Dolo Eventual

David Afonso
[Porto]
Pedro Santos Cardoso
[Aveiro/Viseu]
José Raposo
[Lisboa]
Graça Bandola Cardoso
[Aveiro]


Se a realização de uma tempestade for por nós representada como consequência possí­vel dos nossos textos,
conformar-nos-emos com aquela realização.


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Para uma leitura facilitada, consulte o blogue Grandes Dramas Judiciários

Visite o nosso blogue metafísico: Sísifo e o trabalho sem esperança

O Dolo Eventual convida todos os seus leitores ao envio de fotografias de rotundas de todos os pontos do país, com referência, se possível, à sua localização (freguesia, concelho, distrito), autoria da foto e quaisquer dados adicionais para rotundas@gmail.com


Para uma leitura facilitada, consulte o blogue As Mais Belas Rotundas de Portugal


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terça-feira, maio 31, 2005

O Político Na Caverna

Sim, a política (desde o desempregado passando pelo artista até ao dentista) é do dever de cada um, digamos que é um dever cívico. O dever cívico está nos primórdios da inteligência, aparece com a consciência, que é o que nos distingue do animal. As fábulas de La Fontaine canonizaram o paradigma – o mundo animal em que vivemos é um mundo inteligente por defeito, vivemos portanto num mundo animal ao quadrado. Os territórios apesar de se tocarem estão divididos, necessitamos dum espaço, dum intervalo, duma distância, para preservarmos as espécies e poder ir um pouco além dessa preservação. Sem Isso, o animal está condenado à entropia.

segunda-feira, maio 30, 2005

Nem Todas As Ideias Originais São Boas Ideias

«O Núcleo Regional do Centro da Liga Portuguesa contra o Cancro (LPCC) quer atribuir à serra da Estrela o título de "primeira serra do mundo sem tabaco"». De facto, estava mesmo a pedi-las...

domingo, maio 29, 2005

Da Reabilitação da Política. Sentenças (I)

A substância de que nós somos feitos, nós os últimos cidadãos da velha Europa, é a mesma substância dos sonhos. Somos herdeiros do testemunho de Atenas e Roma, nações maiores do que elas próprias, que nos deram algo mais do que história: a política. A política, tal como a entende a matriz ocidental, não é a mera gestão do poder, mas a criação e preservação de uma nova forma de território: o bem comum. O equilíbrio deste jogo milenar reside na imprecisa aresta que dobra os interesses privados ao bem comum. Desejaríamos que esta aresta se transformasse num verdadeiro eixo existencial da vida em comum: um axis mundi mítico, mas profano. A política em nós não é uma opção, mas uma missão.

sábado, maio 28, 2005

O Irritante Caso do Vereador Que Não Gostava de Andar a Pé

O caso não é tanto o de não gostar ou até não poder andar a pé. O caso é de o Sr. Vereador, que se faz deslocar no Audi com a matrícula17-04-ND, insistir em estacionar a viatura onde mais ninguém estaciona. Custa-me que um membro da Câmara se esforce tanto em exemplificar aos cidadãos as várias modalidades de estacionamento selvagem.

1º Caso: 6ª feira, 29 de Abril, 23:00; Local: Ribeira: ocarro acima mencionado estava estacionado em cima do passeio público frente à Junta de Freguesia de S. Nicolau, prejudicando a livre circulação dos peões. Irritado com a situação chamei a atenção para o motorista que se encontrava por ali, o que de nada me valeu, para além de uma resposta truculenta. O que pode fazer o Código de Estrada perante esta nova espécie de intocáveis?

2º Caso: 25 de Maio, 14:15; Local: Palácio de Cristal: novamente o 17-04-ND! Desta vez estacionado na plataforma que dá acesso à tenda montada para a Feirado Livro, num local em que não é suposto existir sequer circulação automóvel e que fica por cima do parque de estacionamento! Sr.Vereador do Audi 17-04-ND: não seja tão comodista, deixe o automóvelna garagem, ande a pé ou de transportes públicos (dica: STCPs dos Aliados para o Palácio: 20, 35, 37 e 78). Mas se tiver de usar oautomóvel, respeite o Código de Estrada, os peões e a cidade e, sobretudo, não dê o mau exemplo.

sexta-feira, maio 27, 2005

Operação Mãos Limpas

Gherardo Colombo (um dos juizes da operação Mãos Limpas) dixit:

«Da minha experiência posso reconhecer a estreita relação entre corrupção e os gastos dos partidos políticos. A operação Mãos Limpas investigou quatro primeiro-ministros, cerca de 200 deputados e vários ministros e presidentes de câmaras. Por exemplo: dois ex-presidentes da Câmara de Milão foram condenados por ter ficado provado que recebiam dinheiro corrupto.»

Faltou esta medida de combate ao défice: uma operação Mãos Limpas por todo o reino de Portugal. A economia paralela é protegida pelos próprios partidos que precisam dela para sobreviver. Se mudarmos as regras do financiamento partidário, dos gastos partidários (limitar o nº de cartazes, de contratação de estrelas para os comícios, dos arrendamentos das sedes de campanha, etc...) e do consequente endividamento dos partidos (dívidas e favores); e se paralelamente se levar a cabo uma investigação de alto a baixo de todos os responsáveis políticos até à data, então acreditaria que as coisas seriam bem diferentes. Quanto dinheiro não perde o estado por causa desta praga da economia negra paralela?

quinta-feira, maio 26, 2005

Uma Canalhice

Pinto da Costa dixit:

«Os Super Dragões não tentaram impedir ninguém de festejar. Não vejo que lhes possam ser assacadas responsabilidades.»

«Eles foram informados de que os adeptos do Benfica iam para a zona da Boavista e do Castelo do Queijo. Se tivessem aparecido portistas na zona da Boavista, teria sido bem pior.»

Só tenho uma dúvida: estas declarações são resultado de senilidade ou de pura canalhice? Meu caro amigo: todo o país viu a claque do FCP a descer os Aliados armados de paus e bastões e a bater em mulheres, crianças e quem mais lá estivesse. A lei devia punir severamente o incitamento à violência. Vá fazendo festas no animal. Chegará um dia em que este morderá a mão do dono. É uma fatalidade.
(Para que conste: sou quase imune ao futebol, de tal modo que o meu clube é o Beira-Mar)

O Presidente De Todos Os Portugueses

Guterres foi designado Alto-Comissário das Nações Unidas Para Os Refugiados. Finalmente! Guterres conseguiu agora aquilo que sempre quiz ser: o presidente de todos os portugueses.

quarta-feira, maio 25, 2005

Do Mau Mágico Ao Péssimo Canalizador 2/2

Meditando sobre o correr do rio e pensando profundamente sobre as inúmeras propriedades da "água", aqui vai o que muitos dos magos viram e fizeram e algumas das consequências:

Vendo que muita coisa, pode correr segundo as águas da vontade pelo facto consumado – em detrimento dos outros claro (porque eu sou eu e tu és tu) e porque isso sabe muito bem, visto o curto e exclusivo espaço que uma só vida tem, vendo ainda que um pacto de entre-ajuda pode ser feito por entre todos aqueles que assim vêm, de modo a dar asas a vontades cada vez maiores, muitos enveredaram para a canalização. Um canalizador que se preze não só distribui uma rede sem fugas como também trata da qualidade da "própria" água. Quando um desse dois pontos falha há derrame (a água sabe encontrar buracos) ou poluição, e quando os dois falham então há catástrofe – contaminação. Dos derrames inevitaveis e à proporção da abilidade destes artesãos, formaram-se rios, aquedutos e barragens. Se pensarmos que essas águas aspiram ao volátil de uma asa, então poderiamos medir a dimensão do problema, não aparecesse um problema a superando todos. Existem hordas que bebem e banham nessa água e que não param de se queixar, são uma outra raça de canalizadores: Só pensam se estiverem juntos mas quando estão juntos não encontram nada melhor para fazer do que canalizar a água contaminada.
Não obedecesse a água às propriedades da força gravítica o que seria de nós?

O Dia Depois De Amanhã

Chegou o dia depois de amanhã. E agora José? Vamos ficar agachadinhos, aqui à beira da Europa, aguardando que o défice degele. Os pequenos profetas de costume saltitam, espumando o mantra de sempre: «É o estado! É o estado!». Indiferentes os luso-ruminantes pensam para si: «É o estado, é! E ele que não me dá um emprego. Deviam despedir essas cambada dos deputados que nos sugam o guito todo! Ah, Salazar... [pausa de saudade]. BEENFIIICAAA!» E lá vai o nosso luso-ruminante rumo à ponte da próxima 6ª feira. Entretanto, o dinâmico-iluminado-jovem economista-pseudo-optimista vai debitando mil soluções por segundo, todas dependentes de uma única variável: os míticos fundos europeus. Temos os mendicantes mais sofisticados do mundo, andam de Mercedes, vão ao Lux e a Bruxelas, que é outra maneira de dizer que vão à merdinha. Alheados da conjectura duas flores viçosas estendem as raízes cada vez mais longe alimentadas por este imenso esterco à beira mar plantado: a banca e o futebol. Uns olham embevecidos para os sobreiros que hão-de ser um campo de golf (está escrito nas estrelas...), outros vivem do tráfico de carne humana (jogadores e prostitutas), sustentado no que há de mais baixo na condição humana-versão lusa. Hoje acordei do lado errado da vida... Vou ali irritar os espanhóis a ver se nos invadem de uma vez por todas e tomam conta de nós.

Portugal No Prego

Não sabia. Juro que não sabia. Como poderia da minha cabeça brotar tamanho absurdo? Mas é verdade! Os partidos políticos pedem com frequência empréstimos bancários! Que garantia podem eles dar? O país?!

segunda-feira, maio 23, 2005

Do Mau Mágico Ao Péssimo Canalizador (1de2)

Hoje em dia, à vista de todos, predomina a filosofia do facto consumado. O mágico aparecimento das coisas é o dogma destes filósofos, que precisarão de dominar as artes do encanto e do fascínio, sem os quais não haverá magia. Quando as coisas não correm às mil maravilhas, é-nos dado a entender que qualquer pretexto serve para justificar qualquer acção ou posição. Para estes maus conjuradores, quando o encanto falha, não haja dúvidas, aparecem os períodos de justificação, persuasão e aceitação forçada. Não compreendem, muitas vezes, porque será que algo que tanto os fascina não fascina outros. Ficam presos no próprio feitiço, chegando até a vangloriar-se por isso. E assim, por certas partes, canaliza-se o correr das vontades e dos desejos.

Ah, Beira-Mar, Que Tranquilidade Me Darias!...

Sim, divorciei-me do blog. Mas voltarei dia 11 de Junho. Estou agora recolhido nos meus domínios, anacoreta, com excesso de afazeres. Vim só aqui protestar porque ontem, ao passar numa rua, ia ficando surdo. Tivesse o Beira-Mar ganho o campeonato, os meus ouvidos estariam certamente melhores.

Avenida dos Aliados Sitiada

A Avenida dos Aliados, no Porto, ficou em estado se sítio quando um punhado de indíos oriundos das reservas nativas se juntou para enfrentar bravamente o invasor do Sul. Um punhado de analfabetos militantes, produto acabado da mono-cultura futebolística abriram trincheiras contra o inimigo que lhes vinha tomar a baixa. Nada melhor para fazer numa noite de Domingo senão espancar o inimigo de vermelho. Ah, isto é que é vida! O que seria do Porto e do país sem vocês? Entretanto o velho chefe índio, Pinto da Costa, já em casa e de chinelos vê na tv a sua prole guerreira. Enquanto molha um pedaço de pão-de-ló numa meia de leite ainda resmunga cuspindo pequenos perdigotos para o écrã: «Tende juízo e voltai para Contumil, Ermesinde, S. Mamede, Vila d’Este! Voltai e ide trabalhar e aprender a ler e a escrever. Voltai que acabou a bola...»

domingo, maio 22, 2005

Menoridade Cívica

Merecemos um Alberto João? Um Major Valentim Loureiro? Uma Fátima Felgueiras? Um Isaltino Morais? Um Santana Lopes? Um Nobre Guedes? Um Telmo Correia? Um Paulo Portas? Um Narciso Miranda? Um Cruz Silva? Um Rui Rio? A verdade nua e crua é que merecemos. É o preço a pagar pela nossa eterna menoridade cívica.

sábado, maio 21, 2005

O Banco da Moda 2

O universo GES (Grupo Espírito Santo) tem revelado o que tem de pior dentro de si: o desprezo pelo património ambiental nacional que são os sobreiros, o desprezo pelo património cultural ao pretenderem demolir a casa onde Almeida Garrett viveu em Lisboa, um projecto imobiliário desmesurado para a zona costeira de Gaia pondo em causa o frágil equilíbrio do ecossistema ribeirinho da zona, o patrocínio generoso aos grandes clubes de futebol, a sua ligação ao negócio pouco limpo dos diamantes de Angola. A isto se deve acrescentar as fortes suspeitas de tráfico de influências e de pressão ilegítima sobre os nossos influenciáveis governos. Por mim basta. Vou mudar de banco. Não quero nada com esta gente.

sexta-feira, maio 20, 2005

O Banco da Moda

Conversa entre Telmo Correia e Nobre Guedes enquanto admiram o pôr-do-sol na lezíria ribatejana:

« - Já falaste com o teu banco?»
« - Não... falei com o teu!»

quarta-feira, maio 18, 2005

Atavismos

A recente polémica em torno do congelamento da actividade de várias companhias de teatro no Porto (e entre elas «As boas raparigas....», o que é uma pena) e da dificuldade em garantir os apoios para o FITEI, despertaram na minha memória um texto com mais de cento e cinquenta anos. Está lá tudo: o ressentimento contra Lisboa, a dependência do subsídio estatal, a exigência por uma profissionalização e a decadência cultural da velha Invicta. Atavismos?


«...O theatro do Porto, da segunda cidade do Reino, que tanto jus tem aos desvelos de quem governa, não tem huma companhia estavel, por falta de protecção, e está huma boa parte do anno fechado; e isto porque?! Porque não participa do benefício que se faz aos theatros de lisboa, a que tanto direito tinha; porque na proporção da sua grandeza o Porto he talvez mais contribuinte que Lisboa: deste abandono nasce o não termos no Porto huma companhia constante, o que faria com que os actores velhos criassem actores novos, e que huns e outros animados pela esperança, de que os seus trabalhos lhes proporcionarão os meios de decente sustentação, progredissem no aperfeiçoamento de sua arte. Oxalá que assim se verifique, ou então o theatro do Porto caminhará no sentido inverso do progresso dos outros theatros da Europa.»


O Espectador Portuense – Jornal de Theatro, 14 de Dezembro de 1848




«Fação-se leis para o theatro, estabeleça-se o quadro das companhias, marquem-se as habilitações para os actores, faça-se alguma reducção do subsídio dos theatros de Lisboa, em beneficio do do Porto, sugeite-se o theatro a uma vigorosa disciplina – E a arte Dramatica terá entre nós o lugar que occupa em todas as nações illustradas.»

O Espectador Portuense – Jornal de Theatro, 28 de Dezembro de 1848

terça-feira, maio 17, 2005

Eu Ainda Sou Do Tempo...

Eu ainda sou do tempo em que havia o Spectrum 48K;
eu ainda sou do tempo em que havia o gelado Fá;
eu ainda sou do tempo em que se bebia Capri-Sonne;
eu ainda sou do tempo em que o Duarte & Companhia dava pela primeira vez.

segunda-feira, maio 16, 2005

Tempo Para Crescer

Ando deprimido. Sócrates lembrou-se de que a melhor maneira de lutar contra o insucesso escolar é esticar o horário escolar até às 17:30 nas escolas primárias. Ao ouvir esta barbaridade lembrei-me da minha ociosa infância. Chegava às 15:00 a casa e tinha tempo para jogar uma futebolada, inventar jogos, investigar as margens da ria, apanhar pássaros, ficar deitado ao sol escutando o tempo a passar. Conseguia assim esquecer essa terrível realidade que é a escola. Apesar de ter sido sempre um aluno aplicado, sempre detestei a escola. A única coisa que me mantinha vivo era o tempo que me davam para respirar. Não sei o que seria de mim se me tivessem obrigado a passar tanto tempo fechado numa sala a fazer de conta que aprendia. Às vezes chegava a fingir-me doente para ficar com o dia todo para mim (e sei que minha mãe se deixava enganar: obrigado mãe!). O meu liceu foi feito no fio da navalha, sempre à beira da exclusão por faltas e os meus estudos superiores foram tempos gloriosos, cadeiras houve que nunca assisti, professores que nunca conheci (o que não me impediu de concluir a licenciatura nos quatro anos previstos e com relativo sucesso). Mais tarde lancei-me num mestrado e, nem aí mudei os meus hábitos. A escola seja ela qual for é sempre uma prisão. É claro que nestas coisas o diabo fica sempre a ganhar e fez-me professor. É justo. Ah! Voltando ao que interessa: senhor primeiro-ministro, poupe as nossas crianças. Elas precisam de tempo para crescer e, de preferência, bem longe da escola.

domingo, maio 15, 2005

Sic Transit Gloria Mundi

Fui levar a Ana (embora o nome seja fictício, os factos realmente aconteceram) à rodoviária de Coimbra. Após um acontecimento que qualifico de absurdo (que para o objecto do artigo é irrelevante ser narrado), Ana pediu expressamente o livro de reclamções. Ao que lhe deram muito prestativamente uma "folha de reclamação", não o livro de reclamações. Essa folha tinha a epígrafe «Reclamação», um espaço para o nome e umas quantas linhas para o conteúdo da reclamação.
É claro que Ana foi reclamar. Ao que disseram que "já podia ter dito que queria o livro de reclamações, esse está no escritório". Mas fora isso exactamente que Ana pedira. Para além do mais, essa "folha de reclamação" poderia perfeitamente ser atirada para o lixo - que ninguém iria saber - (ao contrário do que sucede com o livro de reclamações). Eu próprio disse isto ao empregado. Ao que ele retorquiu [pasme-se!] "a folha vai para o chefe, que lhe dá o destino que entender". Não pude deixar de dizer que esse destino era o caixote do lixo. "Normalmente não", afirmou ele. E mesmo que o destino não fosse o caixote do lixo, a rodoviária é obrigada a dispensar o livro de raclamações quando solicitado.
Pergunto-me a quantos passageiros queixosos dos serviços daquela rodoviária já foi atirada, subrepticiamente, areia para os olhos.

sábado, maio 14, 2005

Errata

É frequente no senso comum o mau uso da palavra «infanticídio». O que não é de espantar, uma vez que a palavra sugere «infância». Desta feita foi Nuno Pacheco que, no Editorial do Público de hoje, escreve:
"Na missa de sétimo dia por Vanessa, a criança [de cinco anos] que pai e avó terão maltratado até à morte, o pároco de Lordelo do Ouro quis comparar o aborto ao infanticídio para concluir que o primeiro é mais grave."
Ora, segundo o nosso ordenamento jurídico-penal, para que ocorra infanticídio (artigo 136º Código Penal), é necessário que:
1. a mãe (e só a mãe) mate o filho;
2. durante ou logo após o parto;
3. estando ainda sob a sua influência perturbadora.
Portanto, por um lado, um pai e uma avó nunca poderão cometer o crime de infanticídio; por outro lado, vítima de infanticídio nunca poderia ser uma criança de cinco anos. O crime em causa é o de homicídio.
Corrigindo, o "pároco de Lordelo do Ouro quis comparar o aborto ao [homicídio] para concluir que o primeiro é mais grave."

Eterno Retorno

Se há um assunto que me entusiasma – a mim, que envergo o título de tripeiro apenas por empréstimo – é o da reabilitação da baixa desta cidade cabisbaixa. É verdade que às vezes sou dado a amuos e digo sobre a cidade do Porto aquilo que Lord Byron disse sobre Sintra: os portugueses não a merecem! E quem diz portugueses, diz portuenses. Mas amuos e outros aborrecimentos à parte, o abandono da cidade é o único problema sério desta cidade. Esqueçamo-nos dos futebóis, das acrobacias políticas e do eterno despeito para com Lisboa e olhemo-nos no espelho:

O Porto só pode dizer mal dele próprio. A verdade é que fugiu para os arrabaldes, fugindo da memória e do desconforto da cidade velha. Uns pelo seu próprio pé, outros empurrados pelos mirabolantes planos de (re)engenharia urbano-social do tempo em que os bairros sociais brotaram que nem cogumelos pela cidade fora. Ainda agora se vai empurrando diligentemente os estudantes para as bordas do prato. Com estes movimentos migratórios houve muita gente que ganhou a vida: a autarquia que vive das taxas sobre a construção (triste sina!); os grandes, pequenos e improvisados promotores imobiliários; e os também grandes, pequenos e improvisados empreiteiros e subempreteiros. E a banca, claro! A banca que vive deste luxo improvável da casa-própria para todos e cada um e que, ao mesmo tempo que finaciava o endividamento vitalício das familias que desertavam da cidade, ia destruindo o centro cívico desalojando os cafés históricos, ocupando posições nos edifícios emblemáticos da baixa. O que nos sobrou foi este casco vazio, muito bem servido de sucursais bancárias (as sedes já fugiram para Lisboa), cercada de condomínios privados, bairros sociais, vivendas e, enfim, de gente que teima em se dizer do Porto apesar de tudo.

Agora que se bateu no fundo, abre-se um novo ciclo: o ciclo do retorno à baixa. analisa-se a cidade ao microscópio para quantificar aquilo que toda a gente já sabe, arregimentam-se os técnicos, limpam-se as medalhas de mérito político, convoca-se a imprensa e está anunciada a recuperação. A banca, os empreiteiros e os promotores imobiliários apreciam o eterno retorno que lhes é proporcionado pela cidade.

sexta-feira, maio 13, 2005

Miguel Sousa Tavares 2

Respondendo a Daniel Oliveira, Miguel Sousa Tavares [MST] usa uma vez mais a sua crónica no Público para escrever pérolas incontinentemente acerca do artigo 175º do Código Penal. Já o havia referido, aquando da sua última manifestação sobre o tema, no meu artigo "Miguel Sousa Tavares".
"O direito à orientação sexual do pedófilo - escreve hoje - prevalece sobre o da própria vítima menor, o que eu acho um duplo abuso. (...) fiquei a saber que para ele [Daniel Oliveira] seria igual ser abusado por um homem ou por uma mulher (...). Pois para mim não (...). A questão é a de olhar pelo ponto de vista da vítima e punir os danos sofridos. Por isso é que, quando Daniel Oliveira pergunta, estupidamente, se eu aplico o mesmo critério a uma rapariga abusada por uma mulher, a resposta que tenho para lhe dar (...): também aí os danos são menores do que os que seriam causados por um pedófilo homem."
Mais uma vez: a discussão sobre se o direito à orientação sexual do pedófilo prevalece ou deixa de prevalecer sobre o da vítima é inútil neste campo. Por duas razões. Primeira: MST afirma que para ele seria mais traumatizante ser abusado por um homossexual. Mas para muitas outras pessoas não. Segunda, precípua e decisiva: essa discussão é [deve-o ser] completamente alheia e irrelevante para o problema em questão. Porque aquilo que, para o direito penal (e não para MST...), a incriminação visa é a protecção de bens jurídicos (no caso, a autodeterminação sexual). O ponto de vista da vítima é irrelevante. Fosse relevante, e chegaríamos ao absurdo de perguntar, como condição de punibilidade, qual a orientação sexual da vítima. Consequentemente, dever-se-á punir o abuso enquanto violador do bem jurídico assinalado, sem quaisquer distinções violadoras do princípio da igualdade entre condutas hetero e homossexuais.
A concepção de MST vem-se tornando cada vez mais ultrapassada, tanto na doutrina jurídica portuguesa e estrangeira, como no direito comparado. Agora, também na jurisprudência.
O fim da vigência do artigo 175º do Código Penal está para breve. A sustentá-lo, veio agora o Tribunal Constitucional [TC] julgar inconstitucional o artigo [caso Michael Burridge]. Esta sentença, porém, só terá efeitos no caso concreto. Todavia, segundo o artigo 281º/3 da Constituição da República Portuguesa, o TC, após julgar incontitucional a norma em três casos concretos, aprecia e declara, com força obrigatória geral, a sua inconstitucionalidade. Estamos, destarte, quase lá.
PS: Não percebi bem o raciocínio de MST: um rapaz ser abusado por um homem é traumático [para o rapaz], mas já não é traumático [para a rapariga] uma rapariga ser abusada por uma mulher?

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A Frase Da Semana

"Matar uma criança no seio materno é ainda mais violento do que matar uma menina de cinco anos."
Disse-o o sr. Padre Domingos Oliveira.
Este homem tem problemas com o álcool.

quinta-feira, maio 12, 2005

Há Parvos Para Tudo

Caso decidido na Alemanha, conhecido como Caso Sírius:
A, que goza de grande ascendente intelectual e emocional sobre a sua 'amiga' B, convence-a a matar-se, mas só depois de ter feito um seguro de vida a favor dele. Para tal convence-a de que, logo após a sua morte, ela reincarnará num corpo novo e perfeito, que está à espera dela num lago. Corpo com o qual continuará a viver (preservando a sua individualidade) na estrela Sírius, a que ele pertence, e de onde "terá sido enviado à Terra com a missão de providenciar que algumas pessoas de excepcional valor, entre as quais a vítima, pudessem, depois da destruição total dos seus corpos, continuar a viver com as suas almas noutro planeta ou na estrela Sírius". Tendo B sobrevivido à tentativa de suicídio, o Supremo Tribunal alemão condenou A por tentativa de homicídio.
Eu juro que às vezes não entendo os seres humanos.
Fonte: Comentário Conimbricense do Código Penal, Parte Especial, Tomo I, pag. 90

Política, Jornalismo e Meteorologia

O modernismo apresenta-se segundo Adornos, Benjamins e companhia enquanto consciência da diferença entre a fantasia e a realidade. Ora, esta arte de governar e dirigir o estado que é a política não faz a diferença. Continuando a alimentar as suas fantasias, não só se fecha cada vez mais no seu próprio mundo, como acaba por ferir tudo que toca na sua passagem. Claramente, a realidade está fora da política. Contudo, este tornado feliz no seu rodopio, teima em afirmar a sua realidade, inconsciente do boletim meteorológico.
O que nos leva ao Boletim propriamente dito. Quem relata os factos do dia a dia pensa certamente ter uma profissão próspera e divertida. Viaja a qualquer parte patagónica do mundo e não só aparece ao povo todos dias via satélite e papel, como também os dias são intermináveis. Os jornalistas são o olho do mundo, têm o poder de dar a ver e ouvir pelas pessoas e na casa das pessoas, assim as pessoas bebem poder e fantasia. Não há dúvida, somos informados, os factos são científicos, aquela equipa marcou tal golo, tal pessoa é acusada por abuso de poder e tráfico de influencias, aquela mulher está grávida... Talvez a actividade esteja escassa de novidades, talvez uma falta de inteligência permite-lhes fazerem as perguntas mais inverosímeis nos lugares mais inoportunos, ou talvez a concorrência lhes tenha subido à cabeça e tenham sido pegados num remoínho político. São autênticas sanguessugas do fruto da paciência e do fruto da polémica que arrastaram as próprias árvores numa espiral em que se destaca o espírito telenovelístico, tão querido à população, e em que as estrelas mediáticas giram e mesmerizam.
Visto termos problemas climáticos não previstos nem detectados pelo actual boletim meteorológico precisamos também de uma nova meteorologia.

Jornalismo Mercenário 2

1. Mais um caso de mau “jornalismo” e logo vindo do meu jornal favorito. Noticiou o “Público” que Sá Fernandes mantinha negociações secretas com o BE tendo em vista o patrocínio desta organização partidária à sua candidatura para a Câmara Municipal de Lisboa. Mais: assegurava que Francisco Louçã e Sá Fernandes eram amigos de infância! Prontamente, o candidato independente e o dirigente bloquista desmentiram a “notícia” e esclareceram que nem sequer se conheciam, quanto mais serem amigos de infância! Para além de terem concedido nos termos da lei o direito de resposta, seria bom que o diário tornasse bem claro o que esteve na origem de erro tão grosseiro, o qual cheira a manipulação informativa que tresanda. Seria um desgosto para muitos de nós que o exemplar “Público” degenerasse em tablóide ou em órgão de contra-informação.

2. Ribeiro e Castro precipitou-se a anunciar que a máscara do candidato Sá Fernandes havia caído. Talvez fosse o momento do líder do CDS-PP envergar a máscara da vergonha. Bom! Sempre pode reciclar o dito apontando-o para os seus correligionários Nobre Guedes e Abel Pinheiro, que, esses sim, acabaram agora mesmo de ser desmascarados.

3. Sá Fernandes só há um! Miséria de país...

terça-feira, maio 10, 2005

Mulheres Em Fúria

Em Estocolmo, segundo o Público [de ontem], mulheres numa manifestação feminista agrediram três homens com tacos de baseball e guarda-chuvas, que ficaram gravemente feridos. Por divina providência, quem sabe, não traziam consigo tesouras de podar.
É assim mesmo, mulheres. O poder não se dá. Toma-se.

segunda-feira, maio 09, 2005

Mais Um Processo A Fazer Monte

Não admira que a Justiça portuguesa esteja soterrada em processos. Desta vez é Pedro Santana Lopes a juntar mais um grão de areia na praia, ao pretender processar José António Saraiva, da direcção do Expresso, pelo conteúdo de um artigo [sob a epígrafe "O prazer de decidir"] onde escreve que Marques Mendes percebeu que "neste momento, o importante é restituir a (...) credibilidade ao partido. Se Santana Lopes, Isaltino Morais e Valentim Loureiro fossem candidatos (...) o PSD podia ganhar mais câmaras, mas a autoridade do partido ficaria diminuída. Marques Mendes redime o PSD, que sai purificado (...) de pecados recentes".
Mas alguém vê aqui matéria para um processo?

Jornalismo Mercenário

Não é a primeira vez que isto acontece e não será a última. O Jornal da SIC deste Domingo fez notícia de um mega-empreendimento a instalar por um grupo de investidores nos arredores de Lagos. Deste misterioso grupo de investidores apenas foi avançado o nome do ex-treinador do Benfica e actual seleccionador da Inglaterra, Erikson. Não por acaso, penso eu. Dada a dimensão da operação imobiliária, que pretende passar por ser um aldeamento olímpico não me parece que o papel de Erikson não seja maior do que a personagem-marketing que deverá legitimar e atestar a bondade da intenção dos promotores. A notícia da SIC aparece montada segundo uma estratégia a todo o título hipócrita: 1º Faz referência ao prestigiado treinador; 2º Enumera o número de postos de trabalho a criar; 3º Acena com os milhões investidos; 4º Anuncia que se trata de um projecto ecológico e amigo do ambiente. Pelo meio faz-se uma entrevista aos incontornáveis autarcas que pulam de contentamento. Quando estamos convencidos de que a coisa já está a andar, vem o balde de água fria: os terrenos estão em plena reserva agrícola e reserva ecológica. Oportunidade para o “jornalista” reafirmar o espírito ecológico e desportista do empreendimento e de os autarcas declararem o interesse da terra em que os investidores não fujam. Ora, isto não é uma notícia mas uma manobra de pressão sobre a opinião pública. Isto não é jornalismo, mas um acto mercenário. As reservas agrícola e ecológica não podem ser revistas ao sabor das vontades dos dinheiros. E como podem afirmar que um complexo de campos de golfe e de futebol é ecológico? O verde por si só não tem nada de ecológico. Este verão vai ser muito difícil os algarvios terem agua nas torneiras para darem de beber aos turistas. O ano passado já se recorreu a auto-tanques dos bombeiros para regar os campos de golfe. Ecológico? Vamos transformar todo o Algarve numa imensa Disneylândia para reformados ingleses. Uma última questão: a quem estarão os jornalistas da SIC a fazer o frete?

domingo, maio 08, 2005

Bolsa De Apostas


Portão, junto à Praça da República, Coimbra
Posted by Hello

Alguém resolveu gastar tinta num portão junto à Praça da República, em Coimbra. Quem seria o destinatário? Neste país, candidatos não faltam. Venham apostas.

sábado, maio 07, 2005

Ainda Vai a Tempo

É muito estranho que ainda não tenha sido alvo de um processo por parte do Sr. Alberto João Jardim. A vida até lhe seria facilitada: não teria de ser levantada a minha imunidade parlamentar porque - imagine-se - não sou parlamentar. Das duas uma: ou o Sr. Jardim é muito selectivo nas personagens que processa (escolhendo-as aleatoriamente [pim pam pum cada bala mata um] ou segundo critérios de boa gestão [os inimigos do continente, verbi gratia parlamentares]), ou o Sr. Jardim ainda não reparou no meu artigo "O Soro da Verdade", de 17 de Abril de 2005. Mas ainda vai a tempo, o prazo de propositura da acção ainda não caducou.

Países Da Censura

Na Índia inúmeras jovens mulheres são raptadas e violadas meses a fio... Acabando o prazer de alguns, aquelas que não têm a sorte de ir parar a sarjeta, voltam para casa para encontrar um pior destino. Na Índia uma mulher precisa de 4 testemunhas machos, sem os quais não existe credibilidade no tribunal. Esta será condenada por adultério. Não queiramos saber o significado de tal condenação.
No Japão é proibida a mostra de qualquer parte erógena. É o país mais púdico do mundo, chegando ao cúmulo de censurar um filme como o Conan. Não obstante, quem fizer dois passos na rua e entrar em qualquer livraria, videoclube ou casa de brinquedos será assediado por uma secção erotica/porno muitas vezes maior que todas as outras juntas. Por isso não será raro verem-se pessoas no metro lendo Bandas Desenhadas bem recheadas de fluxos orgânicos e emitindo pequenos grunhidos. Mas atenção – para fazer inveja ao Divin Marquis e ao processo Casa Pia – falamos aqui dum porno demente com monstros, criancinhas e muitas secreções, mas é claro, verdade seja dita, está tudo censurado (ou quase tudo). Por outro lado, temos ruas semeadas de casas de "hospedeiras" com desenhos nas portas representando da melhor maneira aquilo que fazem, hospedeiros que pairam nas esquinas abordando qualquer rapariga sugestionável (que são quase todas) e indivíduos que, "sabe-se lá como", ficaram nesse estado, vagueiam meios perdidos pela rua olhando e babando-se para as mini-saias estudantis.

Monarquia Absoluta Das Bananas

Na Madeira não se levanta a imunidade parlamentar a um deputado que foi apanhado a conduzir embriagado, mas retira-se a mesma a um deputado lúcido e sóbrio que criticou na imprensa o soba Jardim, alcunhando-o de «tiranete». Paga-se bem cara a sobriedade na Madeira. Sentiu-se sua excelência ofendida não só na sua honra e dignidade, como também sentiu que a honra e dignidade da própria Madeira estariam em causa. Afinal, onde acaba o homem e começa a ilha? O que não lembrava nem ao diabo era processar o deputado da oposição por, sejamos claros, delito de opinião. Mais valia ter bebido umas ponchas a mais... E assim vai a Monarquia Absoluta das Bananas.

sexta-feira, maio 06, 2005

O País Da Liberdade

A Câmara dos Representantes do Estado do Texas aprovou um projecto de lei que proíbe as líderes de claque (cheerleaders) desse Estado de esgrimirem "movimentos manifestamente sexualmente sugestivos" em acontecimentos desportivos. A proposta seguirá para o Senado do Texas.
Os Estados Unidos no seu pior. O país-mãe da democracia e da liberdade de expressão, na sua imensa heterogeneidade, tem picos de tensão, para o mal e para o bem. Estabelecer a pena de morte, impor a democracia pela guerra desculpando-se na existência de armas de destruição em massa - ainda que contra o direito internacional -, não assinar o Protocolo de Quioto, ainda vá que não vá. Agora mexerem com as cheerleaders, isso não se admite. É um crime.
Em todo o caso, vai ser muito difícil fazer com que as meninas das claques não façam movimentos de manifesta sugestão sexual.

Ser Super Racional Mas Não Tanto

Respondendo ao convite, faço por fim entrada na sala das aparições.
Um ponto incomodativo sobre o vazio que nos carrega.
Imaginar ou pensar, se nós quisermos, parece hoje estar mais do que nunca do lado das actividades menores da espécie. Uma certeza partilhada a priori dum mundo tal como é incha o sujeito de saber e determinação, caracterizando-o assim por uma super razão que, "sabendo", faz com o que tem. Ora o que ele tem é essa certeza: a realidade é "partilha" do mundo tal como é. (Onde partilha vale quase tudo). Mas o mundo como é não está longe de uma paralisia cerebral. Jardim zoológico em que os visitantes são os próprios animais. Enquanto que o mundo vai e muda, e a luz fica para trás, são os mesmos mecanismos que da antiguidade continuam a amamentar o mundo como é com certezas e mundos possíveis. Põe-se o problema em quem usa esses mecanismos, quando de facto o problema está na falta de imaginação e tudo o que isso acarreta. Tudo está por pensar, a começar pela linguagem, a natureza e o ensino.

quinta-feira, maio 05, 2005

Paulinho Das Medalhas

Donald Rumsfeld distinguiu Paulo Portas com a medalha para destacados serviços públicos, por méritos de vária ordem (entre os quais, parece, por alguns de ministério que não era da sua tutela). Mas isso não é de lamentar. Aquilo que profundamente me desapontou foi o facto de Portas não ter usado na cerimónia o célebre chapéu que usava nas feiras durante as campanhas eleitorais.

quarta-feira, maio 04, 2005

Proteste!

Assine a petição a favor da libertação de Ivo M. Ferreira, preso no Dubai por ter dado duas passas num charro! Aqui

Duas Observações

1. Foi descoberta a mais bem conservada múmia até hoje no Egipto. Discordo que seja a mais bem conservada. Temos ainda Fidel Castro, Jean Marie Le Pen, Augusto Pinochet, Robert Mugabe, Linda Reis, George W. Bush, Slobodan Milosevic, Saddam Hussein, José Castelo Branco, Alberto João Jardim, o Papa Bento XVI, et caetera. Estas falam e tudo.
2. Dizia ontem eu no meu post "No Bom Caminho" que os portugueses andam mais civilizados e menos preguiçosos. Mas ainda há muito a fazer. Logo após ter visto um transeunte cuspir substância esverdeada para o chão mesmo à minha frente, um amiga chamou-me à atenção para uma senhora que tentava enfiar um iogurte num pilhómetro.

terça-feira, maio 03, 2005

No Bom Caminho

Segundo dados divulgados hoje pela Sociedade Ponto Verde, os portugueses entregaram para reciclagem no primeiro trimestre deste ano mais de 68 mil toneladas de embalagens usadas, um aumento de 8% face ao mesmo período de 2004.
Os portugueses estão a ficar mais civilizados e menos preguiçosos. Embora muito lentamente, estamos no bom caminho.

segunda-feira, maio 02, 2005

O Estilo Sócrates Chegou Ao Japão

Segundo o Público, na tentativa de limitar as emissões de gases (dado o efeito estufa que está a aquecer o planeta), o Japão vai proibir aos membros e representantes governamentais o uso de fato e gravata no Verão. Deste modo, os edifícios públicos ficarão desonerados do gasto de energia por parte do ar condicionado. Durante os meses de Verão os governantes nipónicos darão o exemplo, esperando ser imitados no seu comportamento por outros engravatados. O fato e gravata apenas será possível em reuniões com dignatários estrangeiros.
Ora aqui está uma medida à José Sócrates.

A Lei Não É Igual Para Todos

Na passada sexta-feira, 29 de Abril, durante a minha deambulação higiénica pela Ribeira do Porto, por volta das 23:00, dei de caras com uma cena muito pouco edificante: um carro oficial da vereação da autarquia (matrícula: 17-04-ND) estava abusivamente estacionado em cima do passeio público, contrariando todos os códigos de civilidade e de respeito para com o cidadão-peão, já para não falar do famigerado Código de Estrada. Incomodado com a situação, questionei o motorista acerca da infracção que estava a cometer. O homem, com aquela truculência de quem está sob protecção do poder, respondeu-me: «Qual é o problema?» Bom! São vários: 1. A lei é universal, não excluindo vereadores municipais; 2. Os detentores de poder deveriam dar o (bom) exemplo; 3. Um profissional da estrada não é um condutor qualquer, mas alguém que tem responsabilidades e deveres especiais; 4. Enquanto cidadão e contribuinte não aprecio que os meus funcionários (o motorista e o vereador) andem por aí a violar a lei. Feitios... Que querem?

domingo, maio 01, 2005

Um Movimento Patético

Mães de Bragança.

Poema Feito Mesmo Agora

Não caibo em mim
porque sou pequeno demais,
e por mais
que me tente enfiar em mim
só me enfio dentro do pó,
dó que dói
mói
de mim.
Parece que eu sou maior que o meu corpo,
que a minha pele é a pele de alguém menor,
parece que levito olhando-me na cara,
tudo num espelho que me aumenta
e me atormenta,
reflectindo-me maior que eu.

Sou pequeno demais para mim.