Dolo Eventual

David Afonso
[Porto]
Pedro Santos Cardoso
[Aveiro/Viseu]
José Raposo
[Lisboa]
Graça Bandola Cardoso
[Aveiro]


Se a realização de uma tempestade for por nós representada como consequência possí­vel dos nossos textos,
conformar-nos-emos com aquela realização.


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Para uma leitura facilitada, consulte o blogue Grandes Dramas Judiciários

Visite o nosso blogue metafísico: Sísifo e o trabalho sem esperança

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Para uma leitura facilitada, consulte o blogue As Mais Belas Rotundas de Portugal


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quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Jornadas da Reabilitação Urbana


As Jornadas da Reabilitação Urbana começam já no próximo dia 3 de Março. Os bloggers d'A Baixa do Porto convidam todos os interessados (profissionais ou não) para comparecerem na ESAP ("Árvore") pelas 15:00. A entrada é livre. O primeiro tema será O negócio da Reabilitação: mitos e factos. Outros temas serão debatidos em outros locais da Baixa já a partir do próximo mês. A blogosfera saiu à rua!
Mais info:

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Vontade de emigrar

De há tempos para cá dou por mim a ter vontade de emigrar. Eu própria estranho. Este meu desejo já assolou muitas pessoas da minha faixa etária e da região onde moro, Aveiro. Tenho colegas, amigos e familiares que estão hoje em Inglaterra, Canadá, Estados Unidos, Suiça e Bélgica. As razões parecem ser as mesmas, adaptadas a novas exigências, das grandes vagas de emigração portuguesa que começaram pelos anos 60, a melhoria das condições de vida, novas oportunidades e possibilidades. Se assim é, é porque este país começa a oferecer de algum modo as mesmas incertezas que naquela altura. Isto deixa-me preocupada. Por outro lado, as exigências individuais e aquilo a que se hoje se considera qualidade de vida também têm muita influência. O patamar a atingir por cada um de nós começa a ser cada vez mais elevado e difícil de suportar à luz da realidade. Queremos sempre mais e melhor, porque temos direito, porque para isso trabalhámos, porque é isso que nos move ou, simplesmente, porque sim. No meu caso, a vontade de emigrar, que por ora é momentânea, está relacionada com o que confronto dia a dia. A democracia que hoje se vive, está lentamente a cercear-nos, o que é um absurdo, até de escrita. Tomemos como exemplo um dia normal. Abro o Diário de Aveiro e vejo que a barricada do Rivoli poderá ter réplicas aqui em Aveiro por causa do Teatro Aveirense, estando já a decorrer uma petição online, para travar a privatização do mesmo. Recupera-se, com o dinheiro de todos nós, para depois se entregar a terceiros, parece não ser um filho da terra mas um bastardo. Claro que eu já a subscrevi. Depois sigo para a cidade e dou de caras com os sempre atentos fiscalizadores da Moveaveiro - empresa municipal de mobilidade (neste caso movimento ostracista das viaturas estradais de Aveiro), de mãos atrás das costas a patrulhar os parqueamentos como se todos nós fossemos criminosos e os nossos veículos tanques de guerra. Os automobilistas e trabalhadores andam literalmente com os carros às avessas, fugindo de tão terrível ameaça. É disto que o pais precisa, destes homens, do bem que fazem à nação e aos seus cidadãos! Acho que a BUGA agora terá ainda mais sucesso. De repente, lembro-me que é necessário abastecer e tenho de fazer um rápido jogo mental de euros e poupança, já que as gasolineiras não têm rei nem roque, qualquer dia contratam apregoadores como os dos mercados. Continuando, dirijo – me à minha companhia de seguros: mercê de uma recente Portaria, para me enviarem a declaração para efeitos de IRS, as seguradoras necessitam ter o número de contribuinte dos seus segurados, caso contrário, lamentam, mas não emitem a respectiva declaração. Vai daí mandam uma cartinha, solicitando a “informação em falta” até 22 de Fevereiro, que chega ao seu destinatário depois daquela data. A intenção disto? É mais vantajoso para a seguradora não passar as declarações e o ónus transfere-se para nós. Mais tarde a notícia da Universidade Independente, com o despedimento do corpo docente e direcção, mais um lamentável escândalo, mas brilhante, com tráfico de diamantes à mistura, alegadamente. Nenhuma instituição parece escapar à falta de seriedade, à corrupção, à luxúria do dinheiro. É um gás que circula livremente, inodoro e incolor. No balanço final do dia, numa escala de 0 a 10, a minha vontade de emigrar encontrava-se na posição 7.
Nunca vos deu vontade de emigrar?

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As mais belas rotundas de Portugal [57º]


Informa-nos Rui Insano Oliveira que a pedra ao centro da rotunda é uma homenagem aos Bombeiros Voluntários da Areosa, Rio Tinto, Gondomar. Mas não seria necessário Rui Insano Oliveira informar o Dolo Eventual que a pedra ao centro da rotunda é uma homenagem aos Bombeiros Voluntários da Areosa. Qualquer pessoa que olhe para a pedra intui imediatamente que se trata de uma homenagem aos Bombeiros Voluntários.
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[Fotografia:
Rui Insano Oliveira]
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terça-feira, fevereiro 27, 2007

Custos de contexto

Já tínhamos tantas expressões jeitosas como as “questões fracturantes” ou “o deficit estrutural” e agora ganhámos os “custos de contexto”. É assim como uma espécie de custo que pagamos pela história e pelo atraso congénito que possuímos.
E em nenhum sector eles são tão expressivos como no mercado do (des)arrendamento.
Aqui há uns meses escrevemos sobre o arrendamento urbano e sobre a sua nova lei, e envolvemo-nos os três (a Cláudia ainda não estava por cá), numa forte discussão sobre a utilidade da nova lei das rendas e da sua aplicação, o que se pode traduzir numa leve cisão do movimento dolista por um urbanismo melhor :)
Mas independentemente das nossas opiniões demonstradas aqui e aqui, o resultado prático da lei surpreende-nos a todos pela negativa.
De acordo com o Diário económico de hoje, apenas três senhorios actualizaram as rendas de acordo com a nova lei, ainda por cima, três senhorios que já tinham feito as obras correspondentes ao respectivo aumento da renda.
Assim nem houve inquilinos que se viram forçados a adquirir as casas onde vivem por o senhorio destas se recusar a fazer as obras, responsabilizando-se pelas mesmas, nem os senhorios realizaram as obras que lhes permitiriam aumentar a renda, perpetuando assim a incapacidade de se dinamizar o mercado de arrendamento.
Como se esperava, as comissões que a nível local tinham como objectivo avaliar o valor patrimonial dos imóveis que permitisse desbloquear a situação das rendas, não fizeram o seu trabalho. No fundo este processo encontra sempre um obstáculo que à medida que se vai renovando a lei vai mudando de protagonista.
Estamos agora na estranha situação em que inquilinos e senhorios, que ao longo de dezenas de anos, se desresponsabilizaram da protecção do património, podem agora que o Estado se resolveu meter no assunto através de centenas de comissões culpar alguém que não eles próprios.
O resultado é o do costume. Nada se faz e é provável que mais tarde se tenha de arranjar uma nova lei.

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Coisas que o Dolo Eventual ensina II

As viagens ao Brasil consubstanciam a unanimidade da doutrina ao qualificar Fátima Felgueiras como uma prova andante. Dificuldades doutrinárias de delimitação entre a noção de prova andante e de prova não andante surgem, todavia, em certas situações-limite. Exemplo de escola é o do homem que se desloca em cadeira de rodas. Talvez não fosse discipiendo admitir-se uma noção estrita de prova andante e de prova não andante. De acordo com esta noção estrita, o homem que se desloca sobre cadeira de rodas seria uma prova não andante. Já numa sua noção lata, o homem que se desloca em cadeira de rodas seria uma prova andante.

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Sísifo e o trabalho sem esperança [38 de 100]


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segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Onde há fumo...

Sejam quais forem as razões que levaram à expulsão de Rui Verde da Universidade Independente, o nome de Luís Arouca já é bem conhecido no meio académico particular e cooperativo. Já não é a primeira vez que ocorrem "cisões" nas administrações das Universidades onde é, ou foi Reitor.
É o caso da Universidade Autónoma de Lisboa onde em 92 se envolveu em lutas internas, supostamente na defesa das virtudes académicas do projecto, contra os que na altura quereriam a vertente comercial e que mais tarde levaram ao seu afastamento, mas do qual Garcia Pereira (que foi imediatamente afastado) poderá falar. Desta vez com o envolvimento de "capangas".
Como naturalmente os prejudicados são os alunos.

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Coisas que o Dolo Eventual ensina

Há duas grandes espécies de provas: as provas andantes e as provas não andantes. As provas andantes são aquelas que andam. As provas não andantes são aquelas que não andam. Por exemplo, Alberto João Jardim é uma prova andante de abuso de poder; Saddam Hussein é uma prova não andante de abuso de poder.

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Artigo 65º

Ontem Lisboa assistiu pela primeira vez, a uma manifestação comum noutras zonas da Europa. Reuniram-se cerca de um milhar de pessoas para protestar a favor do cumprimento do Artigo 65º da constituição.
Mas existem algumas diferenças substanciais entre este movimento e outros como os que assisti nas Puertas Del Sol em Madrid. Este grupo não me pareceu dominado por um estilo de vida, muitas vezes chamado de indigente e que aqui prefiro chamar nómada, característico dos “Okupas” que geralmente se opõem à maioria das regras pelas quais a sociedade se rege e que no fundo não estão nada interessados em ter o mesmo estilo de vida pacato e tradicional a que os portugueses se habituaram.
Neste grupo existia uma parte muito substancial de imigrantes e de pessoas chamemos-lhes simples, cujas casas onde vivem estão longe de ter as condições mínimas aceitáveis, enquanto vêm crescer nas imediações novos condomínios fechados.
Estas pessoas não têm um projecto filosófico sobre a forma como viver as suas vidas. Apenas pretendem um tecto digno, que uns não conseguem obter por serem imigrantes e outros porque o dinheiro proveniente dos empregos para onde foram empurrados, não é suficiente. Todos apenas querem o mais banal possível. Um quarto para os filhos, saneamento básico, o sofá, a televisão e os chinelos, sem correr o risco de a casa lhes cair em cima.
Convenhamos que nem sequer é um objectivo particularmente nobre como todos aqueles que alimentamos sobre as nossas vidas. De uma forma geral não temos as mesmas preocupações com a habitação porque temos a possibilidade de alimentar a imparável máquina do betão com mais e mais crédito. Mas para esta gente, este é que é o objectivo de vida e não as férias nas Maldivas ou no Brasil.
Adormecidos na rapidez das nossas vidas, passámos a aceitar como razoável pagar 400 euros mensais por um arrendamento que acabamos por não querer porque “aquilo não é nosso” para logo de seguida irmos pagar pelo menos mais de 500 por uma casa com aspiração central numa qualquer zona supostamente chique.
Talvez se todos nós, como aqueles que ontem se manifestaram em Lisboa, tivéssemos alguma resistência em dar estas quantidades de dinheiro, talvez o Artigo 65º pudesse estar a caminho de se cumprir.

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domingo, fevereiro 25, 2007

Second life

Quem tem cá por cá uma vida aborrecida, pode tentar animar a coisa através do Second Life. No Second Life é-nos virtualmente permitido ter uma segunda vida: conhecer pessoas e conviver, procurar emprego, comprar e vender objectos, incluindo bens imóveis, quem sabe montar um negócio, enriquecer. Com a vantagem de os linden dollars (a moeda corrente no Second Life) serem convertíveis em verdadeiros dólares norte-americanos. Isto é, com US$ dollars verdadeiros pode-se adquirir linden dollars virtuais e com linden dollars virtuais pode-se adquirir US$ dollars verdadeiros, numa espécie - num autêntico - mercado monetário online, com cotações e até preço variável de terra por metro quadrado. Por exemplo, nas últimas 24h foram transaccionados US$1.610.687,00 verdadeiros. Second Life já existe desde 2003, e já ultrapassou os quatro milhões de residentes, alguns dos quais já terão feito fortuna. Não há muito tempo, foi criada a primeira embaixada no Second Life: por iniciativa do próprio governo real da Suécia. Quem controla o Second Life é o Linden Lab, composto pelos seus criadores.
Com cada vez mais habitantes, é natural que o Second Life se vá aproximando do modo de funcionamento da realidade - até porque há a possibilidade, através deste jogo, de poder vir a enriquecer-se na vida real. Assim, tal como nas sociedades reais, formam-se grupos de interesses, lutando cada um pelos seus.
Surgem agora os primeiros ataques terroristas: uma organização, auto-proclamada Second Life Liberation Army (SLLA), pretende reagir contra o modo de gestão do Second Life pelo Linden Lab (formado pelos proprietários do programa na vida real e virtual), o qual, afirma a SLLA, assemelha-se a um governo autoritário. O seu objectivo - o qual será perseguido mediante ataques bombistas às instalações virtuais do Linden Lab - é estabelecer o sufrágio universal no governo do Second Life e direitos fundamentais para os seus residentes, bem como o princípio da representatividade. Nobres, portanto, os seus desígnios. Mas, aqui como vida real, serão os fins justificados pelos meios?
É curioso observar a imbricação entre o mundo real e o mundo virtual que o Second Life nos oferece. Qual o destino do real/virtual Linden Lab se os vários milhões de residentes, com tendência para aumentar, virtualmente se revoltarem? Quais as consequências no mercado de linden dollars / US$ dollars? Poderá a propriedade real do Linden Lab sobre o Second Life ser afectada pela pressão dos residentes virtuais? A ser afectada, haverá compensação financeira real? Qual a futura forma de governo? Os governantes virtuais serão pagos?

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sábado, fevereiro 24, 2007

As mais belas rotundas de Portugal [56º]


Se retirarmos uma das peças, será que vem tudo abaixo?
Rotunda em Torres Novas, à beira da A23.
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sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Respostas difícieis

«As manifestações recentes em Valença e Chaves por causa do fecho das urgências hospitares, vindas no seguimento do referendo sobre o aborto e numa conjuntura económica desfavorável, pode ser um sinal de uma alteração mais profunda no clima de opinião pública no país.
As populações estão a interrogar-se como é possível que exista dinheiro no SNS para pagar abortos a quem deseja fazê-los, e não exista dinheiro para atender pessoas em situações de emergência.
Não é fácil responder.
»
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As certezas do Pedro Arroja têm grande valor heurístico. Como erros a não repetir na arte de disparar postas de pescada.
Pedro Arroja fala em nome das «populações», garantindo que as mesmas estão neste momento a interrogar-se como é possível que exista dinheiro no SNS para pagar abortos e não urgências. Talvez não fosse improfícuo lembrar-se ao Pedro Arroja que os tais abortos apenas serão possiveis porque as mesmas «populações» votaram «sim» no referendo. É com toda a certeza no futuro dinheiro gasto nos abortos que as «populações» estão despejar a culpa e a sua ira. Pois claro que sim, vê-se logo.
Pedro Arroja consegue ainda colocar no mesmo prato da balança o incolocável: uma tentativa de racionalização de recursos [no escopo da maior eficiência e eficácia da resposta a ser dada pelas urgências do SNS - com o objectivo, afinal, de melhorar o desempenho do Estado, contribuindo para o seu emagrecimento], de um lado; e o dinheiro que virá a ser gasto em abortos, do outro.
Será Pedro Arroja verdadeiro liberal, tal como aparentemente os restantes membros do blogue a que pertence?
Não é fácil responder.

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Casos jurídicos para curiosos não juristas [69º]

Mimi comprou há 2 anos um sofá de design italiano no valor de € 4 000,00, ficando estipulado o pagamento em prestações mensais e sucessivas no valor de € 300,00. Acontece que Mimi só pagou duas das referidas prestações. Foi pois executada a dívida e chegado o momento da penhora, a mesma recaiu sobre a conta bancária da senhora, tendo sido penhorada a totalidade do dinheiro que aquela conta tinha. É permitida a penhora na totalidade dos valores de depósitos bancários?
1) Não
2) Sim

* proposta de solução em futuro post

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quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Ainda bem que uma coisa destas nunca me poderia acontecer


Mulher russa esfaqueia namorado por má performance sexual. [link]
Estamos num mundo cada vez mais perigoso.

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Diz que é uma espécie de entrevista

Gostei particularmente da parte em que Alberto João diz que gosta de cafoné ao de leve. Uma relíquia que decerto o Ilustre Presidente, de partida mas deixando na porta um "volto já", já descarregou para mais tarde recordar.

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quarta-feira, fevereiro 21, 2007

A piada do dia


José Ribeiro e Castro diz que o CDS-PP «definiu novo rumo e revigorou-se» nos últimos dois anos. [link]

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Era uma vez um jornal VII








Dantes o PÚBLICO era um jornal diferente, não era?

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O povo está na rua; a luta continua

O autor do chavão «o povo está na rua; a luta continua» é um verdadeiro génio na arte da liderança de massas. A frase rima, tem ritmo, é acessível. Funciona. Esta sua pequena obra perpetuou-se e é hoje património das ruas.

A frase apresenta variantes. Em Chaves, grita o povo exaltado «ministro para a rua; a luta continua».
[Os manifestantes agitam bandeiras espanholas. Cartazes vendendo-nos à Galiza. A emigração é sempre boa hipótese. Houvesse colecta de impostos naquele local e tudo estaria calmo e deserto e longe dali.]
O autor do chavão, se estiver vivo, bem se pode orgulhar.

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A Minha Biblioteca Vermelha 1



AAVV - LENINE, ESTALINE, KAPSOUKAS, BETTELHEIM E FABRÈGUES. . Lisboa: J. Bragança editor, 1975. 144 p. (Col. Via Operária, dir. J. Luciano)

Desta obra vale a pena reter a apresentação. Como agora de diz: é toda ela um programa.

«Com esta primeira edição, inicia-se uma nova série de publicações Marxistas, com o objectivo de virem a contribuir para a formação política e ideológica de militantes sinceramente dedicados à causa do proletariado.
Isto porque a leitura sem a prática revolucionária conduz ao diletantismo burguês, tão caro a certo tipo de intelectuais que papagueiam nos cafés, e a certo tipo de estudantes que pontificam no seu grupinho armados em apóstolos da luta do proletariado português. Nestes casos tão típicos o que se verifica é o «empaturramento», a indigestão de literatura marxista-leninista.
«Via operária» não pretende contribuir para maiores indigestões, por isso lança a palavra de ordem para que os operários que leiam estes cadernos formem grupos de leitura.
Que cada grupo de leitura seja formado na base de um trabalho colectivo em luta contra a exploração capitalista, em luta pela democracia proletária na instauração de uma sociedade verdadeiramente democrática, sem exploradores e explorados.»

J.L.

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terça-feira, fevereiro 20, 2007

A minha Biblioteca Vermelha: apresentação

Durante os anos de 1989 e 1990 calhou-me salvar uma biblioteca vermelha. Andava eu então nos últimos dois anos do ensino secundário quando, ao bisbilhotar nas prateleiras de uma livraria situada perto da Estação da CP de Aveiro (chamar-se-ia Livraria Avenida?), encontrei centenas de livros de doutrina marxista-leninista, maoista, trotskista, estalinista e sabe-se lá o que mais. O caso é que o destino daqueles livros seria a destruição se ninguém nada fizesse por eles, isto é, se não os levasse para casa. Senti um aperto no coração, não porque me imaginasse a mergulhar de cabeça naquela versão política da literatura de cordel, mas porque pressenti ali um crime lesa-memória. Moralmente não podia deixar que aquilo tudo fosse para o lixo. Tinha acabado de ver Fahrenheit 451 de François Truffaut na televisão e imaginei-me ali na posição de Montag. Cumpri então a minha missão. Não salvei todos e dos que salvei muitos tiveram o destino natural dos livros: o de serem emprestados para nunca mais serem devolvidos. Dentro deste filão há que destacar o lote dos livros situacionistas e anarquistas. Mais leves e mais voláteis que os restantes salvados, poucos ou nenhuns permaneceram até aos dias de hoje nas minhas mãos. Em todo o caso, tenho uma Biblioteca Vermelha que estimo não tanto pelo que ela possa ensinar, mas pelo testemunho que possa dar de uma época que o país teve muita pressa em esquecer. Nos finais dos anos 80, menos de duas décadas passadas do PREC, ali andavam os livros revolucionários esquecidos, renegados, desclassificados. É apenas espuma, senhor. É apenas história

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As mais belas rotundas de Portugal [55º]


Rotunda mé-mé em Castro Verde, distrito de Beja.
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[Fotografia:
Hélder Guimarães]
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É carnaval, ninguém leva a mal


Alberto João Jardim demite-se dizendo provar com este gesto «não estar agarrado ao poder». Não, qual quê. Alberto João Jardim não está agarrado ao poder. De maneira nenhuma. Alberto João Jardim não quer provocar eleições por temer estar em risco a sua maioria absoluta em 2008, uma vez que os fundos para governar não são tantos como previra.
«Esta é a oportunidade para os madeirenses mostrarem ao país e ao mundo, através do direito de voto de cada um, que repudia a desigualdade e a injustiça», diz Alberto João. Isto é, esta é a oportunidade para os madeirenses mostrarem ao país e ao mundo, através do direito de voto de cada um, que repudia a desigualdade e a injustiça, já que se é dado aos madeirenses 100 é de inteira justiça que gastem 1000. Uma questão de bom-senso.
O PSD nacional, da campa onde jaz - de metro e meio - bate palmas e diz muito bem. Que surpreendente.
Independência para a Madeira, já!

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segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Vinho e Livros

Hoje vou falar de duas coisas de que muito gosto: vinho e livros!


1. A Essência do Vinho bateu este ano todos os recordes de afluência do público. Sinal positivo para este evento que demonstra como o Porto ainda pode atrair multidões e para isso nem precisa de se afastar da sua matriz original: o comércio e o vinho.
Agora que já conquistou visibilidade nacional e o respeito do sector, há que aumentar o raio de influência do evento. Estive por lá no Sábado e digo que foi uma tarde bem passada. Mas é óbvio que o Palácio da Bolsa já não é suficiente para albergar tanta gente. Apertos e pisadelas não rimam bem com bom vinho. É preciso mais espaço para circular, mais recantos para conversar, stands mais personalizados e afastados uns dos outros. O ideal seria deslocar a recepção ao grande público para a Alfândega, passando o Palácio da Bolsa a receber apenas os especialistas e as sessões nobres.
Uma das novidades este ano foi uma interessante Rota do Vinho a Copo, pecando só por estar adstrita a alguns (poucos) restaurantes. Acho que valeria a pena tentar cativar também alguns cafés da baixa para a causa. O Guarany, o Majestic, o Progresso e outros tantos – já para não falar dos espaços de vocação noctívaga – seriam peões importantes na divulgação e vulgarização do consumo do vinho, lutando no terreno de outros produtos mais populares como a cerveja e bebidas brancas.
Organizar um evento destes em Fevereiro é óptimo para quem cá está, mas deixa de parte um segmento muito importante do público potencial, que é aquele que é constituído pelos turistas. Estes, como é sabido, afluem a estas paragens preferencialmente nos meses de estio. Não digo que valha a pena deslocar uns meses o evento, mas parece-me que haveria espaço para uma espécie de Essência do Vinho II durante esse período. Com um cariz mais popular e até mesmo de rua (já estou a ver a Rua das Flores transformada numa Rua do Vinho…). Os dias (e as noites) que antecedem o S. João seriam perfeitos para este fim, até porque a maior festa da cidade tem vindo a ser subaproveitada enquanto evento-âncora. O S. João não deveria ser apenas uma festa de uma noite, mas antes uma majestosa comemoração da cultura nortenha que se desenrolasse durante uma semana com uma série de actividades culturais complementares, mais ou menos à imagem das festas da Semana Grande de Bilbao que constituem um importante momento de afirmação e divulgação da cultura basca desde finais dos anos 70. E não há nada mais portuense que o S. João e o vinho…

2. A Feira do Livro do Porto está em perigo, isto é, pode ir parar a Gaia (o que vai dar ao mesmo, não?). De um lado, um sector pouco dinâmico, do outro uma autarquia que aperta os cordões à bolsa sempre que se fala de cultura, mas que persiste – e bem – na ideia de reanimar a baixa. Não entendo a fixação da Feira do Livro no Pavilhão Rosa Mota: é apertado e sufocante. Por mim, a solução ideal seria fazer uma feira nos jardins do próprio Palácio de Cristal. Já me imagino a passarinhar de banca em banca protegido pela sombra das tílias, para depois me deleitar na relva, folheando os livros acabadinhos de comprar enquanto como um gelado e sinto na cara a brisa refrescante do Douro. A Câmara insiste nos Aliados e os editores franzem o sobrolho. Não os censuro. Alguém consegue imaginar uma Feira do Livro naquela frigideira? E depois parece que ainda há a questão dos stands. Será sensato pedir aos livreiros para serem eles próprios a financiá-los? Em Lisboa as coisas são bem diferentes… E que stands? Mais barracos improvisados como os que têm vindo a ser utilizados até aqui? É uma coisa linda de se ver aqueles caixotes mal-amanhados na Praça principal da cidade. Fizemos um esforço de décadas para erradicar as barracas, para agora as plantarmos mesmo à frente da Câmara. Como é pública e proverbial a teimosia do dr. Rui Rio, o mais natural é que se a Feira do Livro não fugir para Gaia, esta terá lugar nos Aliados. Assim sendo – e apesar de não concordar com esta solução – proponho que pelo menos se façam as coisas – uma vez que seja! – como deve ser: ou se convida o Siza a desenhar os stands (solução ideal) ou se faz um concurso aberto para a sua concepção. O que importa é acabar com os acampamentos nos Aliados e que a qualidade das estruturas de apoio esteja em consonância com a nobreza da Praça.

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Gente que trabalha

«Uma comissão internacional composta por representantes de ambas as igrejas [Católica e Anglicana] elaborou um documento de 42 páginas no qual se pede que sejam procuradas formas para que católicos e anglicanos se possam unir.» [link]
Estes tipos não têm mesmo com que ocupar o tempo. Quarenta e duas páginas! Dêem que fazer a esta gente.

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A morte do artista

O Herman é um caso perdido. Quem viu o seu "novo" programa percebeu de imediato isso mesmo. Os cromos, o cenário e as piadas são artificiais e preguiçosas. Que mais poderia fazer Herman senão caricaturar as únicas coisas que conhece que são a televisão, as tias e as manhas de um subclasse pseudo-mediática? Somos indulgentes e não nos importamos muito que o menino mimado brinque aos cómicos. Mas que aproveite para destilar os seus ódios pessoais é que não estamos muito para aí viramos (ou passou despercebido a alguém que a jornalista ridicularizada pela Ana Bola é a Felícia Cabrita?). O melhor que Herman tinha a fazer era despedir a trupe, desaparecer da tv por alguns anos e aproveitar para fazer uma dieta de emagrecimento. Já não há pachorra para o aturar. Só encontro um ponto positivo: a citação do genérico do "Yes, Minister" (magnífica série britânica do início dos anos 80 com Paul Eddington e Nigel Hawthorne) no meio daquela pastelão a que o Herman gostaria de chamar genério. Bye, bye Mr. Herman!

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domingo, fevereiro 18, 2007

Betão

Somos um povo que aprecia o mar, já se sabia. Desde dos Descobrimentos que assim é. Fomos dar uma voltinha por aí e voltámos exactamente iguais ao que éramos quando partimos: incultos e pobres. Desses tempos ficou apenas a compulsão pela mitificação e celebração porque alguma coisa havíamos de ter para celebrar, homem! E também uma espécie de saudade do mar, afectação deveras patológica para um povo que vive literalmente à beira mar. Olhamos para o mapa de Portugal contemporâneo e vemo-lo embasbacado à janela a olhar para o mar. Ter uma casa de férias, uma marina, um hotel, um restaurante jeitoso à beira mar plantados foi o que nos restou da epopeia marítima. Está-nos no sangue. Precisamos de ter os pezinhos de molho para nos sentirmos grandes.

Desde dos anos 70 que temos vindo a investir o melhor que há em nós, a fatia mais grossa da riqueza disponível, a capacidade de endividamento das famílias, o crédito disponível na banca, os recursos naturais únicos na Europa, a competência técnica da elite académica, o capital político da administração local e até o próprio regime democrático tem vindo a ser jogado na roleta do betão. Não investimos em educação, em ciência e em cultura ou só aí se investiu enquanto o betão daí se poderia alimentar. Construíram-se escolas (que agora começam a ser encerradas), campus universitários (para universidades que extinguem cursos e que até pensam em se fundirem) e teatros (sem programação). Tivemos uma Porto 2001, por exemplo, que não passou de um festim para as construtoras e gabinetes técnicos que dividiram entre si a segunda cidade do país (e ainda dizem que as capitais europeias da cultura não dão dinheiro…). E a Expo98? A maior operação de promoção imobiliária da nossa história? Qual exposição qual carapuça! Ali nasceram os terrenos mais valiosos de Lisboa às custas de todos nós. E que tal o Euro2004? Alguém sabe o que fazer ao estádio de Aveiro ou ao caricato estádio Faro-Loulé? Isso também não importa porque o betão já está saciado. Somos isto: um cadáver vampirizado pelo betão. À beira-mar plantado pois então que vale mais!
[Na foto: Armação de Pêra]

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Era uma vez um jornal VI

No qiosque na Nossa Senhora de Fátima, à Boavista: «Boa tarde, queria o PÚBLICO, por favor...». O cliente recebe das mãos do vendedor a coisa e olha desconfiado: «Está bem. Mas não tem igual, só que para homens?»

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sábado, fevereiro 17, 2007

Sugestão


Como é fim-de-semana prolongado fica aqui uma sugestão: Aveiro e a sua arquitectura industrial. Na foto a fabulosa Fábrica Campos mesmo no centro da cidade. Sobreviveu a um tosco projecto de reabilitação e tem um simpático Restaurante/Bar, o "Olaria".

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Era uma vez um jornal V

Afinal nem tudo está perdido. A Revista Xis desapareceu. No entanto, o que só por si representaria um brutal aumento dos padrões de qualidade de qualquer jornal (de facto, se o PÚBLICO queria elevar o nível só tinha de extinguir aquela revistinha...), o problema é aqui um pouco mais complexo. A verdade é que a Xis deixou de fazer sentido porque publicá-la seria uma redundância, já que o PÚBLICO é todo ele, agora, uma espécie de Xis.
PS: Uma última edição da Xis constituída apenas pelas capas da Xis não vale o papel gasto. Tenham dó. A floresta merece mais respeito.

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Algo estranho paira no ar



Que é que se passa com Alberto João? O homem adoeceu? «Testículos»? Um indivíduo que abusa do «filho da puta» vem-nos agora dizer que não temos «testículos»? Mas isto são termos que se apresente?

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A velha história

Fontão de Carvalho é arguido no processo relativo ao pagamento indevido de prémios a administradores da EPUL. Fontão de Carvalho omite a sua condição de arguido. Vem a público que Fontão de Carvalho é arguido no processo. Fontão de Carvalho suspende o mandato por três meses. «Foi uma decisão pessoal», diz Fontão de Carvalho. Pois. Uma decisão que já vinha sendo ponderada há muito tempo, por certo.
Um arguido. «Temos condições para continuar», diz Carmona. Dois arguidos. «Temos condições para continuar», diz Carmona. A velha história. Enquanto não morrer toda a gente, há sempre condições para continuar.

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sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Era uma vez um jornal IV

É o novo PÚBLICO o primeiro jornal metrossexual português?

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Descubra as semelhanças


[recebido por e-mail, imagens cortesia do jumento.blogspot]

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Era uma vez um jornal III

Numa só página descobri oito (!) cores diferentes e sem contar com as fotos. Isto já não é o PÚBLICO, é o catálogo da colecção Primavera-Verão da Petit Patapon!

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O Cavalo de Tróia

Parece que andam por aí a espicaçar PR para este exercer o seu direito de veto sobre a lei que regulamentará a prática do aborto. Era de esperar que depois do naufrágio, que o NÃO se virasse para esta última e difícil cartada. O homem não pode fazer nada, meus senhores. Sim, lá vai recomendando “bom senso” e “ponderação”, mas quanto a veto dali não sairá nada. Que querem? Reparem bem nos números: Cavaco Silva foi eleito por 2.773.431 eleitores numas eleições em que a abstenção se ficou por uns 38,47% (seguramente menos, mas isso nunca saberemos com estes cadernos eleitorais) e o SIM ganhou com o voto de 2.238.053 eleitores num referendo que atingiu uma abstenção de 56,39%. Os números são muito idênticos e ainda há a considerar a redistribuição do voto daqueles eleitores que optaram pela abstenção no referendo mas que numas presidenciais certamente que não deixarão de exercer o seu dever cívico. É claro que não vou entrar aqui num devaneio à la Filipe Menezes e afirmar que os abstencionistas são todos do NÃO ou do SIM, basta apenas fazer a redistribuição de uma forma conservadora, ou seja, ponderando a proporção de um e de outro para se concluir que existe uma sobreposição no número de votos dos que elegeram Cavaco e dos que votaram SIM. É verdade que a maior parte deste eleitorado que votou a favor da mudança é de esquerda e não de direita, mas, meus senhores, não foi só com os votos da direita que Cavaco Silva chegou à PR. A esquerda deu o empurrão final. Tal como voltará a dar nas próximas presidenciais. E Cavaco Silva não está a tomar nenhuma posição ideológica, apenas está a fazer as suas contas de merceeiro. É este o labirinto da direita portuguesa que sem querer elegeu um Cavalo de Tróia da esquerda para a PR.

PS: Alberto João é incansável, mas cansativo.

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Outros tempos


Largo da estação 1920


Avª Dr. Lourenço Peixinho 1928




Praça do peixe, cheias de 1938

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quinta-feira, fevereiro 15, 2007

As mais belas rotundas de Portugal [54º]



Na serra também se sente
Saudades do amor;
O leite é branco p'ra gente
Só é negro p'ró pastor.
(Cantiga Popular)
Rotunda em S. Romão, concelho de Seia.
○○○
[Fotografia: Ana Costa]
○○○
O Dolo Eventual convida todos os seus leitores ao envio de fotografias de rotundas de todos os pontos do país, com referência, se possível, à sua localização (freguesia, concelho, distrito), autoria da foto e quaisquer dados adicionais que por bem forem entendidos enviar para
rotundas@gmail.com.

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quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Era uma vez um jornal II

Agora a sério: sou o único que não consegue ler bem os títulos laranja sobre fundo cinza daquele jornal que usurpou o nome do PÚBLICO? Será que graças ao insigne designer descobri uma anomalia oftalmológica?

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This is your last warning


Não me parece. Já estamos em Fevereiro de 2007. Estacionei o carro uma manhã inteira sem pagar estacionamento. Quando cheguei ao carro, em vez de uma contra-ordenaçãozinha, esperava-me este papel azul. Será que os durões estão a amolecer? Que é feito de me trancarem as rodas?
*Eu sei que o papel é verde. Era só para ver se estavam distraídos.

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Casos jurídicos para curiosos não juristas [68º]

Alda e Pedro foram recentemente pais de gémeos. Como seria de esperar, o seu apartamento tornou-se obsoleto para a família. Decidiram então adquirir uma moradia, com espaço exterior a pensar já nas futuras brincadeiras e claro para a nova carrinha familiar, sua aquisição mais recente. Encontrado o imóvel, foi feita a promessa de compra e venda, tendo os pais babados entregue a título de sinal e princípio de pagamento a quantia de € 2.500,00, conforme estipulado naquela promessa. Este valor foi depositado na conta do promitente vendedor que, por sua vez disse que tal montante nunca seria levantado, funcionando como caução e reserva da moradia até ao contrato definitivo ser realizado. Caso a escritura pública não venha a ser realizada no prazo definido pelos contraentes, por culpa do promitente vendedor, têm Alda e Pedro direito:

1) Ao valor do sinal em dobro;
2) Ao valor em singelo do sinal prestado, os € 2.500,00, já que nunca foi levantado, servindo como caução e reserva do imóvel.

* Proposta de solução em futuro post.

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O estranho caso do Teatro Municipal desaparecido


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terça-feira, fevereiro 13, 2007

Um blogger

Paulo Cunha Porto anunciou a sua retirada da blogosfera (e não só). Lamento, mas compreendo a decisão. Um abraço, Paulo!

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Valio$as alteraçõe$ climática$


O tempo passou a ter lugar de destaque e direito a prime-time nas televisões, mas as alterações climáticas ameaçam ganhar ainda maior lugar de destaque ao longo deste século.
É inevitável falarmos deste assunto quando já hoje em dia sentimos alterações profundas no clima e ainda está apenas no começo.
As necessidades energéticas mundiais e a falta de alternativas aos combustíveis fosseis, por falta de vontade dos governos, ou por puro e simples lobby bem organizado entre países produtores e multinacionais que exploram, tem empurrado a generalidade do planeta para a dependência energética. Enquanto isso acontece, vão acumulando-se as emissões poluentes, o aumento da temperatura global e o degelo.
As famosas economias emergentes, aquelas em que nós temos de pôr os olhos, cheias de bons exemplos não parecem ser exemplo para ninguém no aproveitamento energético e o ocidente pede, ou exige, que ao contrário das nossas economias, as deles cresçam de forma sustentada em respeito pelo ambiente para que nós possamos levar muito mais tempo a adaptar as nossas.
Nesta área Portugal tem sido um aluno mal comportado. Não fazemos nada de particularmente relevante para prevenir a degradação do ambiente, além de medidas evidentes como os aterros em vez das lixeiras. Aliás, vivemos um paradoxo em que o nosso ambiente ainda se vai mantendo (do ponto vista local, claro) porque a nossa economia é fraca.
Ainda assim, e porque nem tudo pode correr mal, estamos a começar a destacar-nos na produção de energias alternativas, como no caso das eólicas, em que parece que já ocupamos o quinto lugar mundial em investimento, e da central fotovoltaica de Moura (a maior do mundo). Tudo para nos afastar da nossa crónica dependência energética.
O que importa perceber é que o ambiente só pode ter uma solução se ela der dinheiro. Não é possível convencer governos e empresas sobre a importância que tem este assunto para o futuro da humanidade. Não é possível convencê-los do valor intrínseco das medidas que viessem a adoptar, mas antes temos de lhes agitar com milhões em lucros para que possam mudar o seu caminho e passem a investir em protecção ambiental.
Nesse aspecto valha-nos o exemplo de Richard Branson, que gosta de gastar dinheiro em loucuras pessoais e iniciativas filantrópicas. Com 10 milhões de libras conseguiu criar uma indústria de voos espaciais e agora espera com 25 milhões de libras (e com uma ajudinha do Santo Gore), criar uma indústria que salve o planeta da auto-aniquilação. Se não conseguimos unir-nos em torno de objectivos comuns, então que se crie um negócio que resolva o assunto.

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Era uma vez um jornal...

Alguém alguma vez será capaz de explicar o que aconteceu com o Público? Assim, de repente, diria que o Público está (quase) todo ele disfarçado de Revista Xis. Excesso de imagem e excesso de cor. E muita palha, meu deus quanta palha! Quando pago 90 cêntimos espero ler notícias e opinião e não meia página de fotografias enquadradas por títulos em laranja choque. Não lhes dou 6 meses para se arrependerem.

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segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Casos jurídicos para curiosos não juristas [67º]

Chesterfield precisa de dinheiro. Dunhill tem-no. Chesterfield precisa de €18.000,00. Dunhill empresta, mas diz que será necessário Chesterfield assinar um contrato de mútuo num documento particular. Para que este contrato de mútuo seja válido:

1) Chesterfield pode celebrar o contrato de mútuo num documento particular, mas não é necessário que o faça;
2) Chesterfield tem de celebrar o contrato de mútuo num documento particular;
3) Chesterfield tem de celebrar o contrato de mútuo por escritura pública;
4) Chesterfield tem de assinar na mão de Dunhill com uma caneta Uniball preta fina.
*Proposta de solução em futuro post.

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De casada a viúva, de bestial a besta

É muito bom ver a competência, discrição e a rapidez da actuação da PJ neste triller das altas patentes da socialite de trazer por casa do portugalito capa de revista. Qual CIA, NSA ou MI5, a PJ contraria o provérbio "depressa e bem há pouco quem". E a senhora, a tal Das Dores ( pois agora deve ter algumas imagino), tinha toda a razão: “(...) é das melhores polícias do Mundo em investigação criminal (...) Tenho toda a confiança na nossa polícia”, disse à Domingo do Correio da Manhã. É para ter, como se viu não tardou em irem buscá-a a casa. Não há penteado ou pessoas de bem que lhe valham agora, à excepção do Colega Nabais que já cheirou a tragédia e a quem ela agora deve, muito certamente, o seu restante curso de vida. Será este talvez o seu maior débito de sempre. Em risco de perder a sua vida faustosa, deve ter ponderado os gastos e chegou à conclusão que pagaria menos de honorários pela matança de encomenda do que pagaria a um advogado pelo divórcio. Parece que afinal destes últimos honorários não se safa e também não terá que se preocupar com rendas e condomínios. Vai ter na mesma cama e roupa lavada e quem lhe sirva as refeições, se bem que não griffes ou loiça em porcelana e copos de cristal. No fundo e, considerando que sem o marido a sustentá-la ficaria nas ruas da amargura e com mais calotes, esta até parece uma óptima solução pra senhora que poderá não a ter equacionado como afinal vantajosa!

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Abstenção II

Só há dois caminhos para o referendo. Ou se esquece esta tendência de referendar sempre que o parlamento não tem a coragem de decidir ou o referendo, tal como o Pedro refere, se torna vinculativo com uma margem mais reduzida de votantes obrigatórios ou até deixa de ter essa necessidade mínima como qualquer outra eleição nacional.
A meu ver o referendo é um bom instrumento, mas reflecte uma ideia de democracia participativa que infelizmente ainda não atingimos. Pegando em dois exemplos frequentemente invocados pelos defensores do referendo para reflectir sobre as suas vantagens, facilmente concluímos que as realidades da Suiça e dos EUA não são comparáveis entre sim e muito menos com Portugal.
A Suiça tem por hábito referendar diversos assuntos, várias vezes ao ano, e não existe qualquer limite à matéria referendável. Tudo pode ser referendado, desde matérias económicas a politicas de imigração. Na Suíça resulta em grande medida por estarmos a falar de um estado federal, mas de muito pequena dimensão, com uma grande tradição participativa, onde ainda hoje é possível votar de braço no ar grande parte dos assuntos das comunidades, pois creio que esse tipo de voto foi abandonado nas votações nacionais. Os suíços estão habituados a referendar e basicamente isso é uma das essências do estado helvético como o conhecemos. É o equilíbrio que previne a desagregação.
Nos EUA não existem referendos, pelo menos que eu me lembre, de carácter nacional. Logo a realidade não é comparável. Existem sim, inúmeros referendos estaduais sobre as mais disparatadas questões que invariavelmente se misturam com as eleições que decorrem em simultâneo. Como por exemplo um Governador que pretendia instituir uma lotaria entre os eleitores que realmente fossem votar. Ao contrário da Suiça e até de Portugal, as matérias não são alvo de um debate público. Antes são alvo de meia dúzia de reportagens em canais de televisão rivais e imediatamente submetidas a referendo o que resulta quase sempre em manutenção do Status Quo anterior tal a carga de conservadorismo demagogo que geralmente é utilizado.
Portugal felizmente não tem a tradição americana de referendar e infelizmente não tem a tradição de democracia representativa da Suiça. E talvez por isso mesmo não faz sentido continuar a referendar matérias que a Assembleia da República é perfeitamente capaz de legislar.
Talvez haja ainda um caminho longo a percorrer, como por exemplo um maior respeito e uma discussão séria sobre as petições encaminhadas à Assembleia por grupos de cidadãos, como forma de abrir um maior espaço à participação séria dos cidadãos. Pelo menos daqueles que se importam.
Não posso concordar com o David. Não é imaginável, por mais que se lamente os níveis de abstenção, introduzir sanções pelo não usufruto de um direito. Isso retiraria qualquer valor ao sufrágio directo, universal e secreto, havendo coacção sobre alguns a que o estado conseguisse pressionar em detrimento de todos os outros que poderiam continuar a abster-se normalmente. Além disso a única alternativa é tornar o voto obrigatório, mas ainda assim teríamos que nos debater sobre o que fazer se ainda assim os portugueses não quisessem lá por os pés. Ou então agora estariamos a falar de outra realidade, que seriam os votos em branco e os nulos.

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Abstenção

Subscrevo por completo o que o Pedro aqui diz. Mas eu vou ainda mais longe: não me repugnaria que no acesso à função pública e na progressão da carreira fosse considerado, na selecção dos candidatos, o cumprimento dos deveres cívicos. O funcionalismo público deveria ser um escol profissional, técnico e cívico.
PS: Não percebo como é que se avança para um referendo sem uma limpeza prévia dos cadernos eleitorais. Seria bom que, mesmo a posteriori, se verificasse qual teria sido o resultado final do referendo com cadernos eleitorais realistas. Aposto que seria vinculativo...

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domingo, fevereiro 11, 2007

Ilações

Na mesa de voto em que tive a honra de participar, em 1000 eleitores votaram 302. Ganhou o Não por pequena margem. A mesa de voto em que tive a honra de participar não foge significativamente aos resultados nacionais. De acordo com as últimas projecções, haverá cerca de 60% de abstenção.
Devem ser retiradas destes resultados as devidas ilações: o referendo deve tornar-se vinculativo ainda que haja menos do que 50% dos votos + 1. O eleitor, num país em que o voto não é obrigatório - como é o nosso, felizmente - tem liberdade no votar e de votar. Se optou por não votar, tal só poderá significar que o eleitor transferiu o ónus da decisão para os outros eleitores. Interessa apenas, em democracia, que haja o direito: o qual é livre de ser exercido ou não. O eleitor tinha o direito e optou por não exercê-lo. Tão simples quanto isso.

O leitão e o espumante servido à malta da minha mesa, às 18h00m, confesso, foi o auge da votação. Excelente mesa me calhou. :)

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D. Laura? Não conheço! Não sei quem é! Nunca ouvi falar...


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sábado, fevereiro 10, 2007

Rivoli: 1991-2007

A argumentação da Câmara em resposta à providência cautelar interposta pelo PS para suspender a entrega do Rivoli ao La Féria é esclarecedora: «No âmbito das relações entre a Culturporto e o Município nunca se colocou a hipótese de ser celebrado um contrato de concessão de um serviço público. Já que manifestamente não há aqui nada que se assemelhe a um serviço público». É claro que estamos a falar de conceitos jurídicos que não devem ser descontextualizados da circunstância em que são aplicados e do conjunto da argumentação, mas… a verdade é que para autarquia “cultura” e “serviço público” parecem ser inconciliáveis como água e azeite. A não ser que se considere o automobilismo como uma expressão cultural e, aí sim, teríamos serviço público. O Rivoli foi vítima deste neo-filistinismo que, não sendo invenção da actual gestão municipal, tem nela um excelente representante. Como foi anunciado - e não negado pelo site da CMP – o descalabro do Rivoli coincide com a gestão PSD/CDS, o que só quer dizer que a solução agora preconizada pela autarquia apenas é uma resposta ao problema por si mesma criado. E ainda há quem a elogie como quem elogia o miúdo traquina que quebra um vaso e que disfarça a asneira colando com cuspe os cacos ao mesmo tempo que despacha as culpas para o gato. É assim. A não ser que se acredite que tudo isto se trata de uma acção concertada para entregar o Rivoli ao La Féria. Se assim fosse teríamos aqui mais um daqueles recordes do Guiness que tantos adeptos têm por cá. Desta feita seria o prémio Guiness para a maior passadeira vermelha do mundo.
É claro que existem responsabilidades que devem ser assacadas à autarquia pela situação a que se chegou. Disto não tenho eu qualquer dúvida, da mesma maneira que não tenho qualquer dúvida sobre a responsabilidade dos agentes culturais que se deixaram dormir no ponto e até da própria cidade. Sim, da cidade. Um dia destes, o Carlos Dias, fez-me chegar às mãos uma pequena entrevista que a Manuela Melo deu ao Expresso em 1991. Não sei se se lembram, era naquele tempo em que o Porto fazia lembrar uma cidade ou que, pelo menos, tinha pretensões de chegar a tal. Os tempos eram outros e existia uma coisa que os mais velhos se devem lembrar: um política cultural da Câmara Municipal. Foi justamente por aí que nasceu o Rivoli tal como o conhecemos hoje (o edifício, entenda-se). Dizia então Manuela Melo: «Cabe à Câmara criar as estruturas e os esquemas de gestão. Agora vamos ver qual a capacidade desta cidade de fazer juz àquilo que tem dito: que no Porto não há sítios para ir. Então, depois vão ter de participar, porque nada se aguenta sem público. Mas continuo a achar que existe uma grande apetência nesta cidade por acções culturais, e é com base nisso que estamos a investir.» Mas a cidade mudou-se de cidade e a baixa foi ficando cada vez mais vazia. Os cinemas foram os primeiros a encerrar e agora é a vez dos teatros. Em certa medida, até podemos dizer que a Culturporto conseguiu um pequeno milagre com as prestações que conseguiu atingir até lhe terem puxado o tapete debaixo dos pés. Na baixa, as magníficas lojas que herdámos dos séculos XIX e XX desapareceram e os espaços foram sendo ocupados por chineses, paquistaneses e lojas dos 300. O Rivoli – Teatro Municipal desapareceu e deu lugar ao La Féria. Sinais dos tempos…

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sexta-feira, fevereiro 09, 2007

IVG: lições de campanha

Este referendo já serviu para alguma coisa: para aferir o grau de incivilização a que chegámos. Nunca fomos tão feios, tão porcos e tão maus. Francamente! Bom... talvez esteja a exagerar um pouco: na verdade, sem que há uma oportunidade, por mais pequena que seja, os nossos mais secretos talentos vêm ao de cima.
Outra lição prática: independentemente do resultado final, que isso agora não interessa, seria bom que se adoptassem algumas regras de bom senso quanto ao recurso a crianças nas campanhas publicitárias e políticas. Existem países que pura e simplesmente baniram a publicidade dirigida a crianças e que condicionaram fortemente a exploração da imagem de crianças em spots publicitários. Mas isso são os nórdicos, esses bárbaros libertinos que não enxergam o pecado irremissivel do aborto.

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Pensamentos: A diagonal da vida

Ao olharmos o caminho que percorremos na vida, ao abarcarmos o seu «erróneo curso labiríntico» (Fausto), não podemos deixar de ver muita felicidade malograda, muita desgraça atraída, e talvez facilmente exageremos nas repreensões a nós mesmos. O curso da vida não é certamente a nossa obra exclusiva, mas o produto de dois factores, a saber, a série dos acontecimentos e a das nossas decisões. Séries que sempre interagem e se modificam reciprocamente. Além disso, há o facto de que, em ambas, o nosso horizonte é sempre bastante limitado, na medida em que não podemos predizer com muita antecipação as nossas decisões e muito menos prever os acontecimentos; na verdade, de ambos conhecemos com justeza apenas os acontecimentos e decisões actuais. (…) Tudo o que conseguimos é tomar decisões sempre segundo a medida das circunstâncias presentes, na esperança de fazê-lo bem, para desse modo nos aproximarmos do alvo principal. Na maioria das vezes, portanto, os acontecimentos e as nossas intenções básicas são comparáveis a duas forças que agem em direcções opostas, sendo a diagonal resultante o curso da nossa vida.


Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'

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As mais belas rotundas de Portugal [53º]


«É com prazer que lhe envio uma foto da rotunda que existe em Silvalde, concelho de Espinho, muito perto da Junta, da Igreja e da Banda Musical de Silvalde. Muito movimento, como se poderá depreender.»
○○○
[Fotografia e texto:
Octávio Lima]
○○○
O Dolo Eventual convida todos os seus leitores ao envio de fotografias de rotundas de todos os pontos do país, com referência, se possível, à sua localização (freguesia, concelho, distrito), autoria da foto e quaisquer dados adicionais que por bem forem entendidos enviar para
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Sísifo e o trabalho sem esperança [37 de 100]

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quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Os lados da política

Depois do referendo sobre a IVG, a blogoesfera dedicar-se-á em grande medida ao interesse que suscitam as eleições presidenciais francesas.
Muito se discute nesta eleição. Existem duas visões em disputa sobre o cada vez maior problema social de determinadas classes suburbanas, que com mais ou menos razão acaba por levar a extremismos religiosos na Europa, mas principalmente está em jogo o desbloquear do impasse em que caiu a Europa depois do Não francês no referendo constitucional.
Ségolène Royal ou Sarkozy vão disputar dois campos ideologicamente opostos ou talvez não. Afinal tal como em Portugal é o centrão que vai acabar por dar a vitória a um deles. Resta saber é se o centro francês se encostou definitivamente a uma direita conservadora com laivos demagógicos de extrema-direita, ou se Ségolène Royal conseguirá unificar os interesses de uma esquerda dividida e dispersa por inúmeras organizações na tentativa de apagar todos os fogos sociais.
Para isso Ségolène Royal teve de encostar o seu discurso ao centro, ou melhor, arrumou as suas malas e rumou ao centro como única forma de conseguir ganhar esta eleição. Já por cá vimos isso acontecer com Sócrates.
Há uns dias uma colaboradora daquelas que acabam sempre despedidas e que invariavelmente escrevem livros sobre os famosos (pensava que isto só acontecia nos EUA), revelou um lado mais sombrio da candidata do PSF. Aparentemente a senhora tem um dark side em que se revela oportunista e com tendência para a dispersão.
O problema é que este tipo de revelação pode ser sempre um tiro no pé de quem opta por a revelar com fins políticos. Noutras alturas talvez não, mas agora o oportunismo politico parece ser uma qualidade muito apreciada pelos eleitores. A fundamental característica de todos os que sabem mandar, mesmo que não conheçam bem a realidade. Estranhamente tranquiliza os eleitores, saber que ainda que não se saiba o que se faz, alguém na sombra acabará por saber, desde que haja alguém forte no poder.

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Coisas que me irritam

Na Baixa do Porto, duas alunas de um colégio católico privado, devidamente fardadas, distribuem material de campanha do "Não". Não deverão ter mais de 12 anos de idade. Mas onde é que pára o bom senso?

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SIM

1. Apesar de desafiado por uns e por outros, optei por não participar no debate sobre o aborto. Tomei esta decisão basicamente por duas razões: 1º) porque todos os argumentos legítimos já foram usados por ambas as partes, não havendo nada de novo a acrescentar ao debate; 2º) porque seria de esperar que ambas as partes não resistissem à tentação dos argumentos falaciosos e populistas. Desta guerra ninguém se pode orgulhar e encontro motivos para censurar qualquer uma das partes, embora o “Não” neste aspecto bata aos pontos o “Sim”.

2. Devo confessar que aceito todos os argumentos do “Não”, mas mesmo assim vou votar “Sim”. O motivo é simples: os argumentos não me convencem porque se referem a outras questões que não àquela que está em cima da mesa (o argumento fiscalista é um bom exemplo disso mesmo). Sem pretender entrar no debate, aproveito esta ocasião para expressar publicamente o meu sentido de voto. Mais. Sem a intenção de entrar na campanha a favor do “Sim” queria deixar aqui o relato pessoal sobre este assunto. Não valendo como argumento, vale como nota de uma tentativa de tornar mais clara a minha maneira de sentir este problema.

3. Não sei se sabem, mas eu sou o 9º filho de uma família de 10 irmãos. Todos do mesmo pai e da mesma mãe. Uma raridade de que muito me orgulho. A minha mãe deu à luz e educou os dez filhos com toda a dedicação e imparcialidade, mas não sem grandes sacrifícios como devem imaginar. Só para ilustrar o que acabei de dizer: pelo natal todos nós recebíamos prendas de fazer inveja a todos os colegas da escola. E como conseguia ela esse enorme feito? Fácil! Começava a planear o natal ainda em Agosto. Bom, adiante. Ora, calhou em certa ocasião que no conclave de vizinhas, que se reunia todas as tardes lá em casa, surgisse o boato de que uma jovem qualquer, filha de fulano, tinha acabado de fazer um “desmancho”. O boato – com fundamento, de resto – desencadeou um chorrilho de censuras e até de insultos por parte na ala beata do dito conclave. Foi como se uma fúria moralista tivesse tomado conta daquelas mulheres ociosas: cada uma falava mais alto do que a outra e cada uma competia com as demais nos impropérios e na perícia na aplicação do veneno na vida alheia (quem já assistiu a um destes concílios sabe bem do que falo…). O frenesim foi subindo até que alguém, em boa hora, se lembrou de perguntar à minha mãe o que pensava sobre o assunto. E o que ela disse? Apenas que fossem para casa tratar dos filhos e que deixassem a rapariga em paz que ninguém tinha nada a ver com vida dos outros e que cada um é que sabia de si. E no fim ainda acrescentou: “Ou julgam que isto de criar filhos é para todos?”

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Grandes portugueses

[Mário Soares, referindo-se ao programa «Grandes Portugueses»]
Não, não é nada um disparate. Obviamente não é disparate nenhum. Então um programa onde se apresenta uma listagem consultável pelo anónimo desconhecedor dos grandes portugueses de todo o sempre, como é o caso de Cristiano Ronaldo, da Irmã Lúcia, de Alberto João Jardim, de Pinto da Costa, é um disparate? Pode lá ser.
Peca por defeito. O Deco também fazia lá falta.

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quarta-feira, fevereiro 07, 2007

As mais belas rotundas de Portugal [52º]


«Ó Portugal,
se fosses só três sílabas de plastico,
que era mais barato!»
○○○
Rotunda de plástico em Setúbal.
○○○
[Fotografia e texto:
António Machado]
○○○
O Dolo Eventual convida todos os seus leitores ao envio de fotografias de rotundas de todos os pontos do país, com referência, se possível, à sua localização (freguesia, concelho, distrito), autoria da foto e quaisquer dados adicionais que por bem forem entendidos enviar para rotundas@gmail.com.

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terça-feira, fevereiro 06, 2007

Hortaliças de sobrevivência

Vim morar para o subúrbio em 1983. Na altura fiquei com a sensação que tinha mudado de país, até porque ir ao médico a Lisboa passou a ser necessário quase um dia inteiro. De certa forma até tinha mudado de país. No país onde eu vivia não tinha matas ao lado de casas, havia telefones públicos e não havia tantos buracos.
Mas principalmente não havia, ou pelo menos eu não via, hortas. Essa foi uma realidade a que tive de me habituar. Os homens no subúrbio dedicavam-se à inevitabilidade de ocuparem um terreno baldio para passarem todo o tempo disponível a cavar e plantar couves-galegas e batatas. O meu pai não foi excepção, e mesmo o meu ódio visceral à couve-galega não foi suficiente para o afastar da horta de onde o nosso Trix (o nosso pastor alemão), acabou por ser roubado (mais uma boa razão para eu odiar aquilo). Quando eu cheguei ao subúrbio, a camioneta das mudanças, de cuja janela eu vim dependurado, trouxe-nos por um tortuoso percurso que mais tarde identifiquei como sendo a estrada de Sintra. Ai todos os bons pedaços de terreno laterais à estrada, tinham sido devidamente aproveitados para fazer divisões em contraplacado ou Lusalite, o que continuou a acontecer após a construção do IC19 ou da N117.
Nesses locais todos os portugueses involuntariamente suburbanos e órfãos de um passado quase sempre rural, tentavam produzir bens de consumo que permitissem canalizar o pouco dinheiro para outras prioridades. Essa realidade acabou, mas as hortas continuam a existir.
Os portugueses já não cavam couves-galegas, nem batatas ou raminhos de salsa nos baldios. Continuam a alimentar uma nostalgia rural, mas afogam as suas mágoas nos cafés e agradecem o advento da Sport TV. Mas as hortas, essas continuam nos mesmo baldios ou noutros que entretanto surgiram à medida que foi aumentando a pressão urbanística. Mas agora os agricultores são de outras raças e origens. Não são brancos, ou nalguns casos são mais brancos. Nunca ouviram dizer que o Alentejo era o celeiro de Portugal e nunca quiseram uma vivenda com azulejos.
Uma visita de fim de semana a qualquer hipermercado no subúrbio permite ver que essa hortas de beira de estrada estão cheias. Cheias de couves-galegas, batatas e cheias de gente que avidamente divide as suas hortas com o mesmo contraplacado e o mesmo Lusalite anteriormente utilizado pelos portugueses. Nós vamos de carro e eles indiferentes, cavam. Os protagonistas são diferentes mas a razão é a mesma. Sobrevivência

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segunda-feira, fevereiro 05, 2007

A manutenção do Estado laico

Observações mais ou menos xenófobas ou racistas à parte, de governos mais ou menos conservadores e a cair para a extrema-direita, mas pode estar a correr-se o risco de abrir uma enorme caixa de Pandora.
A existência de um Estado laico é a essência da democracia tal como a conhecemos. Ainda assim é natural que os fundamentos do estado laico, a sua carta de valores, possam ser fundados em determinados conceitos religiosos por razões de natureza cultural, como por exemplo acontece entre nós. Isso não deverá querer dizer, nunca, uma submissão do estado ao poder religioso, ainda que partilhem alguns valores comuns.
Muitas vezes o Estado laico vai buscar à religião que lhe serve de contexto cultural algumas disposições, preceitos ou costumes e dá-lhes força de lei, e retira outras que considera não poderem igualmente ser atribuídas a toda uma sociedade, porque um Estado laico não pode imaginar ou conceber regras para uma sociedade, com base em valores supostamente espirituais.
É natural e do interesse do Estado laico que reconheça e receba estímulos de diversas origens religiosas, de forma a melhor poder conviver com diversos contextos culturais que nos dias de hoje são cada vez mais expressivos, mas deve, precisamente perante a multiplicidade de religiões e o fim da hegemonia cultural de uns povos sobre outros, manter-se equidistante em relação a todas as religiões.
A ideia peregrina que uma lei religiosa como a Charia, pode conviver plenamente com a lei de um Estado laico é no mínimo um absurdo, mesmo que ela se pretenda aplicar apenas sobre o direito de família, como se pretendia no Canadá.
Não é suposto, ainda que se respeite a individualidade de cada um, que a lei reconheça dentro do mesmo ordenamento jurídico dois conceitos sobre o direito de família. Um laico e um religioso. Especialmente quando em muitos aspectos a lei islâmica é contrária à lei vigente no Canadá e ao direito laico, e muitas vezes chocante para os ocidentais.
Ainda que em alguns aspectos esta adaptação pudesse ajudar, atrapalharia certamente muito mais, na medida em que perturbaria o carácter geral e abstracto da lei. Não se trata de uma discriminação à comunidade islâmica, na qual muitas mulheres islâmicas não pretendem, nem subscrevem o interesse de trazer a Charia para o ordenamento jurídico, mas sim a premente necessidade de manter o ordenamento jurídico afastado de um terreno pantanoso, donde muito dificilmente conseguiria sair.

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