens e Datas", Alberto Pimentel apenas refere que Guilherme Braga nasceu na Rua de Sant'Ana. Tudo o resto são comentários pessoais sobre encontros entre os dois amigos.

Cumprimentos

Artur Navarro

 

Blogger Alex Rodrigues said ... (agosto 09, 2021 5:32 da manhã) : 

Sou tataraneto de Manual Bento de Brito e Cunha! Alguém teria uma foto dele, ou mesmo de Manuel Martins Tinoco, que também é meu parente distante? Obrigado. Alexandre318@hotmail.com

 

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