Dolo Eventual

David Afonso
[Porto]
Pedro Santos Cardoso
[Aveiro/Viseu]
José Raposo
[Lisboa]
Graça Bandola Cardoso
[Aveiro]


Se a realização de uma tempestade for por nós representada como consequência possí­vel dos nossos textos,
conformar-nos-emos com aquela realização.


odoloeventual@gmail.com


Para uma leitura facilitada, consulte o blogue Grandes Dramas Judiciários

Visite o nosso blogue metafísico: Sísifo e o trabalho sem esperança

O Dolo Eventual convida todos os seus leitores ao envio de fotografias de rotundas de todos os pontos do país, com referência, se possível, à sua localização (freguesia, concelho, distrito), autoria da foto e quaisquer dados adicionais para rotundas@gmail.com


Para uma leitura facilitada, consulte o blogue As Mais Belas Rotundas de Portugal


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quinta-feira, agosto 31, 2006

100 imagens reconfortantes para fumadores em tempos difíceis (65ª)


[Mais uma sugestão de PCP]

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As mais belas rotundas de Portugal [19º]

Ninguém melhor que os habitantes de Portalegre autores desta foto, e que diariamente têm de conviver com este fenómeno, para esclarecerem melhor esta construção, que apelidaram de Rotunda – Penico.

«Rotunda penico: bem... palavras pra quê?! Não é que parece mesmo. Esta rotunda fica situada no centro da cidade, no Rossio. É mais uma, das muitas, que nem sequer estão no eixo da via, mas adiante.
É suposto ser um "espelho de água", com repuxos, mas a maior parte do tempo está assim, parada. O que lhe acentua o ar de penico.
É local privilegiado para a comemoração das vitórias da nossa Selecção.»

Resta-nos esperar que apenas utilizem a rotunda para este tipo de comemorações e que ninguém passe a utilizá-la com outros fins…
[Fotografia: Portus Alacer]

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Um Rio de propaganda

Rui Rio é um homem diligente e não suporta que a sua cidade seja conspurcada por cartazes do BE e por faixas do PCP a anunciar a Festa do Avante!. Vai daí, solta os “serviços competentes” em cima deles. Muito bem. Só estranho que a diligência do autarca não chegue aos cartazes comerciais que ocupam de uma forma selvagem as paredes da invicta e que ocupam, aliás, numa proporção infinitamente maior do que os cartazes partidários ou sindicais. É óbvio que as preocupações higienistas do executivo PSD/CDS têm uma inclinação ideológica. Mas fazem bem. São públicos e notórios os inumeros protestos dos turistas e dos residentes contra a proliferação de propaganda política pelas ruas do Porto. Quanto ao lixo em que estamos enterrados até ao pescoço (esta semana os “serviços competentes” demoraram quatro dias para removerem três sacos de lixo no Largo Duque da Ribeira em pleno centro histórico classificado como Património da Humanidade...) não se preocupe. Dá-nos aquele encanto especial. Afinal de contas o turista sempre pode visitar o terceiro mundo sem sair da Europa e sem arriscar a pele.

OBS: Está encontrada a solução para que a cidade fique limpa que nem um brinco. Basta colar material de propaganda do BE, do PS ou do PCP nos sacos de lixo, nas esquinas-urinol, nos passeios, nos contentores e já está! Limpinho! Também podem tentar com material do PSD e do CDS, mas não garanto que estes lavem mais branco...

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Leituras eventuais


«É necessário, pois, que dar se torne adquirir um poder. O dom tem a virtude de uma superação do sujeito que dá, mas em troca do objecto dado, o sujeito apropria-se da superação: encara a sua virtude, aquilo para que teve força, como uma riqueza, como um poder que doravante lhe pertence. enriquece-se de um desprezo da riqueza e aquilo de que se revela avaro é o efeito da sua generosidade.»
[Georges BATAILLE, A Parte Maldita]

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Manuel Queiró e as salas de chuto

Manuel Queiró, no PÚBLICO de ontem, gastou 918 palavras para dizer aquilo que queria dizer apenas em 5: “Não às salas de chuto!”
Para Manuel Queiró, uma medida como a implementação das salas de injecção assistida reduz-se apenas à retirada do consumo da frente dos olhos da maioria indiferente. E como pretende o ilustre colunista fazer a diferença? Adivinhem... pela “dissuasão”, pois claro! A direita não se endireita...

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quarta-feira, agosto 30, 2006

As mais belas rotundas de Portugal [18º]

A rotunda que agora se situa nos quatro caminhos no Cacém é o singelo exemplo das rotundas que funcionam.
Antes desta rotunda ornamentada com esta pobre e raquítica palmeira, foram tentadas as mais variadas possibilidades de regular o tráfego, sem qualquer sucesso. Foi cruzamento, teve policia sinaleiro e semáforos que faziam arrastar a fila por quase um km. Só depois de todas estas tentativas se colocou esta rotunda, que apesar dos receios iniciais resultou na perfeição.
Foi a solução necessária para um problema de trânsito, com custos controlados porque a pobre da palmeira, os pequenos arbustos e a relva (se é que aquilo se pode chamar relva) só são regados quando chove.
[Fotografia: Nuno Guronsan]

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Sem luz ao fundo...

Lisboa tem um problema com os túneis e o País tem um problema com as empresas de construção.
Depois de anos e anos de intervenções adiadas no túnel do Rossio, o seu encerramento (urgente) em 2004 obrigou a uma intervenção de dois anos.
Mais mês, menos mês (até porque já estamos todos habituados a falhas no cumprimento dos prazos) esperávamos que lá para o fim do ano a obra estivesse despachada.
Ontem terminava o prazo original, no qual a empresa adjudicada (Teixeira Duarte) deveria entregar a obra, mas a Refer revela hoje que a obra não só não está pronta, como ainda por cima a empresa pede um adiamento de cinco anos... sim, até 2011...
A Refer pretende ser ressarcida dos prejuízos e diz não aceitar os argumentos que a Teixeira Duarte apresenta, mas a verdade é que não vai haver túnel do Rossio tão depressa.
A Refer, e por acréscimo os utentes da linha de Sintra passaram a estar reféns de uma qualquer empresa de construção, que trata as obras públicas como um filão de ouro que é necessário sugar até ao tutano.
Seja qual for a resolução deste assunto, pagam os contribuintes à Refer para que esta encontre uma nova empresa para fazer as obras, e pagam no caso (mais do que eventual) de se chegar a um acordo com a Teixeira Duarte.
Este tipo de irresponsabilidade não é compatível com a capital Europeia que se pretende de Lisboa.

terça-feira, agosto 29, 2006

Carlos Alberto

A Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) Porto Vivo já seleccionou o parceiro para a operação de reabilitação (parcial) do quarteirão Carlos Alberto. Sem surpresa a candidatura vencedora é a da Edifer. Esperemos que o projecto final seja bem diferente daquele desastre proposto no Documento Estratégico elaborado pelo arq. Passos Mealha e Quaternaire, que previa, por exemplo, uma profunda alteração no mítico Café Luso. Seja lá como for, é sempre de saudar o fumo branco que tardava em aparecer. Aguardamos atentos pelas cenas dos próximos episódios...

OBS: Recomendo uma visita ao excelente A Outra Face da Cidade Surpreendente de Carlos Romão

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100 imagens reconfortantes para fumadores em tempos difíceis (64ª)


[Com os cumprimentos do mais social dos misantropos]

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Fui quase apanhado

O http://terra.com.br/ todos os dias deposita nas minhas caixas de correio um e-mail com o título alguém lhe enviou um cartão virtual. Todos. Lá por dentro, lê-se ainda De: amor eterno Para: meu grande amor. Excelentíssimos senhores do http://terra.com.br/, deixem-me que Vos diga: o V. departamento de marketing é brilhante. V. Ex.as estudam afincadamente os hábitos do V. público-alvo, para depois retirarem daí grandes proveitos. Como foram V. Ex.as adivinhar que é normal na minha vida que eu tenha milhares de apaixonadas espalhadas pelo mundo? Como foram V. Ex.as adivinhar que é normal que eu receba cartões diariamente das mesmas apaixonadas com juras de amor eterno? Como foram V. Ex.as adivinhar que é normal que todas me tratem por meu grande amor? Eu sou assim, irresistível. É mais forte do que eu. E V. Ex.as sabem disso. Por isso, quase caí nos V. cartões virtuais.

Juntos pelo strip-tease

1º Encontro Luso-Galaico sobre weblogs


A Universidade do Porto vai organizar o 1º Encontro Luso-Galaico sobre weblogs, o qual terá lugar nos dias 13 e 14 de Outubro.
Inscrições aqui.
Obs: Ora, sendo a blogosfera portuguesa tão activa, como explicar tão baixa interacção com a restante blogosfera de expressão portuguesa? O Brasil é um gigante que nos passa ao lado e mesmo aqui ao lado temos os galegos que falam praticamente a nossa língua. Já para não falar de tudo o resto...

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segunda-feira, agosto 28, 2006

Grandes Dramas Judiciários: Urbino de Freitas (18)

Urbiniana 8:
Minuta do Recurso de Revista no Processo Urbino de Freitas. Porto: Typ. de M. Luiz de Souza Ferreira, 1892
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18. Testemunho de Cardoso Lopes
Na audiência de 25 de Novembro começa por se ouvir o depoimento do Chefe da polícia Judiciária Francisco Cardoso Lopes.
Na noite da morte de Mário, o sr. Comissário da Polícia ordenou-lhe a partida para Lisboa, a fim de averiguar se as amêndoas haviam sido remetidas por Carlos de Almeida e mulher. Reconhecera-se que estes não tinham culpabilidade no crime. Depois, procedera à investigação da casa em que haviam sido compradas, na rua da Betesga. A seguir, fôra a casa do dr. Adolfo Coelho, com o chefe Ferreira. Adolfo Coelho, conduzido ao Comissariado, entregou as cartas de Urbino e fêz as declarações, constantes no processo.
- Delegado: - Sabe se a Polícia de Lisboa procedeu a algumas diligências, por suspeitas, para averiguar se Miss Lothie tinha responsabilidades na remessa das amêndoas?
- Testemunha: - Procedeu. Mas não chegou a prendê-la. Reconheceu-se logo que estava inocente.
A testemunha relata, prosseguindo no seu depoimento, o que se passou nos Arcos em casa de Dona Leocádia de Brito e Cunha, onde estava hospedado o seu irmão Brito e Cunha.
- Advogado: - (depois de várias preguntas que nada esclareceram o fundo da questão) – O dono da confeitaria da rua da Betesga, que reconheceu pelo retrato o comprador da cartonagem, disse o dia em que a vendeu?
- Testemunha: - Disse, mas não posso precisar datas...
- Advogado: - Muitos ou poucos dias antes de o ouvirem?
- Testemunha: - Também não sei.
- Advogado: - Eu avivo-lhe a memória. Não disse que reconhecia a cartonagem como vendida, por ele próprio, em 28 de Março, ao sujeito que se parecia com o retrato que a Polícia lhe mostrou?
- Testemunha: - Não ouvi falar no dia 28. sei que, no dia por ele indicado, podia ter sido comprada pelo dr. Urbino. E já nem me lembro dos dias em que o dr. Urbino esteve em Lisboa.
- Advogado: - Ele foi a Lisboa duas vezes e não se encontrou o seu nome em nenhum hospedeiro.
- Testemunha: - Vi os livros de registo de hóspedes, das hospedarias, e não encontrei realmente o seu nome.
O dr. Temudo rangel salienta que, a princípio, se dizia que o dr. Urbino estivera em Lisboa no dia 28, dia do despacho da encomenda. Diz que o confeiteiro da rua da Betesga, em face do retrato de Urbino, apresentado pela Polícia, «declarou, positivamente», que reconhecia nele o «próprio indivíduo que no dia 28 lhe comprou a cartonagem»; que um sapateiro de Lisboa jurou na Polícia do Porto, na presença do dr. Urbino, que «o viu despachar a encomenda no dia 28»; que um empregado da papelaria da rua Augusta afirmou ter fornecido ao dr. Urbino, no dia 28, o lacre com que lacrou a caixa expedida. E pregunta à testemunha se foram lavrados na Polícia os autos desses depoimentos.
- Testemunha: - Se se lavraram, devem estar juntos ao processo.
- Advogado: - Não estão. E o senhor verificou ou não, nos livros dos hotéis, como já disse, e até em datas muito anteriores a êstes factos, que o nome do dr. Urbino não figurava em qualquer deles?
- Testemunha: - Parece-me que vi todos os livros. Pelo menos vi todas as partes da Polícia, a tal respeito, com data anterior a um ano.
A defesa interroga o chefe Lopes àcerca da diligência aos Arcos, para ouvir Brito e Cunha, respondendo a testemunha às preguntas formuladas, o que nada adianta ao já averiguado.
A seguir, apresenta-lhe a cópia fotográfica dum bilhete e pregunta-lhe se a letra desse bilhete é ou não sua – afirmando que a testemunha encarregou um gatuno, falsificador consumado, de forjar um documento, como escrito pelo sogro dele, testemunha, já falecido, no fito de obter dos herdeiros, por este meio ilicito, livros pertencentes a um cunhado dele, chefe Lopes. E declara que vai contraditar o valor das declarações da testemunha, com o fundamento da falsificação desse documento.
- Juiz: - Eu vou interrogar a testemunha. Depois dou a palavra a V. Ex. para apresentar a contradita. (À testemunha). – Eu não compreendi bem o seu depoimento no que se refere à estadia do Réu em Lisboa nos princípios e fins de Março.
- Testemunha: - Não encontrei o nome dele em nenhuma das partes dos hotéis.
- Juiz: - Na sua vida de polícia nunca encontrou casos em que os hóspedes não são registados nos livros das hospedarias, ou que dão ao registo nomes supostos?
- Testemunha: - Isso encontra-se todos os dias.
- Juiz: - Recorda-se do caixeiro da confeitaria que disse reconhecer em Urbino a pessoa que mandou as amêndoas em 28 de Março?
- Testemunha: - Recordo-me do episódio, mas não da data.
- Juiz: - Os jornais de cá e os de Lisboa publicaram diversos retratos do Réu. E isso podia produzir confusão em muitas pessoas, que, tendo visto o retrato, imaginaram que viram o Réu. Outro assunto: na ocasião da primeira diligência aos Arcos mostraram o retrato do Réu a Brito e Cunha?
- Testemunha: - Não, senhor.
- Juiz: - E quando da segunda diligência, foi alguém a casa do Brito e Cunha antes de lá chegarem o sr. Comissário e mais pessoas encorporadas na diligência?
- Testemunha: - Não, senhor. Pelo menos, que eu saiba.
- Juiz: - (ao Advogado) – Dou a palavra a V. Ex.ª para deduzir a contradita.
O Advogado declina os termos da contradita da testemunha como «suspeita de má fé e maus costumes», por isso que, para haver uns livros que pertenciam a um seu cunhado, procurou um gatuno, perito em falsificações escritas, gatuno nesta data ausente no Brasil, incubindo-o de forjar um documento, imitando a letra do sogro, em que se afirmava que esses livros eram do genro.
O chefe Lopes, ouvido àcerca da contradita, para prova da qual o contraditor não apresenta testemunhas, afirma que tudo isto é «falso, falsíssimo». Esses livros tinha-os ele emprestado ao sogro. De resto, encontram-se em seu poder, entregues espontaneamente pelos herdeiros. Nega que tenha escrito o bilhete exibido em reprodução fotográfica.

Episódios anteriores:1. A rua das Flores e a casa do negociante Sampaio. Os netos de Sampaio. 2. A família do negociante envenenada pelos doces da caixa. 3. Intervenção de urbino de freitas, genro e tio dos envenenados. Os clisteres de cidreira. 4. Morte de Mário, um dos netos de Sampaio. Ressurge o caso recente da morte de Sampaio Júnior, filho do mercador. 5. Interrogatórios de Urbino. 6. Declarações de Adolfo Coelho. 7. Prisão de Urbino, professor da Escola Médico-Cirúrgica 8. As investigações prosseguem. 9. A imprensa e o Ministério Público. 10. Os especialistas e a polémica. 11. A estratégia da defesa. 12. A conferência de peritos e os recursos apresentados por Alexandre Braga. 13. Uma testemunha inesperada. 14. A Urbino tudo corre mal. 15. O julgamento, os incidentes e as testemunhas de acusação. 16. Mais testemunhas de acusação. 17. A carta de Crito e Cunha

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Margem de erro

Definitivamente a margem de erro entrou nas nossas vidas. Já todos tínhamos ouvido falar dela e pensávamos que a margem de erro se aplicava sempre que alguns políticos tinham a esperança de se ver à frente das sondagens num derradeiro esforço para tentar convencer o eleitorado que devia ir votar porque até estava em primeiro se não fosse a margem de erro.
Sondagens e mais sondagens e a margem até passou a ser companheira do "intervalo de confiança" e nós tornámo-nos mais prudentes na análise da realidade. Agora a DGV resolve adaptá-la mesmo sem pedir cavaco ao Governo.
Como aparentemente não é possível verificar se todos os aparelhos de controlo de alcoolemia na posse da Brigada de trânsito da GNR estão ou não calibrados, resolvem aplicar directamente no valor apurado a respectiva margem de erro.
Normalmente quando abasteço combustível ou quando vou à praça comprar alguma coisa vejo um autocolante que faz prova da vistoria adequada ao aparelho de medição de combustível ou do peso das laranjas que eu compro. O objectivo dessa vistoria periódica é calibrar esses instrumentos para que ninguém possa ser roubado. Mas na GNR parece não ser possível essa intervenção.
Então e algum faz ideia de quantas pessoas foram multada e viram as suas cartas apreendidas por causa da margem de erro?
Pois é, parece que alguém se vai ter de lembrar de interpor uma providência cautelar sempre que for apanhado numa operação STOP.

As mais belas rotundas de Portugal [17º]

Qual o sentido oculto desta rotunda?
, perguntaria Fernando António Nogueira Pessoa. O único sentido oculto desta rotunda é ela não ter sentido oculto nenhum.
É sempre bom lembrar que as rotundas são úteis quando são necessárias. Quando não são necessárias, são inúteis. Esta rotunda encontra-se exposta na Praia do Mirante, em Santa Cruz, na freguesia de A-dos-Cunhados [concelho de Torres Vedras]. Nas praias limítrofes - segundo nos informa António Paulino, autor da fotografia - podemos observar ainda mais exemplares desta espécie do género rotundas.
Em redor da rotunda, continua Portugal. Ainda na praia do Mirante, sinalização curiosa: é proibido montar tenda. Sinalização supérflua, diga-se. Quem é que se ia lembrar de montar uma tenda neste local?
Mas a contribuição de António Paulino não termina por aqui. Um pouco mais a Norte, na praia de Santa Rita, bem visível, uma placa indica que naquela direcção se situa a praia/beach. Não fôssemos nós correr o risco de pensar que se trata de uma floresta tropical.
[Fotografia: António Paulino]
P.S.: O Dolo Eventual convida todos os seus leitores ao envio de fotografias de rotundas de todos os pontos do país, com referência, se possível, à sua localização (freguesia, concelho, distrito), autoria da foto e quaisquer dados adicionais que por bem forem entendidos enviar para
rotundas@gmail.com.

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domingo, agosto 27, 2006

Produtos espanhóis violam a lei

A propósito deste e deste post:

Um dia destes comprei num Froiz - uma cadeia de origem espanhola - esta bebida "Danao - bebida refrescante con zumo y leche". Apesar de ter sido comprada num supermercado no Porto, esta embalagem não trazia qualquer rotulagem em português, violando dessa maneira a lei portuguesa e as directivas europeias relativas à protecção do consumidor. O produto apenas trazia informação em castelhano e devo dizer que não era caso único. Não se trata apenas de uma questão linguística, mas essencialmente de uma questão de segurança e saúde do consumidor. Repare-se que esta bebida contém leite, o que o torna particularmente perigoso para um consumidor que sofra de intolerância à lactose. Do ponto de vista económico, também me parece que há aqui uma grande injustiça: para os espanhóis exportar sai barato porque não têm de adequar a rotulagem dos produtos ao país de destino (isto se esse país for Portugal, que tudo permite), mas os poucos produtos portugueses que são exportados para Espanha (Compal, Super Bock,...) têm obrigatoriamente de ser rotulados em castelhano. Assim é fácil (para os espanhóis, claro)!

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PNPOT prorrogado

O período de discussão pública do PNPOT - Plano Nacional da Política de Ordenamento do Território sofreu uma prorrogação do seu prazo limite de 9 de Agosto para 31 de Outubro. Apesar deste esforço de abertura, o país e a blogosfera não estão para aí virados. As preocupações actuais dirigem-se mais para o Ligacaos.
Com esta prorrogação já ninguém poderá alegar falta de tempo. Apenas falta de interesse. É claro que daqui a uns meses, quando já for tarde demais, vão chover os protestos e as críticas. Típico.

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sábado, agosto 26, 2006

Os partidos não sabem fazer contas?

O Tribunal Constitucional multou 13 partidos (nem sabia que havia tantos...) por estes apresentarem contas que divergem dos financiamentos declarados e por não estarem de acordo com os custos inerentes ao seu próprio funcionamento. Para além disso, os partidos também foram penalizados por não efectuarem os depósitos de donativos em contas bancárias próprias para esse efeito, ou seja, o dinheiro acaba invarialvelmente na conta de um militante mais diligente, por exemplo. A informalidade e a obscuridade impedem-nos de saber coisas tão simples e básicas sobre o dinheiro dos partidos como: De onde vem? Quem pagou? Quanto pagou? Quem recebeu? Quando recebeu? Para onde foi? É um verdadeiro buraco negro. E são estes senhores que se propõem a governar Portugal? São estes senhores que se acham no direito de gerir a pouca riqueza do país? Quem se atreverá em falar em rigor orçamental? Por mim está mais do que visto: a reforma do regime devia começar pelo problema do financiamento dos partidos. Assim como está é uma boa estrumeira para toda espécie de corruptos e oportunistas.

PS: Um dado a reter: o CDS/PP do Paulo Portas (as multas referem-se a 2003) afirmou-se como um verdadeiro campeão das multas com 65.650 euros. É caso para dizer que um partido não se mede aos palmos...

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100 imagens reconfortantes para fumadores em tempos difíceis (63ª)





[Gary Cooper por sugestão de aL]

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Anti-Babel

Não sou anti-espanholista nem nada que se lhe pareça. Na verdade, em alguns aspectos, sinto-me profundamente iberista (ou talvez interregionalista). Mas coisas há nos nossos vizinhos que extravasam a minha compreensão. Preocupa-me, sobretudo, aquele misto de provincianismo e de imperalismo que, no dizer de um amigo meu, leva os espanhóis a pedir sempre um mapa-mundi de Espanha. Onde esta mistura se faz sentir de uma forma mais evidente é na incapacidade que eles manifestam em compreender e em falar outras línguas que não o castelhano. Às vezes, nós portugueses, até caimos na asneira de acreditar que a proximidade fonética de algumas palavras nas duas línguas permitiria o mútuo entendimento. Que nada, não há maneira de nos fazermos entender! Vejam estas três situações que aconteceram comigo:
1. No cibercafé para conseguir parar a minha conta, tentava explicar ao funcionário o número do computador por mim usado:
- «Ordenador numero dez»
- ?
- «Dez» (insisto)
- ?
- «Ten?...» (arrisco)
- ?
(Aponto para o computador)
- Ah! Diez!
(A dificuldade estava no "i", ou melhor, na falta dele)
2. No hotel enquanto tentava fazer o check-out, a barreira linguística torna a se manifestar:
- «Habitacion numero cento e sete»
- ?
- «Cento e sete» (Ai, queres ver?...)
- ?
- «Uno, zero, sete» (tentei)
- ?
(Em desespero de causa aponto para o número do quarto na ficha de consumo do mini-bar)
- «Ah! Ciento y siete!»
(Novamente, o "i" que parece fazer toda a diferença)
3. No restaurante, uma corajosa tentativa de pedir frango:
- «Pollo y...» (pronunciando "polo")
- ?
- «Chiken?...» (ai o caraças...)
- ?
Penso um pouco sorrio e peço, convicto: - «Pollo» (pronunciando correctamente, desta vez, "polho")
- «Sí senõr!»
- (Suspiro...)
Gosto de pensar que isto é apenas azelhice deles, mas não é. Espanha é uma espécie de anti-babel, onde todas as línguas são eclipsadas pelo cristalino castelhano (excepto as linguas regionais como o galego ou o catalão e mesmo assim...). Este autismo é de quem tem o rei na barriga.

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sexta-feira, agosto 25, 2006

Aplausos mas...

Finalmente foi aprovado o Plano Nacional contra a Droga e Toxicodependências, o qual prevê a criação de salas de chuto e a colocação de máquinas de troca de seringas nas prisões. O senão, para além do grande senão que é o destes «Planos Nacionais» parirem pouco mais do que um rato, está em que estas salas de injecção assistida vão ser instaladas até 2008 e após definição dos locais prioritários. Temos lenha para arder. Alguma direita vai de certeza surfar nos argumentos populistas e muitos «autarcas» já garantiram o seu ganha-pão eleitoral. Esperar até 2008 é dar o flanco a toda espécie de oportunistas.

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Em Bilbao



A Bilbao vai-se para ver o Guggenheim e, com alguma sorte, uma qualquer exposição interessante no Museo de Bellas Artes de Bilbao. Eu tive sorte porque apanhei o Malévich quase integral (mais de 100 obras!). Por aí a viagem já teria valido a pena. E é de referir que vi Malévich de graça (!) porque às quartas-feiras a entrada é gratuita para todos (Serralves, por exemplo, só oferece esta regalia aos domingos de manhã). Mas o prato forte é e será sempre o projecto de Frank Gehry e, eventualmente, a exposição temporária que se encontra lá dentro, para além da obra residente de Richard Serra (ver fotos clandestinas;). Desta feita também fui bafejado pela sorte porque a exposição temporária era apenas RUSSIA! – uma gigantesca retrospectiva da arte russa desde os ícones e arte sacra até à arte contemporânea, passando pelos vários ismos sem esquecer, claro está, o realismo socialista (meus caros, ver a arte estalinista ao vivo é outra fruta...). É uma das exposições mais importantes a decorrer na Europa, não só pela relevância histórica e estética dos exemplares expostos, como também porque se trata da única oportunidade de os vermos todos reunidos. Se assim não fosse, para ver as obras aqui expostas teriamos de fazer um périplo por vários museus russos, europeus e americanos.


Agora devo dizer que os portugueses não saiem lá muito bem tratados do Guggenheim. Apesar de existir informação impressa em várias línguas, incluíndo em Galego e em Euskara, português nada! A situação repete-se também no serviço de audio-guia. É claro que apontei na ocasião esta falha e a resposta que me foi dada não me satisfez. Segundo os serviços do museu a inexistência de informação em português deve-se ao facto de existirem poucos turistas portugueses. Ora, ao que parece os serviços de turismo de Euskadi não estão de acordo com o Guggenheim, já que têm à nossa disposição toda a informação da praxe em boa língua lusa. Aliás, eu próprio constatei a presença de muitos (pá, mesmo, mesmo muitos...) portugueses nas ruas de Bilbao e no hotel onde fiquei hospedado. Ainda por cima somos vizinhos! E uma língua transcontinental, caramba! Não somos propriamente uma lingua perdida no norte de espanha que ninguém fala...
Bom, mas há mais: enquanto admirava o quadro pintado por Karl Briulov em 1834, inspirado no episódio de Inês de Castro, apercebi-me de uma besteira sem tamanho. O audio-guia «explicava» que se tratava de uma obra inspirada nos versos de um poeta romântico português chamado Luís de Camões! Luís de Camões poeta romântico! Essa é boa! Este espanhóis têm cá uma graça...



(Este nosso amigo galego também gostou do quadro – ou do motivo? – mas não se apercebeu da gralha. Nem os galegos nos valem?...)

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Proposta de solução dos casos jurídicos 36 a 40 para curiosos não-juristas

As partes fundaram a vontade contratual na convicção da verificação futura de um certo evento: o desfile do Rei Mswati III. Se o rei não desfilasse, o senhorio não teria arrendado o espaço - muito menos por uma exorbitância -, nem o arrendatário o teria arrendado. Se ocorresse aos contratantes a possibilidade de falhar tal desfile, não teriam contratado sem cláusula aposta no negócio precavendo a situação. Portanto, no fundo, trata-se de uma questão de boa-fé negocial.
Segundo o n.º 1 do art.º 437.º do Código Civil, «Se as circunstâncias em que as partes fundaram a decisão de contratar tiverem sofrido uma alteração anormal, tem a parte lesada direito à resolução do contrato, ou à modificação dele segundo juízos de equidade, desde que a exigência das obrigações por ela assumidas afexte gravemente os princípios da boa fé e não esteja coberta pelos riscos próprios do contrato».
Proposta de solução: 1) Sim. Assim o disseram Karloos, Xor Z, C. Alexandra.
Nos termos conjugados dos artigos 2133.º n.º 3 e 1785.º n.º 3, ambos do Código Civil, embora o direito ao divórcio não se transmita por morte, a acção pode ser continuada pelos herdeiros do falecido para efeitos patrimoniais, não sendo o cônjuge chamado à herança se a sentença de divórcio vier posteriormente a ser proferida.
Proposta de solução: 1) Sim, é possível dar continuidade à acção de divórcio litigioso; mais: sendo decretado, evitará que Bina seja chamada à herança. Acertaram João Luís Pinto, Alaíde Costa, Karloos, Mário Almeida, Nuno Maranhão, Xor Z, Pedro Silva, C. Alexandra.
A violação culposa dos deveres conjugais é fundamento para acção de divórcio litigioso, quando a violação, pela sua gravidade ou reiteração, comprometa a possibilidade da vida em comum (art.º 1779.º CC). Os cônjuges estão reciprocamente obrigados, de acordo com o art.º 1672.º do CC, aos deveres de respeito, fidelidade, coabitação, cooperação e assistência. Naturalmente, os deveres de cooperação, coabitação e assistência não foram violados. Foi claramente violado, sim, o dever residual de respeito, não se podendo neste caso falar em infidelidade - uma vez que esta envolverá outro ser humano. O acto de Susana foi de tal modo grave Aurélio que comprometeu a possibilidade da vida em comum.
Os nascituros não concebidos, que sejam filhos de pessoa determinada, viva ao tempo da sucessão, têm capacidade sucessória, mas apenas no que concerne à capacidade testamentária e contratual (n.º 2 do art.º 2033.º CC). António bem pode esfregar as mãos.
Proposta de solução: 1) Sim. João Luís Pinto, C. Alexandra e Luís Bonifácio assim o disseram.
De acordo com o art.º 1677.º do CC, no capítulo que regula os efeitos do casamento, cada um dos cônjuges conserva os seus próprios apelidos, mas pode acrescentar-lhes apelidos do outro até ao máximo de dois. Porém, esta faculdade não pode ser exercida por quem conserve apelidos de casamento anterior.
Proposta de solução: 2) Não. Acertaram Luís Bonifácio, Karloos, Nuno Maranhão, João Luís Pinto, Alaíde Costa, C. Alexandra, Xor Z.
Classificação:
- Karloos - 22 pontos
- João Luís Pinto - 16 pontos
- Mário Almeida - 14 pontos
- Tiago Alves - 13 pontos
- C. Alexandra - 9 pontos
- Nuno Maranhão - 8 pontos
- Xor Z - 7 pontos
- Alaíde Costa, Luís Bonifácio, David Afonso ex aequo - 6 pontos
11º - a_mais_linda - 3 pontos
12º - Pedro Silva - 2 pontos
13º - Sónia Monteiro, João Oliveira Santos, José Barros, Blogo, Rickster ex aequo - 1 ponto
[Houve um totalista: C. Alexandra.]
[1 ponto por cada resposta correcta; bónus de 4 pontos para totalista de uma série de 5]
[Cada campeonato tem 25 casos]

Sísifo e o trabalho sem esperança [29 de 100]


No forte de Peniche [antiga prisão para presos políticos no Estado Novo], os senhores pilares do regime tinham um estranho passatempo:
obrigavam os presos a encher baldes de água rotos e a subir uma escadaria, do cimo da qual despejavam a água que ainda restasse para um recipiente maior - também ele roto.
H. Horta, em comentário a este post.

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quinta-feira, agosto 24, 2006

Lembranças

Se bem me recordo, as últimas pessoas suspeitas de conduta ilícita que saltaram de telejornal em telejornal desdobrando-se em juras de inocência foram Vale e Azevedo e Carlos Cruz.

"Revolução na genética"

Finalmente pode haver uma possibilidade séria de acabar com a conversa acerca da questão ética e moral e dar-se passos decisivos na investigação com células estaminais.
Se for mesmo possível o cultivo de células estaminais sem necessidade de embriões humanos, a polémica que estes assuntos provocam irá terminar? Será que os cientistas podem voltar a ser financiados decentemente sem o ónus de estarem a violar uma qualquer lei de Deus?
Ou ainda vão passar os dias a ter de responder que não querem clonar criancinhas louras de olhos azuis?

Para uma leitura facilitada

dos nossos posts dedicados às Intersecções Giratórias de Ordenamento do Tráfego, consulte o blogue «As Mais Belas Rotundas de Portugal».

As mais belas rotundas de Portugal [16º]

Esta rotunda situa-se na freguesia de Santa Maria, concelho e distrito de Viseu. Foi-nos enviada por Vítor Figueiredo, juntamente com algumas palavras:
«As mini-rotundas, como as que se vêm nas fotos, são viáveis se as ilhas centrais forem devidamente pintadas e sinalizadas, mas são muito pouco recomendadas, pois há poucos cânones que as defendam. Para estes casos, a solução da Câmara Municipal que as executou, condicionada à exiguidade dos espaços, foi a de reduzir ao máximo o raio da ilha central, sendo por isso designadas por mini-rotundas. Todavia, não se poderá dizer que os espaços estivessem a pedi-las como a solução mais eficiente de ordenamento de tráfego. O que vale aos visienses, é o hábito adquirido de "girar" cada vez que entra nestes cruzamentos - quase que nasce connosco (!). No caso dos veículos pesados, os resultados não são tão apreciáveis, e então com os "gringos", ainda pior. Quanto aos arranjos paisagísticos das ilhas centrais, não me ocorre nada de momento.
Lá dizia o IEP:
Na década de 80, aparecem em Portugal novas aplicações deste tipo de intersecção. O uso de rotundas na resolução de pontos de conflito, resulta em excelentes soluções do ponto de vista da capacidade e da segurança rodoviária. Verifica-se a tendência do uso quase generalizado (depende do Concelho…) das rotundas que aparecem actualmente em redes urbanas e inter-urbanas. A falta de suficiente preparação técnica dos promotores leva a que as rotundas sejam utilizadas indiscriminadamente em locais inadequados.»
Há o mini-autocarro, o Austin Mini, a mini-saia, o mini-golfe, o mini-bar e, claro, a mini-rotunda. Normalmente, os minis sabem sempre a pouco. A rotunda do Pelourinho mereceu os mais rasgados elogios devido facto de poupar ao erário público gastos supérfluos. Mas nem 8 nem 80. Se é certo que este exemplar é o mais económico de todos os que por aqui passaram, é também um convite a que o condutor passe por cima do mesmo. Mas aquilo era uma rotunda? O condutor necessita de ver na rotunda alguma elevação, um lancil, por mais pequeno que seja, para a respeitar. Necessita de ordem na sua natural dispersão errática. É um sério candidato ao prémio Mas isto é uma rotunda?
[Fotografia: Vítor Figueiredo]
P.S.: O Dolo Eventual convida todos os seus leitores ao envio de fotografias de rotundas de todos os pontos do país, com referência, se possível, à sua localização (freguesia, concelho, distrito), autoria da foto e quaisquer dados adicionais que por bem forem entendidos enviar para
rotundas@gmail.com.

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quarta-feira, agosto 23, 2006

Sísifo e o trabalho sem esperança [28 de 100]


«Os deuses tinham condenado Sísifo a empurrar sem descanso um rochedo até ao cume de uma montanha, de onde a pedra caía de novo, em consequência do seu peso. Tinham pensado, com alguma razão, que não há castigo mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança.»
Albert Camus - O Mito de Sísifo - Ensaio Sobre o Absurdo

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Eu também não vi o Benfica

Tal como o Salvador d' O Telescópio, eu também não vi o Benfica e assisti à entrevista que Eduardo Cintra Torres deu ao Mário Crespo e à intempestiva intervenção de Luís Marinho ao telefone.
Sobre a polémica dos incêndios e sobre o tipo de cobertura que é feita nos canais de televisão, é provável que todos concordemos que nos últimos anos se têm ultrapassado todos os limites a bem de um determinado valor de informar, que muitas vezes terá resultado que jornalistas em inicio de carreira e desejosos de agradar aos patrões, se tenham colocado em situações de perigo.
Nestas reportagens não se conseguia entender nada. O fumo nada deixava ver ou pelo contrário o grande plano das chamas vampirizava qualquer tipo de objectividade do jornalista. Pelo meio, como bem resumido pelo Salvador apareciam jornalistas chamuscados e senhoras em louvores a santos que não lhes acudiam em horas de aflição.
Mas importa perceber o que se passou este ano. No ano passado, em Espanha, foi possível o tal acordo, que estranhamente algumas forças politicas em Portugal criticaram, em que todos os canais adoptaram um determinado estilo de comunicação sobre os incêndios, de forma a frustrar os incendiários e evitar exploração do sofrimento das populações locais.
Em Portugal tal acordo é impensável. Ainda assim, e mais por causa das condições atmosféricas que permitiram uma época de incêndios curta, do que pelo zelo dos canais, foi possível manter algum equilíbrio, algum auto-controle sobre o que se levou ao pequeno ecrã.
Mas parece que a RTP levou demasiado longe essa contenção quanto aos incêndios e resta perceber porquê:

Primeiro: O governo através dos canais próprios pediu a toda a comunicação social que exercesse de alguma contenção ou se pelo contrário apenas o pediu à RTP?

Segundo: Se apenas o fez em relação à RTP, isso constituiu um pedido de contenção nas imagens, ou constituiu uma ordem à RTP para a contenção nas imagens?

Terceiro: Esta comunicação surgiu da tutela da comunicação social ou directamente do gabinete do Primeiro-Ministro?

Quarto: Independentemente do tipo de comunicação enviada pelo governo à RTP (caso tenha existido) qual era o alcance da "recomendação"? O governo pedia que houvesse contenção ou pedia que se ignorasse a notícia?

Se porventura a resposta a todos estes pontos revelar que o gabinete do Primeiro-Ministro ordenou directamente à RTP que ignorasse a notícia, então estamos perante um caso flagrante de censura, pois a RTP pura e simplesmente ignorou que estivesse a arder um centímetro quadrado deste país nesse dia.

O artigo e o Telejornal em causa podem ser visto através do post do Salvador.

Update das 23:17 - A organização do texto não foi inspirada no Abrupto. É mesmo uma coincidência pois só agora li o texto do JPP, que é bastante mais abrangente.

Marina da Barra

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Outros fumos

Via Amor-e-Ócio outras imagens para outros fumadores :)

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Mais cenas a cortar



E ainda não viram isto. Andam distraídos os novíssimos censores.

PS: O PÚBLICO apresenta hoje uma galeria digna de figurar nas nossas «100 imagens reconfortantes para fumadores em tempos difíceis» ;)

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Assim se vê a força do PC

Segundo o PCP, os autarcas vão ser substituídos "para renovar energias, rejuvenescer e reforçar a equipa para melhor enfrentar os desafios" que a autarquia tem pela frente.
A força do PC é maior do que a própria democracia.

100 imagens reconfortantes para fumadores em tempos difíceis (62ª)

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Arte vs Djambe

A caminho de Bilbao fizemos uma «paragem técnica» em Vigo, a qual foi aproveitada para esticar as pernas e ver as novidades. Apesar de se tratar de uma cidade algo desinteressante, as autoridades locais têm vindo a seguir uma estratégia de requalificação urbana que tem dado os seus frutos. Dentro dessa estratégia desempenha um papel central o Museu de Arte Contemporânea de Vigo (MARCO), uma instituição que se enquadra numa lógica de descentralização do acesso à cultura seguida pelos últimos governos centrais espanhóis. Já hoje quase todas as cidades espanholas têm o seu centro de arte contemporânea e a coisa não ficará por aqui. Por cá é como se vê: Lisboa, Lisboa, Lisboa e Porto, para além de algumas –poucas- honrosas excepções. Um Centro de Arte Contemporânea em cada capital de distrito, pelo menos, faria muito mais pelo país do que uma colecção Berardo em Lisboa.

Encontra-se em exibição no MARCO uma exposição de artistas contemporâneos de Israel intitulada «Artistas de Revés». O programa alerta o público para o facto deste evento se situar «longe de qualquer discurso institucional ou intento de instrumentalização política», considerando que «esta nova geração de artistas parece ter superado a ideia sionista de unidade de Israel». Reconhece-se que não havendo neutralidade absoluta na arte e ainda mais se tratando de uma amostra de autores de Israel, onde ninguém se pode situar na terra de ninguém, onde o facto de se existir é já, em si, um compromisso ideológico, o comissariado da exposição prefere, todavia, chamar a nossa atenção para o denominador comum a todas as obras expostas: a paisagem e o território. Esta nova geração pode estar a ruminar um novo destino para Israel...

Ora, à porta do MARCO os visitantes foram recebidos por uma manifestação anti-israelita. E o que contestavam os manifestantes? Nada. Apenas a nacionalidade dos artistas. Não importa a obra, não importa o que cada um deles pensa, não importam as posições político-ideológicas eventualmente assumidas por cada um desses jovens artistas. Apenas importa o facto de terem nacionalidade israelita. Esse é o ponto que incomodava os manifestantes de Vigo. É uma ratoeira difícil de compreender: a esquerda a recuperar o nacionalismo como categoria moral e, quiçá, estética. De certo que esta «esquerda djambé» não hesitaria em comemorar e festivalar uma exposição de artistas palestinianos apenas porque estes seriam palestinianos. Estamos então de regresso ao crepúsculo.

Podem consultar o programa da exposição no site do MARCO: www.marcovigo.com. Mas também podem consultar o programa dos manifestantes no site indicado nos panfletos distribuidos nas ruas de Vigo: www.nodo50.org/antimperialistavigo .

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Para uma consulta facilitada

[1º] Rotunda com cais de madeira na Gafanha d'Aquém, concelho de Ílhavo, distrito de Aveiro. [2º] Rotunda da pipa em Pegões, concelho do Montijo, distrito de Setúbal. [3º] Referência ao post intitulado «rotundas no deserto». [4º] Rotunda com escultura situada em Matosinhos, perto do Castelo do Queijo. [5º] Rotunda do Rato, a céu aberto, junto à UBI, na Covilhã. [6º] As nossas rotundas são faladas além-fronteiras. [7º] Rotunda com estátuas de agricultores em Montalegre. [8º] Rotunda com fonte luminosa em Oeiras. [9º] Rotunda económica no Pelourinho, na Covilhã. [10º] Rotunda desviada em Vila Praia de Âncora (antiga Gontinhães). [11º] Rotunda com vaca em Mem Martins, Sintra. [12º] Rotunda com ponte inacabada em Forte da Casa, Vila Franca de Xira. [13º] Rotunda da nora em Mirandela. [14º] Rotunda Sérgio Vieira de Mello, em Porto Salvo, Oeiras. [15º] Falsa rotunda na Praia das Rocas, em Castanheira de Pêra.

As mais belas rotundas de Portugal [15º]

Será uma rotunda? Não, não se trata de uma rotunda. Trata-se da Praia das Rocas, em Castanheira de Pêra, que tem a particularidade de ter ondas artificiais. Mas, acaso fosse uma rotunda, não seria de espantar. Em Portugal tudo é possível. À medida que os nossos leitores vão enviando rotundas, cada vez mais me convenço disso.
[Fotografia: António David]

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terça-feira, agosto 22, 2006

As mais belas rotundas de Portugal [14º]


Oeiras é um filão inesgotável de rotundas e ainda agora começámos a explorá-las.
As ruas, as praças e por acréscimo as rotundas, são muitas vezes a forma do poder local homenagear homens e mulheres que se destacaram no concelho, no país ou no mundo através da toponímia. Esta rotunda em Porto Salvo – Oeiras foi dedicada a uma personalidade bem conhecida dos portugueses, Sérgio Vieira de Mello.
Julgo que os meus colegas aqui no Dolo, assim como grande parte da Blogoesfera, reconhecerão no diplomata da ONU o modelo de um homem de convicções e de coragem, que um acto cobarde acabou por matar.
Para homens como este não devem faltar homenagens, muito embora esta rotunda possa dividir opiniões estéticas.

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Entre para a história da piroseira


Corre pela televisão a altas horas da madrugada um anúncio a um relógio da Federação Portuguesa de Futebol. Deus e a selecção confundem-se, obrigado, obrigado, obrigado Scolari que és o nosso querido herói e que assinas este fabuloso relógio, entre na história do futebol português com o Relógio Oficial da Selecção.
A mensagem é basicamente esta: a selecção sacrificou-se por si, agora sacrifique-se você pela selecção.

Estranha ironia

Durante dias lemos na comunicação social que Israel era uma democracia a lutar com um grupo de terroristas. Agora parece que a forte opinião pública que deve caracterizar as democracias está a fazer a vida negra ao primeiro-ministro israelita. Do outro lado da fronteira continua a suprema ironia do Hezbollah distribuir milhares de dólares...

Rumo à perfeição - os canais só não podem suprimir as cenas de guerra, os filmes violentos e o Big Brother, mas estes não atacam os pulmões

«O canal de televisão infantil Boomerang vai suprimir algumas cenas da série de desenhos animados «Tom e Jerry» [episódios dos anos 50] em que as duas personagens aparecem a fumar, na sequência de queixas no Reino Unido.» [link]
O Dolo Eventual propõe que ao Lucky Lucky seja retirada a arma. Acabe-se de uma vez por todas com a pouca-vergonha dos tiroteios. É um incitamento ao porte de arma, à violência e ao desrespeito pela vida humana. Injustificado, gratuito e por demais pernicioso. As crianças não podem correr esse risco.
Os socos no Asterix também deveriam ser banidos.

segunda-feira, agosto 21, 2006

As mais belas rotundas de Portugal [13º]


Crianças, sosseguem a excitação. Não, não se trata de um parque de diversões. Por sugestão do Mário Almeida, eis a rotunda da nora, em Mirandela. Diz o autor da segunda fotografia, neste site, que esta nora funciona mesmo. Mas o que é uma nora? Para além de ser a esposa ou viúva do filho - ou, nos dias que correm, da filha -, a nora é um engenho para tirar água de poços, cisternas & afins. O dinheiro investido neste espécime justifica-se plenamente porque o engenho é circular, tem um galo em cima e o verde combina muito bem com a relva. E a ideia da relva não poderia ser mais perfeita, já que a sua manutenção tem custos muito inferiores à manutenção de um estádio de futebol.
[Fotografia primeira: autor desconhecido]
[Fotografia segunda:
António Amorim]
P.S.: O Dolo Eventual convida todos os seus leitores ao envio de fotografias de rotundas de todos os pontos do país, com referência, se possível, à sua localização (freguesia, concelho, distrito), autoria da foto e quaisquer dados adicionais que por bem forem entendidos enviar para
rotundas@gmail.com.

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Do futebol mercenário hodierno - rebus sic standibus - o céu é o limite

Um convite para treinar o Barcelona FC dirigido a Jesualdo Ferreira durante esta semana faria perigar o contrato com o FC Porto?

Curiosidades - do quanto vale uma vida


DL 423/91, de 30 de Outubro, que regula a indemnização por parte do Estado às vítimas de crimes violentos. A alçada da Relação corresponde a €14.963,94. [Clique para aumentar]

Ciência política

Sou um completo ignorante e tenho vivido enganado. Nunca tinha percebido que os homens e mulheres deste país que nós elegemos para os mais diversos cargos eram afinal uma coutada particular dos directórios partidários.
Já todos sabíamos que pelo menos 80% dos deputados à Assembleia da República, ninguém pode afirmar com segurança que os conhece. Já sabíamos que a qualquer momento se podiam auto-suspender, trocar, substituir, de acordo com as vantagens pessoais que daí retiram ou de acordo com a vontade das direcções partidárias ou parlamentares.
Ainda não sabia é que isso poderia acontecer nas autarquias sem que um motivo de força maior obrigasse à substituição do autarca eleito para comandar os destinos do concelho.
Afinal eu pensava que as direcções partidárias eram quase sempre reféns da espontaneidade dos autarcas perante os holofotes da televisão, mas afinal as direcções partidárias escrutinam os autarcas e decidem se eles podem ou não continuar a cumprir os mandatos para os quais foram eleitos.
É como se o poder não emanasse do povo, mas antes fosse hipotecado às direcções partidárias.
E depois como é no PCP tudo parece absolutamente normal e estalinista o suficiente para que ninguém questione. Como se este tipo de situação fosse a regra.
É realmente muito interessante, uma verdadeira lição de ciência política.

Responsabilidade internacional

É muito raro estar de acordo com o Luís Delgado mas desta vez tenho ceder à evidência. Não existe paz, a guerra ganha-se no terreno e não nos gabinetes de Nova Iorque, e assim sendo o Hezbollah ganhou. Pelo menos ganhou mais do que Israel.
Esta espécie de vitória moral de uma organização extremista, mesmo que ela possa ser algo mais do que apenas o seu lado extremista, pode de facto influenciar outros a tentar igual sorte.
Pouco podemos esperar de uma comunidade internacional que levou quase uma mês para negociar uma resolução e agora foge à responsabilidade de enviar os militares necessários ao cumprimento dessa resolução, até porque é bastante provável que alguns deles acabem por não voltar.
Como o David escreve aqui por baixo, o dinheiro não tem memória, e a política de fachada e de gabinete não tem moral. Parece que está tudo feito. Aprovada a resolução não há mais nada de especial para fazer e resta esperar. Se voltarem os combates é porque não foi possível convencê-los diplomaticamente do contrário.

Agora apanharam-me

O passo lógico seguinte à publicação da lista de devedores à Segurança Social e ao fisco é o fim da publicitação dos contratos individuais de trabalho celebrados com o Estado. Confesso que esta me deixou confuso.

O dinheiro não tem memória



A Alemanha não está disposta a arriscar a própria pele no Libano. A desculpa é a de sempre: a história. E a história permite tudo à Alemanha, até se colocar à margem, encerrada numa redoma. Entretanto, será a França e o resto dos pequenos países da UE a assumirem a responsabilidade de uma missão impossível. E a França, como se sabe, não está à altura, e a Grã-Bretanha encontra-se perdida no labirinto de Bush. O que sobra? A Itália? A Finlândia? Portugal?!
Aos alemães cabe a árdua tarefa de puxar pela economia europeia, ou seja, a de engordarem. Talvez seja altura de libertarmos os alemães do peso da história. Mas temo que Berlim não esteja para aí virada. É muito cómodo o cativeiro da culpa. Para aqueles que compreendem os escrupulos alemães fiquem sabendo que estes são apenas políticos e militares, porque esta chantagem da memória não chega à economia. Segundo o Público, o grupo Du Mont Schauberg, fundado por Kurt DuMont [condecorado pelo próprio Hitler e membro do Partido Nazi], acabou de comprar o diário israelita Ha'aretz.

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100 imagens reconfortantes para fumadores em tempos difíceis (61ª)

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domingo, agosto 20, 2006

A Igreja não está só


A máfia russa ameaçou sequestrar Madonna e os seus dois filhos devido à simulação em palco da crucificação de Cristo. Junta-se assim às críticas expelidas pelas Igrejas católica e ortodoxa. Temos cartel.

Para uma consulta facilitada

Temos até ao momento:

De comboio até Bilbao


Uma semana de férias é um luxo que não dá para muito, pelo que eu e a minha mulher optámos por dar uma saltada a Bilbao. Boa opção, mas muito cansativa e por culpa minha. É que lá consegui convencer a Adriana a preterir o automóvel ou o avião a favor do comboio. Gosto de viajar de comboio, que querem? As cerca de 10 horas de viagem não nos assustaram por aí além, até porque havia muitas leituras a pôr em dia. O inenarrável comboio suburbano Porto-Vigo era um mal com o qual já contávamos, mas a composição que faz o serviço diário Vigo-Bilbao foi uma surpresa daquelas. Só oferece a classe Turística e utiliza uns vagões datados dos anos 80, o que nos propiciou uma verdadeira viagem no tempo. A máquina uma Mitsubishi 269-413 também ela fabricada nos anos 80 cumpriu corajosamente a sua tarefa. O pior estava para vir. No meio de nada, algures entre Léon e Burgos, em paragens sem alma cristã à vista, o nosso comboio, contrariando todas as probabilidades, atropelou uma pessoa. Suicida? Talvez, seria muito azar ser atropelado por acidente ali, no meio de nada. Soubémos da alhada pelo responsável do wagon-bar que percorreu os corredores a vociferar uns quantos «puta-madre, que ha morrido um hombre». Por ali ficámos, à espera de auxílio que demorou quase duas horas (!) a chegar. A Bilbao chegou-se muito tarde e com o humor destroçado.

[Na foto: o comboio-assassino já estacionado na estação de Bilbo-Abando]

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As mais belas rotundas de Portugal [12º]

Em Forte da Casa, Vila Franca de Xira, é assim há pelo menos quatro anos. Esta rotunda é de uma utilidade vital ao trânsito que por ali passa. Um olhar mais atento diz-nos imediatamente porquê. Tendo por base a fotografia, repare que vindos do canto inferior esquerdo aproximam-se bichos rasteiros pela estrada da erva. Tais como escaravelhos, gafanhotos. Estes, outrora, não poderiam atravessar a estrada sem que um pneu lhes caísse em cima. Hodiernamente, aprenderam até as regras da prioridade. Um fenómeno de aculturação, portanto. Por cima, corre-se o risco de surgir o Homem-Invisível-Voador, que tem por hábito conduzir por pontes inacabadas sem saída. A falta de vedação e sinalização dando conta de uma ponte deste cariz é selo de garantia de que a vida correrá pelo melhor aos condutores que circulem por aí de noite, com nevoeiro intenso. Assim, com esta rotunda, podem os carros que se apresentam quer pela esquerda, quer pela direita, viajar em plena segurança no conforto do seu automóvel.
[Fotografia: mais uma do sempre atento Luís Bonifácio]
P.S.: O Dolo Eventual convida todos os seus leitores ao envio de fotografias de rotundas de todos os pontos do país, com referência, se possível, à sua localização (freguesia, concelho, distrito), autoria da foto e quaisquer dados adicionais que por bem forem entendidos enviar para
rotundas@gmail.com.

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As festarolas da vida política

Parece que há uma norma imperativa que ordena que o político vá às festas. Cai o mundo se não for assim. O político é melhor político se for às festas?

Grandes Dramas Judiciários: Urbino de Freitas (17)

Urbiniana 7:

Aggravo interposto no processo Urbino de Freitas. Porto: Typographia Manuel Sousa Ferreira, 1893

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17. A carta de Brito e Cunha


Maria Violante Statmiller, preguntada pelo Delegado, confirma o depoimento do corpo de delito, já extractado nesta reconstituição sumária.
Das instâncias da defesa nada se aduz que altere êste depoimento.
Bento Augusto da Costa Guimarães, ourives da rua das Flores, o que denunciou a intervenção de Brito e Cunha na remessa das amêndoas, relata o que se passou com Brito e Cunha no combóio para Lisboa e diz que há uma carta na mão de alguém, que é a chave do segrêdo.
- Delegado: - Porque foi que o sr. Guimarães só tão tarde, e por via anónima, me preveniu dêsse facto?
- Testemunha: - Porque a pessoa que recebeu essa carta, foi depois disso ao Brasil e só no regresso eu soube qual o conteúdo de tal carta.
- Delegado: - E quando soube?
- Testemunha: - Poucos dias antes da chegada de Brito e Cunha. Além disso, eu sabia que o homem estava muito doente. Que podia morrer. E então, entendi do meu dever dar parte da sua chegada à autoridade.
- Advogado: - Porque escreveu o senhor uma carta dessa importância não lhe pondo o seu nome?
- Testemunha: - Não queria ser incomodado.
- Advogado: - Já a denúncia é má, quanto mais ocultar o nome! O senhor fêz isso por sua alta recreação, ou alguém o aconselhou?
A testemunha diz que ninguém o aconselhou a tal passo; e que, ao ver o caminho que as coisas levavam, se apresentara à Justiça.
- Advogado: - E porque indicou, na sua carta, ao sr. Delegado o que devia fazer, para aproveitar o depoimento de Brito e Cunha, e o segrêdo que devia manter-se, e os passos que deviam dar-se?
- Testemunha: - Para dar um itinerário. Apenas entendi que prestava um serviço de alto valor. E não fiz acusações falsas. Fiz acusações verdadeiras.
A testemunha seguinte dá à matricula o nome de Manuel José Martins Tinoco – todo o auditório no anseio de ouvir o Ariadne que indirectamente forneceu à Justiça o fio que a libertou do inextrincável labirinto da insuficiência de prova.
- Delegado: - Faça o favor de contar os factos ocorridos com V. Excª e seu cunhado, que respeitam a êste processo.

Êle conta, êle resume a quota da sua intervenção no drama em giro. No dia 27 de Março fôra «ao bota-fora de seu cunhado», a Campanhã, que, no combóio das 7 e meia da tarde, seguia com a família para o Brasil. Na carruagem em que se instalaram os viajantes, ia um sujeito, ao fundo. Mais tarde, seu cunhado escrevera-lhe uma carta do Rio.e dissera-lhe que tinha lido nos jornais a tragédia das amêndoas envenenadas. E que o criminoso tinha sido êsse sujeito, o que, a 27 de Março, ia ao fundo da carruagem, e que lhe entregara, a ele, seu cunhado, aencomenda das amêndoas, para que as despachasse em Lisboa. Depois, ela, testemunha, fôra também ao Rio. E no Rio, em conversa com Brito e Cunha, êste contou-lhe pormenorizadamente o ocorrido desde Campanhã até à expedição da encomenda: - a conversa travada pelo desconhecido com os companheiros de carruagem; o pedido do despacho em nome dum seu amigo; a retirada de Eduardo Mota da carruagem após a entrega do volume; a expedição do volume na Capital, êle, seu cunhado, exortando a testemunha a nada dizer a tal respeito, para o furtar a incómodos.
- Delegado: - Mas, quando Brito e Cunha chegou a Portugal, porque não avisou o Comissário de Polícia?
Nessa altura estava de relações cortadas com o cunhado. Não queria que êle imaginasse que se vingava, fazendo a denúncia por estarem em más relações. Dissera isto mesmo ao Bento Guimarães. Afirmara-lhe que não se importava que fôsse êle a divulgar o facto. Daí, a denúncia do Guimarães ao sr. dr. Delegado.
- Delegado: - E qual a data da carta que seu cunhado lhe escreveu do Rio?
- Testemunha: - 15 de Maio de 1892.
- Delegado: - Tem aí essa carta?
- Testemunha: - Sim, senhor. E entrgo-a, para ser junta ao processo.
- Delegado: - (recebendo a carta, sem sobrescrito). – E o sobrescrito?
- Testemunha: - Esqueceu-me. Devo tê-lo em casa.
- Delegado: - e o sr. Juiz autorizasse, a testemunha ia buscar a casa o sobrescrito.
- Juiz: - Irá depois de concluir o seu depoimento.
- Advogado. – (após exame á carta) – Se a testemunha concordasse, podia cortar-se o post-scriptum, que é o que interessa à causa e juntar-se só este.
A testemunha concorda. O Escrivão corta o post-scriptum, que lê, à ordem do Juiz e que reza assim:


«P.S. – Lembram-se daquele sujeito que estava ao fundo do compartimento do vagão em que tomámos lugar na Campanhã? Tenho lido nos jornais daqui a descrição do que se tem passado com o médico Urbino de Freitas. Se o tal sujeito, de chapéu baixo carregado sôbre a testa e óculos ou lunetas de vidro escuro, era ou não esse médico, não o sei dizer, por não conhecer pessoalmente Urbino de Freitas; mas quási podia jurar que foi aquêle sinistro personagem o autor do crime.
«Acompanhou-me até próximo de Coimbra, e, durante a viagem, deu-se mais um facto que me convence da sua culpabilidade. Lembram-se que foi justamente na noite de 27 de Março que nos retirámos para Lisboa, e que nessa noite, segundo dizem os jornais, Urbino aparecia em Coimbra?
«Eu tenho provas esmagadoras para ~ele, se é êle o personagem que nos acompanhou; mas não se podem revelar, porque não estou em circunstâncias de me expor a fazer uma viagem para depor; além disso, não poderia restituir a vida à infeliz criancinha, vítima dêsse monstro. Deus se encarregará de o punir, como merece. É indispensável, pelo que deixo dito, que nada absolutamente transpire; é um caso muito sério, que poderia incomodar-nos a todos...
«Repito-me seu amigo, reconhecido,
«Em 15-5-92.
a) Cunha.»


- Delegado: - Peço a V. Ex.ª, sr. Juiz, que autorize a testemunha a ir buscar o sobrescrito.
- Testemunha: - Posso trazê-lo amanhã.
- Advogado: - Contanto que venha, não faz mal que seja amanhã – (o sobrescrito desta carta foi entregue, de facto, no dia seguinte).
- Juiz: - A defesa quere instar a testemunha?
- Advogado: - Não senhor.
Martinho António Borges Nogueira, sogro de Brito e Cunha. Assistiu à despedida do genro, filha e netos em Campanhã, a 27 de Março. Corrobora o depoimento anterior no que se refere ao «passageiro que ia ao canto da carruagem» em que embarcaram os seus. E reconhece a letra da carta junta aos autos.

Episódios anteriores:1. A rua das Flores e a casa do negociante Sampaio. Os netos de Sampaio. 2. A família do negociante envenenada pelos doces da caixa. 3. Intervenção de urbino de freitas, genro e tio dos envenenados. Os clisteres de cidreira. 4. Morte de Mário, um dos netos de Sampaio. Ressurge o caso recente da morte de Sampaio Júnior, filho do mercador. 5. Interrogatórios de Urbino. 6. Declarações de Adolfo Coelho. 7. Prisão de Urbino, professor da Escola Médico-Cirúrgica 8. As investigações prosseguem. 9. A imprensa e o Ministério Público. 10. Os especialistas e a polémica. 11. A estratégia da defesa. 12. A conferência de peritos e os recursos apresentados por Alexandre Braga. 13. Uma testemunha inesperada. 14. A Urbino tudo corre mal. 15. O julgamento, os incidentes e as testemunhas de acusação. 16. Mais testemunhas de acusação

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