Dolo Eventual

David Afonso
[Porto]
Pedro Santos Cardoso
[Aveiro/Viseu]
José Raposo
[Lisboa]
Graça Bandola Cardoso
[Aveiro]


Se a realização de uma tempestade for por nós representada como consequência possí­vel dos nossos textos,
conformar-nos-emos com aquela realização.


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Para uma leitura facilitada, consulte o blogue Grandes Dramas Judiciários

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Para uma leitura facilitada, consulte o blogue As Mais Belas Rotundas de Portugal


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segunda-feira, outubro 31, 2005

Algures No Futuro, Numa Rodoviária De Autocarros-Voadores Expresso, Às 19 Horas

«Por favor, poderia informar-me a que horas parte o autocarro-voador?» «Hum... O autocarro-voador?» «Sim, o autocarro-voador.» «Hum...» «Sim?» «Hum... O autocarro-voador...» «Vai-me dizer ou não?» «Hum...» «Sim?» «Hum... O autocarro-voador... Hum...» «Váaa... tirar as pulgas ao cão!» «Hum... Tirar as pulgas ao cão?» «Sim, tirar as pulgas ao cão, lavar os dentes ao cavalo, lamber paredes, vá para o raio que o parta!» «Hum... Para o raio que o parta? Hum...»

A Falsa Sombra Do Professor*

Cavaco é um político profissional e a prova disso está na própria mensagem «Eu não sou um político profissional.»
Vamos por partes: a) Cavaco exerceu o cargo de ministro das finanças em 1980; b) em Junho de 1985 é eleito presidente do PSD; c) em Novembro do mesmo ano chega a primeiro-ministro, cargo que só abandonará em Outubro de 1995; d) não levou até ao fim o seu mandato porque preferiu arriscar a candidatura à Presidência da República, tendo perdido estrondosamente para Sampaio; e) conhecedor dos tiques do eleitorado português, Cavaco entrou em hibernação durante esta última década, rosnando aqui e acolá só para lembrar que ainda estava vivo, tendo esta hibernação sido financiada pela sua reforma de político e pelo seu trabalho académico e convém lembrar que aos ex-governantes nunca faltou emprego nas universidades públicas e/ou privadas, nas empresas públicas, na banca ou nas fundações; trata-se de uma espécie compensação tacitamente negociada e incluída no «caderno de encargos» de qualquer máquina partidária e Cavaco não é excepção alguma. Conclusão: Cavaco esteve sempre presente na política, ora no seu hard-core, ora nas suas metástases.
Mas o ex-primeiro-ministro não quer que o reconheçam na pele de político. Porquê? Porque projecta uma sombra de si próprio que não corresponde à realidade? Porque motivo se esforça por criar a imagem de uma austeridade e desinteresse pelas patifarias dos partidos, como que se situasse muito para além de tudo isso? Entregar o cartão de membro do partido ou repetir o mantra «Eu cá não sou político!» são momentos ritualizados de uma encenação de má qualidade. O desinteresse do professor é falso. Cavaco é um animal político, tal como Soares. O que fez Cavaco durante esta última década? Onde estava ele quando a sua intervenção poderia ter sido verdadeiramente decisiva? O homem que agora «não se resigna», resignou-se com a recente tragédia do PSD e com a vitória por KO do PS. O homem que «não se resigna» deixou que a sua criatura, Santana Lopes (sim, sua: foi o professor que o alimentou com os cargos de responsabilidade política que lhe atribuiu em 1986 e em 1991) transformasse o país numa anedota. Se é verdade que «não se resigna», então Cavaco deveria ter aparecido quando, então sim, poderia ter sido a tal personagem providencial: aquando do congresso do PSD que resolveu (mal) o imbróglio da fuga de Durão Barroso, impedindo que a tal «moeda fraca» ascendesse a primeiro-ministro. Isso sim! Isso é que teria sido um murro na mesa! Finalmente, o professor teria oportunidade de provar a sua competência quase sobrenatural, mas desta vez em tempos de vacas magras. No entanto, o homem das «ambições» ficou quieto a ver o circo a ser montado. É natural: afinal de contas ele próprio tem um historial de fuga do governo e, para além disso, estava muito entretido a preparar a sua candidatura à Presidência da República. Nada mau para político amador.
[*Publicado n'O Eleito]

domingo, outubro 30, 2005

Amanhã Já É Segunda


Não é só o Porto que parece fechar ao Domingo, David. Se percorreres a blogosfera, também só hás-de encontrar quiosques fechados e poucos posts distribuídos por cada ponto de paragem. Torna-se cansativo e frustrante.

Público

Estou cansado e frustrado. Percorri toda a cidade durante toda a tarde e não encontrei o Público. Quiosques fechados e poucos exemplares distribuídos por cada ponto de venda. O Porto não é uma cidade de província, mas ao Domingo parece.

Não, Claro Que Não. Dez Anos De Primeiro-Ministro Não Foram Uma Profissão.

[Publicado n'O Eleito]
Mas, afinal, o que é o exercício de uma actividade profissional? É que se for, como eu penso, trabalho [em sentido amplo], exercido com uma certa habitualidade e mediante contrapartidas monetárias, Cavaco foi [é] um político profissional - assim como professor. Não importa qual das profissões exerceu por mais ou menos tempo: ambas estão tatuadas, agarradas, coladas, agrafadas ao seu curriculum. Até porque qualquer uma das actividades - professor e político - foi exercida por longos anos. Já estou mesmo a ver: se Cavaco ganhar a Presidência, vem-nos com a história de que é canalizador profissional.
Cavaco não foi um político profissional? Permite-me, David. Ceci n'est pas une parapluie.

sábado, outubro 29, 2005

A Senhora Da Verruga Nos Lábios Detida Na Venezuela

Há pouco, no telejornal da SIC, a jornalista referiu-se à senhora detida na Venezuela como a «octogenária detida na Venezuela». Já não é a primeira vez que a SIC o faz. Não sabem o nome da senhora? Não o podem revelar? E ainda que não saibam nem possam, será essa a sua característica mais marcante? Não terá ela uma verruga nos lábios? «A senhora da verruga nos lábios detida na Venezuela», por que não? Não terá ela os dentes amarelos? «A senhora dos dentes amarelos detida na Venezuela», não serve? Qualquer dia eu sou «o vintão que escreve no Dolo Eventual». Mas nisto, pelo menos, estaria melhor que o David Afonso, «o trintão».

Algures No Futuro, Numa Gare Confusa De Meios De Transporte Muitíssimo Estranhos, Às 19 horas

«O que é que foi o teu almoço?» «Cebolas.» «Cozinhadas?» «Cruas.» «Ah. Tiveste mais sorte do que eu. Eu almocei alho.»
Pausa.
«A que horas chega o teu muitíssimo estranho meio de transporte?» «Às sete e meia.» «O meu só chega às oito...»
Pausa.
«E se fôssemos ao café comer uma casca de laranja?» «Boa ideia! Há muito tempo que não como casca de laranja!»

sexta-feira, outubro 28, 2005

«Ceci N'est Pas Une Orange»*

Pequeno Comentário*

Disse há uns dias que iria comentar o este post, na parte que respeita à questão Monarquia vs República, do Tiago Alves. Cá estou para o fazer muito perfunctoriamente. Mas vamos por partes:
§1. «o Monarca ser tido como alguém longe do círculo político (e isto não é necessariamente verdade; afinal é um cidadão), o que permite pensar que colocará em primeiro lugar a Nação, não tendo necessidade de seguir caminhos populares ou fáceis que lhe podem custar o Poder, pois o Poder é hereditário; ninguém lho tira, em teoria»
Como dizes, e bem, afinal o monarca é um cidadão como qualquer outro - não se pense que é feito de PVC ou de macadame betuminoso. Por isso, muito dificilmente não terá as suas opções políticas (se as não tiver, será manifestamente inapto para ocupar o cargo de Chefe de Estado). Por outro lado, não vejo por que razão o Rei teria um mais forte sentido patriótico do que o Presidente. Em primeiro lugar, um Presidente apenas poderá exercer dois mandatos; em segundo lugar, o Rei também está exposto à possibilidade de seguir caminhos fáceis para conservar o poder - golpes palacianos e deposições nunca faltaram na História.
§2. «[o Rei] assume-se como um ponto de união da população, podendo servir de foco de estabilidade em crises políticas e não só. Podem, assim, contribuir para uma melhor imagem de identidade nacional, de respeito e orgulho no Passado. Tal imagem pode potenciar o empenho da população em resolver os problemas do País. Se o PM disser que "é preciso cortar a direito para salvar a nau" terá greves e agitações; mas se o Rei assim o indicar, decerto essas greves não terão lugar ou serão menos violentas»
Tiago, estaria aqui a noite inteira a escrever nomes de monarcas que apenas serviram a instabilidade, a desunião. É preciso ver que um Rei, como pessoa, agradaria a uns e a outros não. Necessariamente.
[Publicado n'O Eleito]

«Ceci N'est Pas Une Pipe»*

Memória Sefardita, Cultura e Turismo*

A descoberta de um Ehal, uma espécie de nicho onde se resguarda a Torah, no n.º9 da Rua de S. Miguel, veio a comprovar a hipótese da existência de uma sinagoga naquela rua (uma outra hipótese seria a rua da Vitória). Este achado, apesar de raro (em Portugal só existem outros dois...), parece não ter despertado lá grande interesse por parte das diversas autoridades (com excepção do Governo Civil), o que me parece ser resultado de uma miopia cultural e falta de sentido de oportunidade. Continuamos a ver nestes achados arquelógicos um mal necessário de uma cidade velha, mais uma despesa para o investidor ou mais uma dor de cabeça para o proprietário, mais uma ficha para os serviços competentes arquivarem, mais um fait-divers para a secção local ou cultural dos jornais.
O Porto, cidade de comércio, atraiu desde cedo uma comunidade judaica de dimensão razoável, pelo menos com a dimensão suficiente para se chegar ao ponto de terem sido deslocados para a zona do Olival quando já não cabiam em Miragaia. Actualmente, o eixo desenhado pelas ruas de S. Miguel e da Vitória (e que compreende a Rua das Taipas e Belomonte e as Escadas da Esnoga) é um dos mais interessantes do Centro Histórico e, apesar de a história não ter parado e a cidade se ter apropriado daquele espaço, a verdade é que ainda hoje ali persiste uma certa memória do lugar, à qual ninguém ficará indiferente. Quem, informado da origem daquele bairro, por ali passeia não terá muita dificuldade em imaginar o que teria sido a antiga judiaria porque o essencial (desenho urbano e a escala de maior parte do edificado) continua intacto. O que é lamentável é que esta memória continue a ser tão pouco publicitada e que nem seja por aí além aproveitada para o bem de todos.
Já me referi a isto em outras ocasiões e hoje vou reincidir. Proponho uma abordagem em rede: 1º) O Porto precisa de desenhar pacotes turísticos alternativos, sob pena de ficar cada vez mais arredado do circuito mundial de turismo urbano e histórico; 2.º) O Porto precisa de proteger o Património da Humanidade que tem à sua guarda e tem de o rentabilizar; 3.º) A memória judaica do Porto tem algum relevo no contexto do território nacional; 4.º) Contudo, existem vários pólos de memória sefardita mais ou menos significativos espalhados pelo país, por exemplo: Belmonte, Castelo de Vide, Tomar, etc...; 5.º) Esta tipo de oferta turístico-cultural pode ser bastante apelativa para determinados mercados (norte-americano, europeu e até israelita, enfim o mercado da saudade sefardita e não só); 6.º) Ninguém vem ao Porto de propósito visitar os ténues vestígios da judiaria, mas se nessa oportunidade puder visitar um lote de vilas e cidades históricas ligadas à presença judaica...7.º) O que falta aqui? Uma rede de aldeias, vilas e cidades de memória sefardita que ofereçam um produto turístico-cultural em conjunto.
O que proponho não é nada de novo. Os nossos amigos espanhóis já experimentaram a receita (Red de Juderías de España), nomeadamente como iniciativa integrada na estratégia de reabilitação de centros históricos degradados, e o resultado tem sido muito positivo. Não há que ter vergonha em copiar boas ideias. É verdade que entre nós nem todo o património judaico será tão exuberante como o que podemos encontrar em Espanha, mas uma rede bem estruturada, que oferecesse um conjunto de produtos para além dos monumentos propriamente ditos, como gastronomia (Kosher ou não) e eventos académicos e culturais de qualidade só poderia ter bons resultados. A valorização do património, inclusive do património intangível, tem de passar pela sua valorização turística.
A partilha de recursos e de custos proporcionada pelo efeito de rede tornaria a Rede de Memória Marrana num produto bastante variado e apetecível para determinados segmentos da procura, sem que tal significasse um grande investimento. E, por tabela, acabaríamos todos nós por ficar a ganhar. A oportunidade está aí.

O Inquérito

«Que é que você faz na vida?» «Eu?» «Sim, você.» «Eu ando à procura de emprego.» «E você anda mesmo à procura de emprego?» «Ando!» «Dê-me lá os comprovativos.» «Aqui estão.» «Hummm...» «Sim?» «Bom, pelo que vejo dos comprovativos, está tudo certo. Vejo que anda mesmo à procura de emprego.» «Eu tinha-lhe dito.»
«E você tinha-me mesmo dito?» «Tinha!» «Dê-me lá os comprovativos de que tinha dito.» «Aqui estão.» «Hummm...» «Sim?» «Bom, pelo que vejo dos comprovativos, está tudo certo. Você tinha-me mesmo dito.»

quinta-feira, outubro 27, 2005

Aos Monárquicos De Serviço

§1. Fico contente - ou mais descansado... - pelo facto de o JMO e o Afonso Henriques pugnarem pela existência de um Estado laico.
§2. JMO escreveu, e Afonso Henriques concorda: «Entendo que apenas se devem retirar ícones religiosos de lugares públicos se assim for entendido como extremamente ofensivo/negativo por quem lá trabalhar». Então quem trabalha nos locais públicos é que tem o direito de escolher os símbolos religiosos que há-de pendurar na parede pública? E o público, tem o quê a dizer? Penso que aqui a melhor política a ser praticada é a da neutralidade.
§3. Tanto JMO como Afonso Henriques defendem as virtudes de uma monarquia constitucional. E é aqui que vejo, por inferência lógica, que se ambos fossem republicanos seriam adeptos do semi-presidencialismo. Porque ao defenderem a investidura ao Rei (escrevo Rei com maiúscula como escreveria Presidente com maiúscula) dos poderes de chefia de Estado, chefia das Forças Armadas, primeira figura representante de Portugal em qualquer acto oficial quer em território nacional quer no estrangeiro, constituindo uma referência nacional suprapartidária, estão a defender para a figura do Rei exactamente os mesmos poderes que tem o Presidente no nosso sistema.
§4. Afonso Henriques afirma que «o regime republicano em Portugal nunca foi capaz de reconhecer em absoluto o direito à propriedade. O quadro legal do arrendamento, seja ele urbano ou rural, é um reflexo disso mesmo». Não corresponde à verdade, Afonso. O senhorio, ao arrendar o seu prédio a outrem, mediante retribuição, continua tão proprietário quanto era antes. Todavia, do outro lado da história está uma pessoa - o arrendatário -, que não pode ser tratada como um objecto. O arrendatário tem de ser salvaguardado em certos pontos, nomeadamente na cessação do contrato - pense-se na injustiça social que seria o senhorio comunicar à família sua inquilina «Quero-vos amanhã fora daí». É que se o arrendatário quer tirar partido (e não abdicar) do seu bem, precisa de deixar acautelada aquela que é, geralmente, a parte mais fraca: o arrendatário. Uma questão de justiça social. Bom, mas isto já são assuntos um pouco à margem dos temas em discussão n'O Eleito.
[Publicado n'O Eleito]

Sebastião Salgado e Fausto

« Mefistófeles - Não te é marcado nenhum limite, nenhuma finalidade. Se te agradar experimentar um pouco de tudo, apanhar em voo o que vier, faz como entenderes. Vamos, liga-te a mim, não tenhas medo!»
«Fausto - Sabes bem que não se trata de divertimentos. Eu consagro-me ao tumulto, aos prazeres mais dolorosos, ao amor que sabe a ódio, à paz que sabe a desespero. O meu coração, curado do ardor da ciência, não ficará daqui em diante, fechado a qualquer dor. E o que é quinhão de toda a humanidade quero-o concentrar no mais fundo do meu ser; quero, pelo meu espírito, alcançar o que ela tem de mais elevado e mais secreto; quero acumular no meu coração todo o bem e todo o mal que ela contém, e inclinando-me como ela, quebrar-me da mesma forma.»
Johann Wolfgang Goethe, Fausto

quarta-feira, outubro 26, 2005

Os Oradores Que Mudam De Cor

Orador azul: «Porque após 27 de Outubro...» Bancada parlamentar azul: «Muito bem!» Orador azul: «dia do arranque da construção das infra-estruturas...» Bancada parlamentar azul: «Muito bem!» Orador azul: «Portugal não vai mais ser o mesmo. Senhoras e senhores deputados:» Bancada parlamentar azul: «Muito bem!» «não somos como o partido roxo: nós cumprimos aquilo...» Bancada parlamentar azul: «Muito bem!» Orador azul (em crescendo): «que prometemos!» Bancada parlamentar azul (de pé): «clap clap clap clap clap clap clap»
Orador roxo: «O sr orador azul só...» Bancada parlamentar roxa: «Muito bem!» Orador roxo: «pode ter um sentido de...» Bancada parlamentar roxa: «Muito bem!» Orador roxo: «humor muito apurado. Todas essas...» Bancada parlamentar roxa: «Muito bem!» Orador roxo: «infraestruturas tiveram início quando nós éramos...» Bancada parlamentar roxa: «Muito bem!» Orador roxo (em crescendo): «governo neste país!» Bancada parlamentar roxa (de pé): «clap clap clap clap clap clap clap».

Dois Pontos

Duas questões para os monárquicos de serviço n'O Eleito:
1. A vossa proposta é a de um Estado monárquico laico?
2. Qual a amplitude concreta dos poderes do Rei na vossa concepção de regime monárquico?

PT, Meu Pequeno Ódio de Estimação

Sobre um dos meus pequenos ódios de estimação: a PT.

Sai Uma Bifana Quentinha À Karloos

Reposta a este post do Karloos:
1. «Numa praia onde os banhistas se distribuem de forma igual por toda a praia, existe já um bar na extremidade esquerda da praia. Um investidor quer implantar um novo bar, em que local da praia o deve colocar para atraír o maior número de clientes?
Resposta: O bar deve ser colocado exactamente à direita do bar que já existe. Ficará assim mais próximo dos clientes que estão na direita da praia, dos que estão no centro e ainda estará em condições de competir por aqueles que estão na parte esquerda.»
Resposta errada. Resposta certa: uma das hipóteses é a do bar ser colocado à direita que ainda é esquerda, como outra dela é a de ser colocado à direita que já é direita. Se for à direita que já é direita, encontrará alguns clientes do centro, mas poucos à esquerda do centro. Se for à direita que ainda é esquerda, terá poucos clientes para além da linha do centro, mas muitos do centro para a esquerda.
2. Sim, não que sei idade tem, mas votaria em Manuel Alegre daqui a 5 anos.
3. Sobre este post do Tiago Alves, eu ainda direi o que penso.
4. «A grande virtude da existência desses monarcas é que graças a eles esses países não têm um Presidente da República.»
Não é a direita que critica insistentemente o [alegado] facto de os candidatos de esquerda "concorrerem todos contra Cavaco Silva"? Não será o vosso argumento idêntico? Será o vosso argumento «Bom, temos um Rei, mas pelo menos não temos um Presidente!»
5. «(imaginam a força política que tem a Raínha de Inglaterra no Canadá)»
Kim Jong II, Fidel Castro e Mugabe também têm força política nos respectivos países. Mas essa não é a questão. A questão é: que benefícios traz essa força política, que superem as desvantagens de ter alguém que ascendeu a Chefe de Estado não por mérito próprio, antes porque era filho de alguém?
6. Prefiro assim, sem dúvida!
7. Quando o David e eu iniciámos o blog, elaborámos aquele grupo de normas mínimas a seguir pelos bloggers. É claro que aquilo são normas imperfeitas, porquanto não têm sanção. A única sanção é, como na democracia, a responsabilidade política - que não é nenhuma: de entre vários caminhos, escolhe-se uma opção.
8. Quais partes dos estatutos são restritivas?
[Publicado n' O Eleito]

terça-feira, outubro 25, 2005

Conversa Em Dia

Ausentei-me desde o nosso Porto D’Honra, mas cá estou de volta. Actualizando-me e lendo os últimos posts, deixo os seguintes comentários:
1. «Depois das eleições e do necessário estado de graça a que terá direito, voltará a desgraça dos apelos ao Presidente vindos de todos os grupos que serão satisfeitos com os proverbiais silêncios presidenciais ou, quando muito, com o majestático silêncio do Palácio. À direita de Cavaco, entretanto, perde-se uma oportunidade histórica de protagonizar um projecto de mudança do sistema, que todos, certamente, em simpósios, conferências e debates depois das presidenciais continuarão com preguiça e eloquência a considerar esgotado.»
Jorge Ferreira, n’O Eleito e n’O Semanário
Caro Jorge, é natural que os apelos ao Presidente vindos de todos os grupos sejam satisfeitos com proverbiais silêncios presidenciais: tais apelos deveriam ser dirigidos ao Governo, que detém o poder executivo, e não ao Presidente da República, que detém um poder moderador. Uma pura questão de competência. Se eu for assaltado não me vou queixar aos correios...
Mudança do sistema? Rumo a que sistema? Presidencialista? No âmbito das eleições presidenciais? Como sabe, tal mudança é da competência da Assembleia da República...
2. «E aqui está o verdadeiro problema, pois em Portugal só se advogam mudanças através da força de uma revolução ou golpe de Estado. O que Cavaco pode fazer é ser o impulsionador de um ataque à Constituição que a abra à Sociedade e que lhe permita participar activamente e dizer qual é, afinal, o seu desejo.»
Tiago Alves, n’O Eleito
Caso Cavaco queira impulsionar um ataque à Constituição, poderá fazê-lo de múltiplas formas: enquanto cidadão, debatendo ideias – ao exemplo d’O Eleito –, enquanto deputado, contribuindo para as colocar em prática, et caetera. Mas nunca enquanto candidato a Presidente da República – isto porque, caso vença as eleições, deverá prestar a seguinte declaração de compromisso no acto de posse: «Juro por minha honra desempenhar fielmente as funções em que fico investido e defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa».
3. Karloos e JMO, se o vosso Presidente avançasse como candidato à Presidência da República estariam num dilema: ou deixariam de ser monárquicos porque o vosso Rei poderia vir a tornar-se Presidente, ou deixariam de votar no Sr. Duarte, porque apenas queriam vê-lo Rei e não Presidente.
4. Subscrevo, no essencial, o post de José Raposo. E o post da Isabela está excelente!
5. «[...] os candidatos eleitos são-no invariavelmente pela segunda vez, cumprindo segundo mandato. Provavelmente sê-lo-iam de novo se existisse a possibilidade de um terceiro mandato, e por aí fora. E isto porque, na sua essência, os portugueses são profundamente monárquicos.»
Afonso Henriques, n’O Eleito
Não penso da mesma forma, caro Afonso. Os presidentes são eleitos uma segunda vez porque apenas detêm um poder moderador – que não agride interesses, expectativas, ou esperanças de ninguém. Caso o Presidente controlasse o executivo, essa segunda eleição deixaria de ser invariável.
6. Claro, Karloos. Mudemos para o sistema monárquico e os nossos problemas estarão resolvidos. E, já agora, esqueceu-se de referir a Suazilândia na sua lista.
7. «Questionar o regime tornou-se impensável. Mesmo com o exemplo flagrante de Espanha, que em 1975 estava em muito piores condições económicas e sociais do que Portugal e que, em trinta anos, recuperou de um atraso carregado de atavismos com uma determinação e fé tais que isso tem indiscutivelmente que nos obrigar a pensar. É que, quer se queira quer não, uma grande diferença separa de facto as duas democracias ibéricas. E essa diferença, é o regime.»
Afonso Henriques, n’ O Eleito
Caro Afonso Henriques, espero que não pense que o progresso relativo de Espanha se deveu ao facto de esta ser uma monarquia constitucional: é que os poderes de Juan Carlos não são muito diferentes dos de Sampaio...
8. Para todos os meus colegas d’O Eleito (e não querendo ser chato...): Art.º 13 dos nossos Estatutos: «As letras iniciais dos títulos dos posts serão maiusculadas e o texto será justificado».

Muzaffarabad

O fotojornalismo é uma ilustração. Quase fotografia. Como podem verificar, este exemplar, ao contrário do que o título poderá indiciar, não é uma ilustração da morte e da destruição. Não. Este exemplar é a ilustração perfeita do fotojornalista predador que entre os escombros da pobreza e do sismo ainda tem presença de espírito para conduzir esta mulher até ao enquadramento ideal. Para nos fazer sorrir durante o café da manhã.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Proteste!

O "Grupo de Acção Teatral A Barraca" corre sérios riscos de se ver impedido de continuar com a desejada normalidade a missão cultural a que há tantos anos se propõe como Companhia de Teatro de referência.Aos senhores do Instituto das Artes, lembro que o Grupo de Acção Teatral A BARRACA, como um dos projectos de referência mais antigos de Portugal, que levou o nome do país aos quatro cantos do mundo, merecia muito mais respeito, por isso, peço a todos os companheiros da blogosfera que se dignem assinar a on-line".

domingo, outubro 23, 2005

Ainda As Autárquicas: Porto e Aveiro*

O texto que se segue inaugurou o início da minha colaboração com o Nortugal.info.
O que é o Nortugal.info?
«O Nortugal.info é uma agência noticiosa sedeada na Internet, especializada em notícias, reportagens e estudos que envolvam pessoas e organizações residentes na metade norte de Portugal (distritos de Coimbra, Aveiro, Viseu, Guarda, Porto, Vila Real, Bragança, Braga e Viana do Castelo). O Nortugal.info assume-se como a primeira publicação on-line regional e apresenta-se aos seus leitores com vontade de contibuir para o «upgrade» regional de capacidades e níveis de desenvolvimento económico, social, tecnológico, educacional e profissional. O nosso lema é «Aumentando a nossa 'Inteligência'». Todas as notícias do Nortugal.info são produzidas por uma redacção autónoma e especializada, acompanhando a evolução conjuntural dos factos, indicadores e eventos relacionados com o desenvolvimento da região. O Nortugal.info utiliza texto, fotografia e gráficos na apresentação de notícias e ainda difusão via RSS. O Nortugal.info foi fundado em 2 de Abril 2005 e é detido pela empresa AptusMundi, Lda. O Nortugal.info pode ser contactado pelo email geral@nortugal.info, ou através do telefone 225101043 ou do código Skype Nortugal. A redacção do Nortugal.info está instalada na Rua Santos Pousada, 866, 2º Dt, 4000-481 Porto. »

1. Se o Porto é a cabeça de uma vasta região, Aveiro é a sua asa esquerda (prefiro imaginar o Porto a olhar para o mar...). Agora, para além do espaço social e económico, partilham também as cores políticas.
2. Estas duas cidades fazem parte do clube de 18 câmaras que foram conquistadas por coligações PPD-PSD/CDS-PP. Élio Maia repetiu o percurso de Rui Rio em 2001 no Porto: de candidatura falhada passou inesperadamente a candidatura vitoriosa. O que há em comum entre os dois casos é o facto de as respectivas campanhas se terem concentrado na figura dos dois cabeças de lista e não tanto nos programas eleitorais.
3. Mas as semelhanças ficam por aqui porque nem Aveiro é actualmente comparável ao Porto:a) quer na dimensão (Aveiro tem 61770 eleitores inscritos ao passo que o Porto tem 234749); b) quer no perfil político-social (Porto é sociologicamente de esquerda e liberal e Aveiro é de direita conservadora); c) quer ainda na dinâmica de crescimento (o Porto entrou em decadência, sendo difícil dizer o que realmente é o Porto actual entre Bairros Sociais, Shoppings e os escombros desérticos da Baixa, e, em contrapartida, Aveiro está em fase ascendente, correndo o risco de vir a ser uma das cidades mais dinâmicas do eixo que vai dela própria à Corunha);
4. E, por outro lado, nem os presidentes das câmaras municipais de Aveiro e Porto são comparáveis: a) Rui Rio é militante e dirigente do PPD-PSD e é, apesar dos seus detractores, uma figura com alguma notoriedade nacional; Élio Maia é um independente oriundo do CDS-PP e um ilustre desconhecido fora do ciclo dos aveirenses; b) Rui Rio é um político conflituoso e turbulento (bem tinha razão Carlos Magno quando disse que o discurso mais próximo do BE era o do próprio Rui Rio, que tem um discurso mais de quem está na oposição do que de quem está no poder); Élio Maia é uma personagem conciliadora e pouco dada a arrufos políticos (veja-se o suposto fracasso das suas prestações nos debates de campanha...); c) a candidatura de Rui Rio em 2001 destinava-se apenas a cumprir calendário e a presidência da Câmara Municipal do Porto foi um acidente que lhe aconteceu, ao passo que Élio Maia preparou pacientemente a sua candidatura ao longo de 16 anos, num trabalho de formiga na Junta de Freguesia de S. Bernardo, uma das freguesias rurais de Aveiro, chegando ao ponto de se desfiliar do CDS-PP para não comprometer a necessária coligação com o PPD-PSD que mais tarde ou mais cedo tinha de ser feita, ou seja, a presidência da Câmara para Élio Maia é um projecto para vida.
5. As coligações também não são exactamente da mesma natureza: a) Em Aveiro a influência do CDS-PP ainda é muito nítida («Aveiro, Capital do CDS» lê-se numa lona pendurada na fachada da sede local); sendo esta a família política do próprio candidato, não obstante a sua declaração de independência; o mandatário de campanha foi nada mais, nada menos que o mítico Girão Pereira, que esteve à frente da câmara durante longos anos e que é recordado de uma forma exageradamente lisongeira por muitos (uns adoram-no, outros odeiam-no, quando na verdade não terá passado de uma banalíssima figura do poder local). Sem o CDS-PP não existiria vitória de Direita; b) Já no Porto o CDS-PP deixou-se reduzir à condição de adereço circunstancial de Rui Rio. Creio até, que o PSD por si só teria sido capaz de ganhar as eleições no Porto e um dos grandes males desta coligação é justamente o facto de conceder uma representatividade e um poder aos Populares, que estes não têm de facto. Aliás, podem procurar na imprensa, vasculhar todas as gravações de arquivo, que não encontrarão qualquer tomada de posição ou até uma simples declaração dos candidatos Populares. A única excepção veio de Ribeiro e Castro quando veio ao Porto apoiar a coligação, mas esse não é chamado para estas contas.
6. No final o saldo não é o mesmo: o Porto está em maus lençóis porque vai continuar em piloto automático, sem projecto, sem uma gestão coerente e mobilizadora da cidade. Os eleitores que deram de mão beijada a maioria absoluta a um candidato sem programa, assinaram um cheque em branco que vai ser pago por todos nós. Aveiro está menos mal. É certo que perdeu um bom presidente (mas não excelente), mas sei que não ficou a perder com Élio Maia, que é um homem bom. Contudo, as câmaras não se fazem apenas com um homem...
[*Publicado no Nortugal.info a 21/10/2005]

Porto d'Honra

sábado, outubro 22, 2005

Nasce Dentro De Poucas Horas

Leituras

Cinegética
Um caçador
perdeu a cedilha
e por isso
sua mulher
nunca mais
quis ir à caça
com ele
sem cedilha.

LEIRIA, Mário-Henrique - Contos do Gin-Tonic

Leituras

Noivado
Estendeu os braços carinhosamente e avançou, de mãos abertas e cheias de ternura.
- És tu Ernesto, meu amor?
Não era. Era o Bernardo.
Isso não os impediu de terem muitos meninos e não serem felizes.
É o que faz a miopia.
LEIRIA, Mário-Henrique - Contos do Gin-Tonic

sexta-feira, outubro 21, 2005

Logo Hoje Não Comprei O Público

«A mais original contribuição para a moda presidencialista agora em voga é seguramente a daqueles que acham que a mudança da forma de governo nem sequer precisa de alteração constitucional. Hoje, por exemplo, no Público, o sociólogo M. Vilaverde Cabral defende que o Presidente da República passe a presidir ao conselho de ministros (por sua decisão, subentende-se, à margem da vontade do primeiro-ministro) e assevera que nada na Constituição proíbe isso. Se coisas destas podem ser ditas por pessoas que, mesmo sem serem juristas, têm a obrigação de não falar no ar, o que mais poderemos esperar dos outros?»
Esta barbaridade de M. Vilaverde Cabral aconteceu mesmo?

A César O Que É De César

Os partidos da direita com assento parlamentar manifestaram hoje a sua oposição à possibilidade de a Assembleia da República alterar o quadro legislativo relativo ao aborto, sem a mediação de um referendo. "Nem me passa pela cabeça que a legislação possa ser alterada sem antes se realizar um referendo", afirmou o líder parlamentar do PSD.
Artigo 161.º da Constituição:
Compete à Assembleia da República:
c) Fazer leis sobre todas as matérias [...]
Sem metafísica e tão claro como isto.

A Entrevista Da Ministra (II de II): Tiro Ao Alvo

1. «Outra decisão que tomámos foi a de encerrar já no próximo ano lectivo aquilo a que chamo "escolas de insucesso", que são sobretudo do 1º ciclo...»
- Já que não tem cura, manda-se abater. Mas isto não é atirar com a porcaria para debaixo do tapete? Se levássemos esta lógica até às últimas consequências tínhamos então encerrar o país! Mas as estatísticas ficariam muito mais apresentáveis, sem dúvida!
- Ainda bem que a senhora não está à frente do Ministério da Segurança Social???? Safa!

2. ««...a correlação é impressionante. O cruzamento das taxas de repetência com a dimensão das escolas permite desenhar um gráfico de uma clareza total. As taxas anormais de insucesso estão praticamente todas localizadas em estabelecimentos com menos de 20 alunos. Pedi para as listarem e chegámos a um total de 512. no próximo ano estas escolas já não abrirão, uma responsabilidade que terá de ser partilhada com as autarquias.»
- Uma correlação não significa necessariamente uma relação de causa / efeito. M.L. Rodrigues deve saber que essas escolas com menos de 20 alunos se encontram em zonas social e economicamente deprimidas. O subdesenvolvimento e a indigência cultural generalizada são a verdadeira causa do insucesso escolar. Bem pode a ministra obrigar essas crianças a um êxodo diário, condená-las a viagens de autocarro que podem demorar horas para que então estas possam ser integradas numa escola maior, que o máximo que conseguirá é diluir o problema. Enfim, desentortar o gráfico...
- Entre um gráfico e uma estatística a ministra arranja tempo para olhar pela janela fora enquanto faz um scandisk mental. Um lacaio licenciado em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto serve-lhe o primeiro café do dia...

3. «Os professores têm o direito de pedir para mudar de escola todos os anos, o que não é aceitável.» (...)
«O que importa é contrariar a cultura de mobilidade há muito enraizada.»
- Não entendo: então o ministério lança os professores aos sete ventos, espalhando-os pelo país e depois queixa-se da «cultura de mobilidade»?
- Devem os professores acatar a benesse do trabalho a 300 km de casa, sem tentar sequer um esboço de defesa?
- Nada mal! Fecham-se as escolinhas que só dão mau aspecto, desterramos os professores... Hmmm... e se extinguíssemos o ministério?...

4. «Setenta por cento dos professores são mulheres, as mulheres têm filhos e têm de cuidar deles...»
«A especificidade do absentismo no ensino é que tem um efeito muito maior.»
- Prémio: «Volta BCP que estás perdoado!»
- Vamos lá entender os professores! Já educam os filhos dos outros e ainda têm a coragem de conceber os seus próprios filhos! Ainda por cima querem trabalhar numa escola perto deles e tudo! É... têm falta de sentido estatístico.

5. «Uma criança entra na escola para estudar o dia todo, não pode, por uma razão qualquer, ficar sem aulas e ir jogar à bola...»
- Isso não é uma escola, é um cárcere!
- A aprendizagem informal, a socialização pelos pares, a liberdade de respirar não são permitidas. Apenas quando monitorizadas por um profissional encartado.
- Já agora: isso de jogar à bola não é nada mau. É que nem todas as crianças ou adolescentes têm a possibilidade de frequentarem actividades como bailado, ténis ou natação fora da escola. Muitas não têm nos seus bairros espaço para a prática de desporto ou têm mais em que pensar que isto da vida é complicado para muita boa gente. Três horas de educação física por semana não servem para nada. Deixem a rapaziada jogar uma futebolada quando o professor de matemática pôr um artº 102!

6. «O facto de um professor em concreto não se sentir preparado não pode servir para se rejeitar em abstracto uma medida que tem toda a razão de ser»
- Assim, visto do meu gabinete não estou a ver qual será o problema!

7. «Mas a desmotivação não pode ser invocada para resistir, pois, quando vou às escolas, não é isso que sinto.»
- Pois não. O que a senhora ministra vê é um cenário cuidadosamente montado. Se reparar bem, verá que até a farda dos auxiliares é novinha a estrear e que aquele coro de crianças não é espontâneo e o sacana do Zézinho foi mandado para casa para não incomodar sua excelência.. Kim Jong Il nas suas deslocações oficiais também acha o seu povo muito alegre e confiante.

8. «Vou avaliar os exames antes de tomar qualquer decisão. Não excluo a hipótese de ser necessário mudar...»
- Acho bem! Se os exames de avaliação do 9º ano que a senhora ministra vai avaliar nos envergonharem, queime-os. Não vão eles estragar as estatísticas...

quinta-feira, outubro 20, 2005

A Entrevista Da Ministra (I de II): Sonâmbulos

O Público de hoje traz uma entrevista com Maria de Lurdes Rodrigues. Li com a atenção possível as respostas da ministra e fiquei com a impressão de que ainda não é desta que o Ministério da Educação é chefiado por alguém à altura. Ainda andamos à procura de um grande Ministro da Educação. M. L. Rodrigues faz afirmações e, pior toma decisões, levada por uma insustentável ligeireza.
O ponto positivo do seu discurso é que este é tecido à volta das pequenas coisas, aquelas que podem fazer a diferença. Não é de facto uma reformadora utópica, nem espera que as novas auroras do amanhã despertem em cada escola e isso é bom. A paixão socialista pela educação já passou e agora temos uma espécie de dormência, de carinho programado que se consente aos antigos amantes que já não despertam em nós a euforia erótica (desculpem, é que também li a crónica do E. Prado Coelho...). Mas voltando às tais pequenas coisas: é claro que M.L. Rodrigues não vai resolver qualquer problema porque o seu habitat é o gabinete e o seu alimento são os relatórios: um relatório, uma estatística, uma meia dúzia de números, consultar o mapa para ver onde fica Vinhais ou Oleiros, fazer as contas aos professores; estudar o organigrama do ministério para ver se consegue perceber quem é toda aquela gente com quem se cruza nos corredores do ministério, sonâmbulos...

quarta-feira, outubro 19, 2005

Um PS Cada Vez Mais Nervoso

A criança mimada: «Não tocas nas minhas coisas!»
«Não preciso das tuas coisas para nada.», disse a criança independente.

FREE ALEGRE!

Campanha Pela Libertação De Manuel Alegre

Do Aparelho Socialista

Isto Promete

«Sede do BES e off-shore da Madeira alvo de buscas da PJ por suspeitas de branqueamento de capitais e fuga ao fisco.»

Se, por hipótese, para além da componente económica, esta sujidade esconder uma componente política, então é tempo de uma operação mãos limpas. Cheira-me que Direcção Central de Investigação e Combate à Criminalidade Económica e Financeira e a Inspecção Geral de Finanças acabaram de encontrar a nossa caixa de Pandora.

terça-feira, outubro 18, 2005

A Chave Aparentada Com A Chave Inglesa

«Mas afinal o que é isto do dolo eventual?», já se terão perguntado alguns. Para a maioria dos nossos leitores que nunca entraram nas cavernas escuras do mundo jurídico, «dolo eventual» será provavelmente uma chave aparentada com a chave inglesa. «Passa aí o dolo eventual!», diz um mecânico para o outro. Mas não. Lamento informar que dolo eventual não é nada disso.
Segundo o art.º 13º do Código Penal, «só é punível o facto praticado com dolo ou [...] negligência». O dolo apresenta uma divisão tripartida: dolo intencional, dolo necessário e dolo eventual.
No dolo intencional assiste-se a uma verdadeira intenção (um propósito dirigido ao fim de) realizar um tipo de crime. O art.º 14º n.º 1 do CP refere-se a ele: «Age com dolo quem, representando um facto que preenche um tipo de crime, actuar com intenção de o realizar».
O dolo necessário encontra-se no art.º 14º n.º 2 do mesmo CP: «Age ainda com dolo quem representar a realização de um facto que preenche um tipo de crime como consequência necessária da sua conduta». Exemplo: Bin Laden está numa montanha, rodeado de 30 homens. Os caças estadunidenses lançam um míssil que, inelutavelmente, atingirá também os outros 30 homens (que não fazem parte do alvo). Os pilotos, em relação a Bin Laden, agiram com dolo intencional. Em relação aos restantes, com dolo necessário.
Chegamos ao dolo eventual. O art.º 14º n.º 3 ocupa-se dele: «Quando a realização de um facto que preenche um tipo de crime for representada como consequência possível da conduta, há dolo se o agente actuar conformando-se com aquela realização». Como exemplo deixo aqui o caso decidido pela jurisprudência alemã, referido nas lições de direito penal do prof. Figueiredo Dias:
«A e B decidem roubar C, apertando-lhe o pescoço com uma correia de couro até que ele perca o conhecimento. Propondo-se evitar a morte de C, que previram como possível, resolveram porém golpeá-lo na cabeça com um saco de areia até que perdesse o conhecimento. No acto, porém, o saco de areia rebentou e os ladrões reverteram ao plano inicial, aplicando a correia de couro que tinham levado e apertando o pescoço de C até que este se imobilizou, para que se apoderassem dos seus pertences. [...] C morreu.»
A e B previram a morte de C como possível mas, ainda assim, decidiram-se pela realização do facto. E pronto, isso da chave aparentada com a chave inglesa é tudo treta.

Eu e a PT


Mas a PT tinha um nome a defender. Uma vez passada a crise, resolvi lhe dar uma segunda oportunidade. Pois bem, o que fez a PT? Emite duas facturas num intervalo de 48 horas, sendo correcta apenas a segunda. Sem me aperceber do que me estava a acontecer, paguei sem querer as duas facturas. Resultado: a PT ficou-me a dever cerca de 15 euros. Acabei por aprender uma coisa: a PT pode gastar milhões a patrocinar os 3 (!) grandes do futebol português, mas não é capaz de honrar as suas dívidas para com os seus próprios clientes (no meu caso, ex-cliente por uma questão de sanidade mental). Isto aconteceu em Outubro de 2004 e só consegui recuperar o dinheiro, a muito custo, Agosto de 2005! Quase um ano depois!
Mas coisa teve os seus momentos: Todas as vezes que telefonava ao Serviço de Apoio ao Cliente só obtinha duas respostas: «Lamento, mas não é possível aceder a esses dados...» ou «O cheque já foi emitido e deve já ir a caminho». Esta era a minha favorita! Durante meses e meses «O cheque vinha aí». Aos poucos fui-me tornando cliente assíduo da Loja PT: «E então? Esse cheque?». Uma vez, em desespero de causa, a mesma funcionária da outra história, fez-me chegar às mãos um papelito amarrotado com o número da «Sr.ª Dr.ª responsável pelos cheques». A srª drª de Lisboa! Da própria sede da PT! Imaginei-a fechada numa cave à beira Tejo a despachar uma montanha de cheques coadjuvada por um prole de anões yuppies ao som dos coros de Zbigniew Preisner. Não lhe telefonei. Achei tudo aquilo demasiado balcânico para ser verdade. Tratei de esquecer o assunto. Meses depois, numa daquelas tardes de Primavera, a minha mulher, qual Pandora, lança a pergunta: «Ouve lá, a PT já devolveu o dinheiro?». Foi então que tive o meu momento Mário-Henrique Leiria e fui fazer um gin-tonic. Meia hora depois estava pronto para escrever este mail à PT:

«Exmos Srs
Já por várias vezes tive o desprazer de contactar os vossos serviços (via Serviço a Clientes ou junto do balcão da loja da Rua FernandesTomás) no sentido de ser reembolsado do valor que me foi cobrado em excesso pela PT Comunicações SA. Desde de OUTUBRO DE 2004 (!) que aguardo, com cada vez menos paciência, que a PT se digne de liquidar esta dívida de valor tão miserável (15.07 euros) que fico com vergonha de ter tanto trabalho para a cobrar. Deixo aqui todos os dados necessários para que os vossos diligentes serviços possam com a maior brevidade possível reembolsar os 15 euritos que me são devidos. Já agora: creio que não ficava nada mal um pedido de desculpa e até mesmoa oferta de um pacote de chamadas em jeito de compensação por toda esta pouca vergonha. Mas talvez seja pedir demais à PT...
Factura 1
Nº Facturação: XXXXXXXX
Nº Cliente: XXXXXXXXX
Nº Contribuinte: XXXXXXX
Nº Conta: XXXXXXXXXX
Data de emissão: 06 Out 2004
Total a pagar: 38,59 Euros
Factura 2
Nº Facturação: XXXXXXXX
Nº Cliente: XXXXXXXXX
Nº Contribuinte: XXXXXXXX
Nº Conta: XXXXXXXXX
Data de emissão: 08 Out 2004
Total a pagar: 23,52 Euros
(Diferença entre Factura 1 e Factura 2: 15,07 Euros)
Como cliente cumpridor das suas obrigações paguei atempadamente as duas facturas. Junto do balcão acima referido procurei esclarecer o porquê desta facturação tão estranha. Fui esclarecido de que teria havido um erro e de que a segunda factura vinha corrigir a primeira, mas como eu já havia pago as duas seria prontamente reembolsado pela PT. Pois bem! Até hoje...
Aproveito para informar que a morada para onde deve ser enviado o cheque juntamente com o pedido de desculpas é a seguinte:
XXXXXXXXXXXXXXX, 1ºEsq., 4050-XXX Porto.
Cumprimentos
David Afonso – um cliente PT nada satisfeito)»

Eis a resposta:

«Estimado Cliente
Na sequencia do e-mail que nos enviou, informamos que ja foi providenciado o envio do cheque para a morada indicada. Desde ja apresentamos o nosso pedido de desculpa pelos transtornos involuntariamente causados. Com os melhores cumprimentos
Servico de Apoio ao Cliente
Paula Mendes»

E a profecia cumpriu-se. Finalmente recebi o cheque. Mas nem uma penitência nem um desagravo sequer. Apenas aquele frouxo pedido de desculpas do mail. Também já não me serviriam para nada. Abandonei a PT à sua sorte e migrei. Mas isso é já outra estória.

segunda-feira, outubro 17, 2005

Leituras

Última Ceia
Estava a jantar no PING-PONG com uma amiga realmente simpática.
Na altura do conhaque a acompanhar o café, lembrou-se de repente: «e se este fosse o último?». Pediu mais outro conhaque, mesmo antes de acabar o que estava a degustar.
À porta, quando saía, o Tião Medonho atirou-lhe quatro de 38 exactas, abaixo do diafragma, e foi-se embora.
Isto de religião é uma coisa tremendamente complicada, sempre tenho dito. E a minha mãe confirma.

LEIRIA, Mário-Henrique - Contos do Gin-Tonic

Perdi Os Óculos

Mal consigo ler uma frase.

domingo, outubro 16, 2005

O Livro De Reclamações de Domingo: Ou Talvez Não

Hoje não há rosnadelas.
Ontem tive por cá dois amigos de Lisboa numa missão algo inesperada: fotografar professores de matemática! (pelo menos é um trabalho honesto...). A maior parte do tempo ficaram entregues a si próprios e quando a fome apertou, trataram de deambular pelas ruas da cidade em busca de um abrigo para as intempéries do estômago. E encontraram o sítio perfeito: um pequeno restaurante, em início de carreira (abriu na passada 5ª feira) e que adoptou o sugestivo nome de «Nova Luz», o que convenceu de imediato os meus camaradas de São Domingos de Benfica. Ficaram tão encantados com a simpatia e com a qualidade da comida (e com os preços tão pouco lisboetas) que insistiram comigo em lá se marcar nesse mesmo dia um jantar e aproveitar a oportunidade para ver o FCP x SLB na SportTV. O meu cabedal sportinguista ainda resmungou qualquer coisa sobre essa inoportuna mistura de futebol e comida, mas lá fui. E gostei. Nota máxima para simpatia de todo o pessoal e um grande louvor para a honestidade dos pratos: o Bacalhau à Braga é feito com uma posta com a altura canónica e demolhado com uma precisão difícil de encontrar e o Bife do Vazio é tenro e saboroso (embora não se tenha usado Salva no molho, o que é pena). Recomendo o Vinho Verde Tinto da casa, que é excelente para ajudar a mitigar a gordura da fritura do bacalhau. E aqui os 0-2 do jogo não tiraram apetite a ninguém ;).
Vão lá, o «Nova Luz» fica na Rua Álvaro de Castelões, à Costa Cabral junto ao Marquês. Não é um super-restaurante, é apenas boa gente. O que já não é pouco...

sábado, outubro 15, 2005

A PT e Eu

Esta história teve início exactamente no mês de Outubro de 2004. Tinha duas linhas PT: uma em casa e outra no escritório. Entretanto mudei de escritório e tive de desistir dessa linha. Aqui é que começou o pesadelo.
Ainda hoje não percebi como tal foi acontecer, mas os serviços técnicos da PT, num estranho ímpeto de eficiência e rapidez, desactivaram logo no dia a seguir a linha telefónica... lá de casa em vez da do escritório! Mal me apercebi da situação (não sem antes ter gasto uns bons euros ao telemóvel na tentativa de desvendar o mistério do telefone que perdeu o pio junto dos serviços de apoio ao cliente que ía debitando toneladas de publicidade; este serviço só é gratuito de ligarmos de um telefone da rede fixa, mas, caramba!, e se tivermos o telefone avariado?) dirigi-me a uma Loja PT (um sítio onde esperamos meia dúzia de eternidades nas filas compostas por reformados que tentam perceber a lógica da facturação da PT). Aí, uma funcionária do balcão de atendimento invulgarmente prestável resolveu-me o problema em três tempos! Isso julgava eu...
Acontece que a senhora teve de simular um pedido de instalação de linha lá pra casa - «Senão o computador não aceita, sabe?» - ao mesmo tempo que telefonava a um amigo que trabalhava na central para, à margem dos procedimentos normais, proceder à reactivação imediata da ligação, sendo tal possível porque «Não era tarde demais» (disse-me ela pregando-me um olhar de cumplicidade; por mim, não fazia puta ideia do que ela estaria a falar, mas, por educação, devolvi-lhe o olhar de cumplicidade). E pronto! Cheguei a casa e o telefone já funcionava! Mas...
«Quem se mete por atalhos, mete-se em trabalhos». Aproveitei o fim-de-semana prolongado para ir até ao Algarve relaxar e aproveitar as delícias da época baixa. Não consegui. Os senhores da PT estavam dispostos a tudo! Fui bombardeado por dezenas de telefonemas: uns diziam que tinham ali um pedido de desactivação, outros tinham um pedido de activação, outro – que devia ser o supervisor – precisava que lhe explicasse detalhadamente o sucedido. Aos poucos fui perdendo o contacto com a realidade até chegar ao ponto de me ver a insultar aos berros um desconhecido do outro lado do telefone, amaldiçoando gerações inteiras de técnicos da PT (que hão-de arder no Inferno, se ainda existir justiça divina). Lívido de raiva, desliguei o telemóvel e fiquei a olhar para o mar. Onde estávamos nós antes de tudo isto começar?
Epílogo: consegui manter a linha em casa e só alguns dias mais tarde é que os serviços atinaram em desactivar a linha do escritório. Final feliz? Calma, ainda há mais...

Matemática Institucional

Art.º 115º da CRP
10. As propostas de referendo recusadas pelo Presidente da República ou objecto de resposta negativa do eleitorado não podem ser renovadas na mesma sessão legislativa, salvo nova eleição da Assembleia da República, ou até à demissão do Governo.
Art.º 174º da CRP
1. A sessão legislativa tem a duração de um ano e inicia-se a 15 de Setembro.
Art.º 171º CRP
1. A legislatura tem a duração de quatro sessões legislativas.
2. No caso de dissolução, a Assembleia então eleita inicia nova legislatura, cuja duração será inicialmente acrescida do tempo necessário para se completar o período correspondente à sessão legislativa em curso à data da eleição.
Façamos contas de somar:
[12 de Março de 2005 (tomada de posse) + lapso de tempo até 15 de Setembro de 2005] = Acréscimo inicial referido no art.º 171 n.º 2
[Acréscimo inicial referido no art.º 171 n.º 2 + lapso de tempo entre 15 de Setembro de 2005 até 15 de Setembro de 2006 (nova legislatura)] = Primeira sessão legislativa
E parece que no Tribunal Constitucional a votação não foi pacífica (7-6).

sexta-feira, outubro 14, 2005

Leituras

Casamento
«Na riqueza e na pobreza, no melhor e no pior, até que a morte vos separe.»
Perfeitamente.
Sempre cumpri o que assinei.
Portanto estrangulei-a e fui-me embora.
Mário-Henrique Leiria, Contos do Gin-Tonic

quinta-feira, outubro 13, 2005

Medidas Do Bloco De Esquerda Para Acabar Com Os Incêndios

1. Despenalização imediata dos incêndios.
2. Tendo em conta que os incendiários são doentes e socialmente marginalizados, devem ser tratados como tal: é preciso criar zonas específicas para poderem incendiar à vontade. Nas "Casas de Incêndio" serão fornecidos fósforos, isqueiros e alguma mata. Sob a supervisão do pessoal habilitado, poderão lutar contra esse flagelo autodestrutivo.
3. Fazer uma terapia baseada nos Doze Passos, em que o doente possa evoluir do incêndio florestal à sardinhada. O pirómano irá deixando progressivamente o vício: da floresta à mata, da mata ao arbusto, do arbusto à fogueira, da fogueira à lareira, da lareira ao barbecue - até finalmente chegar à sardinhada do Santo António e São João.
4. Quando o pirómano se sentir feliz a acender a vela perfumada em casa, ser-lhe-á dada alta, iniciará a sua reintegração social e perderá o seu subsídio de incendiário.
(Este texto foi-nos enviado por Pedro Aroso - que, no entanto, não referiu se é da sua autoria. Pedro Aroso, manifeste-se nos comentários sff.)

Chega De Acordos Tácitos

No A Fonte, tudo se passa às claras.

Os Nomes Dos Bois

Durante o mês de Agosto o BES fez publicar na imprensa este anúncio de página inteira. Assim, de repente, não estou a ver a relação entre esta instituição financeira que publicita deste modo as suas próprias virtudes ecológicas e a instituição financeira que tutela uma coisa que dá pelo nome de Portucale - Sociedade de Desenvolvimento Agro-Turístico (Agro? Importa-se de repetir?) que não vê qualquer problema em abater 2600 sobreiros para construir um complexo turístico e campos de golfe. Estou com alguma dificuldade em encontrar o termo adequado para isto. Talvez Infâmia? Não sei... Aceitam-se sugestões.

Leituras

Carreirismo

Após ter surripiado por três vezes a compota da despensa, seu pai admoestou-o.
Depois de ter roubado a caixa do senhor Esteves na mercearia da esquina, seu pai pô-lo na rua.
Voltou passados vinte e dois anos, com chofér fardado.
Era Director Geral das Polícias. Seu pai teve o enfarte.

Mário-Henrique Leiria, Contos do Gin-Tonic


Se fosse hoje diriamos que Era Presidente da Câmara Municipal de Oeiras, ou Felgueiras, ou Gondomar, ou...

quarta-feira, outubro 12, 2005

O Plano Imperfeito

Segundo parece, a testemunha Leandro, no «caso Joana», veio hoje afirmar em tribunal que João Cipriano, um dos arguidos, lhe revelou ter mantido relações sexuais com a própria irmã, a mãe de Joana e também arguida - na mesma noite em que alegadamente teriam morto a criança. A testemunha junta 2+2: «Eu percebi que ele matou a miúda se calhar porque ela viu os dois a terem relações».
A ter sido assim, ironia do destino: mataram a criança para ocultação do incesto; mas com esse acto de encobrimento conseguiram estampar o acto encoberto em todos os jornais e televisões.

Aconteceu Hoje Em Tribunal

A juíza para a testemunha: «Qual o seu estado civil?» «Neste momento estou desempregada, sra dra juíza.»

Aniversário

Uma taça de óptimo vinho ao José Raposo pelo Suburbano, que nos acompanha na blogosfera desde há, precisamente, um ano. Agora com um novo look.

Outras Andanças

Outras andanças pela Baixa do Porto.

A Música Da Quarta - Radiohead [No Surprises]

A heart that's / Full up like a landfill / A job that slowly kills you / Bruises that won't heal / You look so tired-unhappy / Bring down the government / They don't / They don't speak for us / I'll take a quiet life / A handshake of carbon monoxide / With no alarms and no surprises / No alarms and no surprises / No alarms and no surprises / Silent / Silent / This is my final fate / My final bellyache with / No alarms and no surprises / No alarms and no surprises / No alarms and no surprises please / Such a pretty house and such a pretty garden / No alarms and no surprises / No alarms and no surprises / No alarms and no surprises please.

Bom dia!

terça-feira, outubro 11, 2005

Ouço O Avelino Falar E Dá-me P'ra Estas Coisas

Rescaldo

Recebemos esta obra via mail e não resistimos. Aqui está:

Qualquer Semelhança com a realidade é pura coincidência!

08:00 - Abrem as urnas no país.
08:01 - Pedro Santana Lopes é o primeiro a votar, vindo directamente da noite lisboeta.
10:30 - Sócrates foi votar num avião Falcon da Força Aérea.
11:00 - Pedro Santana Lopes vai para casa dormir.
12:00 - Mário Soares acorda.
12:05 - Mário Soares adormece.
13:00 - Maria Barroso acorda Mário Soares e diz-lhe que já são horas para ir cumprir o seu dever cívico.
13:01 - Mário Soares diz que não vale a pena, sente que Sócrates já ganhou.
13:02 - Maria Barroso lembra que as legislativas já passaram, hoje são autárquicas.
14:00 - Mário Soares engana-se na secção de voto.
14:10 - Agora sim, Mário Soares consegue votar.
14:05 - Mário Soares apela ao voto no filho João Soares em Sintra, dizendo que se encontra em empate técnico com Fernando Seara.
14:30 - Maria Barroso pergunta a Mário Soares se votou em consciência.
14:40 - Mário Soares diz que não se lembra onde pôs a cruz.
15:00 - Carrilho vota e não cumprimenta o presidente da mesa de voto.
15:20 - Maria Barroso descobre uma cruz na mão de Mário Soares.
15:30 - Jerónimo passa a tarde na sua sede partidária a rebobinar as cassetes com os discursos dos dias de eleições e a ouvir a Internacional Comunista.
16:00 - Comissão Nacional de Eleições (CNE) acusa Mário Soares de violação clara da lei eleitoral que proíbe que no dia das eleições seja feito um apelo ao voto. Como se trata de um ilícito eleitoral de natureza criminal, é um crime da responsabilidade do Ministério Público. É a segunda vez consecutiva que Mário Soares viola a lei, depois de ter apelado à maioria absoluta de Sócrates no dia das eleições legislativas.
16:30 - Mário Soares dorme profundamente.

17:00 - Levantam-se vozes no Largo do Rato a favor do fim do apoio socialista à candidatura presidencial de Soares.
17:30 - PS retira a confiança política a Mário Soares.
17:35 - Mário Soares vai concorrer como independente renegado, mas não sabe porque está a dormir.
18:00 - Analistas políticos prevêem que nas próximas sondagens o candidato independente Mário Soares apareça à frente de Cavaco Silva.
19:00 - Projecções dão grandes vitórias ao PSD e PSD/CDS, neste dia de eleições.
19:01 - Animal/emplastro corre da Sede do PS para a Sede da Coligação PSD/CDS na Avenida dos Aliados.
19:05 - Carmona esmaga em Lisboa, Rio ganha com maioria absoluta no Porto.
19:05 - O empate técnico (diferença de 1%) que Mário Soares falava em Sintra afinal traduziu-se numa diferença de 13%.
19:05 - Carrilho chora como uma criança, num quarto do Hotel Altis.
19:05 - Cavaco chora a rir com os resultados e engasga-se com uma fatia de bolo-rei.
19:05 - Sócrates diz a Jorge Coelho que nem tudo correu mal, pelo menos o convencido do Carrilho que se acha mais inteligente e bonito, perdeu.
19:10 - João Soares, volta a perder, agora em Sintra...tomou-lhe o gosto.
19:15 - João Soares culpa o seu pai pelo mau resultado e nunca mais quer o seu apoio.
19:20 - João Soares pensa já nas próximas autárquicas, mas arriscando uma candidatura numa presidência de junta de freguesia da margem sul.
19:30 - Mário Soares acorda e telefona ao filho a dar os parabéns.
19:31 - Maria Barroso aconselha Mário Soares a ir para a cama.
19:32 - Mário Soares não hesita e vai.
19:33 - Mário Soares já ressona.
19:35 - Poeta Alegre abre uma garrafa de champanhe para festejar o dia pouco feliz do clã Soares
19:40 - O paraquedista, caciquista e populista Avelino Ferreira Torres, perde em Amarante e culpa o "Srº Mota-Engil".

19:45 - Avelino tenta sair de Amarante rumo ao Marco de Canaveses, mas perde-se na cidade que não conhece. Pede ajuda...sem sucesso. Pára o carro para se acalmar...quem sofre são os caixotes do lixo e os bancos de jardim.
19:50 - Isaltino sente-se cansado, e é aconselhado pelo sobrinho a tirar umas férias na Suiça. 20:00 - Fátinha Felgueiras vence categoricamente, apesar de ter estado de férias no Brasil nos últimos dois anos.
20:05 - Poeta Alegre abre nova garrafa de champanhe, agora pela derrota pessoal de Sócrates.
20:10 - Avelino anda perdido às voltas numa rotunda de Amarante.
20:15 - Jorge Coelho sacode a água do capote e esconde-se numa toca.
20:20 - Major Valentim, prepara-se para discursar, a azáfama na sala é a grande, recorre de um apito valioso para impor o silencio na plateia.
20:21 - Discurso inflamado e paroquial do Major de Gondomar.
20:30 - António "Limiano" Guterres, sente-se aliviado com este novo terramoto eleitoral, a fazer lembrar a tragédia, o horror e o drama de 2001.
20:35 - Poeta Alegre, abre a terceira garrafa de champanhe, agora sem motivo aparente. 20:50 - Avelino bate de carro contra um alvará de construção da Edifer e culpa o "Srº Mota-Engil".
20:55 - Carrilho faz um discurso patético, não reconhece a derrota, não felicita o vencedor Carmona, e Bárbara Guimarães dá-lhe um beijo num cenário "kitsch" (manifestação estética de valor inferior) a fazer lembrar uma telenovela venezuelana.
21:00 - Jerónimo de Sousa carrega no play e desbobina a cassete, ouvem-se grandes clássicos nestas ocasiões: "Uma grande vitória para a CDU, enfim uma vitória dos trabalhadores e de toda a classe operária", "a luta continua", "uma pesada derrota para a direita", "um cartão vermelho ao governo", "fascismo nunca mais", "camaradas vamos cumprir Abril", "um rude golpe para o lobby económico-financeiro e dos interesses capitalistas no país e quiçá no mundo" "25 de Abril sempre","blábláblá", fim da cassete.
21:04 - Membros do secretariado do Comité Central do PCP mudam as pilhas em Jerónimo de Sousa.
21:05 - Até agora, só Valentim Loureiro elogiou Sócrates.
21:10 - Povo de Felgueiras festeja nas ruas a vitória de Fátinha . O povo grita: "uma grande senhora" ,"a autarca mais séria e honesta de Portugal" , " uma mulher que não foge à luta", "fez-se justiça" .
21.15 - Francisco Louçã enumera as conquistas, só possível pelo seu reduzido número. B.E continua desconhecido no interior do país.
21:15 - Carrilho chega a casa, olha para uma fotografia sua, dá-lhe um beijo e pergunta como foi possível.
21:20 - Sócrates discursa para a comunicação social e para mais três pseudo-notáveis do partido.
21:25 - Marcelo Rebelo de Sousa, descarrega veneno contra a direita e contra a esquerda há mais de duas horas num canal de televisão.
21:30 - Avelino é apanhado no meio da caravana automóvel do PS, é vilipendiado por populares, mas descobre finalmente uma saída de Amarante.
21:40 - O Poeta Alegre telefona a Carrilho para o confortar e diz-lhe que ser filósofo não chega, e canta-lhe: "ser poeta é ser mais alto, é ser mais alto que os homens". );
21:41 - Carrilho desliga-lhe o telefone na cara.

21:50 - Bárbara Guimarães, obriga Carrilho a dormir no sofá da sala, de castigo pelos miseráveis 26%.
22:00 - Pelo sim, pelo não, Fátinha Felgueiras compra uma viagem de ida para o Brasil e põe apenas uma muda de roupa num saco azul, porque já está cheio.
22:10 - Carrilho desata a chorar novamente.
22:15 - Mário Soares acorda para cear.
22:16 - Mário Soares bebe um copo de leite e come uma cavaca (oferecida por alguém de Boliqueime).
22:20 - Mário Soares pergunta a Maria Barroso se aconteceu alguma coisa no país.
22:20 - Maria Barroso pede encarecidamente a Mário Soares para que se deite.
22:30 - Avelino chega ao Marco de Canaveses, mas é mal recebido, refugia-se no estádio que tem o seu nome, e adormece no banco de suplentes a acusar o "Srº Mota-Engil".
22:45 - Carrilho agarrado a um gato de peluche do Dinis Maria adormece a ver o vídeo oficial da campanha.
23:00 - Mário Soares não consegue adormecer. Diz a Maria Barroso que a cavaca era indigesta.
23:30 - Afinal o furacão "Vince" chegou mesmo a Portugal, pelo menos ao Largo do Rato...alguém terá dito que a culpa é do "Srº Mota-Engil".

Prémios da noite:

Prémio Celebridade Frontal para Avelino Ferreira Torres com: "A culpa é do Srº Mota-Engil"

Prémio Dom Quixote de la Gondomancha para Valentim Loureiro com: "Gondomar não é de um Zé-ninguém, é dos gondomarenses"

Prémio Ferrero Roché (Ambrósio apetecia-me algo) para discurso completo de Carrilho.

Prémio Próstata do Ano para Mário Soares com: "Toda a gente sabe que
há um empate técnico e espero que se decida a favor do candidato socialista, ou seja, o João Soares"


1º lugar, Ordem de Mérito (distinção que galardoa actos ou serviços meritórios praticados no exercício de funções públicas ou privadas ou que revelem desinteresse e abnegação em favor da colectividade) para Fátima Felgueiras com: "Foi a vitória da Democracia!".

Leituras

Epigrama [adaptado] de Marcial e dedicado a Avelino Ferreira Torres:

Avelino, porque conspurcas a banheira ao lavar o traseiro?
Para ficar mais imunda, Avelino, mergulha a cabeça.

Marcial - Epigramas; Lisboa: Edições 70, 2000

Espero Estar Enganado

Hoje o dia não me correu nada nada bem. Tenho cá para mim que a culpa disto tudo é do Engenheiro Mota da Mota-Engil.

Pode O Jornal «Público»

segunda-feira, outubro 10, 2005

Rosnadelas

1. Apesar desta tentativa do Pedro de me adoçar o ânimo, a verdade é que acordei hoje a rosnar com o mundo. Rui Rio ganhou o Porto. Pressentia que a coligação de direita ía ganhar, mas nunca me passou pela cabeça que o fizesse com maioria absoluta. Que isto sirva de lição à esquerda:

. as autárquicas são eleições de corpo-a-corpo e se o PS falhou foi porque apresentou um candidato cheio de qualidades, é certo, mas que tentou num primeiro momento fazer campanha por controlo remoto a partir de Bruxelas, visitando a tribo apenas ao fim-de-semana. Agora propõe-se a fazer oposição na mesma modalidade! A pobre criatura ainda não percebeu que vai ser trucidada pelos canibais do PS Porto... No fundo, Assis fica sempre a ganhar porque passou a conhecer uma belissíma cidade que desconhecia e vai continuar a usufruir do vencimento de eurodeputado;
. os resultados de Rui Sá em 2001 e 2005 são, em número de votos, quase os mesmos. Resistiu? Talvez, mas Sá foi poder, como Rio foi poder e este último subiu e Sá não. São ingratos os portuenses? Nah! Apenas não aprecia oportunistas;
. para o BE: as eleições autárquicas não são a mesma coisa que eleições para a associação de estudantes, meus amigos. O Bloco tem de começar a fazer política um dia destes...
2. Em Aveiro, Élio Maia ganhou e ganhou bem. Fico contente pelo Élio, mas muito preocupado com alguns elementos alapados à sua candidatura. Esperemos que Aveiro não queira revisitar a gestão de Girão Pereira. Dois desejos para Élio: que aproveite o que Alberto Souto fez de positivo e que me convença de que nem todo o conservadorismo é mau. Boa sorte.
3. Ílhavo: como era de esperar, Ribau Esteves venceu. Vamos estar atentos às movimentações em volta do projecto da Marina da Barra (já agora: Qual é a opinião de Élio Maia sobre este assunto?).

Speed Dating

Eu traduzo o que está escrito neste pacote de açúcar: «5º Encontro de Coleccionadores de Pacotes de Açúcar - 24 e 25 de Setembro 2005 - Aveiro - Portugal».
Mas eles existem mesmo? Não são um boato? Há realmente coleccionadores de pacotes de açúcar? E o mais estranho de tudo: eles promovem mesmo encontros entre si? De que falam nesses encontros? «Eu sou o José, prazer!» «Eu sou a Marta, como está?» «Marta, veja. Estes são os meus pacotes preferidos.» «José! Fantástico! Também são os meus! Acho que encontrei a minha alma gémea!» «Marta, o que é que faz logo à noite?»
E parece que os senhores coleccionadores de pacotes de açúcar até têm um site: www.naotenhomaisnadaquefazer.com. Perdão, www.clupac.com.

domingo, outubro 09, 2005

Pelos Caminhos De Portugal - Atribuição Do Prémio «Pior Cartaz Eleitoral Autárquicas 2005»

A atribuição do Prémio «Pior Cartaz Eleitoral Autárquicas 2005» não é da responsabilidade da Dolorosa Comissão Eleitoral. Os leitores do Dolo Eventual, soberana e democraticamente, decidiram. E decidiram bem. De entre os nomeados, os escolhidos foram:
VENCEDOR:
Candidato Independente Pelo CDS à Presidência da Câmara Municipal de Chaves
BALTAZAR FERREIRA

http://odoloeventual.blogspot.com/2005/09/pelos-caminhos-de-portugal_29.html

MENÇÃO HONROSA:

Candidato PS à Presidência da Câmara Municipal de Esposende

TITO EVANGELISTA

http://odoloeventual.blogspot.com/2005/09/pelos-caminhos-de-portugal_08.html

MENÇÃO HONROSA

Candidato PS à Presidência da Câmara Municipal de Mafra

JOSÉ ROMANO

http://odoloeventual.blogspot.com/2005/09/pelos-caminhos-de-portugal_08.html

Pelos Caminhos De Portugal - Atribuição Do Prémio «Boys Band Autárquicas 2005»

A Dolorosa Comissão Eleitoral entendeu galardoar com o Prémio «Boys Band Autárquicas 2005»:
VENCEDOR:
Candidato PSD à Presidência da Câmara Municipal de Ovar
ÁLVARO SANTOS

Pelos Caminhos De Portugal - Atribuição Do Prémio «Treinador FIFA Autárquicas 2005»

A Dolorosa Comissão Eleitoral atribui o Prémio «Treinador FIFA Autárquicas 2005» a:
VENCEDOR:
Candidato PSD/CDS à Presidência da Câmara Municipal de Matosinhos
JOÃO SÁ

Pelos Caminhos De Portugal - Atribuição Do Prémio «Não Cabe Mais Ninguém? Autárquicas 2005»

A Dolorosa Comissão Eleitoral, após entediante périplo pelos cartazes das Autárquicas 2005, decidiu atribuir o Prémio «Não Cabe Mais Ninguém? Autárquicas 2005» a:
VENCEDOR:
Candidato PS à Presidência da Câmara Municipal de Chaves
ALTAMIRO CLARO
MENÇÃO HONROSA:
Candidato PS à Presidência da Câmara Municipal de Famalicão
ANTÓNIO BARBOSA

http://odoloeventual.blogspot.com/2005/10/pelos-caminhos-de-portugal_112862695518913083.html

MENÇÃO HONROSA:

Candidato PSD à Presidência da Câmara Municipal de Vinhais

MANUEL GONÇALVES

http://odoloeventual.blogspot.com/2005/10/pelos-caminhos-de-portugal_112823949906054903.html