O Dolo Eventual convida todos os seus leitores ao envio de fotografias de rotundas de todos os pontos do país, com referência, se possível, à sua localização (freguesia, concelho, distrito), autoria da foto e quaisquer dados adicionais para rotundas@gmail.com
É impossível não fazer um paralelo desta situação da criança russa com o outro caso da Esmeralda. Especialmente quanto ao impacto na comunicação social. Desde logo parece-me relativamente evidente ter acabar este regime das famílias de acolhimento. Acredito que no interesse das crianças estas devem continuar a existir, mas as famílias não podem continuar a ter com estas crianças uma relação pais – filhos. Tem de continuar a existir uma relação com uma instituição de acolhimento com outros responsáveis pelo seu bem estar, com outras crianças à sua volta, de forma a partilhar-se a responsabilidade e não permitir o isolamento de uma criança nestas condições num único núcleo familiar. É essencial que a tutela, custódia ou o que for, não seja atribuída a uma família mas a uma instituição, apesar de existir uma família de acolhimento no processo, e que assim se mantenha até que exista uma decisão judicial definitiva em caso de disputa, ou um correspondente processo de adopção. Por outro lado, já defendi aqui ou pelo Suburbano que os pobres têm igual direito a ter filhos ainda que as suas vidas não sejam um reflexo de uma certa ideia que temos agora do que é a educação ideal, para quem é essencial ter um filtro de partículas de ar no quarto de uma criança. Mas se para alguma coisa existem tribunais especializados nestas matérias, é certamente para defender o superior interesse da criança e confirmar se há lugar à alteração do poder paternal anteriormente atribuído e saber quem tem reais condições de o assegurar em situações normais e não nas condições ideias. E ainda que no limite se possa considerar que esta senhora russa tem condições, o que parece cada vez mais absurdo, não é possível que para uma situação semelhante, a mesma justiça tenha decretado mais de um ano de visitas em ambiente controlado no mesmo país, com a mesma língua, acompanhamento por psicólogos e psiquiatras e relatórios de um lado para o outro, e neste caso decida que uma criança que não fala a língua russa pode ir imediatamente para um buraco qualquer no campo, sob o pretexto de existir uma família alargada capaz de a apoiar, mas que o tribunal nunca viu. Isto não pode ser apenas um infortúnio da interpretação das leis, é um erro e dos grosseiros.
O último caso jurídico para curiosos não juristas remonta a 09 de Julho de 2007. Nessa série, não atribuímos classificação. Fomos para balanço durante quase dois anos. Retomamos aqui o passatempo. Já sabem: 1 ponto por cada resposta correcta; bónus de 4 pontos para totalistas de uma série de 5; cada campeonato tem 25 casos.
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A emprestou o telemóvel a B. Passadas umas semanas sem que B devolva o telemóvel a A, A pede insistentemente a B para que o faça. Mas B não faz, nem tem intenção de fazer: apropriou-se do telemóvel, e fez dele seu. Que crime cometeu B?
Faz hoje uma semana que naquela espécie de programa de comentário pós telejornal que a RTP tem às sextas, o “Antes pelo contrário”, Garcia Pereira dizia “Não pode haver fronteiras completamente abertas” Estive uma semana em transe com estas declarações mas agora que já estou um pouco mais calmo, gostava de perguntar ao camarada como é que se vai fazer a o triunfo do socialismo com essa história das fronteiras? A revolução vai parar na fronteira? Ah, afinal Garcia Pereira não está a ceder à opinião pública. Ele só quer dizer que não podemos ter fronteiras completamente abertas porque à Europa dá jeito o “exército industrial de reserva” dos imigrantes e “enquanto os povos e nações do mundo não conseguirem ter direitos iguais” as pessoas vão ter de continuar a emigrar. Que é uma forma mais elaborada de dizer que não devemos deixar entrar toda a gente. Claramente está o mundo ao contrário…
O artista era um bom artista. A ideia era uma boa ideia, mas Vital Moreira apesar de no início ter sido estrategicamente uma boa jogada de Sócrates para agradar à ala esquerda, revelou-se muito menos telegénico do que era necessário, mesmo quando leva porrada. A imagem vende muito mais do que as ideias e nesta campanha europeia elas são todas genericamente muito fraquinhas.
Por isso a presença de Rangel na sua disputa directa com Sócrates (não era suposto ser a Manela a fazer esse papel?), num estilo vou-partir-a-louça-toda porque o país está a desfazer-se em relativismo moral, vende mais telejornais, ainda que aquilo que ele diga possa não fazer muito sentido.
P.S: (O post-scriptum), quem inventou a presença do primeiro-ministro no parlamento nos moldes actuais foi o PS (o partido), era bom que quem invoca a presença do primeiro-ministro no parlamento só para dar um festival maior e desviar a atenção das europeias, tenha isso em consideração...
E Portugal é Ronaldo. Estamos umbilicalmente ligados aos momentos em que as expectativas se elevam além das nossas possibilidades. Temos com os nossos uma relação amor/ódio, porque conhecemos as suas limitações, porque são as nossas também. Sabemos ser capazes de tudo, mas falhamos em todos os momentos críticos por incapacidade de imaginar e compreender a grandeza ao nosso alcance.
Por falar em devolver a democracia aos cidadãos, ou como seria bom a existência de candidaturas independentes ao parlamento, é sempre bom pensar no que realmente motiva o afastamento que a generalidade das pessoas sente em relação aos políticos. Sem querer discorrer muito sobre as causas desse afastamento, digamos antes que existem duas de muitas causas, que aqui podemos identificar, como a corrupção e uma ideia generalizada que a política e os políticos estão ao serviço dos grandes interesses económicos contra a generalidade dos cidadãos que acaba sempre por pagar a crise (esta e as outras). E é sobre este assunto que me parece difícil, ou até perigoso, a existência de candidaturas unipessoais, ou chamadas independentes ao parlamento, sem que para tal se tenha especial cuidado com a manipulação de grupos de interesse. Reconheço a necessidade de uma sociedade civil (como agora se chama) forte e participativa, e reconheço a inevitável necessidade de o poder político receber e aceitar esses estímulos, e criar formas de lhes corresponder. Mas Portugal não é um bom exemplo da entrada de grupos de interesse nos partidos políticos ou de candidaturas pseudo-independentes. Não percamos tempo com os candidatos autárquicos corruptos ou a corromper, fugidos ou expulsos dos partidos de origem. Para lá do financiamento ilegal já provado nalguns casos e a porta escancarada do dinheiro vivo que a nova lei permite, o grave é tornar-se evidente que partidos portugueses sofrem de fragilidades que os podem levar a ser adquiridos hostilmente por grupos de interesses mais ou menos obscuros.
Foi o caso do PRD comprado por um grupo de interesse de extrema-direita neo-nazi que o transformou em PNR, e parece ser agora o caso do MPT pelo movimento Libertas.eu, que ainda não se sabe bem qual o projecto, embora já tenhamos a certeza que são anti-europeus. O que estes casos têm em comum nada tem a ver com princípios, ideologias ou proximidade de programas políticos. O que está aqui em causa é que há quem com dinheiro force a sua entrada na política ao abrigo de interesses que a generalidade de nós desconhecemos. E se deixarmos que existam candidaturas unipessoais ou candidaturas independentes de grupos de cidadãos? Podemos estar seguros que se os partidos estão a soldo do dinheiro fácil, os cidadãos não serão susceptíveis de ser também corrompidos por interesses económicos ou políticos? Nessa altura teremos aprofundado ou afundado a nossa democracia?
Professores fazem hoje greve entre as 08:00 e as 10:30. Esta greve não é uma greve a sério, não passa de um ensaio geral para testar a adesão dos professores à manifestação do próximo sábado. Até dá gosto ver os professores tão empenhados nas artes dramáticas que cada vez mais caracterizam as suas manifestações e greves.
Não se atreva alguém a questionar a legitimidade de organizar um pré-evento, antes do evento a sério para assegurar o sucesso desse. Afinal todos os grandes eventos, organizados por grandes equipas de profissionais tem a sua preparação e isso é perfeitamente natural. Quando falamos de brio profissional é certamente disto que se fala.
Ainda nenhum de nós por aqui se lembrou do último episódio Alegre. Sem prejuízo de até termos opiniões diferentes sobre o assunto, isso provavelmente mostra como irrelevante é a novela que o deputado-poeta pretendeu criar à sua volta, e que acaba por terminar em vale de lágrimas para alguma dessa esquerda que o acompanha. Alegre não conseguiu afirmar a ideia peregrina que encabeçava uma espécie de partido unipessoal, em que ele e o seu alter-ego genial e presidencial, seria capaz de negociar directamente com o PS, convencendo Sócrates a fazer cedências à força do seu milhão e meio de votos. Não o conseguiu com o PS nem com ninguém, nessa extemporânea iniciativa que é o encontro das esquerdas. Aliás o Bloco e mais concretamente o Francisco Louçã, seriam tontos se cedessem algum tipo de terreno incerto a Alegre perante um cada vez mais certo sucesso eleitoral. Louçã fez aquilo que lhe competia e abraçou a ideia que Alegre poderia deixar o PS e juntar-se-lhe no Bloco, mas não podia deixar que o partido unipessoal Alegre condicionasse a sua estratégia. A Alegre não restou qualquer outro tipo de alternativa. Não tendo receptividade de nenhum partido de esquerda à totalidade das suas ideias, resolve manter-se no PS onde acabará os seus dias, e reservar para mais tarde o seu milhão e meio. Agora, ou o deputado pretende até ao final desta legislatura continuar a fazer a vida negra a Sócrates, minando sempre que possível a sua maioria absoluta, que aparentemente lhe cria anti-corpos, esgotando-se lá para depois de Outubro, ou então vai guardar-se para as presidenciais de 2011, na esperança que a memória curta do PS tenha entretanto apagado os ataques violentos desta legislatura. Ora em qualquer dos cenários o tempo de Alegre acabou. Quem, nos partidos e fora deles, entende o eleitorado deste país, sabe que não é possível fazer valer a ideia de um milhão e meio de votos durante cinco anos e muito menos é expectável que haja um lugar presidencial para Alegre em 2011, a não ser que este conscientemente se ofereça para sacrifício.
Fora do parlamento a partir de Outubro, Alegre torna-se um candidato à irrelevância. Os que geralmente alinham com ele no grupo parlamentar ou não estarão nas listas ou simplesmente não irão votar como o deputado gostaria. Alegre livre do jugo da disciplina partidária só tem um caminho para continuar a divulgar a sua opinião. Tornar-se comentador político, como tantos outros, num qualquer canal do cabo onde o ouviremos falar de devolver a democracia aos cidadãos, ou como seria bom a existência de candidaturas independentes ao parlamento, sem nunca nos explicar com clareza como imagina que isso possa ou deva acontecer.
O que se passa na AutoEuropa não pode deixar de chocar todos os trabalhadores que directa ou indirectamente trabalham para esta empresa, assim como todos os portugueses.
Não é admissível a continuação da chantagem sobre os trabalhadores responsáveis por 2 ou 3% do PIB, apesar de muitas vezes se falar na empresa e nos administradores como únicos autores desse feito.
Os trabalhadores da AutoEuropa já aceitaram várias vezes trabalhar em condições de remuneração inferiores às previstas pela lei. Os trabalhadores da AutoEuropa são dos mais flexíveis do país. São provavelmente os trabalhadores que mais vezes negociaram com a empresa e que dessas negociações mais vezes chegaram a acordo com a administração, e honestamente acho que fizeram bem em ser flexíveis, desde que os interesses de todos possam ser salvaguardados. Mas ainda assim, continuam constantemente a ser sujeitos às mais variadas ameaças de deslocalização da empresa, ao mais leve soluço nos mercados internacionais.
Estou cada vez mais convencido que estes grandes investimentos estrangeiros e todos os benefícios e benesses que nos custam, são cada vez mais irrelevantes e que a verdadeira aposta deve estar nos responsáveis pelos outros 90% do PIB.
António Marinho e Pinto e Manuela Moura Guedes. Que parelha. Desde o 11 de Setembro que não tinha aquele transe mental de que isto não está a acontecer. Excedeu-se, mais uma vez, o bastonário da Ordem à qual também pertenço. Não sou propriamente um apreciador do seu estilo. Mas tudo aquilo que disse - embora nunca o devesse ter dito -, toda a carga negra que colocou na voz, todo o momento é-agora-ou-nunca-que-lhe-digo-isto-ou-me-calo-para-sempre parecia ter vindo da minha garganta. É preciso um fim naquele jornalismo travestido. (Adivinha-se mais um comentário do marido, falando da isenção e rigor do Jornal Nacional e de mais um processo.) Mas tudo isto poderia ter sido evitado. Eu - mas trata-se apenas uma opção pessoal - jamais [não como diria Mário Lino] poderia vir a ser entrevistado por Manuela Moura Guedes. A recusa seria liminar. E o bastonário sabia bem o que a casa gasta.
Depois do transe, veio Vasco Pulido Valente. E o mundo reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu.
Eu:Então, como é que isso vai, já conseguiu emprego?
Alguém:Não, e pelo menos até Setembro não vou procurar. Não vale a pena, ia ganhar um pouco mais do que estou a ganhar com o subsídio de desemprego. Em Setembro, quando acabar o subsídio, logo se vê.
Hoje o Procurador-geral da República retirou a confiança politica ao governo, e tornou Sócrates refém da sua incapacidade de lidar com os casos judiciais, mais ou menos investigados, que vão minando o Primeiro-Ministro. O procurador fala demais, ou pretendeu mesmo pressionar procuradores que supostamente investigam o caso Freeport, mas que na realidade ainda ninguém percebeu quem são. Os ditos procuradores não se queixam ao chefe mas ao sindicato, que vai fazer queixinhas ao Presidente. Isto motiva a negação das pressões pelo procurador original, enquanto deixa cair ter utilizado em vão a palavra do ministro e do primeiro. O conselho superior do chefe do procurador original abre um processo disciplinar. Os partidos da oposição esmagados pela oferta, tão escassas que são as oportunidades, exigem a presença do ministro e a cabeça do procurador. O governo defende o procurador original que nomeou sob sugestão do Procurador principal, salvaguardando a sua inocência até prova em contrário, e no final é quem indicou o procurador para o estrangeiro que lhe tira o tapete, assim como a quem pediu que o nomeasse.
Não é fácil perceber a campanha das europeias. Os temas nem sempre apelam ao interesse das massas e os candidatos nem sempre falam numa língua compreensível pelo eleitor comum. Só quando a coisa começa a arrastar-se pelos assuntos nacionais, que legitimamente também fazem parte da campanha, é que os jornais e televisões começam a dar conta que existem mesmo umas eleições que se avizinham. Isso é claro no estilo da campanha nas ruas. Menos cartazes, mais genéricos sobre o papel dos partidos na Europa, para quem está no poder. A piscar o olho à dimensão europeia dos problemas nacionais, no caso dos partidos da oposição. E depois há o PSD, que não faz campanha de rua e ninguém entende qual a razão. Ou melhor, até se entende. Não há espaço para duas campanhas dentro do mesmo partido. Paulo Rangel que basicamente podemos chamar como a prata da casa da Manuela não pode concorrer directamente em visibilidade com esta, quando ainda subsistem tantas questões sobre a afirmação da líder no partido e no país. Assim, a campanha Europeia do PSD resume-se, até ao momento, às mediáticas aparições de Paulo Rangel no seu estilo académico-formalista, enquanto um pouco por todo o país é a Manuela que aparece a dar cara pelo call center, pela politica de verdade, ou em breve pelos donativos dos militantes. É no fundo uma campanha bicéfala num partido onde faltam protagonistas.
O Porto de Aveiro já tem disponível online o seu Arquivo Histórico-Documental. Ainda falta muita documentação e, talvez, um pouco mais critério (há coisas que não fazem falta nenhuma), mas é já um site que vale a pena consultar e um exemplo de boas práticas. Mas podemos ajudar: «Se dispõe de espólio relacionado com o Porto de Aveiro (fotos, vídeos, áudio, manuscritos, documentos diversos, porque não partilhá-lo com a comunidade utilizando o nosso portal?»
Foram publicadas hoje no Diário da República 4 (quatro) Declarações de Rectificação: n.º 29/09, 30/09, 31/09 e 32/09. Ainda bem que isto raramente ocorre e que se trata, por conseguinte, de uma excepção.
Cavaco Silva confunde o estatuto supra-partidário da PR com uma espécie de Epochè* política. Aquela fatia de bolo-rei dura e dura e dura. Entretanto, Dias Loureiro continua sentar-se à sua mesa e sobre Lopes da Mota nada diz. O receio de muitos confirma-se: o cavaquismo está de volta.
*Epoché (ἐποχή) is a Greek term which describes the theoretical moment where all belief in the existence of the real world, and consequently all action in the real world, is suspended.
Trago-vos hoje o exercício de lógica n.º 1, de dificuldade média-baixa:
Foi hoje publicada a Resolução do Conselho de Ministros n.º 38/2009. Esta Resolução estabelece que as indemnizações já pagas aos herdeiros das vítimas da queda da ponte de Entre os Rios devem ser acrescidas de compensação no valor das despesas tidas com custas judiciais suportadas em processos directamente resultantes do referido sinistro.
Premissas:
1. Desde a queda da ponte o Estado já pagou cerca de seis milhões de euros em indemnizações aos familiares das 59 vítimas. 2. Na altura, os familiares assinaram um documento garantindo que não reclamariam mais indemnizações. 3. Algum tempo depois, os familiares vieram reclamar indemnizações de montante mais elevado junto do Tribunal. 4. O Tribunal não condenou ninguém. 5. Neste caso, nos termos da lei, as custas são devidas por quem interpôs a acção - os familiares das vítimas. 6. A lei é igual para todos. 7. O Estado, que já pagou cerca de seis milhões de euros em indemnizações, vem agora proceder ao pagamento das custas da acção aos familiares das vítimas. 8. O dinheiro do Estado provém do meu bolso e do bolso dos excelsos leitores do Dolo Eventual.
Normalmente, só dou pela Queima das Fitas por causa do trânsito caótico do dia do cortejo e do rasto de badalhoquice que os doutores deixam atrás de si. É a irrelevância das associações académicas, reduzidas a uma espécie de comissão de festas semi-profissional. Este ano, no entanto, tive uma novidade: os meus alunos do 10º ano faltaram às aulas da manhã porque fizeram uma noitada na Queima. No meio dos doutores, naturalmente, passaram despercebidos.
Uma história (pouco) edificante. Estava para procurar a banda sonora do "The Godfather" para acompanhar a peça, mas tenho mais que fazer. Já têm a letra, façam o favor de assobiar a música.
Esta imagem foi retirada do site http://www.tellbarroso.eu/en/. Conforme o PÚBLICO noticiou, trata-se de uma iniciativa do Centre for European Sudies, "think tank" do Partido Popular Europeu. A ideia é recolher sugestões de cidadãos europeus e de as fazer chegar ao presidente da Comissão Europeia. O problema é que apenas são admissíveis interpelações em inglês, francês, castelhano, alemão, italiano e polaco (?!!). Nada de português, essa língua de cafres. Não me interessa o que Barroso, Durão Barroso me tem para dizer, mas interessa-me mandar uns recados ao sr. presidente dessa grande junta que é a UE em... português, pois claro! Francamente não sei o que é pior: se esta imagem picada de cima para baixo que reproduz a perspectiva que os outros governates têm de Barroso (enfim, uma espécie de zelador-serviçal-porteiro da Europa, dando continuidade a essa longa tradição do jardineiro/porteiro português, o único tipo de imigrante que não incomoda Le Pen) ou essa amnésia linguística tão típica dos nossos emigrantes. Em Agosto, já não será possível dialogar com Barroso. Sócrates terá de aprender a dizer "Porreiro, pá!" em inglês técnico. Agora um pouco mais a sério: do que vale derreter o nosso dinheiro numa CPLP se até o "nosso" Presidente da Comissão Europeia tem vergonha da língua portuguesa? Para que raio precisam Angola e Brasil de nós se nem conseguimos fazer da língua portuguesa uma língua respeitável e reconhecida na UE? E já agora: o que diz o PSD e a Ferreira Leite disto tudo? Afinal de contas são os nossos representantes no Partido Popular Europeu. E o Paulo Rangel? Afinal é o candidato do PSD a integrar as fileiras do PPE no Parlamento Europeu...
O novo suspeito dos Mccann é uma figura de banda desenhada criada para promover o sucesso do documentário que estreou esta semana no Reino Unido e que acabará por fazer o seu percurso um pouco por todo o mundo, arrecadando uns milhões pelo caminho. Nada melhor que arranjar alguém novo para responsabilizar quando se lança um bom produto televisivo, baseado, ou não, numa historia verídica (como se isso fosse importante). Não podia ser uma criatura mais inverosímil. É algo entre um monstro alado das profundezas do oceano, um pirata mítico ou o cartoon de um criminoso imaginário. Fosse o retrato-robot de corpo inteiro e saberíamos que ou era perneta ou arrastava uma daquelas bolas de ferro dos Irmãos Metralha, ou então seria um monstro com aparência de homem e corpo de dragão que engolia criancinhas à sua passagem.
O assunto bloco central é uma espécie de assunto recorrente, daqueles que de vez em quando ocupa parte significativa da comunicação social para nos desviar a atenção daquilo que é realmente importante.
É quase tão importante saber a seis meses das eleições, que vai haver um bloco central ou que há quem esteja disponível para o fazer, como saber o fim daquela novela que se está a acompanhar até porque o mais provável é o autor da novela optar pelo final mais inesperado e dramático. Vai ser assim nas eleições legislativas de Outubro. Só aí o protagonista dessa novela vai saber o seu destino. Ou vai morrer na praia, ou consegue condicionar os blocos que vierem a surgir. Só à luz de uma visão redutora da democracia é possível pensar que as soluções governativas têm de passar por um bloco central dos dois maiores partidos, quando existem outro tipo de combinações parlamentares possíveis. Claro que a estabilidade governativa é um bem caro aos portugueses que não gostam de muita confusão na chafarica, mas nesta altura é natural que quem pede governo se ponha a jeito para o bloco central, mas é terrivelmente imprudente porque condiciona a clareza das opções que os partidos devem apresentar aos portugueses. É também natural que quem pede renovação de maioria não se ajeite ao bloco central e antes prefira agitar os fantasmas da ingovernabilidade com maioria relativa, reforçando a ideia do extremismo dos pequenos partidos que chantageiam o poder legitimamente concedido à força mais votada. É desta realidade, fortemente presente no discurso politico, que fazem eco os jornalistas que não imaginando a possibilidade de se encontrar soluções de governabilidade à esquerda do PS, não imaginam que este se vá coligar com o CDS-PP de Paulo Portas, pois arriscaria uma espécie de sublevação alegrista. Aliás, ainda ontem nos Negócios da Semana na SIC, o jornalista perguntava ao ilustre painel de ex-governadores do Banco de Portugal (daqueles que sabem sempre o que fazer depois de saírem dos cargos) com quem poderia o PS fazer governo, e não contente, perguntou de imediato se seria com o CDS-PP com ar de de alguma surpresa. Logo, resta o PSD para emparelhar num bloco central que aparentemente toda a gente espera que resolva tudo…
Ora este raciocínio não faz sentido. O que ameaça a estabilidade são os falsos unanimismos e não a existência de coligações. Os compromissos são precisamente um dos aspectos da democracia que mais deve ser valorizado e nunca estes porão em risco a governabilidade do país desde que haja boa fé e interesse real em trabalhar em prol do país.
Por isso imagino que esses compromissos possam surgir à esquerda do PS, tanto como aparentemente surgem à sua direita.
Não há nem duas semanas que recomeçámos e já a imprensa está de olho em nós. Depois do P, da Visão e do DN entre outros que o Pedro saberá de cor, o jornal O Diabo, destacou este nosso post aqui ao lado. Esta é a prova que precisávamos para confirmar que o Dolo faz falta, que não é substituível por um qualquer pasquim de segunda categoria desses que aparecem ai pela blogosfera. Que o Dolo não admite pressões, nem é susceptível de aceitar subornos (tal como o Zé que fazia falta…). O Diabo já não é o jornal que foi no passado, mas tem vindo a fazer um esforço por se manter à tona de água e às vezes até já é bastante aceitável. No entanto é um jornal que tal como o Dolo, faz falta. Para mais, foi fundado por Vera Lagoa o que nos honra a todos e a mim em particular, porque ainda que possamos todos discordar muitas vezes, foi a coragem e frontalidade de pessoas como Vera Lagoa que permitiu esta liberdade de que usufruímos na blogosfera.
Sempre me intrigou o facto de os políticos não terem ainda utilizado o argumento das papas Maizena. É facto que, em argumentação, o argumento das papas Maizena deve ser utilizado com parcimónia - a final de contas, trata-se de um argumento verdadeiramente destrutivo para qualquer interlocutor:
- Penso que a melhor maneira de realizar a obra é começar pelos alicerces.
- Que ideia sem sentido. Tens de comer muita papa Maizena.
Acabei de ouvir a notícia: Vasco Granja morreu. Este foi o meu verdadeiro companheiro Vasco. Ficava danado da vida quando não passava no fim do programa um episódio de Tom&Jerry em jeito de rebuçado. Uma recompensa pela maldade generosa de nos obrigar a ver umas animações vanguardistas do Leste ou do Canadá. Por causa dele, criei a convicção infantil de que o Canadá fazia fronteira com a Checoslováquia. Um dia ofereceram-me um globo e a reputação do senhor caiu em desgraça. Salvaram-se o Tom&Jerry e a voz que nos amaciava antes da sessão.
OBS: Se a RTP tivesse editado um dvd com os melhores momentos dos "Desenhos Animados" do Vasco não daria por perdido o investimento. E a homenagem teria sido mais do que merecida.
«O problema do mundo de hoje é que os estúpidos só têm certezas e os inteligentes estão cheios de dúvidas» Bertrand Russel
Felizmente estou cravejadinha de dúvidas. O que nem por isso me tranquiliza, ou por isso mesmo me angustia: vejo coisas que não queria ver, sei de coisas que não queria saber, e não sei tantas outras que devia. Da escola sei muitas, porque estou lá dentro todos os dias. Fico é estonteada com a quantidade de gente que sabe tanto como eu, ou muito mais do que eu, sem lá pôr os pés há anos. Só duas coisitas: o 12º ano, e os magalhães, por exemplo. Neste país cheio de novas oportunidades, RVCCs, EFAs, CEFs, PCAs, e PIEFs (não descodifico, porque como percebem todos muito de escola…) o 12º obrigatório, ainda que em versão paulatina, irá acabar rotundamente com o pouco que resta de qualidade no Secundário. Não vou dizer a grande maioria dos alunos, mas muitos, mesmo muitos (os reais, das aldeias, das pequenas cidades, os da minha escola, que não é tão pequena quanto isso), NÂO querem. Já não querem agora, e só vão até ao 9º. Os pais não querem. Os professores dos que não querem, porque os conhecem bem demais, também não querem. Então quem quer? Quem não sabe ver que há pré-requisitos a cumprir, entre os quais fazer ver a grande parte deste país, que vantagens há para um país no Aprender (e não meramente frequentar, como diz o outro...)? Os magalhães. Aconselho-vos a ir por aí, às escolinhas. Vão à hora do recreio. E vejam os cachopos e cachopas, que deviam andar a correr e aos saltos lá fora, a teclar furiosamente nos jogos disponíveis, pelos halls e corredores. Qual sol, quais correrias! E não interessa nada o que se diz: “Uwe Buermann, colaborador científico do Instituto Ipsum e docente de Ciências Computacionais em Kiel, sublinhou que os meios electrónicos presentes na vida de uma grande parte da população infantil são cada vez mais ingenuamente considerados pelos pais como brinquedos, tornando-se assim algo que as crianças podem usar a bel-prazer.(…) Entretanto, inúmeros estudos rigorosos já atestaram que o convívio prematuro de crianças em idade primária com computadores e tecnologias de comunicação, impede de maneira notável o desenvolvimento de muitas capacidades e habilidades, sendo precisamente essas crianças que posteriormente sofrerão de uma limitação nas suas possibilidades pessoais e profissionais, ficando dependentes para o resto da vida. Nas escolas, cada vez mais crianças mostram debilidades do tipo Distúrbio de Hiperactividade e Défice de Atenção (DHDA). A neurobiologia já atestou que em numerosos casos se trata de danos psicológicos e orgânicos decorrentes do consumo de meios electrónicos na primeira fase da infância.” Pois. Mas a eles não assolam estas dúvidas. Só têm certezas. Abençoados…
A injúria é um crime de natureza particular. Isto é, para prossecução da acção penal, é necessária apresentação de queixa pelo injuriado. A participação cívica da maioria dos portugueses é um monstro com cabeça de Jano: o português diz que o Governo está a ir muito bem, ou então o português chama palhaço, palerma, chulo, entre outros epítetos, à passagem de qualquer político. Não é assim que se discute política, e estou convencido que a situação não se resolve com novas oportunidades, RVCC's ou 12 anos de escolaridade mínima. É preciso avançar algumas gerações. Querem o colapso do sistema? É simples. Se todos os políticos e árbitros de futebol do país apresentarem queixa-crime por injúrias proferidas durante o próximo fim-de-semana, os tribunais entopem, o sistema judicial colapsa e não haverá reforma que lhe valha. Bastaria as injúrias ocorridas no FC Porto-Nacional ou numa acção de campanha do Primeiro Ministro.
Consta que Sócrates pediu desculpa aos pais das crianças cujas imagens foram abusivamente utilizadas num tempo de antena do PS. Nem se vai discutir aqui o verdadeiro acto de promiscuidade institucional que esteve na origem deste episódio. Já nos habituámos à ideia de que este Ministério da Educação é o melhor amigo dos jornalistas. Agora, Sócrates & Cª safarem-se desta maneira não me parece nada certo. No mínimo, Sócrates devia retractar-se publicamente. De preferência num tempo de antena produzido e pago pelo partido. Mas nem isso devia chegar. Se fosse a imagem de um filho meu usada de uma forma abusiva, só ficaria contente quando rolassem cabeças e quando alguém respondesse pelo abuso na barra do tribunal.
PS: Recomendo às escolas que para a próxima exijam que estes pedidos especiais do Ministério da Educação sejam solicitados por escrito. É bem mais difícil mentir quando existem vestígios materiais.