Dolo Eventual

David Afonso
[Porto]
Pedro Santos Cardoso
[Aveiro/Viseu]
José Raposo
[Lisboa]
Graça Bandola Cardoso
[Aveiro]


Se a realização de uma tempestade for por nós representada como consequência possí­vel dos nossos textos,
conformar-nos-emos com aquela realização.


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Para uma leitura facilitada, consulte o blogue Grandes Dramas Judiciários

Visite o nosso blogue metafísico: Sísifo e o trabalho sem esperança

O Dolo Eventual convida todos os seus leitores ao envio de fotografias de rotundas de todos os pontos do país, com referência, se possível, à sua localização (freguesia, concelho, distrito), autoria da foto e quaisquer dados adicionais para rotundas@gmail.com


Para uma leitura facilitada, consulte o blogue As Mais Belas Rotundas de Portugal


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quinta-feira, agosto 30, 2007

Pensamentos: é por ter espirito que me aborreço

É preciso esconjurar, da forma que nos for possível, este diabo de vida que não sei porque é que nos foi dada e que se torna tão facilmente amarga se não opusermos ao tédio e aos aborrecimentos uma vontade de ferro. É preciso, numa palavra, agitar este corpo e este espírito que se delapidam um ao outro na estagnação e numa indolência que se confunde com um torpor. É preciso passar, necessariamente, do descanso ao trabalho - e reciprocamente: só assim estes parecerão, ao mesmo tempo, agradáveis e salutares. Um desgraçado que trabalhe sem cessar, sob o peso de tarefas inadiáveis, deve ser, sem dúvida, extremamente infeliz, mas um indivíduo que não faça mais do que divertir-se não encontrará nas suas distracções nem prazer nem tranquilidade; sente que luta contra o tédio e que este o prende pelos cabelos - como se fosse um fantasma que se colocasse sempre por detrás de cada distracção e espreitasse por cima do nosso ombro. (...) Sempre pensei que havia tempo a mais. Atribuo em grande parte este sentimento ao prazer que quase sempre encontrei no próprio trabalho: os verdadeiros ou pretensos prazeres que se lhe sucediam não contrastavam talvez muito com a fadiga que me comunicava o trabalho - fadiga que a maior parte dos homens sente duramente. Não tenho dificuldade em imaginar o prazer que deve sentir nas suas horas de repouso essa multidão de homens que vemos vergados sob trabalhos desencorajadores - e não me refiro apenas aos pobres, que têm de ganhar o seu pão quotidiano, mas também aos advogados, aos funcionários, submersos pela papelada e ocupados com encargos fastidiosos ou que não lhe dizem respeito.

Eugène Delacroix, in 'Diário'

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quarta-feira, agosto 22, 2007

Dumb and dumber

Não há duas sem três. E nada mais certo do que para os moralistas americanos, aqueles que preconizam estilos de vida limpos e saudáveis, nos outros.
Depois de Mark Foley e Ted Haggard, eis que surge o legislador (republicano, que tem sempre mais piada…) da Florida, Bob Allen.
O pobre legislador tinha recentemente demonstrado interesse em tornar mais rígidas as leis quanto ao atentado ao pudor, na sua vertente de sexo em locais públicos, lá para os lados daquela terra florida, onde a maioria da população pode andar todo o ano com uma ou duas peças de vestuário mínimo.
Infelizmente, e devido ao despudorado interesse policial em analisar que raio se pode fazer numa casa de banho pública, para além daquilo que facilmente se imagina, foi detido por "soliciting for sex", que é como quem diz que queria utilizar as partes pudibundas de outro homem, uma vez que a casa de banho não era mista.
Azar dos azares. O feliz proprietário das partes pudibundas, era um polícia infiltrado para combater essa “terrible affliction”, esse drama dos nossos dias que é o sexo nas casas de banho públicas. Já uma pessoa não pode mictar em paz...
Não contente, o conservador legislador da Florida só conseguiu piorar a sua situação, justificando-se que se sentiu intimidado por o polícia em causa (condição desconhecida do legislador até à altura do acto) ser negro. E todos sabemos o que diz a lenda... Nunca duvidando, optou por lhe oferecer 20$ em troca da utilização de uma das suas partes.
Segundo o próprio terá sido assim: "This is a pretty stocky black guy, and there's other black guys around in the park tha you know... I am about to be a statistic here", palavras para quê?
Ficam inúmeras dúvidas no ar.
Mas então o acto verificou-se ou apenas se verificou na sua forma tentada?
Como raio se escolhe um polícia para estar em função “undercover” numa casa de banho pública? Há um questionário prévio em que é perguntado se ouvem “Village People!”?
Enfim, ficam algumas sugestões do Daily Show, de desculpas que o Bob Allen podia ter pensado no caminho para a esquadra, em vez do comentário racista que apenas o veio ajudar.

- Tenho um terrível problema nos lábios que apenas passa em contacto com pénis de outros homens;
- Tenho uma terrível dor de cabeça e pareceu-me ver uma aspirina no pénis daquele homem;
- Tropecei e cai inadvertidamente de boca aberta aos pés de outro homem;
- Sou bulímico, mas odeio enfiar os dedos na garganta.

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segunda-feira, agosto 20, 2007

Ranking blogosférico

O Obvious divulga o ranking dos blogues da língua portuguesa.

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De fato e gravata

Novas regras da língua portuguesa, a implementar em 2008:
«GRAFIA
No português lusitano:
1. desaparecerão o "c" e o "p" de palavras em que essas letras não são pronunciadas, como "acção", "acto", "adopção", "óptimo" - que se tornam "ação", "ato", "adoção" e "ótimo"
2. será eliminado o "h" de palavras como "herva" e "húmido", que serão grafadas como no Brasil -"erva" e "úmido"»
Escrever «de fato» em vez de «de facto» será um choque para mim. Havia necessidade? E afinal o que é «herva»?

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IVG

"Deboche e degradação" para uns, tendência mundial para outros. Portugal já é exemplo.

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quinta-feira, agosto 16, 2007

Coabitação

Muito se tem falado sobre a coabitação, pacifica que seja ou não, entre Sócrates e Cavaco. Mas muito pouco se acerta.
A coisa parece funcionar, ainda que pelo meio vá havendo uns vetos e umas inócuas mensagens à Assembleia.
Alguns comentadores declaram morta a coabitação, a famosa cooperação estratégica entre Belém e são bento, apenas porque o timing desse fim permitiria a uma nova liderança do PSD, afirmar-se melhor do que o tem feito Marques Mendes.
Mas isso está errado. Sócrates e Cavaco querem um segundo mandato e fundamentalmente Cavaco sabe que não pode dar ao governo, oportunidade para o exercício da vitimização.
Seguindo uma tradição antiga, os primeiros mandatos presidenciais são sempre calmos e sem sobressaltos. E Cavaco não será excepção ao contrário do que todos os seus apoiantes poderiam esperar.
A coabitação vai continuar, porque não há uma oposição válida e Cavaco tem de resistir à tentação de ser ele a oposição.
A coabitação continuará na medida em que o governo souber gerir os dossiers complicados sem contestação popular generalizada, evitando assim a Cavaco o papel de grande disciplinador .

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terça-feira, agosto 14, 2007

Sr. fumador...

tenha um santo dia ao sabor da leitura da nova lei do tabaco, publicada hoje.

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domingo, agosto 12, 2007

As mais belas rotundas de Portugal [79º]


Rotunda com Bilha de Azeite.
Estrada municipal da freguesia de Cabeção, concelho de Mora, distrito de Évora.
[Fotografia: Luís Bonifácio]

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sexta-feira, agosto 10, 2007

Soarices

Estou absolutamente à vontade para falar sobre Soares. E por isso considero que este está errado na premissa sobre a qual analisa a suposta arrogância do governo Sócrates.
Soares não pode defender a "democracia" venezuelana e a legitimidade da não renovação de uma licença de um canal de televisão, apenas porque este se lhe opõe com "imensa agressividade", e considerar que o Governo de Sócrates é de alguma forma arrogante.
Se Sócrates é arrogante então o Chavez é o quê? Um libertador dos povos oprimidos? Pois, não faz sentido.
De qualquer forma Soares têm razão sobre a diabolização conveniente de uns e outros líderes mundiais.
Chavez é mau. Mas em breve pode ser bom se isso der jeito. Outros no passado já foram bons independentemente de encabeçarem regimes ditatoriais, mas subitamente caíram em desgraça.
Tudo funciona na base dos interesses sazonais das grandes potências.
Quanto à arrogância funciona da mesma forma. Ou a arrogância é um conceito válido para toda a gente, ou então entramos numa lógica semelhante àquela que criticamos noutros.
É como se achássemos que há pessoas a quem a arrogância assenta bem e outras a quem nem por isso.
Mas sim, vive-se neste país um clima que urge ultrapassar, não tenho é a certeza que seja o governo, o problema deste país. Está aberto o caminho para fazer as pazes com Alegre.

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quinta-feira, agosto 09, 2007

O restaurante do Átila

quarta-feira, agosto 08, 2007

Dias menos felizes

O filme «The Godfather», no Brasil, foi traduzido para «O Poderoso Chefão».

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O bonus pater familias

Pat e Sheena Wheaton, casal neo-zelandês, resolveram dar ao seu filho recém-nascido o nome (como é que eu ainda não me tinha lembrado disto) "4Real". O registo civil não deixou, por isso ficará registado como "Superman".
Outras curiosidades dignas de registo na
mesma notícia:
O filho do actor Nicolas Cage chama-se Kal-el Coppola.
O filho da actriz Shannyn Sossaman tem o magnífico nome Audio Science.
A filha da cantora Geri Halliwell dá pela graça de Bluebell Madonna.
O filho dos actores Beth Riesgraf e Jason Lee tem o fantástico nome Pilot Inspektor.
A filha da cantora Lil'Mo chama-se God'Iss Love Stone.
A filha da actriz Gwyneth Paltrow e do cantor Chris Martin é a Apple.

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terça-feira, agosto 07, 2007

Polícias para todos os gostos

Mas afinal quanto mais polícias é que este país necessita? É uma questão importante tendo em conta o constante, talvez não verdadeiro, mas constante sentimento de insegurança das populações.
Ontem Rui Pereira anunciou mais 2200 agentes. 1000 para a PSP e mais 1200 para a GNR. Não contente, anunciou a mais frequente iniciativa da administração interna dos últimos 20 anos. Vão ser disponibilizados ao serviço policial, agentes que estão envolvidos em tarefas administrativas e burocráticas.
Não é preciso fazer um esforço mental particularmente grande, para nos lembrarmos das superesquadras. Esta invenção do então cavaquismo governamental para melhorar a performance policial do país. Ora, passaram quase 20 anos e sucessivos governos pretenderam resolver o problema reduzindo o número de tarefas administrativas e burocráticas que enchem as esquadras e postos um pouco por todo o país.
Ainda assim alguém que passar os olhos por estas letras, notou uma redução da carga administrativa / burocrática, sempre que teve de entrar em contacto com as autoridades policiais? Alguém conhece pessoalmente, ou através de um primo, um cunhado, ou um vizinho, um único civil que preste serviço administrativo / burocrático em qualquer esquadra deste país?
Talvez não. Isto porque o verdadeiro problema é mais sério e passa pela simplificação administrativa do estado que exige quase sempre que a documentação seja emitida em três vias, com selo branco e assinaturas autenticadas. Mas passa fundamentalmente pela falta de vontade em dar aos actuais polícias as condições para efectuarem o seu trabalho.
Segundo parece, Portugal é já um dos países europeus com um maior número de polícias por habitante. Não obstante, é quase impossível ver um polícia na rua a pé, sem que este seja de trânsito. E a algumas horas do dia e nalguns locais é impossível ver um polícia de todo.
Algo se passa, e sem investimento e formação forte nesta área, é impossível motivar a corporação a trabalhar mais e melhor, de acordo com as expectativas fundadas das populações.
Esta é mais uma medida muito habitual em Portugal. Não se sabe bem porque não funciona uma coisa. Simplesmente não funciona, o que em Portugal quer dizer que precisa de mais gente para trabalhar melhor. Assim, mais 2200 agentes, mais aqueles que vierem para a rua (sim, sim...) e o custo associado, só vão evitar a constituição de um verdadeiro seguro de risco, só vão impedir que se invista em infra-estruturas e meios capazes para a polícia cumprir as suas missões.
Entretanto vamos enganando os tolos com uma errada sensação de segurança.

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Friends of God

Há uma semana vi na 2 o documentário Friends of God sobre os evangelistas americanos, fiquei colada à televisão e posso dizer que me tirou o sono, tal foi o espectáculo a que assisti. Nunca a expressão “a religião é o ópio do povo” me disse tanto como naquele dia. Focado principalmente sobre o movimento New Life Church e o seu então líder e líder da National Association of Evangelicals, Ted Haggard, vi o que nunca pensei possível. Em nome de Deus, estes evangelistas têm campos de golfe em Colorado Springs, com os típicos greens claro, mas enfeitados com imagens e temas da Bíblia. Existe também uma Godsland, em que os espaços de diversão são todos inspirados na Bíblia e nos milagres de Jesus Cristo, estão lá bem representadas a crucificação e a separação das águas . Nos cafés e restaurantes, as ementas têm passagens do novo testamento, nas estradas os bilboards referem-se na sua maioria a Cristo, ao Diabo, à Salvação e à falta dela. Quem quer rezar naquelas paragens, pode faze-lo num drive-by-prayer, ao verdadeiro estilo do macdrive, sem sair do carro, carrega-se num botão e aparece alguém que reza com a pessoa através de um vidro e pronto, segue viagem! Estes evangelistas negam em absoluto o Evolucionismo de Darwin, ensinando às crianças a teoria da criação e de que Deus criou o mundo em 6 dias, descansando no sétimo. Interpretam a Bíblia à letra, os milagres são factos e tudo o que está escrito são factos inegáveis. As Igrejas são mega igrejas, albergando milhares de pessoas, onde todos se reúnem em histeria completa, há grupos de música rock, metal, há grupos de motards, de amantes de automóveis, de tudo o que possam imaginar, tudo em nome de Deus. Têm influência no Senado americano e até nas eleições, tal o número que atingem, entre 50 a 80 milhões. O fanatismo, a massiva ignorância desta gente, a megalomania americana, a hipocrisia do american way of life retratada no seu melhor.
O seu líder Haggard disse à repórter naquela altura: “"We've settled the issue of eternal life. The Bible is clear about it...we are not afraid of death because of it. We are living in the United States of America; we have representative government; and we have freedom of religion and freedom of the press." He asks, "Why in the world would a person in that environment not be happy?" Pouco depois surge o escândalo que o fez demitir das suas funções… é caso para dizer que o Deus em quem ele tanto acredita existe mesmo e castiga!

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Pensamentos: o chicote e a preguiça

Há loucuras matemáticas e loucos que pensam que dois e dois são três? Noutros termos, - a alucinação pode, se estas palavras não uivam [serem acasaladas juntas], invadir as coisas de puro raciocínio? Se, quando um homem adquire o hábito da preguiça, do devaneio, da mandriice, ao ponto de deixar incessantemente para o dia seguinte as coisas importantes, um outro homem o acorda uma manhã com grandes chicotadas e o chicoteia sem piedade até que, não podendo trabalhar por prazer, trabalha por medo, este homem - o chicoteador -, não seria realmente amigo dele, seu benfeitor? Aliás, pode afirmar-se que o prazer chegaria depois, com muito mais justo título do que se diz: o amor chega depois do casamento.
Do mesmo modo, em política, o verdadeiro santo é aquele que chicoteia e mata o povo, para bem do povo.


Charles Baudelaire, in "Diário Íntimo"

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segunda-feira, agosto 06, 2007

Portugal está a crescer... para os lados.



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Frases com rufo


«Há quem insista em confundir os cargos públicos de live nomeação (e livremente exoneráveis), que sempre implicam uma relação de confiaça política e uma margem de discricionariedade política no exercício defunções, e a função pública propriamente dita, constituída por funcionários de carreira, que não são livremente selecionados nem são livremente exoneráveis e cujas funções decorrem da lei.» [Vital Moreira, Causa Nossa]

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Uma verdade inconveniente para Al Gore e BE, conveniente para mim


«Walking does more than driving to cause global warming, a leading environmentalist has calculated. Food production is now so energy-intensive that more carbon is emitted providing a person with enough calories to walk to the shops than a car would emit over the same distance.» [link]

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domingo, agosto 05, 2007

O bicho da madeira


Na pág. 5 do Público pode ler-se: «Parlamento: O velhinho Palácio de S. Bento está infestado de "bicho da madeira"». Confesso que pensei que se estivessem a referir a Alberto João Jardim. Afinal é mesmo caruncho.

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quinta-feira, agosto 02, 2007

Justiça de supermercado

A propósito do homicida em série de Santa Comba Dão, diz-se que o condenado paga, mas não devia, o mesmo preço de 25 anos quer mate uma, quer mate cinco, quer mate quinze raparigas. Venha a pena de morte. Quem matar uma rapariga é condenado a morrer uma vez. Quem matar quinze raparigas é condenado a morrer quinze vezes.

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quarta-feira, agosto 01, 2007

Linchamento

É difícil perceber estas notícias da justiça. A maior parte dos portugueses não tem qualquer formação na área, nem tão pouco as escolas dão, sobre o direito que temos ou sobre os princípios que devem reger as nossas leis, o devido enquadramento útil às sociedades democráticas.
Assim, o único vislumbre que temos sobre a justiça faz-se sobre os seus erros, sobre a fraqueza da justiça dos homens e sobre a ira popular que alimenta as televisões nos seus noticiários principais.
Nessa altura o trivial passa a ser o essencial. A cor, nacionalidade e profissão dos suspeitos são ostensiva e sucessivamente utilizadas, sem que daí resulte a construção de qualquer esclarecimento sério. A ira popular, que não passa de um comportamento fortemente enraizado em nós, de curiosidade mórbida acompanhado pela essência da cobardia nacional, que é dizermos e fazermos tudo em grupo que nunca teríamos a hombridade de fazer sozinhos, ganha destaque. Um destaque protagonista de um evento sem qualquer sentido legal e ou utilidade prática que é a entrada de arguidos pelas portas principais dos tribunais que os polícias e guardas prisionais insistem em manter numa espécie auto de fé preparatório do que espera os acusados.
Quantos arguidos neste país não se sentirão como o famoso K?
Qual a relevância jurídica de se insistir em referir alguém como ex-cabo da GNR? Qual a relevância, senão outra que perpetuar o conceito cultural que sobre esta categoria o povo já tem. É uma espécie de pequena vingança. Sabemos que vocês são o pior que existe ou existiu em nós, que representam um passado que insiste em fazer-se presente, mas muitos ainda lhes invejam o protagonismo prepotente e saloio. É um jogo entre o deve e haver. Por um lado questionamos-lhes constantemente as virtudes que sempre soubemos que não tinham, para depois lhes cobrarmos o comportamento que sabíamos alguns acabariam por evidenciar. É o mesmo tipo de raciocínio pequenino que aplicamos à cor, nacionalidade ou estilo de vida de cada um dos acusados deste país. Quantos de nós não nos sentimos já em algum momento, um pouco como Joseph K, neste país?

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